quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Lobista ‘desde sempre’, Jorge Luz vive o dilema de delatar políticos



RIO E SÃO PAULO — Apontado como o decano dos negócios suspeitos envolvendo a estatal, pioneiro do modelo de relacionamento com fornecedores que ensejou um dos maiores escândalos da história recente do país, Jorge Luz está entre abrir a boca ou enfrentar o constrangimento dos pulsos algemados e o risco de uma condenação superior a 40 anos de prisão pelo envolvimento já provado em quatro casos da investigação.
Depois de três conversas informais com o Ministério Público Federal (MPF), o empresário ouviu que a consistência das provas não deixa muitas saídas. Ao pedir ao Supremo Tribunal Federal, no início de julho, mais prazo para concluir um dos inquéritos da Lava-Jato, era Luz que a Polícia Federal tinha no horizonte. Para os investigadores, ele atua pelo menos desde 1986 nas diretorias Internacional e de Abastecimento e seria o operador do operador Fernando Soares, o Fernando Baiano, de quem seria mentor.


Registros de reuniões ocorridas na Petrobras, obtidos pelo MPF, mostram Luz ao lado de Baiano com o ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró. A Mercedez-Benz dirigida por Luz ocupava, por muitos anos, frequentemente vaga no estacionamento reservado para diretores.

Com bom trâmite entre políticos do PMDB, PT e PP, Luz criava oportunidades de bons negócios para empresas nacionais e multinacionais e, em troca, receberia uma comissão, a ser dividida com parlamentares do esquema.


Em operações já descritas na investigação, ele chegou a fechar contrato direto de uma de suas empresas, a Gea Projetos, com a diretoria de Abastecimento, então gerida por Paulo Roberto Costa, delator da Lava-Jato, no valor de R$ 5,2 milhões. Costa disse que só foi mantido diretor, no 2º mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, por intermédio de Luz, a pedido do PMDB.

A Gea Projetos tinha Jorge Luz como sócio até 2011. Hoje, está em nome de sua irmã, Maria de Nazaré Luz Lopes. A empresa chegou a ser contratada pelo Comperj, na época em que Costa era um dos diretores.

A PF também apurou que Luz e o deputado Vander Loubet (PT-MS) viajaram duas vezes no mesmo avião para Miami, em dezembro de 2010 e em agosto de 2011. Luz, Loubet e o ex-deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) são investigados no mesmo inquérito. Vaccarezza, segundo a PF, teria recebido propina de R$ 400 mil por contrato de importação de asfalto entre a Petrobras e a empresa norte-americana Sargeant Marine, fechado por intermédio de Luz. Loubet, segundo a Procuradoria-Geral da República, atuava em conjunto com Vaccarezza no esquema.

Nos documentos apreendidos pela PF no escritório de Costa, Luz e seu filho Bruno aparecem vinculados ao pagamento de propinas em contratos com Trafigura e Glencore, vendedoras de combustível, e a Sargeant. A propina era depositada em contas no exterior em nome de Humberto Mesquita, genro de Costa.


DISCRETO E INTELIGENTE

Personagem pouco explorado na operação, Luz é descrito como inteligente e discreto. Há poucos registros de imagens recentes e de bens em seu nome, a maioria é em nome de filhos e irmãs.
Filho de um comandante da Marinha nascido na região de Bragança (PA), que mantinha relações com políticos paraenses, Luz veio para o Rio ainda jovem e recebeu formação militar.
Na década de 80, quando não prezava pela discrição, costumava desfilar pelas ruas da Barra, no Rio, com uma Ferrari. Nessa época, visitava com frequência o estado natal onde se dizia braço-direito do então governador Jader Barbalho (PMDB-PA). No final da 2ª gestão de Barbalho, no início dos anos 90, quando ele se licenciou para a campanha ao Senado, Luz se mudou para um hotel em Belém de onde, segundos fontes próximas, auxiliava o então vice-governador Carlos Santos (PP-PA).


Nessa época, mesmo casado, Luz circulava com Ariadne da Cunha Lima, que casou-se depois com o falecido empresário Jair Coelho e ficou conhecida como Ariadne Coelho, a rainha das quentinhas.

Ariadne, que morou com Luz em Belém, o conheceu em 1989 e viajou com ele no Brasil e no exterior. O relacionamento durou quatro anos.

— Na época das privatizações, eu estava com ele na mesa de jantar, ao lado de empresários espanhóis, para tratar da venda das empresas de telefonia. Ganharam tudo o que queriam. Se tem um grande negócio acontecendo, com certeza ele (Luz) estará presente. Tem sido assim, desde a restauração da democracia — contou Ariadne.
A influência política de Luz não se restringe ao Pará. Na delação, Costa diz que Luz é amigo do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.

“O Jorge é um lobista dentro da Petrobras desde sempre. Ele atuava já há muitos anos na Petrobras. E eu vim a conhecê-lo quando ocorreu aquele fato de ter que ter o apoio do PMDB. Porque ele tinha relação muito forte com o PMDB. Então, até a necessidade de ter apoio com o PMDB eu não conhecia o Jorge. Fiquei conhecendo o Jorge Luz depois desse momento da entrada do PMDB no processo junto com o PP, para eu continuar na diretoria”, afirmou Costa em sua delação.

Costa disse à Justiça que chegou a participar de reunião na casa de Luz, na Barra, com Vaccarezza e Loubet, “em 2009 ou 2010”, para tratar de repasse à campanha do ex-deputado. Foi quando ficou sabendo que Luz teria repassado R$ 400 mil a Vaccarezza.


A Justiça também investiga a participação de Luz em outro núcleo. Bruno é sócio de Pedro Augusto Henriques, filho do lobista João Augusto R. Henriques, na Partners Air Serviços., do grupo da Fortuna Tec, que distribuía querosene para a BR Distribuidora.
A força-tarefa da Lava Jato acredita que Henriques movimentou milhões de dólares em propinas do PMDB. Em sua delação, o lobista contou que conheceu Luz em “1998/1999” e que manteve “uma relação social” com ele até 2002.
Procurado, o advogado de Luz, Gustavo Teixeira, disse que seu cliente não ia se manifestar.



fonte:  http://oglobo.globo.com/brasil/lobista-desde-sempre-jorge-luz-vive-dilema-de-delatar-politicos-17387585#ixzz3kh5VVT3S 
 

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