O que continua a ser espantoso,
depois de tudo, é que o senhor Luiz Inácio Lula da Silva não seja nem mesmo
investigado num inquérito. Essa foi uma das grandes vergonhas que o país herdou
do mensalão. E, pelo andar da carruagem, pode ser também a herança vergonhosa
que deixará a investigação do petrolão.
A institucionalidade brasileira tem um depredador-chefe:
chama-se Lula. Os advogados do poderoso chefão do PT não precisam ficar
escarafunchando entrelinhas para ver como podem me processar. Perda de tempo.
Ser depredador-chefe da institucionalidade não é um crime previsto no Código
Penal, não é mesmo?
Os doutores não poderão alegar tratar-se de uma calúnia. Também
não se cuida aqui de injúria ou difamação. Expresso apenas uma opinião, até
porque o ex-presidente poderia dizer em sua defesa que, onde vejo depredação, o
que se tem, na verdade, é a criação das bases para a redenção dos oprimidos. Eu
e Luiz Inácio da Silva certamente temos opiniões muito distintas sobre… Lula! Sim, a cada nova revelação da Operação Lava
Jato, cresce a figura de um verdugo das instituições democráticas em seu
sentido pleno.
Por que isso?
Dados da delação premiada de Nestor Cerveró — que foram tornados públicos, não
constituindo vazamento ilegal — apontam que Lula o nomeou para uma diretoria na
BR Distribuidora como recompensa por este ter viabilizado que o grupo Schahin
operasse o navio-sonda Vitória 10.000 — um contrato de US$ 1,6 bilhão. Cerveró
fez o favorzinho quando era diretor da Área Internacional da Petrobras, de onde
foi demitido logo depois.
Com esse acordo, o PT não precisou saldar uma dívida com o grupo,
que já estava em R$ 60 milhões. O passivo decorria de um empréstimo de R$ 12
milhões feito ao partido em 2004, em nome de José Carlos Bumlai, o amigão de
Lula, que serviu de mero laranja da operação. Vale dizer: a Petrobras pagou o
empréstimo contraído pelo PT.
Mas isso realmente aconteceu?
Os diretores do grupo Schahin, que emprestaram o dinheiro e
assinaram o contrato bilionário confirmam as duas transações. Bumlai, o amigão
de Lula, admite ter sido mero laranja da operação e que o empréstimo nunca foi
pago. Fernando Baiano, outro delator, já havia relatado rigorosamente a mesma
história — inclusive sobre a nomeação de Cerveró para a BR Distribuidora como
uma recompensa. Segundo Baiano, Bumlai acertou isso pessoalmente com Lula. Será
que aconteceu? A pergunta é por que tanta gente iria mentir, inclusive se
incriminando, ainda que num ambiente de delação premiada.
Mas a coisa não ficou por aí. Nesta terça, ficamos sabendo que,
segundo o depoimento de Cerveró, “em meados de 2010, houve uma reunião na BR
Distribuidora com a presidência, todos os diretores e o senador Fernando Collor
de Mello (PTB-AL)”. Segundo o depoente, “a realização dessa reunião foi uma
sugestão de Lula a Collor, que estava acompanhado por João Lyra, político e
usineiro em Alagoas”.
O senador queria que a Petrobras fizesse a compra antecipada da
safra dos usineiros do estado, o que contrariava norma da BR Distribuidora. A
operação não aconteceu. Cerveró diz ter ficado sabendo que o Banco do Brasil
liberou mais tarde um crédito de R$ 50 milhões para Lyra. O BB diz que a
proposta realmente foi feita, mas que a instituição não autorizou a transação.
Notem: Alagoas teria sofrido com enchentes naquele 2010, e tal
operação seria um socorro. É claro que, em tese, um presidente pode propor
reuniões para minorar os efeitos locais de desastres naturais etc. Mas vocês
vão perceber que não é disso que se trata.
Loteamento
Segundo a
Procuradoria-Geral da República, em denúncia protocolada no STF contra o deputado
Vander Loubet (PT-MS), Lula loteou a BR Distribuidora entre Collor e o PT.
Rodrigo Janot afirma que, entre 2010 e 2014, foi criada “uma organização
criminosa pré-ordenada principalmente ao desvio de recursos públicos em
proveito particular, à corrupção de agentes públicos e à lavagem de dinheiro”.
Na denúncia, informa a Folha, o procurador-geral afirma que Collor nomeou os
responsáveis pelas diretorias da Rede de Postos e Serviços e de Operações e
Logística: respectivamente, Luiz Cláudio Caseria Sanches e José Zonis. E as
duas diretorias, segundo Janot, serviram de base para o pagamento de propina ao
senador.
Já a diretoria Financeira e de Serviços e a de Mercado Consumidor
ficaram com o PT, ocupadas, então, pelo próprio Cerveró e por Anduarte de
Barros Duarte Filho. Também elas seriam bases de pagamento de propina.
Eis o modelo Lula de gestão. Ele nunca usou o estado brasileiro
para implementar políticas públicas de alcance universal — exceção feita ao
bolsismo e suas variantes, que se transformam em máquinas de caçar votos. Todas
as vezes em que seu nome aparece, o que se vê é sempre a lógica do arranjo, o
uso do dinheiro público para conceder privilégios a entes privados, em troca,
obviamente, de apoio político.
O desastre do petismo
O Brasil que caminha
para a depressão econômica, com dois anos seguidos de forte recessão (teremos,
sim!), depois de crescer 0,1% em 2014, é aquele que, a rigor, ficou sem governo
digno desse nome nos últimos 13 anos, entrando agora no 14º. Apontem uma só
política pública relevante que o PT deixará como herança, que modernize e
formate o estado, exceção feita à exacerbação de medidas de caráter
compensatório para minorar os extremos da miséria. Dois anos seguidos de perda
de riqueza, podendo chegar a três, vão consumir boa parte dos benefícios
obtidos pelos mais pobres, o que evidencia que não eram sustentáveis.
O mais curioso é que parte considerável dos desastres que aí estão
era evitável. A sua origem é fiscal. Decorre do descontrole da máquina. Ocorre
que isso demandaria que o PT tivesse outra compreensão da democracia. Ou me
corrijo: isso exigiria que o PT entendesse a democracia e aceitasse seus
pressupostos. Isso lhe teria dado a chance até mesmo de corrigir erros de
operação de política econômica, eventualmente não dolosos.
Mas não! Lula chegou ao poder com a cabeça do sindicalista que, a
partir de certo ponto da trajetória, se impôs a tarefa de enterrar a
velha-guarda e ocupar o gigantesco aparato assistencialista que cerca o mundo
do trabalho e confere a seus donatários um formidável poder político. No
sindicalismo, feio é perder. Na política, a derrota é uma das essências da
democracia porque é a existência da oposição que legitima o regime.
O que continua a ser espantoso, depois de tudo, é que o senhor
Luiz Inácio Lula da Silva não seja nem mesmo investigado num inquérito. Essa
foi uma das grandes vergonhas que o país herdou do mensalão. E, pelo andar da
carruagem, pode ser também a herança vergonhosa que deixará a investigação do
petrolão.