Diz-se de Juscelino Kubitschek que construiu 50 anos em 5. Nem concordo muito com isso, uma síntese de aduladores, mas vá lá. Representou, sem dúvida, um avanço para o país. Dilma Rousseff, já escrevi aqui, veio para inovar: como prometeu em 2014 uma porção de coisas que já havia prometido em 2010, brinquei que ela pretendia fazer quatro anos em oito.
Mas isso também não vai acontecer porque a presidente herdou de si mesma uma herança maldita que não é bolinho. Se pensarmos o PT como um conjunto, aí a coisa é mais séria: os valentes provaram que é possível destruir 60 anos em 12. Eu me refiro, claro, à Petrobras.
Tudo aquilo de que a empresa não precisava agora — e está tendo de enfrenta-lo — era uma disparada do dólar. Como demonstra reportagem da Folha desta quinta, os efeitos são desastrosos para a empresa. Analistas classificam essa disparada da moeda americana como a “tempestade perfeita” para a estatal, que já enfrenta a crise provocada pela roubalheira institucionalizada e até a explosão de um navio-plataforma, com mortos e desaparecidos.
Atenção para a fórmula do desastre em razão da variação cambial: 75% das despesas estão em dólares (importação de gasolina e gás, royalties, despesas de exploração etc.), mas apenas 25% das receitas são em moeda forte (exportações de petróleo, venda de combustível de aviação). O relatório é do banco Goldman Sachs.
Em recente explanação a investidores, a estatal projetava chegar ao fim do ano com modestos US$ 8 bilhões em caixa. Ocorre que o pior cenário imaginado era um dólar a R$ 2,80. Nesta quarta, ele chegou a R$ 2,87.
E há o problema do endividamento. Informa o jornal que, “segundo dados mais recentes da empresa, a dívida líquida subiu de R$ 221,6 bilhões em dezembro de 2013 para R$ 261,4 bilhões em setembro de 2014 por causa da variação cambial. Cálculo do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura) aponta que a variação cambial pode ter elevado essa dívida para R$ 290 bilhões.”
Pode-se discutir, claro, se o desastre que a questão cambial provoca na contas da empresa é ou não culpa do governo. Basta olhar para outros países da América Latina e para outros emergentes para saber que é, sim. Colhe-se na economia o que foi diligentemente plantado. Não pensem que é tão fácil assim destruir as contas do país e lançá-lo no descrédito. É preciso ser obsessivamente incompetente — e teimosa! Adiante.
Ainda que a questão cambial fosse obra da natureza, o resto não é. A Petrobras só está na pindaíba porque, em passado recente, foi usada como instrumento porco de política econômica — para segurar a inflação — e porque foi entregue a uma quadrilha. Mesmo com o dólar num patamar mais civilizado, estaria na lona.
Mas o que é que diz mesmo aquela resolução do PT? Não se pode tocar no sacrossanto modelo de partilha, aquele que impõe à estatal desembolsos bilionários de um dinheiro que ela não tem.
Para citar Ivan Lessa, o partido insiste num modelo que tem os dois pés no chão. E as duas mãos também. Vocês sabem: é tudo culpa da direita e da elite branca de olho azul.
Reinaldo Azevedo - 12/02/2015
fonte: http://liderancas.camara.leg.br/minoria/noticias/petrobras-na-lona-roubalheira-explosao-de-plataforma-cadaveres-desaparecidos-e-desastre-cambial-e-a-tempestade-perfeita