domingo, 17 de março de 2013

Explicando o livre mercado para um ignorante econômico

Artigo de  , publicado originalmente Mises em, 14 de janeiro de 2010

Uma breve e esclarecedora ideia da concepção de "livre mercado" tão endemoninhada pelos esquerdistas. Texto para copiar e guardar. 


N. do T: o artigo a seguir apresenta aquela que talvez seja a melhor e mais clara explicação sobre o que é realmente o livre mercado - esse arranjo econômico tão vilipendiado e deturpado pelo establishment acadêmico e midiático, não obstante ambos não tenham a mínima ideia do que ele seja.

Stanczyk.jpgTodos nós já nos deparamos, ao navegar pela internet, com algumas postagens de blog completamente ignaras.  Na maioria das vezes, você simplesmente ignora o ignorante.  Afinal, você poderia passar o resto da sua vida corrigindo esses robôs automatizados que são incapazes de apresentar algum pensamento original ou inconvencional não importa o quanto você os estume.  Todas as bobagens que o professor da sétima série os ensinou continuam absolutamente intactas em suas mentes.
Entretanto, ocasionalmente, para o bem da sua própria consciência e para o bem daqueles leitores que suspeitam que toda a ladainha está errada, mas que não sabem exatamente onde está o erro, você vai à forra e solta uma resposta completa.  E é isso que estou fazendo aqui em resposta a um tópico chamado "Peter Schiff: Os Usuários do Medicare [espécie de seguro-saúde financiado pelo governo dos EUA] São Preguiçosos que se Recusam a Pagar Pela Própria Saúde"
Este artigo é um pouco mais longo do que os meus artigos tradicionais, mas espero não testar demasiadamente a paciência do leitor.  Em negrito estão as palavras do autor da postagem, que se identifica a si próprio, curiosamente, simplesmente como "Che".
iCheSmall.jpgAqui vamos nós.
Adoro quando economistas de direita falam sobre "forças de mercado" e "deixar o livre mercado gerir a economia."  Eles fazem parecer como se o livre mercado fosse algum ser altruísta que sempre sabe exatamente o que fazer e quando fazer.
Eu não conheço ninguém que endosse essa caricatura típica de ginasial.  Em primeiro lugar, nenhum economista pró-livre mercado é idiota o suficiente para usar uma frase como "deixar o livre mercado gerir a economia."  O livre mercado é simplesmente uma matriz onde os indivíduos praticam trocas livres e voluntárias.  Como pode uma matriz onde há essa liberdade de trocas "gerir" alguma coisa?
Segundo, nenhum economista pró-livre mercado crê que o mercado "sempre sabe exatamente o que fazer e quando fazer".  Se esse fosse o caso, como esses economistas iriam explicar o fenômeno das falências empresariais?
O verdadeiro argumento defendido pelos economistas pró-livre mercado é que, no livre mercado, as decisões relativas a (1) o que produzir, (2) em quais quantidades, (3) utilizando quais métodos e (4) em quais locais, são tomadas visando satisfazer às mais urgentes demandas dos consumidores.  As empresas, desde que operando em ambiente concorrencial, descobrem rapidamente o que os consumidores querem e o que eles não querem - e elas ajustam suas decisões de produção em conformidade com esses desejos manifestados pelos consumidores.
Quando uma determinada indústria aufere lucros, isso significa que ela está utilizando seus fatores de produção de uma maneira que agrada aos consumidores.  Como resultado, a produção naquela indústria tende a expandir.  Da mesma forma, quando uma indústria está tendo prejuízos, isso significa que seus fatores de produção estão sendo empregados em linhas de produção que não estão satisfazendo os consumidores adequadamente.  Logo, essa indústria está destruindo riqueza.  A única solução que lhe resta é deslocar seus fatores de produção para outras linhas de produção que possam produzir algo mais em sintonia com o real desejo dos consumidores.
Há ilimitadas maneiras de as empresas combinarem seus fatores de produção de modo a produzir um igualmente ilimitado arranjo de bens.  Felizmente, o mercado faz com que as empresas não tenham de tatear no escuro, sem saber quais dessas trilhões de decisões devem ser tomadas.
Se o processo de produção implantado por elas utiliza um determinado insumo que está sendo mais urgentemente demandado em outra linha de produção, esse insumo lhes custará mais caro, o que as obrigará a encontrar um substituto.  Se elas produzirem algo em excesso, os prejuízos resultantes irão induzi-las a produzir menos, o que irá liberar recursos para a produção de algum outro bem que os consumidores estejam desejando mais urgentemente.  A todo o momento, os recursos estão sendo direcionados - de acordo com os desejos dos consumidores - para aqueles processos de produção em que eles são mais urgentemente demandados.
Portanto, não, os mercados não sabem "exatamente o que fazer e quando fazer" - uma caricatura infantil.  Porém, as respostas fornecidas pelos consumidores, que com suas decisões escolhem o que consumir e o que não consumir, estão constantemente levando os mercados a uma utilização mais eficiente dos recursos limitados.
O governo, por outro lado, não tem uma base racional para determinar o que produzir, em quais quantidades, com quais métodos, e daí por diante.  Ele não adquire seu dinheiro fornecendo algum bem que as pessoas voluntariamente escolhem comprar; ele adquire seu dinheiro simplesmente confiscando os fundos de sua população vassala.
Dado que o governo não precisa seguir as respostas fornecidas pelo mecanismo de lucros e prejuízos, cada decisão que ele toma sobre algum processo de produção é inteiramente arbitrária, e necessariamente implica o desperdício de recursos.  Ele opera completamente no escuro.  Ele não pode se ajustar às demandas do consumidor, uma vez que não há como o governo calcular qual a melhor e menos esbanjadora maneira de produzir.  Mais do que isso, ele nem mesmo pode saber o que produzir.
iCheSmall.jpgO livre mercado não é uma entidade sem emoção e que sabe de tudo.  Ele é controlado por humanos suscetíveis à ganância, à corrupção e à exploração.  O livre mercado é tão puro quanto os falíveis seres humanos que o controlam.
Como vimos, o livre mercado é apenas uma matriz de trocas.  Portanto, ninguém em seu perfeito juízo o descreveria como algum tipo de "entidade", seja ela "sem emoção", "que sabe de tudo" ou "amarela com pontinhos roxos".
Vamos lidar com a questão da "corrupção" e da "exploração" mais abaixo.  Mas no que tange a encantadora devoção de Che ao governo, ele parece não considerar que seus próprios funcionários podem estar suscetíveis à ganância, à corrupção e à exploração.  Mais adiante ele sugere que os políticos corruptos podem simplesmente ser retirados de seus cargos por meio do voto (Ei, Che, na sua opinião, como essa ideia vem funcionando até agora?).  Ele não considera a possibilidade de que as empresas que não produzem aquilo que os consumidores querem podem, da mesma forma, ser democraticamente iCheSmall.jpgretiradas da economia - bastando para tal que os consumidores se abstenham de comprar seus produtos.
Se os princípios de livre mercado pudessem atuar desimpedidamente, como Schiff preconiza, o que ocorreria é que tudo seria baseado na maximização do lucro.
Nesse ponto todos nós supostamente deveríamos arregalar os olhos, aterrorizados com tal panorama.  Afinal, tanto Michael Moore quanto nosso professor da sétima série já nos alertaram para a perversidade dos "lucros".  De fato, o que mais há para ser dito?
Porém, como vimos acima, o lucro é simplesmente a maneira de a sociedade aprovar as decisões de produção adotadas por uma empresa.  O lucro indica aquilo que os consumidores querem, bem como - por meio do processo de imputação [teoria que diz que os preços dos fatores são determinados pelos preços dos produtos] - o melhor processo para se produzir tal bem ou serviço.
Os lucros atraem mais investimentos para uma dada linha de produção.  Isso vai levar a um aumento dos bens produzidos.  Tal processo vai continuar ocorrendo até que esse aumento da oferta de bens naquela indústria acabe por trazer a taxa de retorno de volta ao nível existente em outros setores da economia.  É assim que garantimos que nossos limitados recursos não serão desperdiçados, e que os bens mais urgentemente desejados serão produzidos.
Na ausência do lucro como força motriz, como exatamente Che gostaria de ver os recursos sendo alocados?  Podemos ou permitir que as preferências dos consumidores guiem a produção, ou deixar que as preferências pessoais de um monopolista (ou seja, o governo) determinem o que deve ser produzido e como.  Quando a questão é colocada dessa forma, a escolha torna-se muito clara - e é exatamente por isso que a questão nunca é formulada dessa maneira.
Só de curiosidade, será que Che preferiria basear as decisões econômicas na maximização dos prejuízos?  Será que tal arranjo seria melhor?
iCheSmall.jpgSurgem dois grandes subprodutos quando o único interesse de uma economia é o lucro.
1. A qualidade diminui porque as arestas precisam ser aparadas a fim de se poupar dinheiro e poder competir (veja a China)
Che, pense nisso por um minuto.  Suponha que você tenha uma economia na qual o lucro não desempenhasse absolutamente nenhuma função.  A qualidade aumentarianesse caso?  Será que desfrutaríamos de produtos de qualidade crescente caso as empresas não tivessem de satisfazer o público consumidor (que é o que 'obter lucros' significa) para poderem continuar operando no mercado?
Você não acha que se as empresas fossem liberadas da necessidade de obter lucros elas se tornariam preguiçosas ou indiferentes às demandas do consumidor?  Você acha que elas trabalhariam horas extras para fazer produtos de alta qualidade apenas pelo bem da humanidade, ou da pátria-mãe ou de qualquer outra abstração que o regime viesse a inventar?
Se os consumidores querem mercadorias de alta qualidade, os produtores irão competir entre si para atendê-los.  Se todas as empresas estiverem produzindo porcarias de baixa qualidade, haverá aí uma enorme oportunidade de lucro à espera daquele que entrar no mercado e simplesmente melhorar a qualidade do produto.  Você não crê que essas diabólicas corporações iriam agarrar essa chance de lucro?  Por que, em seu imaginativo cenário, esses personagens perversos, maliciosos e gananciosos repentinamente perdem sua motivação de obter lucros?
Você dirá que os consumidores não pagariam preços mais altos por mercadorias de qualidade.  Mas de onde vem tão arbitrária declaração?  Se eles não vão pagar os preços mais altos, então isso significa que eles estão satisfeitos com o atual nível de qualidade, e que o dinheiro que eles poderiam gastar com esses produtos aperfeiçoados será, na visão deles, melhor utilizado caso seja gasto em outras coisas - em produtos básicos e sem luxo, por exemplo.
Você, Che, não está em posição de julgar a decisão deles.  Se os consumidores estão dispostos a pagar preços mais altos, então empresas mais sofisticadas irão atender aos anseios deles - e caso você faça um mínimo de esforço e consiga olhar ao seu redor, verá que é exatamente assim que a economia de um país minimamente livre funciona.
Afinal, não há um limite para a potencial qualidade das mercadorias.  Por exemplo, uma pessoa pode comprar uma casa toda feita de ouro.  Mas isso não significa que todas as outras pessoas que não querem viver em uma choça de palha só irão se contentar com moradias banhadas a ouro.  Há inúmeras possibilidades para um meio termo.  Não há uma maneira - que não seja totalitária - de decidir qual deve ser a proporção entre qualidade e acessibilidade que as pessoas podem escolher.  Apenas os gastos voluntários praticados pelos consumidores, bem como as decisões de produção baseadas nesses gastos, podem fazer essa decisão.
De qualquer forma, mais uma vez tudo o que precisamos fazer é olhar ao redor para encontrarmos a refutação para essa estranha afirmação de Che.  Os automóveis de hoje são de pior qualidade do que eram em, digamos, 1977?  Será que alguém hoje se disporia a trocar seu Blu-ray por um videocassete de 1981?  Eu poderia acrescentar que o Blu-ray também custa um pouquinho menos, em termos reais, do que o videocassete custava em 1981.  Acredito em você quando diz que há algo de perverso em tudo isso, Che, mas eu simplesmente não consigo ver.
iCheSmall.jpg2. Os salários diminuem, pois a ânsia de lucro da parte dos empregadores coloca os trabalhadores em luta entre si.  Por exemplo, se não houver regulamentações trabalhistas, eu posso pagar significativamente menos a uma mulher para ela fazer o mesmo trabalho de um homem.  Isso força os salários para baixo, pois agora um homem terá de aceitar um salário menor caso ele queira um emprego.
É por isso que aqueles que não entendem de química não escrevem sobre química, e os não botânicos ficam longe da botânica.  Nesse ponto, nosso autor está simplesmente criando coisas.
Uma enormidade poderia ser dita aqui, inclusive o fato óbvio de que, embora os trabalhadores realmente compitam entre si (assim como o fazem todos os fatores de produção), os empregadores têm de competir pelostrabalhadores, assim como eles têm de competir pelo aço ou por qualquer outro insumo.  Porém, para uma simples réplica à alegação de que sob condições concorrenciais os salários vão cair, façamos a seguinte pergunta: isso de fato ocorreu?
Nos EUA, por exemplo, durante o século XIX, sem que houvesse nenhuma das instituições que Che acredita serem indispensáveis para fazer os salários subirem, os salários reais quadruplicaram.  Isso não poderia ter acontecido, de acordo com ele - a concorrência entre os trabalhadores deveria ter derrubado os salários.  Mas em quem você vai acreditar, em Che ou em seus próprios olhos?
Mas agora prossigamos para a segunda afirmação: em um livre mercado, Che poderia pagar a uma mulher menos do que a um homem, o que significa que consequentemente os homens teriam de aceitar salários mais baixos.
Não me surpreende que Che creia que os salários são determinados pelos caprichos arbitrários dos empregadores - este é, afinal, o pensamento convencional que perpassa o público em geral, e seria inimaginável se afastar dele.  Evidentemente, devemos nos apegar incontestavelmente a tudo aquilo que nosso professor de ciências sociais nos ensinou.
Mas, se em um genuíno livre mercado as empresas podem arbitrariamente diminuir os salários das mulheres, política essa que logo depois inevitavelmente se estenderia aos homens, por que então elas não diminuem os salários de ambos hoje mesmo?  A legislação que impõe igualdade de pagamento para ambos os sexos não diz nada sobre a diminuição dos salários; portanto, por que os empregadores não vão adiante e utilizam seus poderes mágicos para reduzir os salários agora mesmo?  Por que eles deveriam esperar que a legislação de igualdade de pagamento seja repelida para só então seguir o convoluto caminho de Che (primeiro diminuir os salários da mulheres e então obrigar os homens a também aceitar os salários mais baixos?)
A resposta óbvia é que os salários não são arbitrários.  Se as empresas tentassem fazer aquilo que Che propõe, o resultado não seria a redução dos salários dos homens.  A disputa pela mão-de-obra iria inevitavelmente voltar a elevar os salários das mulheres.[1]
Não há razão em fingir que o nível de pagamento que os trabalhadores usufruem atualmente tem alguma coisa a ver com o salário mínimo ou com os sindicatos; a vasta maioria dos americanos, por exemplo, ganha bem acima do salário mínimo, e os sindicatos sempre foram um fator negligenciável nos EUA.  Por toda a história, os salários dos trabalhadores americanos sempre superaram os salários dos países europeus, muito mais fortemente sindicalizados.  Che não consegue explicar nada disso; segundo sua lógica, todos deveriam estar ganhando salário mínimo.
Também, completamente negligenciada na análise de Che está a tendência de os salários reais aumentarem no livre mercado.
Como ocorre esse processo?  Quando as empresas aumentam e melhoram os equipamentos e maquinários à disposição dos trabalhadores, sua mão-de-obra torna-se mais produtiva.  Imagine uma pessoa utilizando suas próprias mãos para empilhar paletas ao invés de uma empilhadeira; ou produzindo livros com uma impressora do século XVI ao invés de equipamentos mais modernos.  A quantidade de produção da qual a economia é capaz é dessa forma aumentada, de maneira quase sempre acentuada, e esse aumento na produção pressiona para baixo os preços dos bens de consumo (em relação aos salários).
Contudo, não há nada de natural ou de inevitável quanto à disponibilidade desses bens de capital capazes de intensificar a produção.  Eles não caem do céu.  Eles advêm da decisão dos perversos capitalistas de se absterem do consumo.  Ao se absterem do consumo (pouparem), eles estão liberando capital para outras atividades.  E é essa realocação dos recursos não consumidos que será transformada em investimentos em bens de capital.
Esse processo é a única maneira de possibilitar um aumento geral do padrão de vida.  Apenas dessa maneira pode o trabalhador comum aumentar sua produtividade.  Como conseqüência, apenas dessa maneira pode ele ser capaz de consumir mais daquilo que ele está acostumado a consumir.  Pois o aumento da produtividade da mão-de-obra, possibilitada pelo capital adicional, reduz os preços dos produtos em relação aos salários.  Como?  Ao se aumentar a quantidade de bens produzidos, passa a haver uma maior quantidade de bens de consumo em relação à oferta de mão-de-obra.  Colocando de maneira mais simples, melhorias no processo de produção que levem a um aumento da oferta de produtos tornam esses produtos mais baratos e mais fáceis de serem adquiridos pelas pessoas.
É por isso que, para se ganhar o dinheiro necessário para a aquisição de uma grande variedade de bens, são necessárias hoje menos horas de trabalho do que eram no passado.  Graças aos investimentos em bens de capital, que é o que as empresas fazem quando seus lucros não lhes são confiscados (para delírio de pessoas como nosso amigo Che), as economias de hoje são muito mais fisicamente produtivas do que costumavam ser, e, como consequência, os bens de consumo existem hoje em uma abundância muito maior e são correspondentemente menos caros do que antes.
Em 1950, por exemplo, um americano tinha de trabalhar seis minutos para ganhar o dinheiro suficiente para uma unidade de pão; em 1999, esse tempo havia caído para três minutos e meio.  Para poder comprar uma dúzia de laranjas em 1950, eram necessários 21 minutos de trabalho.  Em 1999, esse tempo já havia caído para 9 minutos.  Pagar por 100 quilowatts de eletricidade requeria duas horas de trabalho em 1950, mas apenas 14 minutos em 1999.  Uma pessoa, no ano de 1900, teria de trabalhar nove horas para comprar uma calça jeans.  Em 1950, esse tempo havia caído para quatro horas; e em 1999, para três horas.  Para um frango de 1,4 kg, eram 160 minutos em 1900, 71 em 1950 e 24 em 1999.[2]
Quando Che quer tributar as empresas, como você pode ter certeza de que ele quer, ele está defendendo a sabotagem aberta do processo que permite aumentar o poder de compra de todos os indivíduos de uma sociedade.  As sociedades mais industrializadas de hoje seriam muito mais ricas caso as alíquotas mais altas de seus respectivos impostos de renda tivessem sido menores ao longo de todo o século XX.
Caso os governos não tivessem confiscado tantos recursos para em seguida desperdiçá-los em gastos de consumo, esses recursos estariam livres para investimentos que teriam tornado as economias permanentemente capazes de produzir mais riquezas do que as atuais.  Como resultado, o padrão de vida de todos seria hoje muito maior.
iCheSmall.jpgSe não há regulação das "forças de mercado" pelo governo, você essencialmente coloca o poder nas mãos de executivos que não têm de prestar contas a ninguém, exceto a seus acionistas.  E para manter os acionistas satisfeitos, o lucro deve ser maximizado por qualquer método possível.  Se isso significar exploração e corrupção, então que assim seja.
Como "exploração" e "corrupção" não foram definidos, não há como saber do que Che está falando.  Por "exploração" ele presumivelmente está se referindo à teoria marxista de que uma concorrência intensificada leva a menores salários, uma besteira que já abordamos.
Por "corrupção" ele pode ter querido dizer uma de duas coisas.  Ele pode estar se referindo ao uso da fraude, do roubo ou de alguma outra violação da lei.  Se esse é o caso, então ele não mais está falando do mercado livre e desimpedido, que pune comportamentos criminosos e antimercados como esses.  Portanto, seu comentário seria irrelevante.  Se alguém viola a lei, ele deve ser punido.  Se esse alguém é culpado, mas não é punido, isso dificilmente seria culpa do mercado - afinal, quem monopoliza a oferta de tribunais e de serviços policiais? (Vou lhe dar uma dica: não é o livre mercado).
Ele pode também estar se referindo ao uso de lobistas para se conseguir privilégios especiais do governo, ou para prejudicar os concorrentes.  Mais uma vez, ele não está realmente criticando o livre mercado, ainda que pense estar.  Nesse caso sua crítica não cabe ao livre mercado, mas sim ao próprio governo.
O livre mercado não possui nenhum mecanismo de coerção capaz de conceder privilégios especiais a algum grupo.  Apenas o governo tem o poder de iniciar coerção.  Você quer que haja uma única e monopolística instituição dotada de plenos poderes para organizar a sociedade da maneira que mais a apeteça, e depois fica surpreso quando ela passa a ser dominada por forças antissociais e iCheSmall.jpganticoncorrenciais?
Se permitissem que as regulamentações governamentais controlassem uma economia, aqueles que instalarem as regulamentações podem ser responsabilizados caso as regulamentações sejam muito intrusivas.
Peguemos novamente o exemplo dos EUA.  Existe um calhamaço chamado Code of Federal Regulations, que lista todas as regras e regulamentações vigentes no país.  A cada ano, esse registro federal acrescenta mais de 70.000 páginas de detalhadas regulamentações federais.  Pela lógica, se apenas uma dessas páginas fosse eliminada, todos os americanos morreriam instantaneamente.  Afinal, as regulamentações foram criadas para mantê-los a salvo!  De acordo com Che, nenhuma dessas regulamentações pode ser considerada "muito intrusiva" - pois se fosse, certamente ela já teria sido revogada!
Isso me lembra de uma aluna que tive certa vez e que, ao descobrir que o Job Corps [programa de treinamento vocacional e educacional administrado pelo governo americano] era um completo e absoluto fracasso sob todos os parâmetros imagináveis, inocentemente perguntou por que ele não havia sido revogado.  Eu não culpo a aluna - com essa pergunta ela estava começando a descobrir as coisas pela primeira vez.  Já Che gerencia um blog sem jamais fazer uma única pergunta atípica.
No mundo de Che, toda a literatura sobre a "captura" de agências reguladoras, que descreve como as indústrias e as grandes empresas influenciam as regulamentações para benefício próprio, não existe.  A regulação está ali unicamente para o bem público.
Na caricatura típica, se você defende o livre mercado, então você defende a poluição e várias outras formas de invasão de propriedade.  Mas a realidade, obviamente, é oposta.  Alguém que acredita no livre mercado se opõe a essas coisas porque elas danificam a propriedade alheia sem o consentimento de seus donos.  Isso não significa que a única solução é a "regulamentação".  Eis um aqui uma maneira genuinamente pró-livre mercado de se pensar nessas questões.
Che também pode estar se referindo às regulamentações dos mercados financeiro e bancário, as quais são bastante rígidas, não obstante toda aquela conversa sobre "desregulamentação".  A desregulamentação é quase sempre falsa, como quando as instituições financeiras são autorizadas a fazer apostas arriscadas ao mesmo tempo em que o governo segue garantindo seus depósitos.
Reclamações sobre falta de regulamentação também são irrelevantes.  Se você tem um castelo de cartas desmoronando, você não precisa de cola ou fita adesiva - o equivalente a "mais regulação".  Você precisa é de uma casa nova, construída sobre fundações solidas.  Em outras palavras, você precisa de um sistema monetário rígido que não possa ser manipulado por governos ou por seus bancos centrais.  Essa opção não existe no mundo de Che, já que em seu mundo o sistema existente já é um de livre mercado.
Ademais, os atuais reguladores não viram nada de errado com a maneira como o modelo de securitização estava funcionando.  E, com efeito, várias instituições financeiras estavam de acordo com as várias exigências de capital propostas pelos padrões regulatórios internacionais.  O próprio sistema regulatório deu aos bancos incentivos para praticar a securitização de empréstimos, elevando os riscos inerentes a essa prática.  Seria a solução acrescentar mais reguladores?  Ou será que há algo de errado com o próprio sistema - um sistema em guerra com o livre mercado, um sistema que gera a extrema alavancagem e a enorme instabilidade que periodicamente observamos?
Outra questão óbvia e rotineiramente negligenciada nesse contexto é: por que um regulador sem nenhuma participação financeira em uma empresa saberia melhor como satisfazer a demanda dos consumidores do que um legítimo proprietário empreendedor cuja riqueza depende de seus acertos?  Quão supersticioso você precisa ser para acreditar nisso?
Entretanto, comentaristas ignorantes que clamam por mais regulação atribuem poderes mágicos a pessoas que, no mundo real, são indignas desses encarecimentos.  Como Robert Higgs explicou, "Tivessem eles sido agraciados com maiores poderes, orçamentos e equipes, qual feitiçaria iria transformar os reguladores em defensores obstinados e sagazes do interesse público, ao invés dos parasitas servis e protetores das empresas reguladas que eles sempre foram?"
Quantos formandos de faculdades de administração ou de outras áreas ambicionam se tornar reguladores?  Vamos colocar as coisas de forma generosa e apenas observar que são os mais lentos que acabam indo para as agências reguladoras, e são os mais brilhantes que acabam se tornando empreendedores de sucesso.  É de se esperar que um sujeito que se formou na posição #505 de uma turma com 508 pessoas tenha seus cadarços amarrados por um sujeito que se formou em #12?
Por último, o livre mercado não injeta dinheiro e derruba as taxas de juros a níveis que promovem bolhas insustentáveis.  Sem um Fed, não teria havido uma bolha imobiliária.  E sem essa bolha, não haveria o atual colapso.  O livre mercado pune os tomadores de risco imprudentes, ao passo que o governo os socorre (algo que, por sua vez, os encoraja a assumir riscos maiores no futuro).  Foi do Fed, e não do livre mercado, que emergiu a "Doutrina Greenspan" - a promessa implícita de sempre socorrer os grandes players de Wall Street.  O Financial Times alertou que essas garantias estavam estimulando investimentos perigosamente arriscados.
O livre mercado não proporciona tais garantias, o que consequentemente cultiva uma classe mais iCheSmall.jpgcuidadosa e sensata de empreendedores.  Será que há alguma lição aqui?
Responsabilizar o governo por suas ações chama-se Democracia. 
Responsabilizar um presidente de empresa por suas ações chama-se impossível.
Difícil algum outro raciocínio superar esse em termos de comicidade involuntária.  Che absorveu toda a propaganda que lhe foi infundida na escola sem um pingo de pensamento independente.  Nossos sábios servidores públicos estão genuinamente preocupados com o bem comum, e qualquer coisa que eles porventura venham a fazer contra os interesses do povo são aberrações desafortunadas - uma mera "corrupção" que pode ser punida na próxima eleição.  Afinal, o nosso sistema político democrático mantém o governo subordinado ao povo!
O Banco Central, que desfruta de um monopólio dado pelo governo sobre a criação de papel-moeda de curso forçado, criou as condições que geraram a atual crise econômica.  (Apresentei alguns dos contornos teóricosaqui).  Alguém foi "responsabilizado" por isso?  Aliás, quem no governo americano foi responsabilizado porqualquer coisa relacionada à crise financeira?
Você está nos dizendo que os pacotes de socorro do governo foram um exemplo de virtuoso espírito público ao invés de um explícito "presentinho" dado para os amigos e aliados do regime?  Os socorros, na realidade, foram um exemplo de intervenção estatal com o intuito de impedir que o livre mercado responsabilizasse e punisse os executivos incautos.
Quer manter um executivo ou presidente de empresa subordinado a você?  Pare de comprar seus produtos.  Agora me diga: como eu paro de comprar os "produtos" do governo?  Ah, sim, eu havia me esquecido, eu não os compro - o dinheiro para financiá-los é confiscado de mim.
Existe um mercado para o controle das corporações, diga-se de passagem.  Porém, as mesmas pessoas que reclamam ruidosamente sobre executivos subordinados a nada e a ninguém, tendem a ser as que mais se opõem e mais criam barreiras contra as aquisições corporativas.  Aqui, mais uma vez, temos o governo impedindo o mercado de fazer suas tentativas de corrigir as más alocações de recursos.
Agora, você pode dizer que estou sendo muito duro com Che.  O pobre garoto está apenas repetindo o que aprendeu no ensino fundamental.  Como posso culpá-lo?  É esse tipo de propaganda que ensinam às crianças, e não podemos criticar Che por estar simplesmente repetindo tudo aquilo que seu professor falou.
Eu o culpo apenas por ser tão incorrigivelmente apático e desinteressado.  Os garotos mais perspicazes são capazes de perceber que estão sendo alimentados pelo tipo mais grosseiro e óbvio de propaganda, a qual é esquematizada para torná-los pequenos servos obedientes a seus senhores supremos, que alegam estar protegendo-os daqueles maléficos exploradores sobre os quais eles lêem em seus livros-texto.  Os garotos perspicazes vão em busca da verdade e descobrem que os reais exploradores são os próprios senhores supremos, parasitas da economia produtiva, e que vivem dos frutos do trabalho alheio ao mesmo tempo em que dizem que os resultantes malefícios sociais são culpa dos vários espantalhos que as crianças foram ensinadas a odiar.
Os garotos mais lentos, em contraste, apenas se limitam a memorizar toda a logorréia vomitada por seus professores, a transcrever roboticamente tudo em suas provas e a repetir monotonamente todas essas parvoíces pelo resto de suas vidas.
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[1] A precificação dos fatores no mercado, inclusive de fatores originais como mão-de-obra, ocorre por meio de imputação reversa: da valoração que os consumidores fazem do produto final.  A teoria da produção é coberta por Murray Rothbard em Man, Economy, and State: A Treatise on Economic Principles (Auburn, Ala.: Ludwig von Mises Institute, 1993 [1962]), caps. 5-9.  Os vários mitos sobre a desigualdade do poder de barganha da mão-de-obra e sobre a importância dos sindicatos para o bem-estar material dos trabalhadores são discutidos em meu livro The Church and the Market (Lanham, Md.: Lexington, 2005), pp. 73-78.
[2] Michael Cox and Richard Alm, Myths of Rich and Poor (New York: Basic Books, 1999), p. 43.
Thomas Woods 
é um membro sênior do Mises Institute, especialista em história americana.  É o autor de nove livros, incluindo os bestsellers da lista do New York Times The Politically Incorrect Guide to American History e, mais recentemente, Meltdown: A Free-Market Look at Why the Stock Market Collapsed, the Economy Tanked, and Government Bailouts Will Make Things Worse. Dentre seus outros livros de sucesso, destacam-se Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental (leia um capítulo aqui), 33 Questions About American History You're Not Supposed to Ask e The Church and the Market: A Catholic Defense of the Free Economy (primeiro lugar no 2006 Templeton Enterprise Awards). Visite seu novo website.

Fonte: mises.org.br publicado sem autorização do do Mises e autor, mantendo a referencia d site que publicou o artigo orignalmente e autor. o artigo poderá ser retirado/excluído caso o Instituto Mises Brasil e autor venha solicitar.

quinta-feira, 14 de março de 2013

O Zeitgeist é sombrio - quando as suas liberdades forem confiscadas e a corda já estiver sobre o seu pescoço, será tarde.




Zeitgeist é uma palavra alemã que significa algo como “espírito do tempo” e tenta descrever o panorama cultural de uma determinada época.


Desde 2007 a palavra foi praticamente raptada por um documentário dirigido por Peter Joseph. Uma busca no Google demonstra isso. Neste documentário, dividido em três partes, cuja primeira se resume a uma coleção de ataques pueris contra o Cristianismo, todos eles originados nos textos de vigaristas como Acharya S. – plagiadora de Kersey Graves e discípula de Helena Blavatsky, Aleister Crowley e Anton Lavey -- e logo refutados por historiadores sérios. Nas outras duas partes, que abordam respectivamente a máfia do Federal Reserve e os atentados de 11 de setembro de 2001, o diretor acertou em algumas críticas, mas seu antiamericanismo adolescente faz do filme um panfleto ideológico, nos moldes de trabalhos mentirosos como os de Michael Moore e Oliver Stone.



De qualquer forma, deixando de lado o "documentário" e voltando ao significado original do termo, o zeitgeist da nossa geração – talvez também da anterior e provavelmente da próxima – é realmente sombrio.



Se não bastassem as ações governamentais que ocorrem em praticamente todas as nações ocidentais, que estão destruindo a civilização que nasceu dos ideais gregos e romanos e foi construída sobre a Moral Cristã, o zeitgeist que já está enraizado na nossa cultura é um misto de ódio e rancor, justamente contra os princípios e valores que sustentam o Ocidente, valores estes que estão entre o que de melhor a humanidade foi capaz de produzir.



Questões como cotas, bolsas, aborto, censura, destruição da família e até a pedofilia, aliadas a propostas espelhadas nos socialistas, comunistas e nazistas hoje são tidas como ideais respeitáveis e benéficos. E grande parte da população viciada em TV e adoradora do show business aceita este caldo de pseudocultura sem qualquer questionamento.



Resumindo, o zeitgeist atual é uma combinação do sonho de ditadores como Stálin, Pol Pot, Mao e Fidel, com o pensamento de psicopatas megalomaníacos como Gramsci, Lucács, Marx, Lênin, os dissimulados membros da Escola de Frankfurt, Michel Foucault e outros desequilibrados autoritários. E o mais triste é que muitos idiotas úteis que defendem estes ideais nem imaginam o que promovem e só perceberão o perigo tarde demais, quando as suas liberdades forem confiscadas e a corda já estiver sobre o seu pescoço.

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PS: Para quem ainda não conhece as refutações sistemáticas de todas as falsas afirmações da primeira parte do documentário Zeitgeist (2007), assim como as esdrúxulas comparações entre a vida de Jesus Cristo e os mitológicos Hórus, Mitra, Dionísio, Osíris, Attis e Krishina que circulam na Internet, vale a pena conhecer o trabalho do Dr. Chris Forbes, Doutor em História do Novo Testamento. 

fonte: ordem-natural

O avanço socialista no Brasil em números: de 2000 a 2012.




As eleições municipais de 2000 e 2012 [1].

Em 2000, PDT, PT, PSB, PPS e PCdoB venceram as eleições municipais em 775 dos 5.555 municípios brasileiros, o que equivalia, na época, a 14% dos municípios. O orçamento desses municípios somava cerca de R$ 23,7 bilhões, o que equivalia a 36% do orçamento total destinado à prefeituras. Desses partidos, aquele que elegeu mais prefeitos foi o PDT, com 288 prefeituras, seguido do PT, com 187 prefeituras.
Já em 2012, PT, PSB, PDT, PPS, PCdoB e PSOL venceram as eleições municipais em 1.570 dos 5.568 municípios brasileiros, ou seja, 28% dos municípios. O orçamento desses municípios soma cerca de R$ 171 bilhões, o que equivale a 50% do orçamento total das prefeituras. Desses partidos, o que mais elegeu prefeitos foi o PT, com 636 prefeituras, seguido do PSB, com 444 prefeituras.
Portanto, em 12 anos, os partidos socialistas:
  • aumentaram em 103% o número de prefeituras sob seu domínio (de 775 para 1570);
  • dominam, hoje,  metade do orçamento destinado aos municípios (50%);
  • contaram com um aumento de R$ 147,3 bilhões (aumento de 622%) no orçamento disponível através das prefeituras sob seu comando.
  • elegeram, em 2012, prefeitos em 14 capitais, ou seja, em mais da metade delas.
O mapa abaixo ilustra o avanço do domínio dos partidos socialistas nos municípios brasileiros após as eleições de 2000 e 2012.
municipios   O avanço socialista no Brasil em números: de 2000 a 2012.

A evolução do PT e a força que desponta no movimento esquerdista: o PSB.

Os partidos que mais cresceram nos últimos 12 anos foram o PT e o PSB. O número de prefeituras governadas pelo PT aumentou de 187 para 636, o que equivale a um aumento de 240% no período. Já o PSB elegeu 444 prefeitos em 2012 contra 133 em 2000, um aumento de 230%.
O PSB foi o partido que mais elegeu representantes nas capitais, com 5 representantes. Ainda, o PSB elegeu 6 governadores em 2010, superando o número de governadores eleitos pelo próprio PT.
Aliados históricos, PT e PSB somam hoje 1.133 prefeituras, superando o PMDB (1.032), tradicional campeão isolado em número de prefeituras. Somam também 9 prefeituras em capitais e 11 governos estaduais.
Pelos interesses políticos comuns e pelo crescimento de ambos partidos, é natural pensar em uma aliança mais próxima entre PT e PSB, vindo a configurar o núcleo do poder hegemônico da esquerda para os próximos anos, o que fará com que tradicionais aliados de centro do PT (PMDB, PR) sejam gradualmente descartados nas próximas eleições, especialmente para o governo federal.
O gráfico abaixo ilustra o avanço do PT e do PSB nas prefeituras do país.
municipios pt psb   O avanço socialista no Brasil em números: de 2000 a 2012.

Socialistas + Social-Democratas

Se incluirmos na análise os partidos social-democratas (PSDB, PSD), observaremos uma extensão ainda maior do domínio da esquerda no mapa político do país.  São, ao todo, 2.769 prefeituras, 50% dos municípios, totalizando um orçamento de R$ 232,5 bilhões, ou seja, 68% do orçamento total destinado aos municípios.

Partidos de Centro e Centro-Direita

Em 2000, os dois partidos que mais possuíam prefeituras sob a sua administração eram o PMDB, com 1.256 prefeituras, seguido do PFL, com 1.026 prefeituras. Juntos, contavam com a administração de 41% dos municípios brasileiros, e um orçamento que representava 26% do total do orçamento dos municípios.
Em 2006, o PFL passou por uma drástica mudança. Após resultados negativos nas eleições federais de 2006, o partido, sob a batuta de Jorge Bornhausen, decidiu se reestruturar em um novo nome, Democratas (sigla DEM), com um discurso de renovação, e com o intuito de desvincular o partido da imagem conservadora e de direita.
Bornhausen, que desfiliou-se do partido em 2011, deixou como legado para o PFL/DEM as consequências das mudanças que  propôs: o partido passou de 1.026 prefeituras em 2000 para 278 em 2012, uma redução de 73% (perdeu 748 prefeituras).
Nem mesmo o PMDB, fiel aliado do PT no governo federal, escapou da redução em seu quadro de prefeitos.  O número de prefeituras sob o governo do PMDB passou de 1.256 em 2000 para 1.032 em 2012, uma redução de 18% (perdeu 224 prefeituras).

Conclusão.

As eleições municipais de 2012 foram emblemáticas. Em pleno fervor do julgamento do Mensalão, que resultou na condenação de lideranças históricas do PT (Dirceu, Genoíno e Delúbio) e revelou os detalhes do maior esquema de corrupção da estrutura democrática que já se teve notícia no país, o projeto de poder hegemônico da esquerda, orquestrado pelo PT e acompanhado por outros partidos, continuou mostrando sua força e sua marcha cada vez mais retumbante.
A exposição pública do caso Mensalão durante as eleições praticamente não abalou os objetivos eleitorais do PT. No estado de São Paulo, por exemplo, suas 3 maiores cidades (Guarulhos, Campinas e São Paulo – responsáveis por 14% do PIB do país [2]) contaram com representantes petistas no segundo turno das eleições. Apenas em Campinas o PT perdeu, e para o não menos socialista (e tradicional aliado do PT) PSB.
Na cidade de São Paulo, a eleição foi ainda mais emblemática. Foi eleito Fernando Haddad, ilustre desconhecido, lançado de para-quedas na cidade por Lula, e cuja incompetência à frente do Ministério da Educação fora muito bem comprovada nos casos de irregularidade no ENEM [3].
Nem mesmo a comprovação dos meios criminosos de que a esquerda lançou mão para se instalar no poder parece frear a marcha do país rumo à hegemonia totalitária da esquerda. Muito pelo contrário: tal comprovação parece facilitar ainda mais essa marcha, encobrindo-a com um véu de aparente moralidade, justiça e democracia.
Por outro lado, não há a menor expectativa pelo surgimento de alguma força política que venha fazer frente a esse plano de poder hegemônico. Até mesmo os partidos de centro e de centro-direita convenceram-se de que, longe do discurso populista e socializante, não é possível ganhar eleições.
Esses partidos renderam-se à máxima de que, “se não é possível vencê-los, junte-se a eles”. Dessa forma, acreditam que, mantendo o poder pontual através da eleição de um ou outro prefeito ou deputado, podem manter-se respirando, à espera de um ressurgimento triunfante no futuro, ludibriando o inimigo. Ledo engano: agindo dessa forma e suportando essas idéias, nada estão ganhando. De fato, estão dando a vitória ideológica à esquerda.
O resultado é um vácuo de representação político-partidária das idéias conservadoras da sociedade, e a total ausência de uma oposição, de fato, às ideias socialistas.

Esquerdismo, uma doença mental grave



Por Luciano Ayan

Geralmente vemos esquerdistas se referirem a quem é da direita como um “louco da direita”, e daí por diante. Enquanto isso, a crença esquerdista é baseada em quê? É isso que começamos a investigar de uma forma mais clínica a partir do livro The Liberal Mind: The Psychological Causes of Political Madness, de Lyle Rossiter, lançado em 2011.

Conforme a review da Amazon, já notamos a paulada que será dada nos esquerdistas:


“Liberal Mind traz o primeiro exame profundo da loucura política mais relevante em nosso tempo: os esforços da esquerda radical para regular as pessoas desde o berço até o túmulo. Para salvar-nos de nossas vidas turbulentas, a agenda esquerdista recomenda a negação da responsabilidade pessoal, incentiva a auto-piedade e auto-comiseração, promove a dependência do governo, assim como a indulgência sexual, racionaliza a violência, pede desculpas pela obrigação financeira, justifica o roubo, ignora a grosseria, prescreve reclamação e imputação de culpa, denigre o matrimônio e a família, legaliza todos os abortos, desafia a tradição social e religiosa, declara a injustiça da desigualdade, e se rebela contra os deveres da cidadania. Através de direitos múltiplos para bens, serviços e status social não adquiridos, o político de esquerda promete garantir o bem-estar material de todos, fornecendo saúde para todos, protegendo a auto-estima de todos, corrigindo todas as desvantagens sociais e políticas, educando cada cidadão, assim como eliminando todas as distinções de classe. O esquerdismo radical, assim, ataca os fundamentos da liberdade civilizada. Dadas as suas metas irracionais, métodos coercitivos e fracassos históricos, juntamente aos seus efeitos perversos sobre o desenvolvimento do caráter, não pode haver dúvida da loucura contida na agenda radical. Só uma agenda irracional defenderia uma destruição sistemática dos fundamentos que garantem a liberdade organizada. Apenas um homem irracional iria desejar o Estado decidindo sua vida por ele, ao invés e criar condições de segurança para ele poder executar sua própria vida. Só uma agenda irracional tentaria deliberadamente prejudicar o crescimento do cidadão em direção à competência, através da adoção dele pelo Estado. Apenas o pensamento irracional trocaria a liberdade individual pela coerção do governo, sacrificando o orgulho da auto-suficiência para a dependência do bem-estar. Só um louco iria visualizar uma comunidade de pessoas livres cooperando e ver nela uma sociedade de vítimas exploradas pelos vilões.”
O que temos aqui, na obra de Rossiter, é o tratamento do esquerdismo de forma clínica, por um psiquiatra forense. (Um pouco mais no site do autor do livro, e um pouco mais sobre sua prática profissional).

O modelo de mente esquerdista

O livro é bastante analítico, e, por vezes, até chato de se ler. Quem está acostumado a livros de fácil leitura de autores conservadores de direita, como Glenn Beck e Ann Coulter, pode até se incomodar. Outro livro que fala do mesmo tema é Liberalism Is a Mental Disorder: Savage Solution, de Michael Savage. Mas o livro de Savage é também uma leitura informal, embora séria. O livro de Rossiter é acadêmico, de leitura até difícil, sem muitas concessões comerciais, e de um rigor analítico simplesmente impressionante. Se não é sua leitura típica para curar insônia, ao menos o conteúdo poderoso compensa o tratamento seco e acadêmico dado ao tema.
Segundo Rossiter, a mente esquerdista tem um padrão, que se reflete tanto em um padrão comportamental, quanto um padrão de crenças e alegações. Portanto, é possível “modelar” a mente do esquerdista a partir de uma série de padrões. A partir daí, Rossiter investiga uma larga base de conhecimento de desordens de personalidade, e usa-as para modelar os padrões de comportamento dos esquerdistas. Segundo Rossiter, basta observar o comportamento de um esquerdista, mapear suas crenças e ações, e compará-los com os dados científicos a respeito de algumas patologias da mente. A mente esquerdista pode ser classificada como um distúrbio de personalidade por que as crenças e ações resultantes deste tipo de mentalidade se encaixam com exatidão no modelo psiquiátrico do distúrbio de personalidade. As análises de Rossiter são feitas tanto nos contextos individuais (a crença do cidadão esquerdista em relação ao mundo), como nos contextos corporativos (ação de grupo, endosso a políticos profissionais, etc.).
Rossiter nos lembra que a personalidade é socializada pelos pais e pela família, como uma parte do desenvolvimento infantil. Mesmo com a influência do ambiente escolar, são os pais que preparam a criança para o futuro. A partir disso, ele avalia o que é um desenvolvimento sadio, para desenvolver uma personalidade apta a viver em um mundo orientado a valorização da competência, dentro do qual essa personalidade deverá reagir. Uma personalidade sadia reagiria bem a esse mundo já sem a presença dos pais, enquanto uma personalidade com distúrbio não conseguiria o mesmo sucesso. Em cima disso, Rossiter avalia a personalidade desenvolvida com os itens da agenda esquerdista, demonstrando que muitos itens dessa agenda estão em oposição ao desenvolvimento sadio da personalidade.
Para o seu trabalho, Rossiter classifica os esquerdistas em dois tipos: benignos e radicais. Os radicais são aqueles cujas ações (agenda) causam dano a outros indivíduos. De qualquer forma, os esquerdistas benignos (seriam os moderados) dão sustentação aos esquerdistas radicais.
Rossiter define o homem como uma fonte autônoma de ação, ao mesmo tempo em que está envolvido em relações, como as econômicas, sociais e políticas. Isto é definido por Rossiter como a Natureza Bipolar do Homem, pois mesmo que ele seja capaz de ação independente, também é restrito pelo contexto social, na cooperação com os outros. A partir dessa constatação, tudo o mais flui. Para permitir que o homem seja capaz de operar com sucesso em seu ambiente natural, deve existir um desenvolvimento adequado da personalidade. Este desenvolvimento da personalidade surge a partir dos outros, idealmente a mãe e a família.
Outro ponto central: toda a análise de Rossiter é feita no contexto de uma sociedade livre, não de uma sociedade totalitária. Portanto, ele avalia o quão alguém é sadio em termos de personalidade para viver em uma sociedade democrática, e não em uma sociedade formalmente totalitária, como Coréia do Norte, Cuba ou China, por exemplo.

Competência em uma sociedade livre

Fica claro que não devemos esperar de Rossiter avaliação sobre um modelo de personalidade para toda e qualquer sociedade, pois ele é bem claro em seu intuito: desenvolver e estudar personalidades competentes para a vida em uma sociedade livre. A manutenção de tal sociedade requer regras para existir, que devem ser codificadas em leis, hipóteses, assim como regras do senso comum.
Nesse contexto, as habilidades a seguir são aquelas de um adulto competente em uma sociedade com liberdade organizada:
  • Iniciativa – Fazer as coisas acontecerem.
  • Atuação – Agir com propósito.
  • Autonomia – Agir independentemente.
  • Soberania- Viver independentemente, através da tomada de decisão competente.
Rossiter define os direitos naturais do homem, para uma pessoa adulta vivendo em uma sociedade de liberdade organizada. Estes compreendem o exercício, conforme qualquer um escolher, das habilidades selecionadas acima, todas elas sujeitas às restrições necessárias para uma sociedade com paz e ordem. Assim, direitos naturais resultam da combinação de natureza humana e liberdade humana. Natureza humana significa viver como alguém quiser, sujeito as restrições necessárias para paz e ordem.
Considerando estes atributos humanos, Rossiter define como uma ordem social adequada, aquela que possui os seguintes aspectos:
  • Honra a soberania do indivíduo
  • Respeita a liberdade do indivíduo.
  • Respeita a posse de propriedade e integridade dos contratos.
  • Respeita o princípio da igualdade sob a lei.
  • Requer limites constitucionais, para evitar que o governo viole os direitos naturais.
 Os aspectos acima são avaliados na perspectiva do indivíduo, não de grupos ou classes, em um processo relacionado à individuação, conceito originado em Jung. Neste processo, o ser humano evolui de um estado infantil de identificação para um estado de maior diferenciação, o que implicará necessariamente em uma ampliação da consciência. A partir daí, surge cada vez mais o conhecimento de si-mesmo, em detrimento das influências externas. Eventuais resistências à individuação são causas de sofrimento e distúrbios psiquícos.
Segundo Rossiter, o indivíduo adulto que passou adequadamente pelo processo de individuação assume de forma coerente seu direito a vida, liberdade e busca da felicidade. Mesmo assim, isso não significa que ele pode fazer o que quiser, pois deve respeitar o individualismo dos outros e interagir com eles através da cooperação voluntária. Assim, o individualismo deve ser associado com mutualidade, para o desenvolvimento de um adulto competente para viver em uma sociedade de liberdade organizada.
Rossiter estuda com afinco as características de desenvolvimento do invidíduo, de acordo com regras pelas quais ele pode viver em uma sociedade de liberdade organizada, e lista sete direitos individuais do cidadão comum, dentro dos quais ele pode exercitar sua autonomia, livre da interferência do governo:
  •  Direito de auto-propriedade (autonomia)
  • Direito de primeira posse (para controlar propriedade que não tenha sido de posse de ninguém antes)
  • Direito de posse e troca (manter, trocar ou comercializar)
  • Direito de auto-defesa (proteção de si próprio e da proriedade)
  • Direito de compensação justa pela retirada (a partir do governo)
  • Direito a acesso limitado (a propriedade dos outros em emergências)
  • Direito a restituição (por danos a si próprio ou propriedade)
Estes são normalmente chamados de direitos naturais, direitos de liberdade ou direitos negativos. O governo deve ser estruturado para proteger estes direitos, e precisa ser estruturado de forma que não infrinja-os. A obrigação do governo em uma sociedade de liberdade organizada envolve implementar e sustentar estas regras para proteger o cidadão de infrações cometidas tanto por outros como pelo próprio governo.
Eis que surge o problema da mente esquerdista, que quer atacar basicamente todos os pilares acima. Em cima disso, Rossiter levanta as crenças da mente esquerdista, que, juntas, dão um fundamento do modelo da mente deles:
  •  Modelos sociais ideais tradicionais estão ultrapassados e não se aplicam mais.
  • A direção do governo é melhor do que ter os cidadãos tomando conta de si próprios.
  • A melhor fundação política de uma sociedade organizada ocorre através de um governo centralizado.
  • O objetivo principal da política é alcançar uma sociedade ideal na visão coletiva.
  • A significância política do invidíduo é medida a partir de sua adequação à coletividade.
  • Altruísmo é uma virtude do estado, embutida nos programas do estado.
  • A soberania dos indivíduos é diminuída em favor do estado.
  • Direitos a vida, liberdade e propriedade são submetidos aos direitos coletivos determinados pelo estado.
  • Cidadãos são como crianças de um governo parental.
  • A relação do indivíduo em relação ao governo deve lembrar aquela que a criança possui com os pais.
  • As instituições sociais tradicionais de matrimônio e família não são muito importantes.
  • O governo inchado é necessário para garantir justiça social.
  • Conceitos tradicionais de justiça são inválidos.
  • O conceito coletivista de justiça social requer distribuição de riqueza.
  • Frutos de trabalho individual pertencem à população como um todo.
  • O indivíduo deve ter direito a apenas uma parte do resultado de seu trabalho, e esta porção deve ser especificada pelo governo.
  • O estado deve julgar quais grupos merecem benefícios a partir do governo.
  • A atividade econômica deve ser cuidadosamente controlada pelo governo.
  • As prescrições do governo surgem a partir de intelectuais da esquerda, não da história.
  • Os elaboradores de políticas da esquerda são intelectualmente superiores aos conservadores.
  • A boa vida é um direito dado pelo estado, independentemente do esforço do cidadão.
  • Tradições estabelecidas de decência e cortesia são indevidamente restritivas.
  • Códigos morais, éticos e legais tradicionais são construções políticas.
  • Ações destrutivas do indivíduo são causadas por influências culturais negativas.
  • O julgamento das ações não deve ser baseado em padrões éticos ou morais.
  • O mesmo vale para julgar o que ocorre entre nações, grupos éticos e grupos religiosos.
Como tudo na vida, o aceite de crenças tem consequências. No caso do aceite das crenças esquerdistas, consequências incluem:
  • Dependência do governo, ao invés de auto-confiança.
  • Direção a partir do governo, ao invés da auto-determinação.
  • Indulgência e relativismo moral, ao invés de retidão moral.
  • Coletivismo contra o individualismo cooperativo.
  • Trabalho escravo contra o altruísmo genuíno.
  • Deslocamento do indivíduo como a principal unidade social econômica, social e política.
  • A santidade do casamento e coesão da família prejudicada.
  • A harmonia entre a família e a comunidade prejudicada.
  • Obrigações de promessas, contratos e direitos de propriedade enfraquecidos.
  • Falta de conexão entre premiações por mérito e justificativa para estas premiações.
  • Corrupção da base moral e ética para a vida civilizada.
  • População polarizada em guerras de classes através de falsas alegações de vitimização e demandas artificiais de resgate político.
  • A criação de um estado parental (nanny state) e administrativo idealizado, dotado de vastos poderes regulatórios.
  • Liberdade invididual e coordenação pacífica da ação humana severamente comprometida.
Aliás, eu acho que Rossiter esqueceu de consequências adicionais como: Aumento do crime, devido a tolerância ao crime e Incapacidade de uma base lógica para que a sociedade sequer tenha condição de julgar o status em que se encontra.

Por que a mente esquerdista é uma patologia?

Para Rossiter, a melhor forma de avaliar a mente do esquerdista é a através dos valores que ele tem, e os que ele rejeita. Mais:
“Como todos os outros seres humanos, o esquerdista moderno revela seu verdadeiro caráter, incluindo sua loucura, nos valores que possui e que descarta. De especial interesse, no entanto, são os muitos valores sobre os quais a mente esquerdista não é apaixonada: sua agenda não insiste em que o invidívuo é a principal unidade econômica, social e política, ele não idealiza a liberdade individual em uma estrutura de lei e ordem, não defende os direitos básicos de propriedade e contrato, não aspira a ideais de autonomia e reciprocidade autênticas. Ele não defende a retidão moral ou sequer compreende o papel crítico da moralidade no relacionamento humano. A agenda esquerdista não compreende uma identidade de competência, nem aprecia sua importância, e muito menos avalia as condições e instituições sociais que permitam seu desenvolvimento ou que promovam sua realização. A agenda esquerdista não compreende nem reconhece a soberania, portanto não se importa em impor limites estritos de coerção pelo estado. Ele não celebra o altruísmo genuíno da caridade privada. Ele não aprende as lições da história sobre os males do coletivismo.”
Rossiter diz que as crianças não nascem com este “programa”, que é adquirido especialmente durante o aprendizado escolar. Em resumo: um adulto, competente para operar em uma sociedade de liberdade organizada, na maior parte das vezes adquire estes valores dos pais e da família, mas um esquerdista radical não.
Basicamente, o esquerdismo pode ser caracterizado como uma neurose, baseada nos traumas do relacionamento com a família durante o desenvolvimento da personalidade. Sendo uma neurose de transferência, ela compreende as projeções inconscientes das psicodinâmicas da infância nas arenas políticas da vida adulta. É o resultado de uma falha no treino da criança nos elementos psicodinâmicos básicos de um adulto, competente para viver em uma sociedade de liberdade organizada. (Obviamente, um esquerdista jamais irá reconhecer as “fendas” em seu desenvolvimento de criança até um adulto).
Rossiter nos diz mais:
“Sua neurose é evidente em seus ideais e fantasias, em sua auto-justiça, arrogância e grandiosidade, na sua auto-piedade, em suas exigências de indulgência e isenção de prestação de contas, em suas reivindicações de direitos, em que ele dá e retém, e em seus protestos de que nada feito voluntariamente é suficiente para satisfazê-lo. Mais notadamente, nas demandas do esquerdista radical, em seus protestos furiosos contra a liberdade econômica, em seu arrogante desprezo pela moralidade, em seu desafio repleto de ódio contra a civilidade, em seus ataques amargos à liberdade de associação, em seu ataque agressivo à liberdade individual. E, em última análise, a irracionalidade do esquerdista radical é mais aparente na defesa do uso cruel da força para controlar a vida dos outros.”
Agora fica mais fácil entender por que os esquerdistas são tão frustrados e raivosinhos em suas interações, não?

Os cinco déficits principais do esquerdista

Um esquerdista apresenta, segundo Rossiter, cinco principais déficits, cada um mais evidente nas diversas fases do desenvolvimento, desde os primeiros meses após o nascimento, até a entrada da fase adulta.
  1. Confiança básica: O primeiro déficit relaciona-se a confiança básica. Isto é, a falta de confiança nos relacionamentos entre pessoas por consentimento mútuo. Por isso, o esquerdista age como se as pessoas não conseguissem criar boas vidas por si próprios através da cooperação voluntária e iniciativa individual. Por isso, colocam toda essa coordenação nas mãos do estado, que funciona como um substituto para os pais. Se a criança não consegue conviver com os irmãos, precisa de pais como árbitros. Este déficit inicia-se no primeiro ano de vida. As interações positivas de uma criança com a mãe o introduzem a um mundo de relacionamento seguro, agradável, mutuamente satisfatório e a partir do “consentimento” entre ambas as partes. Mas caso exista um relacionamento anormal e abusivo na infância, algo de errado ocorre, e essa aquisição de confiança básica é profundamente comprometida. Lembremos que a ingenuidade é problemática, mas o esquerdista é ingênuo perante o governo, que tem mais poder de coerção, enquanto suspeita dos relacionamentos humanos não abitrados pelo governo.
  2. Autonomia: Após os primeiros 15 meses, uma criança começa a incorporar os fundamentos de autonomia, auto-realização, assim como fundamentos de mutualidade, ou auto-realização (assim como realização dos outros). A partir dessa fase, a criança começa a agir por si própria para ter suas necessidades satisfeitas, de acordo com aqueles que cuidam dela. Junto com a ideia de autonomia, surgem ideias como auto-confiança, auto-direção e auto-regulação. A criança “mimada”, que cresce dependente do excesso de indulgência dos pais é privada das virtudes de auto-confiança e auto-controle e de atitudes necessárias para cooperação com os outros.
  3. Iniciativa: No desenvolvimento normal, esta é a capacidade de se iniciar bons trabalhos para bons propósitos, sendo desenvolvida nos primeiros quatro ou cinco anos da vida de uma criança. No caso da falta de iniciativa, há falta de auto-direção, vontade e propósito, geralmente buscando relacionamentos com os outros de forma infantil, sempre pedindo por condescendência, ao invés de lutar para ser respeitado. Pessoas como esta personalidade normalmente assumem um papel infantil em relação ao governo, votando para aqueles que prometem segurança material através da obrigação coletiva, ao invés de votar naqueles comprometidos com a proteção da liberdade individual. A inibição da iniciativa pode ocorrer por culpa excessiva adquirida na infância, surgindo, por instância, do completo de Édipo.
  4. Diligência: Assim como a iniciativa é a habilidade de iniciar atos com boas metas, diligência é a habilidade para completá-los. A criança, no seu desenvolvimento escolar, se torna apta a completar suas ações de forma cada vez mais competente. Na fase da diligência, a criança aprende a fazer e realizar coisas e se relacionar de formas mais complexas com pessoas fora de seu núcleo familiar. A meta desta fase é o desenvolvimento da competência adulta. É a era da aquisição da competência econômica e da socialização. Nessa fase, se aprende a convivência de acordo com códigos aceitos de conduta, de acordo com as possibilidades culturais de seu tempo, de forma a canalizar seus interesses na direção da cooperação mútua. Quando as coisas não vão muito bem, surgem desordens comportamentais, uso de drogas, ou delinquência, assim como o surgimento de ações que sabotam a cooperação. A tendência é a geração de um senso de inferioridade, assim como déficits nas habilidades sociais, de aprendizado e identificações construtivas, que deveriam ser a porta de entrada para a aquisição da competência adulta. Atitudes que surgem destas emoções patológicas podem promover uma dependência passiva comportamental como uma defesa contra o medo diante das relações humanas, vergonha, ou ódio.
  5. Identidade: O senso de identidade do adolescente é alterado assim que ele explora várias personas, múltiplas e as vezes contraditórias, na construção de seu self. Ele deve se confrontar com novos desafios em relação ao balanço já estabelecido entre confiança e desconfiança, autonomia e vergonha, iniciativa e culpa, diligência e inferioridade. Esta fase testa a estabilidade emocional que foi desenvolvida pela criança, assim como sua racionalidade, sendo de adequação e aceitabilidade, superação de obstáculos, e o aprofundamento das habilidades relacionais. O desenvolvimento desta identidade adulta envolve o risco percebido de acreditar nas instituições sociais. O adulto quer uma visão do mundo na qual possa acreditar. Isto é especialmente importante se ele sofreu formas de abuso anteriormente. Sua consciência ampliada de quem ele é facilita uma integração entre suas identidades do passado e do presente com sua identidade do futuro. Nesta fase do desenvolvimento o jovem pode ser vítima das ofertas ilusórias do esquerdismo. É a fase “final” da escolha.

Há uma cura para o esquerdismo?

Com uma identidade mantida por uma série de neuroses, o esquerdista não consegue mais assumir responsabilidades pelos seus atos, e muito menos pelas consequências de suas ações. Tende a se fazer de vítima para conseguir o que quer, e não se furta em mentir para conseguir seus objetivos. É quando podemos questionar: há uma cura para isso tudo? Possivelmente, mas a questão é que o esquerdista deve buscar ajuda por si próprio, mas quanto mais ele estiver recebendo reforço de seus grupos, menos vontade ele terá para fazê-lo. Ao contrário, mesmo com tantos déficits e tamanhos delírios, ele sempre julgará estar com a razão.
Diante disso, quem pode fazer algo pelos esquerdistas são os direitistas, mas isso só pode acontecer pela via da refutação e do desmascaramento de suas ações. Incapazes de julgarem seus próprios atos, jamais se deve confiar no auto-julgamento de um esquerdista. Todas as auto-rotulagens e outro-rotulagens tendem a ser mentirosas, assim como seus argumentos. A refutação de uma parte externa, não contaminada pela ideologia esquerdista, é a única alternativa que pode dar um fio de esperança ao esquerdista.
Entretanto, mesmo que ainda exista esperança para o esquerdista, os maiores afetados são os não-esquerdistas, que possuem suas vidas impactadas por suas crenças. Por isso, as nossas ações não devem ser realizadas primeiramente em prol de salvar os esquerdistas de suas patologias (envergonhando-o, por suas mentiras, assim como denunciando suas chantagens emocionais) , mas sim por salvar-nos das consequências de suas neuroses e psicoses.
Nesse intento, entender por que eles achem assim, como eles se sentem, e o que os tornou assim, passa a ser essencial. Neste ponto, a obra de Lyle Rossiter é simplesmente um achado.
Fontes: