por Leandro Roque
A melhor maneira de aferir a saúde de uma moeda é analisando a evolução de sua taxa de câmbio em relação às outras moedas do mundo.
A taxa de câmbio é um preço formado instantaneamente pela interação voluntária de bilhões de agentes econômicos ao redor do mundo. Se esses bilhões de agentes econômicos acreditam que a inflação de preços no seu país será baixa, sua moeda irá se valorizar. Se eles acreditam que a inflação está alta ou que ela será alta, sua moeda irá se desvalorizar.
Grosso modo, a taxa de câmbio representa, em tempo real, a razão entre o nível geral de preços vigente em dois países distintos. A taxa de câmbio entre dois países é igual à razão de seus níveis de preços relativos.
Sendo assim, a evolução da taxa de câmbio é uma narrativa da evolução do poder de compra atual de sua moeda em relação a todas as outras.
A conclusão, portanto, é que com a taxa de câmbio não há segredo: se ela está se desvalorizando por muito tempo, então é porque o país está em rota inflacionária. Se ela está se valorizando com o tempo, então é porque o país está em rota sadia.
Não há mensurador mais confiável e mais acurado do que esse.
E qual foi o histórico do real durante os quatro anos do governo Dilma? De maneira simples e educada, pavoroso.
O real não só apanhou de todas as moedas tradicionais (dólar americano, euro, franco suíço, libra esterlina, dólar australiano, dólar canadense, dólar neozelandês, dólar de Cingapura e renminbi chinês), como também conseguiu apanhar de portentos como o guarani paraguaio, o novo sol peruano, o peso uruguaio, o boliviano, o baht tailandês e o gourde haitiano (sério).
Naturalmente, o real também apanhou do peso mexicano, do peso colombiano e do peso chileno.
Como consolo, fomos melhores que o peso argentino e que o rublo russo (mas só na prorrogação).
Veja a carnificina.
(Obs: quando uma unidade de moeda estrangeira é maior que 1 real, a cotação se dá em termos de moeda estrangeira por real; quando 1 real é maior que uma unidade da moeda estrangeira, a cotação se dá em termos de real por moeda estrangeira).
Gráfico 1: evolução da taxa de câmbio do dólar americano em relação ao real. De 31 de dezembro de 2010 a 21 de janeiro de 2015, o dólar se apreciou 53% em relação ao real.
Gráfico 2: evolução da taxa de câmbio do franco suíço em relação ao real. De 31 de dezembro de 2010 a 21 de janeiro de 2015, o franco se apreciou 71% em relação ao real.
Gráfico 3: evolução da taxa de câmbio do euro em relação ao real. De 31 de dezembro de 2010 a 21 de janeiro de 2015, o euro se apreciou 35% em relação ao real.
Gráfico 4: evolução da taxa de câmbio da libra esterlina em relação ao real. De 31 de dezembro de 2010 a 23 de janeiro de 2015, a libra se apreciou 48% em relação ao real.
Gráfico 5: evolução da taxa de câmbio do dólar canadense em relação ao real. De 31 de dezembro de 2010 a 21 de janeiro de 2015, o dólar canadense se apreciou 25% em relação ao real.
Gráfico 6: evolução da taxa de câmbio do dólar australiano em relação ao real. De 31 de dezembro de 2010 a 21 de janeiro de 2015, o dólar australiano se apreciou 24% em relação ao real.
Gráfico 7: evolução da taxa de câmbio do dólar neozelandês em relação ao real. De 31 de dezembro de 2010 a 21 de janeiro de 2015, o dólar neozelandês se apreciou 55% em relação ao real.
Gráfico 8: evolução da taxa de câmbio do dólar de Cingapura em relação ao real. De 31 de dezembro de 2010 a 21 de janeiro de 2015, o dólar de Cingapura se apreciou 49% em relação ao real.
Gráfico 9: evolução da taxa de câmbio do real em relação ao iuane chinês. De 31 de dezembro de 2010 a 21 de janeiro de 2015, o real se desvalorizou 39% em relação ao iuane.
Gráfico 10: evolução da taxa de câmbio do real em relação ao peso mexicano. De 31 de dezembro de 2010 a 21 de janeiro de 2015, o real se desvalorizou 22% em relação ao peso mexicano.
Gráfico 11: evolução da taxa de câmbio do real em relação ao peso colombiano. De 31 de dezembro de 2010 a 21 de janeiro de 2015, o real se desvalorizou 20% em relação ao peso colombiano.
Gráfico 12: evolução da taxa de câmbio do real em relação ao peso chileno. De 31 de dezembro de 2010 a 21 de janeiro de 2015, o real se desvalorizou 13% em relação ao peso chileno.
Agora o massacre se torna mais humilhante:
Gráfico 13: evolução da taxa de câmbio do real em relação ao boliviano. De 31 de dezembro de 2010 a 22 de janeiro de 2015, o real se desvalorizou 36% em relação ao boliviano.
Gráfico 14: evolução da taxa de câmbio do real em relação ao sol peruano. De 31 de dezembro de 2010 a 21 de janeiro de 2015, o real se desvalorizou 30% em relação ao sol peruano.
Gráfico 15: evolução da taxa de câmbio do real em relação ao gourde haitiano. De 31 de dezembro de 2010 a 21 de janeiro de 2015, o real se desvalorizou 24% em relação ao gourde haitiano.
Gráfico 16: evolução da taxa de câmbio do real em relação ao guarani paraguaio. De 31 de dezembro de 2010 a 21 de janeiro de 2015, o real se desvalorizou 33% em relação ao guarani paraguaio.
Gráfico 17: evolução da taxa de câmbio do real em relação ao peso uruguaio. De 31 de dezembro de 2010 a 21 de janeiro de 2015, o real se desvalorizou 20% em relação ao peso uruguaio.
Gráfico 18: evolução da taxa de câmbio do real em relação ao baht tailandês. De 31 de dezembro de 2010 a 21 de janeiro de 2015, o real se desvalorizou 30% em relação ao baht.
A consolação
Gráfico 19: evolução da taxa de câmbio do real em relação ao peso argentino. De 31 de dezembro de 2010 a 21 de janeiro de 2015, o real se valorizou 41% em relação ao peso argentino. E, mesmo assim, toda a valorização do real ocorreu em 2014, quando a Argentina decretou moratória.
Gráfico 20: evolução da taxa de câmbio do real em relação ao rublo russo. De 31 de dezembro de 2010 a 21 de janeiro de 2015, o real se valorizou 39% em relação ao rublo. E, mesmo assim, toda a valorização do real ocorreu apenas em dezembro de 2014, quando o rublo se esfacelou no mercado mundial. De 2011 a meados de 2014, o real se desvalorizou em relação ao rublo.
Conclusão
Nossa moeda está sendo impiedosamente esfacelada em decorrência das políticas monetária e fiscal do governo, perdendo poder de compra em relação até mesmo à moeda do Haiti.
Em julho de 2011, o dólar custava R$1,54. Quem ganhava R$ 3.000 naquela época tinha um salário equivalente a US$ 1.948. Hoje, com o dólar a R$ 2,60, essa mesma pessoa teria de estar ganhando R$ 5.065 (aumento de 70%) apenas para voltar ao valor nominal em dólares de 2011.
Da mesma forma, um salário mínimo em meados de 2011 valia US$ 353. Hoje vale apenas US$ 303.
O povo está sendo enganado direitinho.
Enquanto isso, economistas desenvolvimentistas continuam batendo bumbo para a destruição do poder de compra da moeda e seguem dizendo que o país precisa é de um câmbio ainda mais desvalorizado, pois, segundo eles, o câmbio está "apreciado demais" e isso está "prejudicando a indústria".
Segundo esses magos, a desvalorização do câmbio é o segredo para impulsionar a indústria e o setor exportador brasileiro.
Tudo indica que eles habitam outra dimensão. Senão, como explicar o fato de que a desindustrialização no Brasil chegou ao auge, e as exportações caíram, justamente no período em que a moeda mais se desvalorizou? Eles parecem não perceber — ou fingem ignorar — que a desindustrialização está ocorrendo é justamente agora, quando temos uma moeda fraca, inflação alta, e as maiores tarifas protecionistas da história do real.
Eles também ignoram que o que acaba com a indústria, como explicado em detalhes aqui, é a inflação de preços e de custos, gerada justamente pela desvalorização da moeda. É a inflação de preços e de custos o quedesorganiza todo o planejamento de uma indústria e falsifica toda a sua contabilidade de custos, e não uma (fictícia) taxa de câmbio valorizada.
Uma taxa de câmbio valorizada, aliás, ajuda as indústrias mais competentes. Qualquer indústria exportadora tem também de importar máquinas e bens de capital de qualidade, além de peças de reposição, para produzir seus bens exportáveis (pergunte isso a qualquer mineradora ou siderúrgica). Se isso puder ser feito a um custo baixo (permitido por uma moeda forte), tanto melhor.
Uma moeda forte permite que as indústrias comprem bens de capital, máquinas e equipamentos de qualidade a preços baixos. Isso as deixaria mais produtivas, aumentaria a qualidade dos seus produtos, e faria com que eles fossem mais demandados lá fora.
(Nos primeiros anos do Plano Real, a moeda era muito mais forte do que é hoje, e não houve nenhuma desindustrialização; ao contrário, houve modernização do parque industrial).
Nenhum país que tem moeda fraca e inflação alta produz bens de qualidade que sejam altamente demandados pelo comércio mundial. Todos os bens de qualidade são produzidos em países com inflação baixa e moeda forte. Apenas olhe a qualidade dos produtos alemães, suíços, japoneses, americanos, coreanos, canadenses, cingapurianos etc.
Se moeda forte fosse empecilho para a indústria, todos esses países seriam hoje terra arrasada. No entanto, são nações fortemente exportadoras. Moeda forte e muita exportação.
Essa destruição do poder de compra da nossa moeda tem de acabar. A carestia que estamos vivenciando hoje não será resolvida enquanto o real não voltar a se fortalecer. É impossível ter uma carestia minimamente tolerável se a sua moeda é gerenciada por incompetentes e perde poder de compra até mesmo em relação à moeda do Haiti.
Leandro Roque é o editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.
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