O Estado de S.Paulo
Não há ameaças de curto prazo às contas externas, mostrou a nota do Banco Central (BC) distribuída ontem. Os investimentos estrangeiros diretos (IEDs) continuaram fortes, as remessas líquidas de renda para o exterior caíram e a colocação de papéis brasileiros no mercado global foi satisfatória.
Justamente o comércio de bens e serviços, que melhor indica o dinamismo das empresas, aparece como patinho feio, numa visão de longo prazo: a queda do superávit comercial em 12 meses foi quase contínua, de US$ 29,7 bilhões, em dezembro de 2011, para US$ 22,4 bilhões, no mês passado. Entre setembro de 2011 e setembro de 2012, as exportações caíram US$ 9,4 bilhões e as importações, apenas US$ 2 bilhões, apesar da desvalorização cambial anual de 15%.
O saldo comercial de setembro foi de US$ 2,6 bilhões, mas o BC admite que o deste mês será mais fraco. Entre 15/10 e 19/10, o saldo foi negativo em US$ 422 bilhões. E, enquanto a média diária de exportações caiu, a de importações subiu.
O balanço de pagamentos do País, em resumo, é suportado pelo ingresso de capitais. Em setembro, o IED foi de quase US$ 4,4 bilhões, atingindo US$ 63,9 bilhões (2,75% do PIB), em 12 meses, enquanto o déficit em transações correntes foi de US$ 2,6 bilhões, no mês, e US$ 49,9 bilhões (2,15% do PIB), nos últimos 12 meses. A projeção oficial é de um aumento do déficit corrente, neste mês, para US$ 4,5 bilhões.
A conta de serviços, que inclui viagens, transportes, computação, aluguéis de equipamentos e pagamentos de royalties e licenças, foi a mais pressionada, com déficit mensal de US$ 3,5 bilhões. O turismo, deficitário, foi pouco afetado pelo câmbio.
Entre os primeiros nove meses de 2011 e 2012, as remessas brutas de lucros e dividendos diminuíram muito por causa do declínio da atividade econômica e da desvalorização cambial. Mas essa situação será transitória, caso se confirmem a retomada da atividade econômica e resultados mais favoráveis para as empresas.
A maior dependência de empréstimos, como se registrou em setembro, começa a aparecer no balanço de pagamentos sob a forma de aumento da dívida: de US$ 302,9 bilhões, em agosto, para US$ 309,2 bilhões, em setembro. Nesse acréscimo, US$ 6 bilhões referem-se a empréstimos de longo prazo, com juros cadentes.
Para fortalecer as contas externas, as exportações terão de ser mais competitivas - e o investimento externo em infraestrutura, favorecido. Resta saber se o governo propiciará condições favoráveis aos investidores.