Não é de agora que as redes sociais estão dominadas
pela discussão política/econômica.
No Brasil criou-se um" clima de guerra entre oposições, onde apenas os extremos são considerados.
E na última semana um novo debate chamou atenção no Facebook entre a economista
Renata Barreto e o vocalista da banda Detonautas, Tico Santa Cruz.
Após ele afirmar que não acredita que o
Brasil está vivendo em uma crise muito grave como está sendo noticiado, Barreto decidiu enviar um
texto para o cantor para explicar a real situação do País. A economista comenta
sobre a queda do PIB (Produto Interno Bruto), disparada da inflação e dos juros,
além da piora da indústria e da disputa política.
A postagem na página de Tico Santa Cruz já contabiliza
mais de 21 mil curtidas e resultou em uma breve resposta do cantor, que afirmou
não se sentir intimidado e que não acredita ter a obrigação de continuar o
debate, sendo que sua página é para expor suas próprias opiniões e não
"verdades absolutas". Confira abaixo o texto na integra da
economista, ou confira o post no Facebook aqui:
Grande pensador contemporâneo, Tico Santa Cruz. Ontem você
postou um texto sobre a crise, com maluquices tão absurdas que resolvi te
enviar uma resposta, não só como economista, mas como cidadã brasileira
consciente.
Você está em dúvida se existe realmente uma crise, já que apesar
de estarmos passando um momento de retração da economia, tivemos 10 anos
positivos, com pessoas tendo acesso à carros, imóveis e etc. Tiquinho, meu bem,
a tia te explica: Primeiro que tínhamos uma farra de preços de commodities e
nunca incentivamos a indústria de forma consistente, correndo o risco de essa
farra acabar e a receita cair, não tendo outra fonte substancial para segurar o
crescimento. Segundo que, tudo que as pessoas compraram nesses últimos anos foi
às custas de redução de juros drástica e imatura, que incentivou o crédito
demasiadamente, além de preços administrados controlados artificialmente, assim
como redução de impostos para diversos bens de consumo. Os gastos públicos só
aumentaram sem responsabilidade nenhuma. Meta de superávit? Inflação
controlada? Responsabilidade fiscal? Pra que?? Com essa política populista,
ganhamos uma belíssima conta para pagar no futuro. E esse futuro chegou.
Sua lógica me surpreende. Diz que houve demissões, em especial
no setor automotivo, o mesmo que teve um boom nos últimos anos, que contratou
muita gente para dar conta do alto índice de consumo que o povo brasileiro
adotou. “Será que esses setores, que lucraram tanto, não podem manter seus
funcionários neste momento de crise ou será que quebram? Pergunta de leigo,
pois não sou economista”. Não precisa ser economista querido, precisa ter o
mínimo de massa encefálica, coisa que lhe falta, aparentemente, tanto quanto
uma boa música. Se a empresa não faz nada num momento de crise, é obvio que ela
quebra! E se ela quebra, não tem emprego para ninguém! Entendeu? Mas você acha
que o problema é o sistema capitalista opressor e seus lucros não é mesmo?
Comovente.
A minha parte favorita é quando você diz que muitos economistas
preveem aumento de juros, de taxas e que NADA efetivamente aconteceu. Aí eu
levo minhas mãos à cabeça e fico imaginando que espécie de sinapses você faz
com os neurônios que lhe sobraram. A taxa de juros básica está em quase em 14%;
a inflação está cada vez maior (projetado para o final do ano é de mais de 9%,
e a de junho foi a maior para o mês em 19 anos); houve aumento de impostos; os
preços administrados foram corrigidos (energia, gasolina, etc.); o dólar está
no maior patamar em 12 anos (que por acaso pressiona ainda mais a inflação) e o
endividamento das famílias está quase em 50% com o incentivo do crédito nas
épocas que você chama de boa fase econômica. Ah, não se esqueça que ainda houve
corte das metas fiscais; o desemprego cresceu e deve crescer ainda mais; o PIB
está em retração, estimando-se 1.70% de crescimento negativo em 2015 (dois anos
seguidos de retração não acontece no Brasil desde os anos 30); corte de verbas
na educação; demissões nos setores de indústria, infraestrutura, comércio e
serviços; escândalos absurdos em grandes companhias do país como a Petrobras e
Odebrecht; recuo na renda real do trabalhador; mudanças em direitos
trabalhistas; corte de 40% no orçamento do PAC e uma enorme crise de
credibilidade, que apesar de intangível (procure no dicionário), é responsável
pela escassez de crédito e diminuição drástica de investimentos no país. Com a
crise política, essa credibilidade fica ainda mais afetada.
Sua sensação é de que a crise é apenas um sentimento plantado
por pessoas que queiram ver o país desestabilizado financeiramente e
emocionalmente e que isso sim seria o responsável por nos levar à verdadeira
crise, pois o medo desta é o que realmente faz que ela aconteça. Agora o
problema é psicológico? Quanta criatividade para uma teoria da conspiração. Que
gente é essa que está interessada numa grave crise? Quem quer ver o país
perdendo valor, retraindo, perdendo cada vez mais credibilidade, empregos,
poder de compra? Que setores são esses que você fala que ganham com crises e
podem “voltar à cena??”. Que raio de pessoas são essas que ganham com o medo? E
mais, como eles conseguem dominar todos os canais de notícias, inclusive
internacionais? Que brilhante conclusão!!!
Te digo com absoluta certeza que a única coisa que acertou neste
mar de asneiras foi dizer que poderia estar completamente errado em suas
considerações. Não só está MUITO errado nesta avaliação econômica non sense,
quanto em lógica e tudo que conheço por pensamento racional. Você próprio diz
que é preciso reconhecer os problemas para poder saná-los, mas que estes ainda
não aconteceram. Se a situação que temos hoje ainda não é uma crise preocupante
para você e o que vivemos é apenas uma especulação, pode aposentar seu diploma
de pseudo intelectual. Nem isso dá mais pra fazer.
Ser realista nesta joça de país virou ser pessimista, que virou
ser antipatriótico, que virou ser coxinha, que virou “alguém tem interesse
nessa tal de crise”. Se o pior cego é aquele que não quer ver, Tico, você
precisa de um cão guia.
Um grande abraço (com tapinhas nas costas), da economista,
brasileira e sem interesse algum no medo de outrem,
Renata Barreto.
FONTE:
http://www.infomoney.com.br/blogs/blog-da-redacao/post/4202501/economista-uma-aula-economia-resposta-tico-santa-cruz-facebook