Chama-se PSOL. É o partido do solzinho; a sigla que busca conciliarsocialismo
e liberdade.
Nascido
há mais de uma década no coração do progressismo brasileiro, formado por
dissidentes do Partido dos Trabalhadores – insatisfeitos com aquilo que
entendiam como uma guinada à direita de Lula – o PSOL é identificado como um
partido jovem, com uma forte presença nos campus universitários,
pró-minorias e ciberativista. Em suma, alimenta um sentimento de pureza
política e ideológica; a crença de que é diferente de tudo isso que está aí e
que suas ideias podem mudar o mundo – um sentimento esvaziado no cenário
político brasileiro.
Nesses
anos todos, o partido de Luciana Genro, Jean Wyllys, Marcelo Freixo e Chico
Alencar, fez uma série de discursos sobre muitos assuntos. Da economia aos
direitos civis. Aqui, as 7 coisas que aprendi com eles.
1. QUE É POSSÍVEL TER DEMOCRACIA SEM DEMOCRACIA.
O
PSOL afirma defender um novo socialismo, que rompe com a repressão
revolucionária e garante liberdade política – explícito no Art. 5º de seu
Estatuto. Mas longe dos floreios retóricos, a realidade se esconde nas
entrelinhas.
O
partido apoia publicamente a ditadura venezuelana (e se você ainda
tem alguma dúvida se o país vive um regime de exceção, sugiro ler
essa matéria). No ano passado, suas lideranças acompanharam a eleição
presidencial do país in loco e organizaram eventos
de apoio a Maduro no Brasil. Nesse ano,
o PSOL lançou moção
de repúdio aos senadores que viajaram a
Caracas para visitar lideranças políticas aprisionadas e perseguidas pela
revolução, em apoio ao regime. Para o PSOL, a democracia sem democracia
venezuelana é exemplo para o continente.
Nas últimas eleições, Luciana Genro – que está na foto acima
fazendo ode ao simbolismo do punho cerrado na Praça da Revolução, em Havana – disse que Cuba não é exemplo de democracia. Há alguns anos, porém,
ela e outros membros do partido (como Chico Alencar e Ivan Valente)
lançaram nota em nome do PSOL em defesa da revolução.
“Cuba continua sendo uma grande referência revolucionária e seu
futuro depende muito do que aconteça em nosso continente. Se continuam os
processos abertos na Venezuela, Equador e Bolívia, Cuba não ficará isolada,
pois aumentará a chance de fortalecimento da ALBA, uma nova forma de integração
latino americana livre das políticas neoliberais que tanto massacram o nosso
povo, proposta esta que infelizmente não tem sido apoiada pelo governo
brasileiro.
Se Cuba resistiu à década da ofensiva neoliberal e aos ataques e
pressões do governo BUSH foi pelas profundas raízes de sua revolução. Fidel
Castro foi produto e líder maior ao lado de Che Guevara desta revolução que
sustentou em meio a uma América Latina e um terceiro mundo dominado pela
injustiça e pela pobreza.”
Aqui,
das duas, uma: ou o PSOL acredita que as tais conquistas sociais
cubanas valem o preço de uma ditadura, ao ponto de apoiá-la
entusiasmadamente, ou a democracia só serve para o PSOL quando seus ideais não
estão no poder.
2. QUE TAXAR OS RICOS É MAIS IMPORTANTE QUE REDUZIR A CARGA
TRIBUTÁRIA DOS POBRES.
O
PSOL acredita que a tributação sobre grandes fortunas é mais do que uma
necessidade, mas “uma obrigação moral num país com desigualdade abissal”, como o
nosso.
No
Brasil, cerca de 48,9% da renda dos mais pobres é destinada ao pagamento de
impostos – enquanto para os mais ricos, eles pesam 26,3%. A carga tributária é
um peso robusto sobre a vida do trabalhador brasileiro – que paga sempre muito
caro em qualquer ocasião: quando nasce, quando morre, quando fica são e doente,
quando trabalha e quando viaja em descanso. Cerca de 53% dos impostos
coletados pelo governo brasileiros são
pagos por pessoas que recebem até 3
salários mínimos. Para o PSOL, no entanto, mais importante do que uma ampla
redução na carga tributária dos mais pobres, é o aumento dos impostos para os
mais ricos. Só tem um problema: essa ideia não apenas não funciona,
como gera um processo completamente inverso.
Como publicamos
aqui, taxar os ricos não significa que eles irão pagar. Um estudo do think tank norte-americano Tax Foundation,
um dos maiores e mais antigos centros de estudo dedicados à divulgação de
pesquisas sobre efeitos de impostos na economia, demonstrou que impostos sobre
patrimônio entre 0,5 e 2% para a camada mais rica da população traria uma
diminuição de mais de 5% na média salarial dos Estados Unidos, uma diminuição
de 6% do PIB, destruiria 1 milhão vagas de emprego e traria um ganho de somente
62 bilhões de dólares ao Estado – uma queda de 6% no PIB representaria cerca de
991 bilhões de dólares a menos na economia todos os anos. Essas estimativas
foram feitas com base nas recomendações de Thomas Piketty, em O Capital no Século XXI.
Os
estudiosos explicam que isso se deve a pelo menos um fator: os ricos não pagam
essas taxas, de diversas maneiras.
“Piketty apresenta uma taxa sobre riqueza como sendo uma maneira
bem orientada para reduzir a desigualdade. Isso seria supostamente tirar dos
muito ricos sem atingir os pobres ou a classe média. Mas uma surpresa da
análise quantitativa, em contraste, é que isso faria todo mundo mais pobre”,
afirma Michael Schuyler, Doutor em Economia pela Universidade de Maryland e
autor do estudo.
Ignorando
qualquer base racional econômica, as políticas de aumento de impostos para os
mais ricos do PSOL levam ao mesmo lugar: um país mais pobre.
3. QUE A LIBERDADE É UM VALOR IMPORTANTE. MENOS A DE EXPRESSÃO.
Além
da liberdade política, o PSOL também diz defender a liberdade de expressão no
Art 5º de seu Estatuto. Mas esse é um ponto inequivocamente traiçoeiro. Se há
uma área em que o partido da liberdade e do socialismo rejeita é aquela que
permite aos indivíduos o direito de se expressarem livremente.
Não
foram poucos os casos em que o partido buscou a censura em relação a opiniões contrárias – mesmoquando execráveis, dignas de boicote (outra
faceta da liberdade de expressão). Como diz o Partido da Causa Operária, outra
agremiação de esquerda:
“A
liberdade de expressão, completa e irrestrita é uma condição sine qua non para
a existência das outras liberdades democráticas, ela é uma liberdade que
engloba toda a sociedade e que precede todas as liberdades individuais.O
primeiro dos direitos democráticos deve ser o de pensar, e naturalmente
transmitir suas ideias sem medo de repressão, e para isso não pode estar entre
os poderes do Estado decidir o que os cidadãos devem pensar e qual conteúdo
pode ou não ser veiculado, não é atribuição do Estado decidir como podem ou não
ser transmitidas essas ideias.”
Não
existe meia liberdade de expressão. Ou ela é possível integralmente, ou só é
possível um discurso pré-estabelecido. A liberdade de expressão não foi um
conceito criado para que se defenda o direito de desejar bom dia no elevador – ela existe para
que as maiores atrocidades possam ser ditas. Se não aceitarmos que as coisas que repudiamos possam ser
expressadas, não há qualquer sentido em defendermos explicitamente a liberdade
de expressão.
Para
o PSOL, portanto, a liberdade é um valor importante. Mas só aquela que está em
sintonia com os desejos e os discursos do partido.
4. QUE GRANDES EMPRESAS FAZEM INVESTIMENTO EM CAMPANHA. PARTIDOS
POLÍTICOS NÃO.
O
PSOL acredita que empresas não doam para partidos políticos: fazem investimentos.
E por isso, o
partido criticadoações empresariais para campanhas eleitorais. Acredita que dessa
forma, ajudará a coibir a corrupção – ainda que a prática não
possua qualquer relação empírica com o resultado
pretendido. Para o partido, campanhas devem ser pagas com dinheiro público –
sim, sua grana deveria bancar integralmente a atuação do PSOL, ainda que
você não concorde com suas ideias.
O
que o partido não condena é o investimento político na corrupção: quando
partidos alugam suas bases distantes de quaisquer pretensões ideológicas
em troca de cargos, comissões ou tempos de tv. O próprio PSOL, em eleições
locais,já
se aliou com PT, PMDB, PR, PSB, PDT,
PCdoB, PSC, PRB, PTC e PTN – além de PSDB, DEM e PPS. Num momento em que,
contra o impeachment, Dilma
oferece cinco ministérios ao PMDB como
troca de moeda para acalmá-lo, a indignação do PSOL é seletiva.
O
partido que brada ser contra a doação de grandes empreiteiras por seu caráter
clientelista, não nega as coligações de aluguel com as mesmas motivações.
5. QUE A HOMOFOBIA DEVE SER DENUNCIADA. MENOS CONTRA LIDERANÇAS
HOMOFÓBICAS DE ESQUERDA.
O
PSOL é um partido que se orgulha do protagonismo na luta contra a homofobia.
Mas essa luta também possui seus poréns. Quando políticos não alinhados com o
partido vociferam opiniões homofóbicas, o PSOL prontamente lança seu
repúdio. Quando o mesmo ocorre com lideranças alinhadas, porém, a situação não
se repete.
Isso
é escancarado no vídeo que editei abaixo, em relação ao apoio ao homofóbico
Nicolás Maduro, presidente da Venezuela.
A mesma situação é visível em relação à homofobia
perpetuada pelo regime cubano, que perseguiu dezenas de milhares de gays,
lésbicas e transexuais no último século – situação que ainda
ocorre, de outros modos.
Assim
como em relação à democracia, a julgar seus apoios entusiasmados à revolução e
à falta de senso crítico às posições homofóbicas de políticos como Nicolás
Maduro, aparentemente o PSOL considera que hipotéticas conquistas sociais valem
o sacrifício da comunidade LGBT que ele diz defender.
6. QUE MELHORAR A EDUCAÇÃO E DESENVOLVER O PAÍS SÓ É POSSÍVEL POR
UM ÚNICO CAMINHO: AUMENTANDO GASTOS.
A
solução é mágica. Quer resolver os problemas do país? Repita inúmeras vezes a
palavrinha educação. Políticos adoram repeti-la como um mantra sagrado, disposto a
curar todos os males da sociedade. E se a educação no Brasil é precária, qual a
razão óbvia? Falta de dinheiro, claro. Não há outra possibilidade.
LEIA TAMBÉM:
Para
o PSOL, o segredo para o nosso desenvolvimento é simples: jogar mais dinheiro
nas mãos do Estado. Como citamos aqui,
o valor gasto pelo governo
com educação no país representava 5,7%
do PIB em 2012. A taxa, apesar de
parecer pequena, é superior ao gasto com educação por países como Estados
Unidos, Reino Unido, Suíça, Itália, Rússia, Alemanha, Canadá e Austrália no
mesmo ano.
Mas
não pense que essa é uma boa estatística: dado o nosso baixo desempenho em
diversos rankings de educação (inclusive entre os realizados dentro do próprio
país), é fácil entender como boa parte desse dinheiro é mal administrado.
Mas
isso não é o bastante: o partido de Luciana Genro quer aumentar ainda
mais esse valor. Para o PSOL, um sistema construído com claros
problemas de gestão deve receber de forma imediata dinheiro mal investido
Quem
paga a conta no final? Você, como não haveria de ser diferente.
7. QUE NO MEU CORPO, O QUE MANDA SÃO AS MINHAS REGRAS. MENOS
QUANDO DIZ RESPEITO À LEGÍTIMA DEFESA.
O meu corpo, minhas regras é um mantra repetido incansavelmente pelo movimento feminista,
apoiado e ecoado pelo PSOL. Mas sua base não morre aí: ele é também
marca do liberalismo. Por entendê-lo como propriedade das suas próprias
motivações, os liberais acreditam que as pessoas são as responsáveis por
suas vidas – e pela sua proteção. E é isso que as feministas do partido bradam:
o seu corpo diz respeito apenas a você. Quando alguém busca violá-lo, é seu
direito retrucá-lo.
Ou
ao menos é o que deveria ser. Para o PSOL, a legítima defesa
não é um direito humano. Desse modo, o partido acredita que o direito à posse de
armas deve ser violado – por isso, atua como poucos contra
essa bandeira.
O desarmamento,
no entanto, é a política dos senhores de escravos, dos que proibiam negros de
possuírem até cães como forma de evitar que revidassem os abusos. É a política
do fascismo, do stalinismo, do nazismo, dos tiranos de todas as orientações e
todos os credos que ameaçavam de morte quem ousava não se desarmar. A base
racional e ética da defesa do porte de armas ao cidadão comum – homens e
mulheres – é exatamente a mesma do meu corpo, minhas regras.
Portanto,
para o PSOL, o meu corpo é meu e atende apenas àquilo que eu mando – mas
não sem um porém: eu não tenho o direito de proteger sua integridade.
O que, na prática, como em outras políticas defendidas pelo partido, não faz o
mais remoto sentido.
FONTE: http://spotniks.com/7-coisas-que-aprendi-com-o-psol/