Derrota no Senado por 59 a 21
no penúltimo round do impeachment prenuncia o adeus da presidente
afastada. Parte da mudança, inclusive uma de suas bicicletas, já foi
levada para Porto Alegre e a petista até planeja um exílio por países
latino-americanos depois do afastamento definitivo
VAI PARA CASA MAIS CEDO Ainda falta o último ato, mas Dilma já tem
consciência de que não retornará ao poder (Crédito: Reuters/Ueslei
Marcelino)
Para tomar emprestado um bordão esportivo em tempos de Olimpíada,
Dilma irá para o chuveiro mais cedo, mas quem será asseado é o País.
Candidamente, a petista entoa o mantra do “não sei de nada”, “não tenho
culpa de nada”, “sou vitima da mídia e das elites” celebrizado por Luiz
Inácio Lula da Silva. Mais um discurso destinado a alimentar com as
sementes do engodo uma plateia de convertidos – hoje estourando 30% dos
brasileiros. Apesar da tentativa de terceirizar a própria culpa e de
criar uma narrativa épica, mas fictícia, a petista é um pote até aqui de
malfeitos. Além das pedaladas – que não foram meras maquiagens fiscais,
como quer fazer crer a tropa de choque petista, mas uma estratégia
política para vender ao eleitor um Brasil irreal, com único objetivo de
vencer a eleição, – Dilma é acusada de incorrer em outros crimes mais
graves.
Atentado à justiça
Se, como disse o procurador da República Ivan Cláudio Marx, o
ex-presidente Lula foi o “chefe de organização criminosa” para obstruir a
Justiça, Dilma é no mínimo co-partícipe da trama. Em maio, o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu que a presidente
afastada fosse investigada por tentativa de atrapalhar as investigações
da Lava Jato. Segundo delação do ex-senador Delcídio do Amaral,
antecipada por ISTOÉ, a presidente Dilma o teria usado como emissário da
proposta a um candidato a ministro do STJ para trocar a indicação pela
concessão de habeas corpus pedido por empreiteiros presos em Curitiba.
Tudo ocorreu como combinado. Os empresários só não foram soltos porque o
relatório produzido pelo ministro nomeado Marcelo Navarro foi derrubado
pelos seus pares. A petista ainda corre o risco ser indiciada pela
Procuradoria-Geral da República, se não por esta denúncia, mas pela
nomeação desastrada de Lula para a Casa Civil, a fim de mantê-lo
distante da jurisdição de Moro, concedendo-lhe foro privilegiado. Não
bastassem as investidas contra o livre trabalho do Judiciário, que
configuram crime de responsabilidade passível de perda de mandato
tipificado no inciso 5 do Artigo 6º da Lei 1.079, as recentes propostas
de delações premiadas de executivos de empreiteiras implicadas no
Petrolão deixam claro que Dilma não só sabia como operou pessoalmente na
arrecadação ilegal de sua campanha em 2014. Aos procuradores da Lava
Jato, segundo reportagem de ISTOÉ, Marcelo Odebrecht afirmou que a
mandatária exigiu R$ 12 milhões para a campanha durante encontro
privado. O dinheiro seria fruto de propina desviada da Petrobras. “É
para pagar”, teria ordenado ela, de acordo com a proposta de delação do
empresário. Parte do recurso seria utilizada para pagar o marqueteiro
João Santana. Solto na semana passada, Santana também confirmou em
delação a participação direta de Dilma no manejo de recursos irregulares
destinados a irrigar os cofres de sua campanha à reeleição.
Legado de Dilma: um país em crise
Para completar o cenário nada edificante para quem jura inocência, a
herança de Dilma é de amargar. De chorar lágrimas de esguicho. No
“golpe” sem armas e tanques, alardeado pelo PT e congêneres, a vítima
foi o povo. Dilma herdou de seu antecessor um País que crescia 7,5%, com
baixa taxa de desemprego, inflação controlada e investidores animados.
Em meio ao repique da crise e a queda nos preços das commodities,
decidiu abandonar a política econômica adotada até então para implantar
sua “nova matriz econômica”, baseada em crédito abundante, política
fiscal frouxa e juros baixos. No vale-tudo para se reeleger, tomou
decisões temerárias como segurar preços administrados e abandonar o
equilíbrio fiscal. “O governo agiu como alguém que sonhou que iria
ganhar na mega-sena e saiu por aí gastando o que não tem”, diz Carlos
Pereira, cientista político da FGV-Rio. Com a volta da inflação, a
comida sumiu do prato de muitos brasileiros. O poder de compra foi
corroído. O projeto de inclusão, ancorado no consumo e traduzido pela
ascensão social de milhões de pessoas, ruiu como um castelo de cartas. O
aumento do desemprego e a queda nos rendimentos fizeram com que quase 4
milhões voltassem às classes D e E, de acordo com recente levantamento
realizado com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios e da Pesquisa Mensal de Emprego, do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). O setor elétrico, tido como
especialidade da gerentona, entrou em colapso. O investment grade virou
pó e a corrupção, já institucionalizada, se retroalimentou da tragédia
político-econômica e administrativa.
Na sessão do Senado que praticamente selou o destino de Dilma, os
próprios aliados da presidente afastada baixaram as armas. Enquanto uns
estavam mais preocupados em checar no celular os últimos resultados da
Olimpíada, integrantes da comissão de frente em defesa da petista, como a
senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), demonstravam resignação ante a
derrota iminente. “Nós que defendemos a presidenta Dilma temos
consciência. Achamos até que ela não tem condições mais de
governabilidade. E não seríamos nós senadoras e senadores irresponsáveis
de apenas defender a volta dela para ampliar uma crise que não é só
política, mas econômica também”, disse momentos antes do início da
votação.
Não raro alinhado às teses petistas, o presidente do STF, Ricardo
Lewandowski, atuou como manda o figurino. Exercendo papel de magistrado,
limitou-se a cumprir as regras estabelecidas. Com elegância, chegou a
suspender o áudio de Gleisi Hoffmann: “Senhora senadora, eu tenho que
ser muito rígido com o tempo. Peço escusas à Vossa Excelência”, disse.
Repetiu a dose ante os excessos de Grazziotin e Kátia Abreu (PMDB-TO).
Esta última também teve o microfone cortado. Tranqüilo e sereno, o
presidente do Supremo adentrou ao plenário do Senado às 9h05. “O Senado
está aqui para exercer uma de suas mais graves atribuições que a
Constituição lhe acomete”, sapecou. Logo na abertura dos trabalhos,
Lewandowski solicitou aos senadores que só pedissem a palavra para se
pronunciar sobre questões processuais. “Tendo em conta a previsão de que
esta sessão poderá tornar-se um tanto quanto longa, eu peço vênia,
desde logo, para ser muito rigoroso na contagem dos prazos”. Antes do
início da sessão, o presidente do STF rejeitou as questões de ordem que
pediam a suspensão do processo de impeachment de Dilma. Num dos recursos
sem qualquer cabimento, aliados da presidente afastada pediam para que
fossem aguardados os resultados de delações premiadas. Houve ainda um
pedido de suspeição do relator Antonio Anastasia, pelo fato de ele ser
do PSDB, assim como um dos autores da denúncia, o advogado e ex-ministro
da Justiça Miguel Reale Júnior “Indefiro as questões de ordem 1 e 2 por
tratarem de fatos estranhos ao presente processo. Não é possível
suspender o feito com fundamento nestes argumentos”, afirmou. Ao fim, o
placar de 59 a 21, e a comemoração. “Ganhamos todos com esse julgamento.
Ganha o País, que tem a chance de ver resgatadas as condições políticas
para dar seguimento à estabilidade econômica”, disse a senadora Lúcia
Vânia (PSB-GO).

Ao tirar Dilma da frente, o Brasil começa uma nova etapa. A saída
definitiva da petista fará com que o presidente em exercício Michel
Temer atue com mais desprendimento para colocar em marcha as reformas
necessárias ao País. Num primeiro momento, como antecipou o ministro da
Fazenda, Henrique Meirelles, o governo deverá dedicar-se à implementação
de medidas destinadas a disciplinar as contas públicas, fundamentais
para a retomada dos investimentos e da confiança dos investidores. Há
uma pauta de modernização da economia, já iniciada, com a revisão das
metas fiscais para este e para o próximo ano e com a proposta de um teto
para o aumento do gasto público, que poderá deslanchar a partir do
impeachment. É imperativo que o Congresso a aprove. Mesmo as iniciativas
mais impopulares, como alterações nas leis trabalhistas e
previdenciárias. Só assim, o País poderá sair da ruína econômica legada
pela desastrosa gestão petista.
O destino cumpre um roteiro nem de perto imaginado por Dilma quando
tomou posse ainda para o seu primeiro mandato em 1° de janeiro de 2011.
Resignada, nos dias derradeiros, Dilma acalentou um último desejo: o de
não sair do Palácio do Planalto pelos fundos, como Fernando Collor, em
1992, cercado por um pequeno séquito de assessores. A cena pode até não
se repetir. Na prática, porém, para a maioria dos brasileiros, o efeito é
o mesmo: Dilma não deixará saudades. A partir de setembro, será apenas
mais um quadro pendurado na galeria de ex-presidentes.
FONTE:
http://istoe.com.br/era-dilma-se-aproxima-do-fim/