quarta-feira, 8 de julho de 2015

Lula defende ‘enfrentamento político da Lava-Jato', segundo petista

Lula se reúne com parlamentares petistas, em Brasília - Givaldo Barbosa / Agência O Globo

Lula defende ‘enfrentamento político da Lava-Jato', segundo petista-Ex-presidente participou de uma série de reuniões com dirigentes e parlamentares do partido e com cúpula do PMDB em Brasília

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BRASÍLIA – Enquanto a presidente Dilma Rousseff cumpre agenda oficial nos Estados Unidos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou nesta segunda-feira a Brasília para uma série de reuniões com dirigentes e parlamentares do PT, com a cúpula do PMDB e com o marqueteiro João Santana. Ele também telefonou para o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), citado na delação premiada de Ricardo Pessoa, dono das construtoras UTC e Constran, investigado na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, que investiga esquema de corrupção na Petrobras. A campanha de Lula em 2006 também foi citada na delação de Ricardo Pessoa como tendo recebido R$ 2,4 milhões da UTC.
Em quase quatro horas de reunião, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a deputados e senadores do PT, na noite desta segunda-feira, que é preciso fazer o enfrentamento político da operação Lava-Jato, segundo relato de participantes. Depois de dizer que o PT está "abaixo do volume morto", Lula afirmou que o partido "tem tudo para ressurgir com força". Ele também teria afirmado que é preciso virar a página do ajuste fiscal e investir em uma agenda positiva para o país.
— Ele disse que precisamos fazer o enfrentamento, que as denúncias não vão parar. Foi uma reunião para zerar o jogo e tentar rearrumar as coisas — disse um parlamentar petista.
Depois das críticas feitas ao governo Dilma Rousseff e ao PT nas últimas duas semanas, Lula teria adotado um tom mais conciliador. E cobrou uma atuação mais contundente dos petistas na defesa de seu projeto:
— Isso é página virada. Ele falou da necessidade da bancada atuar como um coletivo na defesa do governo e do PT, de enfrentar a oposição com o mesmo radicalismo que eles nos enfrentam — disse o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (CE).
O ex-presidente também insistiu na necessidade de o governo investir em uma agenda positiva e de o PT ter um discurso mais propositivo:
— O presidente Lula disse que é preciso virar a página. O ajuste está se esgotando, está sendo concluído, e o governo já saiu a campo com o programa de concessões, o Plano Safra, vai ter a nova etapa do Minha Casa Minha Vida. Temos que passar para a agenda do crescimento econômico. Foi uma reunião para animação dos seus pares — disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).
De acordo com o senador Paulo Paim (PT-RS), Lula disse que o PT precisa se reaproximar dos movimentos sociais:

— O presidente Lula disse que o PT tem tudo para ressurgir com força, desde que saiba se articular com os movimentos sociais — disse o senador Paulo Paim (PT-RS), ao sair da reunião antes de seu encerramento.
Crítico do ajuste fiscal conduzido pelo governo Dilma Rousseff e insatisfeito com os rumos do partido, o senador Walter Pinheiro (PT-BA) foi o único da bancada que faltou ao encontro.
A presença de Lula em Brasília não agradou ao Palácio do Planalto. A avaliação é que a movimentação do ex-presidente na capital federal agrava a crise gerada com o depoimento de Pessoa. Em encontro que contou com a presença do presidente em exercício, Michel Temer, e Mercadante, os governistas avaliaram que o encontro de Lula com deputados e senadores do PT, nesta segunda-feira à noite, traria mais ruído e acabaria ofuscando a viagem de Dilma aos EUA.
— Esse encontro já estava marcado, mas só aumenta a crise — disse um participante do encontro.
CELULARES FORA DA SALA
A reunião do ex-presidente com as bancadas do PT da Câmara e do Senado tinha como um dos principais objetivos articular a reação política à investigação da Polícia Federal. Reclamando, segundo pessoas próximas, que o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) não controla a PF, Lula passou a atacar, nas últimas duas semanas, o governo Dilma e a criticar também o PT, que, de acordo com o ex-presidente, envelheceu e “só pensa em cargos”. Na reunião de ontem, Lula exigiu que deputados e senadores petistas deixassem os celulares do lado de fora da sala para evitar vazamentos.
Ministros e interlocutores do Planalto também consideraram um equívoco a estratégia adotada pela própria presidente Dilma de colocar o ministro da Justiça no foco da crise gerada pelo depoimento de Pessoa, ao participar da entrevista dos ministros Edinho Silva (Comunicação) e Mercadante no último sábado. Na ocasião, ambos se defenderam das acusações de que receberam recursos ilegais do empreiteiro e de que as doações foram feitas para a manutenção de contratos das empresas de Pessoa com a Petrobras.
Em sua passagem pela capital federal, Lula ainda tomará café da manhã nesta terça-feira com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O peemedebista se tornou um dos principais adversários do governo desde que perdeu o comando do Ministério do Turismo, no início do ano, e passou a ser investigado na operação Lava-Jato.
Após confidenciar a aliados estar cansado de não ser ouvido por Dilma nem ser defendido pelo governo ao ter seu nome ligado a empreiteiras investigadas pela Lava-Jato, Lula passou a articular o contra-ataque por conta própria.
Nesta segunda-feira, o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, garantiu que as críticas feitas por Lula não causaram mal-estar no governo.
— Essas críticas são recorrentes na história do PT. O PT vive de momentos críticos e ele se alimenta para continuar se renovando e construindo sua trajetória. Há 35 anos é assim, não é novidade. Nós temos que saber conviver com isso com tranquilidade.
Berzoini ainda destacou a importância do ex-presidente para o PT.
— O ex-presidente Lula é sempre muito bem-vindo para dialogar com os parlamentares, para dialogar com os movimentos sociais. É uma liderança inquestionável e que tem muita coisa a conversar conosco.

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