A OCC Alerta Brasil, alerta e denuncia a manipulação dos partidos de esquerda que usam o movimento LGBT como massa de manobra para a consolidação do socialismo/comunismo no Brasil. No entanto eles esquecem de informar que Fidel Castro e Mao Tse Tung fizeram o mesmo usaram os gays para depois matarem ou joga-los em prisões e campos de trabalhos forçados. Hilter e Stalin também usaram de subterfúgios similares e posteriormente os massacraram. O ativismo LGBT pensa que está usando e manipulando os partidos, e que a maioria da população são contrários a opção sexual deles. A sociedade é contra a imposição e intolerância religiosa que o movimento LGBT querem impor, e os alerta que estão sendo usados como massa de manobra e posterior massacre que ocorrerá. Será que eles não aprenderam nada com a história? Só não enxerga quem não quer!!!
A luta LGBT como estratégia para a construção de uma sociedade socialista
por
Rodrigo Cruz e Thais Dourado
Este texto tem como
objetivo debater o caráter estratégico da luta pela emacipação de
lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTs). É bem
verdade que a luta pela liberação gay, iniciada em junho de 1969 com a
Rebelião de Stonewall, acontece sob forte influencia dos movimentos de
contracultura dos anos 60, em especial a chamada revolução sexual e os
protestos da juventude de 68 na França, que questionam diretamente os
ideias emancipatórios marxistas. Há de se considerar que a essa altura, a
experiência real do socialismo já havia dado conta de responder
negativamente às aspirações das “minorias sexuais”: nos regimes de
caráter stalinista como Cuba, China e na URSS, os homossexuais foram
duramente perseguidos, assassinados ou enviados a campos de concentração
para trabalho forçado.
Por outro lado, não se pode ignorar que,
nas décadas seguintes, houve algum esforço por parte da esquerda
socialista para incorporar a luta pela diversidade sexual à sua agenda
de discussões. No Brasil, por exemplo, a vanguarda da militância LGBT do
início da década de 80 encontrou apoio justamente no movimento operário
(num processo de aglutinação de diversos movimentos e correntes
políticas de esquerda que, mais tarde, viria a culminar na fundação do
PT). O fato é que desde Stonewall, a luta LGBT se desenvolve num misto
de conflito e articulação com a luta dos trabalhadores, seja pelas
mudanças político-ideológicas que culminaram no recuo da alternativa
socialista e na fragmentação das organizações mundiais que a
reivindicavam, seja pela falta de formação da esquerda a respeito das
questões que dizem respeito à diversidade sexual.
Interessa a nós, portanto, debater, a
partir de uma leitura crítica do feminismo marxista e da teoria “queer”,
as duas principais tradições teóricas que identificamos como pilares de
sustentação do movimento LGBT, como as lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transexuais socialistas devem encarar a luta contra a
homofobia.
OS PARADIGMAS TEÓRICOS: Feminismo Marxista e Teoria Queer
O feminismo, como
ideologia e movimento social pela emancipação feminina, tem
possibilitado há mais de um século que questionemos as relações de
gênero presentes em nossa sociedade. O marxismo, como teoria científica e
movimento social crítico das sociedades de classe, tem possibilitado, a
partir da leitura materialista da história, a compreensão dessas
relações de gênero como elemento fundamental do processo de acumulação
de capital. No artigo intitulado “Marxismo, feminismos e feminismo
marxista – mais que um gênero em tempos neoliberais”, a Socióloga e
pesquisadora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Mary Garcia Castro
estabelece um paralelo entre ambas as tradições:
“Tanto no marxismo como no
feminismo, haveria a preocupação por questionar relações desiguais
socialmente construídas e reconstruídas em embates de poder (no caso do
feminismo, entre os sexos e pela institucionalização da supremacia
masculina). Em ambos conhecimentos ressalta-se o projeto por negação de
propriedades, expropriações e apropriações (no caso do feminismo, tanto
do valor produzido pelo trabalho das mulheres, socialmente reconhecido
ou não, como de seu corpo, voz, representações). Compartem também, o
marxismo e o feminismo, a ênfase na materialidade existencial (para
alguns feminismos, a vida cotidiana, para outros, a textual, e, para
outros ainda, o cenário histórico – hoje, o capitalismo em formato
neoliberal), considerando que essa materialidade se sustenta por
práticas em um real vivido e um real idealizado e ideologizado (em
instituições, no privado e no público, e na micropolítica das relações
sociais). Por outro lado, advoga-se, tanto no marxismo como no
feminismo, a possibilidade de mudanças acionadas por sujeitos,
pautando-se portanto por investimento em realizar uma utopia humanista” (CASTRO, M. G. Critica Marxista, Sao Paulo, v. 11, p. 98-108, 2001).
O feminismo em seu recorte materialista
oferece, portanto, uma grande contribuição para a teoria marxiana. Em
primeiro lugar porque ele aciona um sujeito historicamente oprimido,
neste caso, a mulher – que no processo de apropriação privada da
produção social foi submetida ao trabalho de dupla reprodução da vida – a
lutar pela transformação dessa relação de opressão, o que seria, na
prática, lutar pela aniquilação do sistema político e econômico (o
capitalismo) que a oprime. Se pensarmos, por exemplo, nos impactos
econômicos da máxima socialização do trabalho doméstico entre homens e
mulheres no atual estágio de acumulação do capital, iremos concluir que o
sistema seria abalado, uma vez que sua estrutura está baseada, entre
outras coisas, na dupla exploração do trabalho feminino.
É por isso que nós, LGBT socialistas e
revolucionários, precisamos reivindicar, antes de tudo, o feminismo
marxista. Sem a luta das mulheres, nunca teria sido possível questionar a
natureza das relações de gênero, a finalidade das práticas sexuais na
sociedade capitalista e a supremacia do masculino na esfera pública.
Podemos dizer ainda que a base da opressão machista e homofóbica é a
mesma: o patriarcado enquanto modelo de organização social centrado na
figura do homem cisgênero, que tem como objetivo garantir a manutenção
da sociedade de classes por meio da transferência de herança
(propriedade privada), processo diretamente responsável pela
normatização das relações heterossexuais (visto que só a partir delas
são gerados herdeiros legítimos).
Em segundo lugar, o feminismo retoma a
centralidade das relações sociais na obra marxiana, tema que por muito
tempo foi menosprezado pela tradição economicista. Para Marx, o que
distinguiria um escravo de um não-escravo não seria nenhuma
característica naturalizada, mas o tipo de relações sociais em que
estaria o escravo. E experiência do socialismo real ilustra muito bem
esse dilema: do que adianta tomar os meios de produção se as relações
sociais de uma determinada sociedade não são transformadas? O socialismo
hoje pode ser uma alternativa à barbárie do capital se não tiver como
tarefa uma de suas tarefas prioritárias a emencipação das mulheres,
negros e LGBT a partir da transformação real das relações opresssoras
que denominamos como machismo, racismo e homofobia?
Essa não é uma questão nova. Já na
década de 60, os movimentos de juventude, desiludidos com a alternativa
socialista, questionavam o pensamento marxista, o economicismo e a
primazia das forças produtivas nas análises da esquerda. O crescente
desencanto com os grandes projetos emancipatórios, consequencia direta
da queda do muro de Berlim no final dos anos 80, fez com que uma parte
considerável do movimento feminista dos anos 70, que formulava sobre a
estrutura social, as relações entre produção e reprodução, o valor de
diversos tipos de trabalhos desempenhados pelas mulheres e o conceito de
patriarcado viesse a se dedicar ao estudo das relações de forças
locais, os discursos, as disputas por representação, o significado do
corpo e os prazeres, sem identificar a necessidade de mudanças frente a
barbárie do capitalismo neoliberal. Essa nova etapa do feminismo, também
denominada “pós-feminismo”, se caracteriza como parte da “ofensiva”
pós-moderna que perdura até os dias atuais:
“O pós-feminismo toma formato de
movimento a partir de 1990 – não somente na Europa, onde se iniciara na
década anterior, mas também nos EUA. Critica-se o que se identificaria
como ‘postura feminista’, isto é, o ‘policiamento’ da sexualidade e a
redução da mulher à vítima. E afasta-se de conceitos como patriarcado,
das distinções entre o feminino e o masculino e da ênfase em relações
entre tais constructos. Também se recusa o conceito de gênero, por
considerar que levaria ao ocultamento da homo e da bissexualidade.
Celebram-se as diferenças culturais (o que herda também do
pós-estruturalismo) e, na esteira do pós-modernismo, rejeita-se o
capitalismo, no plano discursivo e o marxismo, caricaturado como
perspectiva ‘economicista’ e totalizante que, ao enfatizar a igualdade,
tenderia a homogeneizar experiências e a considerar que só haveria um
sujeito na revolução, o proletariado (aliás, revolução termo também
abolido do léxico dos ‘pós’, seria uma ‘meta narrativa’ incompatível com
uma ideologia que preza o “eterno presente”). Move-se na “luta
discursiva”, ou seja “na luta pelo controle dos termos e regras do
discurso”, e rompe com a “unidade-de-teoria-e-prática marxista” –
textos entre aspas, de Fredric Jameson . “Cinco teses sobre o marxismo
atualmente existente”. In Wood, Ellen Meiksins e Foster, John Bellamy
(orgs.). Em defesa da História. Marxismo e pós-modernismo. Rio de
Janeiro, Jorge Zahar, 1999. Ver, sobre pós-feminismo, Phoca, Shopia e
Wright, Rebecca. Introducing Postfeminism. New York, Totem Books, 1999.
O movimento pela liberação gay (que hoje
conhecemos como LGBT), que já havia surgido sob forte questionamento do
pensamento marxiano, foi amplamente influenciado pelas teorias pós
feministas. Primeiro porque o feminismo marxista parecia não dar conta
de explicar a diversidade de identidades de gênero, orientações sexuais,
práticas, fluxos e suas interseccionalidades com as categorias de raça,
classe e etnia (e de fato não dava). Segundo porque a crescente
adaptação dos gays ao sistema capitalista, o surgimento do “pink money” e
a institucionalização do movimento LGBT dos anos 80 provocou uma
resposta por parte das “identidades marginais” (gays afeminados,
lésbicas masculinizadas, travestis, transexuais, homossexuais pobres ou
com deficiência física etc) que não foram beneficiadas com o acesso aos
bens de consumo ou com direitos democráticos. É sempre bom lembrar que
nas sociedades de classe como a nossa, o acesso à justiça e aos direitos
civis é regulado principalmente pelas condições econômicas objetivas.
“Pessoas com dinheiro (mais
frequentemente homens brancos do que mulheres) têm acesso privilegiado
aos espaços de consumo e ao estilo de vida da “comunidade gay”.
Lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros negros, muitas vezes,
enfrentam uma dupla invisibilidade, apagados pelo racismo dentro das
comunidades gays e marginalizados pela homofobia em suas próprias
comunidades” (SEARS, A. Queer and Anti-Capitalism: What’s Left of
Lesbian and Gay Liberation? Science & Society, Vol. 69, No. 1,
January 2005, 92–112
É por esse motivo que os estudiosos
“queer” propõem positivar as formas tradicionais de insulto aos
homossexuais (como “bicha”, “veado” e “sapatão”) de modo a criar uma
força política provocadora que unifique todos as LGBT (a experiência
vexatória do preconceito nada mais é, senão, uma experiência comum para
todos nós), capaz de se colocar contra as normas socialmente aceitas. De
modo geral, ser “queer” significa negar qualquer forma de normatização
do corpo, das relações, das identidades e dos comportamentos socialmente
impostos. Significa uma ruptura entre a linearidade historicamente
construída entre as categorias de sexo, orientação do desejo, identidade
de gênero e prática sexual. O ser humano é um ser criativo, pensante,
mutável. Ele nem sempre cabe em categorias estreitas como “hetero” e
“homossexualidade”.
Entretanto, é necessário fazer algumas
ressalvas. Se por um lado o conceito de “queer” nos oferece uma espécie
de “visão dialética da sexualidade” ao borrar as fronteiras dos gêneros e
das sexualidades, por outro, esvazia essas categorias, reforça a
fragmentação já existente entre as LGBT e dificulta a ação polítca do
movimento (como reivindicar políticas públicas, por exemplo, sem
recorrer as categorias lésbica, gay, bissexual e travesti?). É bem
verdade que a análise histórica nos mostrou que a categoria gênero existe
como produtora de diferenças – e por isso pretendemos sobretudo
eliminar essas diferenças -, mas é preciso lembrar que os gêneros
masculino e feminino persistem no atual estágio do capitalismo, bem como
as relações de desigualdade que derivam da sua construção social.
Dissolver ou abolir os gêneros, portanto, não depende da nossa vontade
militante. Depende da transformação das relações de gênero a partir do
enfrentamento real da opressão machista, homofóbica, lesbofóbica e
transfóbica etc. O feminismo marxista sempre colocou a necessidade da
ação política, enquanto os estudos “queer” nem sempre deixam claro para
onde ir, o que fazer, contra quem lutar.
É nesse sentido que este texto propõe
uma reflexão sobre os paradigmas teóricos colocados para a militância
LGBT até agora. O feminismo marxista nos oferece a base para a
compreensão das estruturas patriarcais que nos oprimem e nos coloca a
necessidade de lutar contra essas estruturas, enquanto a teoria queer
amplia nossos horizontes ao desconstruir a lógica biologizante sobre a
qual o feminismo havia sido construído. “Queer” é um conceito libertador
para ambos os sexos, para todas as orientações sexuais e para todos os
gêneros. “Queer” questiona a naturalização das identidades,
problematiza, desconstrói. Uma política LGBT socialista, deveria,
portanto, perceber que essas duas tradições não necessariamente se
opõem, pelo contrário, elas podem estabelecer uma relação de
complementariedade. Hoje é impossível pensar a questão da diversidade
sexual sem considerar os estudos queer, assim como é impossível pensar
nessa luta sem pautar a necessidade de enfrentar as estruturas
patriarcais lado a lado com as mulheres, sejam elas cis, trans ou
lésbicas. O feminismo marxista e a teoria queer, portanto, devem ser
nossas bases teóricas.
Percebam, por exemplo, que movimento
feminista atual já se utiliza da estratégia discursiva “queer” quando
convida as mulheres a irem às ruas na “Marcha das Vadias”, que nada mais
é do que a tentativa de garantir às mulheres alguma liberdade sobre
seus corpos por meio da positivação de um termo que, historicamente, era
utilizado para humilhá-las. Embora tenha o mérito de revigorar o
movimento feminista e trazer uma nova geração de mulheres para a luta
contra o machismo, o movimento da “Marcha das Vadias” parece carecer de
certa objetividade. O que querem as viadias, afinal? Colocar a violência
contra a mulher na agenda governamental? Ou apenas a contribuir para
algum tipo de mudança cultural em relação a forma como a sociedade
enxerga as liberdades individuais das mulheres (o que por si só não é
pouca coisa)?
Nada disso significa que as mulheres
feministas e socialistas não deveriam participar da “Marcha das
Vadias”. Muito pelo contrário, é importante que elas participem desse
movimento e disputem seus rumos, ofereçam a ele um debate mais
estratégico e aprendam também com a criatividade das novas feminsitas. O
movimento LGBT também deveria participar da “Marcha das Vadias” e
denunciar o binarismo de gênero, o cissexismo, a violência homofóbica, a
ausência de direitos e a regulação do Estado sobre os nossos corpos (as
pessoas transexuais, ainda hoje, dependem de um laudo médico para terem
o sexo retificado no registro civil ou para submeterem-se a uma
cirurgia de readequação genital).
O MOVIMENTO PELA LIBERAÇÃO LGBT COMO ESTRATÉGIA
O exemplo da “Marcha
das Vadias” ilustra bem aquilo que poderia ser (digo “poderia ser”
porque a “Marcha das Vadias” não necessariamente) a luta LGBT
socialista. De um lado, a conquista gradativa de direitos democráticos
(como a criminalização da homofobia, a despatologização das identidades
trans, o direito a mudança do nome social no registro civil e o
casamento igualitário), e de outro, a adoção de estratégias e discursos
que, paralelo a essas políticas de afirmação, “subvertam e questionem de
forma permanente as normas hegemônicas presentes em nossa sociedade”
(COLLING, L., organizador. Stonewall 40 + o que no Brasil? – Salvador :
EDUFBA, 2010). Dessa forma, nós evitaríamos que a nossas luta
colaborasse para construir normas do que é ser um gay, lésbica,
bissexual, travesti ou trans, que como a história já nos mostrou, é uma
grande cilada.
O casamento civil igualitário é outro
bom exemplo de como a luta democrática, embora cheia de armadilhas, pode
ser tática para a verdadeira emancipação LGBT. Vivemos em uma
democracia burguesa, na qual reivindicar o casamento entre pessoas do
mesmo sexo significa basicamente explorar a contradição liberal (a
sociedade da igualdade e da liberdade não oferece de fato liberdade e
igualdade a todos). E o casamento entre pessoas do mesmo sexo, por si
só, representa algum tipo de avanço dentro desse regime (no caso de um
casal do sexo masculino, por exemplo, a divisão sexual do trabalho
doméstico será uma experiência inovadora, visto que se dará, à primeira
vista, sem a exploração do trabalho feminino). Basicamente, muda a
função do casamento na sociedade burguesa.
Entretanto, não podemos cair no erro de
tornar essa uma pauta com um fim em si mesma. O reconhecimento legal do
casamento gay implica, por exemplo, que a aquisição de benefícios da
assistência social para essa população se dará principalmente a partir
da adesão à instituição do casamento. Entretanto, as LGBT não pretendem
casar também precisam ter esses benefícios garantidos. Por isso, a nossa
luta pelo casamento igualitário precisa ter como norte a superação da
instituição casamento, que lembremos, sempre foi uma instituição
responsável por oprimir as LGBT e as mulheres. “É preciso ter clareza de
que não podemos cair no erro de usar, com a melhor das intenções
libertadoras, exatamente os mecanismos que nos oprimiram e que continuam
nos oprimindo” (COLLING, L.2010).
E como as LGBT, afinal, podem contribuir para que alcancemos a nossa estratégia (o socialismo)?
1) Em primeiro lugar, o
movimento LGBT precisa pautar no conjunto da sociedade (e não apenas no
interior dos movimentos feministas e de esquerda) outras configurações
de família, outras formas de compreensão da sexualidade, outros papéis
de gênero que não aqueles impostos pelo sistema capitalista. Deve
combinar a luta por direitos democráticos (para que o Estado reconheça a
diversidade e o capitalismo deixe de extrair maior sobrevalor das
trabalhadoras LGBT que possuem menos direitos) com a constante subversão
das normatividades – não apenas no plano do discurso – mas
principalmente na práxis militante. Isso significa travar uma luta
constante contra as instituições burguesas tendo em vista, a longo
prazo, a transformação real das relações sociais. Esse processo deve ser
visto como preparação do terreno para uma revolução verdadeiramente
socialista.
2) Nesse sentido, o movimento LGBT em
sua luta, deve se unir ao movimento feminista para destruir as
estruturas da sociedade patriarcal, que é um dos pilares do sistema de
acumulação capitalista. É dever das lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transexuais pensar em um modelo societário de organização
que possa fazer da reprodução privada da vida (o trabalho doméstico, o
cuidado dos filhos e dos doentes) uma tarefa amplamente socializada e
igualitária entre todos os homens e mulheres, independente da sua
orientação sexual ou indentidade de gênero. Essa tarefa deve ser
cumprida a partir da destituição das normas que constituem o
patriarcalismo: a maternidade como destino, a heterossexualidade
compulsória, o cissexismo, o binarismo sexual e de gênero, a supremacia
masculina no espaço público, o direito ao corpo, e o próprio conceito de
família. Não podemos esquecer que, para que isso aconteça, são
necessárias medidas de ordem prática (o direito ao aborto, por exemplo, é
uma vitória para todas nós, inclusive para as mulheres lésbicas e
homens trans, pois reafirma a autonomia da mulher e das LGBT).
3) O movimento LGBT socialista deveria
se reivindicar “queer” no sentido de denunciar a insuficiência da luta
democrática para resolver a questão das identidades marginalizadas,
aquelas que não encontram espaço na falsa inclusão mercadológica do
capital e sobretudo para evitar todo e qualquer tipo de normatização. As
sexualidades abjetas, a travesti, o gay negro afeminado da periferia, a
lésbica operária, os bissexuais, as transexuais que sobrevivem da
prostituição continuarão a sofrer com o não acesso aos serviços de
moradia, saúde e educação (além do preconceito) porque não se adequam a
moral burguesa. Explorar essa contradição significa expor ao conjunto
dos LGBTs não socialistas que só uma transformação social ampla (a
superação do capitalismo) poderá nos colocar diante da possibilidade de
superação das opressões. Em outras palavras, o LGBTs precisam denunciar a
farsa da democracia liberal e engajar-se na luta contra o capitalismo,
de preferência na linha de frente (para criar uma cultura na qual as
lideranças da esquerda não sejam sempre homens brancos cisgêneros e
heterossexuais).
Se nós queremos uma sociedade em que as
diferenças não sejam motor de desigualdades, então devemos lutar para
que todo o ser humano possa ser pleno também na expressão da sua
individualidade, da sua sexualidade e dos seus desejos. E a luta LGBT, a
partir de seus inúmeros questionamentos, pode ser uma ferramenta
importante neste sentido. Essa é sem dúvida a maior contribuição que
podemos dar a luta socialista e revolucionária.