A pressão de Lula sobre a
presidente Dilma Rousseff exigindo uma “resposta rápida” à crise econômica
levou o presidente nacional do PT, Rui Falcão, a divulgar nota oficial em que
exige “ousadia” na correção dos rumos da economia e repudia medidas
anti-inflacionárias e de ajuste fiscal. Lula e o PT exigem de Dilma o que
imaginam que seria uma guinada à esquerda na economia, mas seria simplesmente
repetir os erros do primeiro mandato que empurraram o País para a recessão e o
consequente comprometimento dos programas sociais que os petistas alegam querer
preservar. Na verdade, estão interessados apenas em recuperar o apoio das bases
eleitorais que iludiram com a promessa do Paraíso na Terra.
Lula e o PT querem que Dilma dê “boas
notícias” na economia. É difícil de imaginar quais seriam. Os indicadores
econômicos divulgados pelo próprio governo confirmam o agravamento do desastre.
Mas para atender ao que exigem Lula, o PT e os “movimentos sociais”, o novo
titular da Fazenda, Nelson Barbosa, precisaria realmente surpreender o País.
Afinal, ele é um dos principais arquitetos da “nova matriz” cujo
intervencionismo voluntarista e desmedido jogou a economia nacional na
recessão.
Um bom começo de conversa
seria Lula e os petistas deixarem claro desde logo qual seria a “nova política
econômica” que exigem como “boa notícia”. Boa notícia é o PIB em expansão com a
criação de riquezas que beneficiem toda a população; é o nível de emprego
aumentando quantitativa e qualitativamente; é a inflação sob controle; são
contas públicas administradas com responsabilidade. E ainda recursos fartos
para investir em programas sociais e em infraestrutura. O Brasil já teve quase
tudo isso antes de Dilma virar presidente, quando o governo Lula mantinha em
vigor o tripé econômico – meta de inflação, câmbio flutuante e superávit
primário – que em 1994 foi a base do bem-sucedido Plano Real, o projeto de
recuperação econômica que domou uma hiperinflação de mais 46% ao mês.
Convertido, para ganhar a eleição
de 2002, à política econômica que dera certo nos governos FHC e favorecido por
uma conjuntura internacional generosa com países cuja economia se assentava no
setor exportador, Lula comandou um período de prosperidade que se destacou por
forte ampliação dos programas sociais de distribuição de renda e ajudou a
consagrar o mito do “governo popular”.
Ao suceder a seu inventor,
em 2011, Dilma Rousseff já encontrou uma conjuntura internacional menos
propícia às prodigalidades populistas do lulopetismo. Mas nem por isso
abandonou a ideia fixa de “avançar” na configuração de um governo genuinamente
“popular”. Mergulhou de cabeça na implantação de uma “nova matriz
macroeconômica”: uma forte ampliação da intervenção estatal na vida econômica
que incluía a continuação da gastança que, já naquele momento, só seria
possível com o completo arrombamento das contas do governo.
Em 2014, a antevisão do desastre
já era clara. Mas era ano de eleição. Foi preciso então fingir que nada estava
acontecendo. Mais do que isso, mentir descaradamente. Só dessa maneira Dilma
conseguiu permanecer no Planalto, por estreita margem de votos.
Assim, quando Lula e o PT pregam
hoje uma “nova política econômica”, defendem exatamente mais do mesmo de ontem.
Só que o dinheiro público – mal administrado ontem porque concentrado em
programas populistas de apelo eleitoral – hoje é escasso.
O coro populista contra
Dilma está bem articulado. A nota do PT foi precedida,
na semana passada, por movimentos
táticos da “linha auxiliar” petista. “Muda o ministro da economia, mas não muda a política econômica. Era justamente isso que
temíamos.
fonte: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,lula-e-pt-pressionam-dilma,10000006099
Fala sério, presidente
Dora Kramer
No enunciado do balanço de 2015, a presidente propõe uma reflexão sobre “erros e acertos” do ano, indicando a disposição de rever suas responsabilidades “com humildade e perspectiva histórica” a fim de superar dificuldades e contrariar as previsões de que dias piores virão.
Os dois parágrafos iniciais injetam no leitor a esperança de que a presidente da República tenha se dado conta dos males causados por suas decisões e que vá finalmente rever atitudes colocando o dever de estadista acima de suas crenças, características de temperamento e conveniências partidárias.
A leitura completa do longo texto, no entanto, se encarrega de desmontar a mais otimista das expectativas. A começar pela referência a “acertos” na tentativa de amenizar a dimensão dos erros. Quais acertos? Na ausência de algum de efeito substantivo, restam a Dilma números que compuseram o roteiro do filme já visto na campanha eleitoral.
A “humildade” prometida na revisão de suas responsabilidades na crise econômica cai por terra quando a presidente atribui, de novo, a situação a fatores externos combinados com a necessidade de, internamente, alterar a rota na condução da economia. Mudança esta, sabemos todos, imposta pelo desastre iniciado quando da substituição dos assentados pressupostos da estabilidade pelo populismo aliado ao voluntarismo ideológico.
Na abordagem da crise na política, a presidente obedece ao mesmo critério de agressão aos fatos. De acordo com sua narrativa, “a instabilidade política se aprofundou por uma conduta muitas vezes imatura de setores da oposição que não aceitaram o resultado das urnas”.
Note-se, a culpa é da oposição que exatamente por aceitar o resultado da eleição, seguiu a vontade do eleitor e se opôs ao governo. A crise, na versão da presidente, nada tem a ver com seus atritos e equívocos permanentes na relação com o Congresso e partidos aliados, aqui em destaque a tentativa amadora de dar rasteiras nos profissionais do PMDB.
Da retrospectiva enganosa a presidente da República passa às perspectivas falaciosas. Começa prometendo uma reforma da Previdência a partir do diálogo com empresários e trabalhadores, mercadoria que não tem condições de entregar. Pelo simples motivo de que as partes falam linguagens opostas no tema e o governo não sabe, não pode ou não quer arbitrar questão alguma.
A retomada das atividades do setor produtivo mediante reformas estruturais necessárias será, na palavra da presidente, possível por intermédio de debates no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Um fórum inútil desde o início do primeiro governo Lula.
No quesito promessa vã, a presidente reafirma disposição de completar a “reforma administrativa” iniciada em 2015. Aos números da referida reforma: dos três mil cargos comissionados a serem cortados, foram extintos 346; da redução de ministérios, apenas sete secretarias das 30 prometidas tiveram suas atividades encerradas; da economia prevista de R$ 200 milhões, o governo realizou bem menos de 10%: R$ 16 milhões.
A presidente conclui dizendo que “todos esses sinais” dão a ela a certeza de que 2016 será melhor. Convicção da qual o País não tem motivo para compartilhar.
fonte:http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,fala-serio--presidente,1817354