Na política, comunicação não é tudo, mas é quase tudo
Há 12 anos graduei-me bacharel em
comunicação com habilitação em jornalismo. Mas nunca me senti muito à
vontade para me descrever jornalista. Porque nunca trabalhei em redação.
E porque sabia que a prática jornalística no Brasil era por demais
irresponsável.
Mas cada vez mais me agrada o diploma em comunicação, ou o que fez de mim um comunicólogo.
Porque, se não fosse a capacidade de se
comunicar claramente, a humanidade jamais evoluiria, jamais
transmitiria para as futuras gerações as lições de toda uma vida, as
frutas que melhor matavam a fome, as plantas que findavam em
envenenamento, as orações que mais traziam paz de espírito, as trilhas
mais seguras, as práticas mais saudáveis, o acúmulo de conhecimento que
permite à ciência dar sempre um passo adiante.
Por isso a liberdade de expressão é tão
importante. Sem ela, o conhecimento não caminha como deveria caminhar, a
humanidade não evolui como deveria evoluir.
Também por isso a política soa tão
tóxica. Interessa a ela controlar o que é dito, que tipo de informação
ganha o mundo, quem pode falar o quê.
Para um político, comunicação não é
tudo, mas é quase tudo. A esquerda percebeu isso após as grandes
guerras. E foi esperta o suficiente para cercar todo tipo de formador de
opinião. Primeiro avançou sobre o movimento estudantil. Mas, uma vez
qualificados, aqueles estudantes se convertiam em trabalhadores ou
professores. E assim a esquerda dominou o sindicalismo e a ciência. Se
as pessoas querem ouvir o que um artista tem a dizer, a esquerda se
aproxima do artista. Se os intelectuais querem ler jornal, a esquerda
invade as redações. Se o povão só quer saber de novela, a
esquerda transforma roteiros em panfletos de seu interesse. Nem mesmo a
religião escapa, ou você não notou que o atual papa é o mais esquerdista
que se tem notícia?
A direita não parece perceber isso.
Trata a comunicação com descaso, como algo que só merece atenção em
período eleitoral. Sigo em minhas redes sociais mais de 400
parlamentares. Os esquerdistas passam o dia reverberando o próprio
discurso ou o de seus iguais. Os conservadores somem, surgem
ocasionalmente, por vezes apenas para o apagar de incêndios.
Mais do que mandar em você, a esquerda
quer que você queira o mesmo que ela. E oferece uma “narrativa”
encantadora independente de resultados que nunca entrega.
O discurso conservador poderia ser até
mais encantador, porque de fato dá resultado, mas a direita abre mão
dele, deixa a esquerda tomar conta, fazer seu barulho, humilhá-la.
As três maiores derrotas da direita
brasileira em 2016 poderiam ter sido contornadas com o melhor cuidado
com a comunicação de seus protagonistas. Eduardo Cunha poderia ter
dialogado melhor, senão com a imprensa, talvez com o povo que, nas ruas,
pedia o impeachment de Dilma Rousseff. Jair Bolsonaro poderia ter usado
de maneira muito mais sábia o voto proferido durante o processo, além
de ter evitado cometer a falta que Maria do Rosário cavava. Quanto a
Marco Feliciano, independente de ser culpado ou não, poderia ter
trazido ao eleitor dele respostas mais firmes e hábeis, sem tentar
resolver o caso “Patrícia Lélis” abafando-o em meio ao noticiário
olímpico.
Chacrinha, que não era um comunicólogo,
mas um grande comunicador, pregava que se “trumbicaria” qualquer um que
não se comunicasse.
Enquanto a direita continuar ignorando que precisa se comunicar melhor, continuará se trumbicando.
Marlos Ápyus é formado em comunicação, trabalhou por 15 anos como desenvolvedor web e músico. Além de colaborar com o Implicante, atualiza o apyus.com, seu site pessoal. Escreve no Implicante às quartas-feiras.
fonte: http://www.implicante.org/noticias/colunas/marlos-apyus/ou-a-direita-da-mais-atencao-a-comunicacao-ou-nao-tardarara-a-sumir-novamente/