Ex-presidente da França concedeu entrevista a emissoras de TV e negou ter cometido atos ilegais
O ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy (Philippe Wojazer/Reuters)
Um dia depois de ser acusado formalmente de corrupção ativa, tráfico de influência e violação do sigilo profissional, o ex-presidente da França Nicolas Sarkozy afirmou que a Justiça do país está sendo usada para “fins políticos”. Em entrevista a duas emissoras de TV, Sarkozy negou ter cometido qualquer ato ilegal e disse que o caso contra ele tem como objetivo abalar sua reputação.
“A situação é suficientemente séria para que eu diga ao povo francês onde estamos na exploração política de parte do sistema legal de hoje”, disse. “Digo a todos os que estão ouvindo que eu nunca os traí e nunca cometi nenhum ato contra os princípios da República e o Estado de Direito”.
A acusação foi formalizada depois de o ex-presidente ser detido e interrogado por aproximadamente quinze horas nesta terça, fato inédito para um ex-chefe de Estado francês. Os investigadores suspeitam que Sarkozy, que governou a França entre 2007 e 2012, tenha prometido um cargo de prestígio em Mônaco para um juiz de alto escalão em troca de informações sobre processos envolvendo sua administração.
Os problemas de Sarkozy com a Justiça francesa têm sido vistos pela imprensa do país como um duro golpe em suas pretensões de retornar ao poder em 2017. Ele foi derrotado pelo socialista François Hollande em 2012 em sua tentativa de reeleição, mas permaneceu popular com parte do eleitorado e demonstrou em diversas ocasiões que pretendia voltar a disputar o cargo.
A entrevista desta quarta-feira quebrou um distanciamento calculado que Sarkozy vinha mantendo da imprensa nos dois últimos anos. Após deixar o Palácio do Eliseu, Sarkozy até falou com jornalistas, mas sempre evitou conceder longas entrevistas e comentar temas controversos. Com isso, ele tentava se manter em evidência sem desgastar a imagem - cuidado arruinado pelas novas acusações.
Sarkozy já vinha tendo dor de cabeça com a Justiça há algum tempo. Em 2012, logo depois de perder a imunidade, a polícia revistou sua casa atrás de provas sobre o caso envolvendo a herdeira da empresa de cosméticos L'Oréal, Liliane Bettencourt. Ele chegou a ser formalmente acusado em março de 2013 de se aproveitar da senilidade da empresária, hoje com 90 anos, para financiar sua campanha presidencial de 2007. Bettencourt, considerada a mulher mais rica da França, sofre da doença de Alzheimer desde 2006. O caso contra o ex-presidente foi arquivado em outubro, mas o processo continua para alguns de seus ex-assessores.
Em abril do ano passado, um inquérito foi aberto para apurar informações de que sua campanha presidencial teria recebido dinheiro do então ditador líbio Muamar Kadafi. Em dezembro, mais um problema para Sarkozy. A polícia deteve Michel Gaudin, ex-chefe da polícia parisiense, e Claude Guéant, ex-ministro do Interior, por suspeita de desvio de verbas públicas.
Recentemente, os maus resultados da União por um Movimento Popular (UMP) nas eleições europeias e os escândalos envolvendo as contas de campanha de Sarkozy provocaram a queda do presidente da legenda, Jean-François Copé, um aliado do ex-presidente.
fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/acusado-sarkozy-diz-que-justica-esta-sendo-usada-para-fins-politicos