O apoio de Cuba à luta armada no Brasil: o treinamento guerrilheiro!!
Denise Rollemberg
«Dizia-se «ilha» ou «Ponto Um» e todos nós sabíamos que era
Cuba, nome tão impronunciável como nossos nomes». Flávio
Tavares!!
Nos anos 1960 e 1970, uma mística envolvia a experiência do treinamento guerrilheiro
em Cuba!!!. E essa mística não envolveu unicamente a esquerda que buscava se preparar para enfrentar o sistema capitalista e o regime civil-militar instaurado em 1964. A documentação dos arquivos da repressão - trabalho de pesquisa, objetivos, preocupações, termos usados, e, sobretudo, o tratamento dado a quem havia passado pelo treinamento -, mostram a importância que lhe era atribuída. Em novembro de 1972, por exemplo, I Exército fez circular pelos diversos órgãos de informação um dossiê detalhado de 107 páginas, organizado pelo Centro de Informação do Exército, com dados e fotos sobre todos os 219 militantes treinados ou suspeitos de terem treinado em Cubaiv. No ofício, encaminhando o trabalho, o chefe do Estado Maior do I Exército afirma «...o fato de ter freqüentado um «Curso de Guerrilha» em CUBA como um indício importante para a caracterização da periculosidade de um terrorista» (grifo no original)v.
Mário Japa, codinome de Shizuo Osawa, da VPR, lembra o status que dava ir treinar
em Cuba: «Todo mundo queria ir. Era quase um batismo de fogo: tinha que participar de uma ação militar e tinha que ir treinar em Cuba»vi.
Apenas uma minoria entre os que treinaram voltou ao Brasil. A partir de determinado
momento, a repressão condenou à morte todos que tivessem passado pelo treinamento. E, de fato, entre os que foram presos, os que sobreviveram são exceções.
Treinamento guerrilheiro na Ilha! A primeira impressão que o historiador tem hoje,
passados tantos anos, é como se houvesse nessas palavras um poder em si mesmo, que
suscitava especial atenção, tanto entre a esquerda como entre a direita.
Parece-me importante, portanto, compreender o treinamento guerrilheiro, a partir das
óticas da esquerda e da direita: em que consistia, suas possibilidades e limites, as expectativas, 2) as realizações, as frustrações; como os órgãos da repressão lidavam com a existência do treinamento, com os militantes treinados, as especulações, as informações. Mas também compreender o treinamento no contexto do apoio do governo cubano à luta armada na América Latina. Assim, compreender o treinamento é refletir sobre a simbologia do guerrilheiro-treinado-em-Cuba, que alimentou sonhos e esperanças - e, às vezes, decepções -, na esquerda; despertou, invariavelmente, a gana da repressão e serviu ao povo e aos revolucionários cubanos, ajudando-os no enfrentamento de enormes dificuldades, certos de que dias melhores viriam.
Exportar a revolução
«Ele [Che Guevara] nos dizia [ao grupo de guerrilheiros que
preparava para partir para a Bolívia] que um homem pode
morrer não importa onde sem que ninguém saiba ou ainda
morrer na sua família e ser completamente esquecido em muito
pouco tempo. Nós, ao contrário, nos tornaríamos heróis da
Revolução latino-americana e ficaríamos para sempre como
símbolo. (...)...nós decidimos que era mais bonito se transformar
assim em herói que levar uma vida mesquinha, cheia de miséria
e amargura. Nós nos dizíamos que, em breve, as pessoas
próximas a nós e todos aqueles que nós conhecíamos nos
considerariam com orgulho». Benignovii.
Exportar a revolução é o título de uma parte do livro de Benigno, nome de guerra de
Dariel Alarcón Ramírez, revolucionário cubano que participou de Sierra Maestra e lutou, ao
lado de Che Guevara, na África e na Bolívia. Nos anos 1990, Benigno deixou Cuba, o poder e o prestígio que sua trajetória lhe conferia e tornou-se um dissidente. A condenação e o
fuzilamento de outro antigo revolucionário, Arnaldo Ochoa, em 1989, motivaram o
rompimento. O ciclo do revolucionário dissidente está contido no título, Vida e morte da
revolução cubana, síntese de um processo que se confundiu com sua própria história. Benigno relatou a saga da tentativa de levar a revolução pelo mundo, como uma onda que asseguraria a vitória da revolução em Cuba e libertaria os povos do Terceiro Mundo.
Como sabemos, a tese do internacionalismo revolucionário nasceu com o próprio
socialismo e, historicamente, sempre encontrou tensões e obstáculos entre os revolucionários.
3) No caso da América Latina dos anos 1960, a experiência na Bolívia, ou melhor, a tentativa de implantar o foco guerrilheiro no país, é significativa: levou à morte o símbolo do guerrilheiro sem pátria, trouxe à tona o seu isolamento em relação à sociedade que queria libertar e à própria esquerda, evidenciou as diferenças nacionais no continente, colocando em xeque o mito da pátria latina.
O drama da vivência de Benigno, onde a realidade massacrou o sonho, não o impediu
de, ao voltar como sobrevivente da Bolívia a Cuba, reassumir as ocupações anteriores à
partida: o treinamento de estrangeirosviii. Em meio às pressões da URSS para que a revolução
não fosse exportada – embora com a sua cumplicidade - e aos fracassos no exterior, o
treinamento guerrilheiro foi mantido até meados dos anos 1970.
Desde a crise dos mísseis e a definição do governo cubano como socialista, em 1961, a
questão da exportação da revolução para os países latino-americanos se colocou na ordem do
dia, como condição para sobrevivência e consolidação da revolução em Cuba. Nesse
momento, os revolucionários passaram a contar a história da vitória de tal maneira que
construíram um dos maiores mitos da esquerda latino-americana dos anos 1960: o do foco
guerrilheiro. A revolução teria se desencadeado e tornara-se vitoriosa a partir de uma
vanguarda de guerrilheiros capazes de subverter a ordem e reorientar os rumos do país. No
processo de construção da memória da revolução, ainda no calor dos acontecimentos, pouca
ênfase foi dada à conjuntura, onde o clima de descontentamento e revolta contra a ordem
estabelecida havia levado à mobilização e à organização da sociedade. Quando os
revolucionários desembarcaram em Cuba, um episódio tantas vezes narrado como um quadro
épico, não estavam sozinhos. Ao contrário, encontravam uma situação plenamente favorável à sublevaçãoix. Assim, os revolucionários, ao construir a memória da revolução, não romperam com a maneira pela qual, tradicionalmente, os vencedores constróem o passado. Aliás, como sabemos, assim tem sido em todas as revoluções. O fato é que essa versão serviu como uma luva para movimentos revolucionários dos chamados países do Terceiro Mundo, em especial para os da América Latina, que não contavam com a participação social na luta revolucionária ou o faziam com limites e contradições. Nada como um exemplo, um modelo a ser seguido, equacionado as dificuldades, apontando soluções, propondo caminhos, encorajando a luta.
Essa construção não serviria, exclusivamente, aos guerrilheiros dos países hermanos.
Sobretudo, internamente, fortalecia Cuba, redirecionando a força da sociedade para a
4) vanguarda, potencializando-a, colocando aquela refém desta. Externamente, redefinia o país no cenário do movimento comunista internacional, fazendo da pequena Ilha tão próxima dos EUA o primeiro território livre da América Latina.
No entanto, não se está aqui defendendo esse processo como algo simplista. Contar a
história envolve aspectos complexos que têm a ver com os mecanismos através dos quais
grupos sociais, homens e mulheres lidam com a realidade, as ilusões, as frustrações, os
desejos, os conflitos, o poder, a dominação. De outra maneira seria impossível compreender a opção de Che Guevara e de outros revolucionários pela luta na África e na Bolívia. Nesse ponto, o testemunho de Benigno também é bastante esclarecedor. Por um lado, desvenda uma trama de meias-verdades, de meias-palavras, de pressão e de resistência que envolveu o governo cubano e o Partido Comunista Boliviano. Entre uma queda de braço e um jogo de sedução, Mário Monje, primeiro-secretário do PC boliviano e os cubanos se aproximavam, mediam forças, se afastavam, se encaravam, desviavam olhares, dissimulavam mutuamente, fingiam acreditar no fingimento. Foi assim que Monje fez treinamento guerrilheiro em Cuba, sem se envolver, sem entusiasmo, em silêncio, como um remédio que se toma, mas no qual não se acredita, mas que se toma. Quando Guevara chegou com seus homens à Bolívia ficou profundamente irritado: as condições para a guerrilha eram nulas, sem apoio do Partido, isolados, sem armas, num meio hostil, onde os camponeses que apareciam eram para denunciar a presença dos guerrilheiros. Benigno assegura que o governo cubano não informou
Guevara sobre as condições concretas, embora as conhecesse. Mas Che já estava lançado, num caminho sem volta. Todos ali acreditavam na exportação da revolução. Benigno é o testemunho dessa crença mesmo quando já acumulavam a experiência frustrada no Congo: a formação dos homens, a preparação, a fé no projeto que tentavam realizar. Se não houvesse revolução em outros países, não haveria lugar para Che. O poder burocratizado lhe era estranho e as críticas à URSS, manifestadas publicamente em 1965, o indispunham a permanecer no governo, em um momento em que Cuba já dependia da ajuda soviéticax.
Assim, seguiu a opção feita desde sempre, coerente com sua vida, em direção à revolução, à transformação, à vida, ao abismo, à morte, à lenda.
A partir da derrota e da morte de Che na Bolívia, em outubro de 1967, Fidel Castro
confirmou o caminho que vinha seguindo desde 1964 de aproximação com a URSS e os
partidos comunistas, assumindo a realidade da construção do socialismo em um só país e a
5) dependência em relação à grande potência socialistaxi. No entanto, a própria posição de Fidel a esse respeito era ambígua. Moniz Bandeira acredita que Fidel e Che
«...coincidiam quanto à necessidade de impulsionar a revolução no Terceiro Mundo.
Castro não se submetera ao acordo de refrear a luta armada, estabelecido em
novembro-dezembro de 1964, sob inspiração de Moscou, com os partidos comunistas
ortodoxos, e convocara a Havana cerca de 430 representantes tanto da esquerda legal
ou clandestina (exceto os maoístas) dos três continentes, como dos movimentos
nacionalistas mais radicais, para participar da Conferência Tricontinental, instalada em
13 de janeiro de 1966, com o objetivo de criar uma Internacional revolucionária no
Terceiro Mundo, a Organização de Solidariedade dos Povos da África, Ásia e América
Latina (OSPAAL)»xii.
É nesse sentido que, em 1967, entre 31 de julho e 10 de agosto, ocorreu a conferência
que deu origem à Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), que, como ondas
- olas - estenderia a revolução através da América Latina. Assim, para Moniz Bandeira, a ida de Guevara para a África e a Bolívia não foi motivada pelos desentendimentos com Fidel quanto às relações com a URSS, que se opunha às tentativas de desencadeamento da revolução na América Latina, como muitos a interpretam. Inseria-se, ao contrário, no projeto apoiado pelo próprio Fidel. Sobre esta posição da URSS, no entanto, é bom lembrar que a própria URSS, evidentemente, sempre esteve a par do fluxo mantido nos anos posteriores de militantes indo a Cuba treinar. As rotas de entrada e saída do país, por exemplo, passavam por Moscou e Praga, onde os guerrilheiros eram recebidos e orientados.
Ao longo dos anos 1964, 1965 e 1966, as derrotas das tentativas de implantação de
focos guerrilheiros foram inúmeras, levando à morte diversos guerrilheirosxiii. Em 1968, diante de uma grave crise econômica, o isolamento internacional de Cuba e da derrota das guerrilhas na América Latina, sobretudo na Venezuela, na Colômbia, na Guatemala e na Bolívia, Fidel buscou a reaproximação com a URSS, simbolizada no apoio à invasão à Tchecoeslováquiaxiv.
Nos primeiros meses de 1969, as negociações comerciais entre os dois países já apontavam para a distensão da crise. O compromisso de pôr fim à exportação da revolução acabou se concretizando em 4 de agosto de 1970: Cuba não atacaria os países vizinhos e os EUA não invadiria a Ilhaxv. A partir de 1972, Cuba integrou-se formalmente no Bloco Socialista,
incluindo-se no Conselho para a Ajuda Econômica Mútua, o COMECOMxvi. Em 1975,
6) entretanto, Cuba interveio em Angola atendendo o pedido de Agostinho Neto, líder do
Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA):
«Conquanto se retraísse na exportação de guerrilhas para a América Latina e
limitasse a assistência (treinamento, assessoramento e armas) apenas à Frente
Sandinista de Libertação Nacional (Nicarágua) e à Frente de Libertação Nacional
Farabundo Martí (El Salvador), Castro não abdicara de sua militância internacional e
intensificara a presença de Cuba na África, não mais de forma subversiva, mas
atendendo ao apelo de Angola, bem como, em 1977, da Somália e da Etiópia»xvii.
Assim, mesmo diante da redefinição quanto ao apoio à guerrilha na América Latina,
em 1968, ainda que considerando as ambigüidades a esse respeito, Cuba continuou, nos anos
seguintes, treinando guerrilheiros latino-americanos. Por quê? A maior parte dos brasileiros,
aliás, foi treinada exatamente a partir deste ano. Cuba teria treinado de 2.000 a 3.000
guerrilheiros latino-americanos entre 1962 e 1967 e continuou a fazê-lo até pelo menos
1970xviii. A redefinição, no entanto, quanto à exportação da revolução já era clara desde 1968.
Como um disco tocando em duas rotações, simultaneamente. Uma afinava-se com a realidade da necessidade e das derrotas, outra com o mito da vanguarda, que alimentava o sonho que não existia mais.
Domingos Fernandes, militante da ALN, treinado em Cuba, acredita que esta
dubiedade foi mantida:
«...havia uma coisa surda entre os que se consideravam revolucionários cubanos e
aqueles que tocavam o país. Sentia-se que não era uma coisa só: os que cuidavam do
Estado, do futuro eram pessoas mais preocupadas com a relação com a URSS, que
dava muito apoio econômico, e os caras que esses chamavam de porra-louca, que
davam assistência às guerrilhas latino-americanas»xix.
Assim é que, de volta a Cuba, depois do episódio na Bolívia, em fins de 1967, Benigno
pôde reassumir sua posição como instrutor de treinamento. A experiência só consolidou o seu currículo de revolucionário. Derrotada a exportação da revolução, o herói legitimaria como ninguém o projeto que reforçava interna e externamente a posição de Cuba na vanguarda do continente e produziria outros heróis e lendas, e muitos presos e mortos.
7) Quanto à revolução brasileira, Cuba apoiou a formação de guerrilheiros, desde o
momento em que assumiu a função de exportar a revolução, quando o Brasil vivia sob o
regime democrático do governo João Goulart, ou seja, antes da instauração da ditadura. A
maior parte, como disse, foi treinada a partir de 1968, quando Cuba já havia se voltado para a
construção do socialismo em um único país, com o apoio da URSS. Embora um caso isolado,
chegou a haver treinamento mesmo ao longo de 1973, quando a guerrilha no Brasil já estava
aniquilada, à exceção da guerrilha do PCdoB, no Araguaia (1972-74). Em junho de 1973,
quando a ALN estava esmagada e vencida, com os militantes mortos, presos ou no exílio,
Arnaldo Ochoa chegou a propor à organização um plano de entrada, pela Amazônia, de
guerrilheiros cubanos e brasileiros para implantar a guerrilha no Norte e disseminá-la a partir
daí. A avaliação da realidade parecia secundária. Como se o plano tivesse autonomia, vida
própria. Ainda que numa outra conjuntura, não teria sido assim que Che e seus guerrilheiros
chegaram à Bolívia, secundarizando a realidade do país a partir do qual todo o continente iria
se levantar?
Cuba apoiou, concretamente, os brasileiros em três momentos bem diferentes. O
primeiro, como disse, foi anterior ao golpe civil-militar. Nesse momento, o contato do governo
cubano era com as Ligas Camponesas. Após a instauração do novo regime e desarticuladas as
Ligas, o apoio cubano foi dado ao grupo liderado por Leonel Brizola, composto de outras
lideranças dos movimentos sociais do período pré-1964, tendo como base os sargentos e
marinheiros expulsos das Forças Armadas. A partir de 1967, desmobilizadas as tentativas de implantação da guerrilha ligadas a este grupo, Carlos Marighella, presente na Conferência da OLAS, surgiu, para os cubanos, como o grande nome da revolução no Brasilxx. Daí até o início dos 1970, Cuba treinou guerrilheiros de organizações de vanguarda que seguiram o caminho da luta armada, principalmente, da ALN, da VPR e do MR-8.
1 - As Ligas Camponesas
Surgidas em 1955, as Ligas Camponesas expandiram-se por diversos estados do país,
sobretudo pelo Nordeste, ganhando grande expressão no início da década de 1960xxi. No
intenso debate dos anos que antecederam o golpe, a questão da reforma agrária, ponta de lança
8) das reformas em pauta, era a expressão maior das contradições e, portanto, o início de todo e
qualquer projeto que, de uma forma ou de outra, propusesse transformar o país.
As Ligas foram desde a origem um centro de tensões. Por vários motivos. Antes de
tudo porque pretendiam mexer na estrutura fundiária de um país de tradição colonial,
escravista, com um legado baseado no latifúndio, na exploração, na miséria, na desigualdade.
E o Nordeste, epicentro dos mais importantes movimentos das Ligas, era a expressão viva
desse quadro. Além disso, as Ligas surgiram num momento muito particular do cenário
nacional e internacional. No país, a expansão do movimento coincidiu com o breve governo Jânio Quadros e o governo João Goulart, marcados pela reação da direita, a organização e a polarização dos movimentos sociais, as ambigüidades do presidente Jango e a passividade da
esquerda representada pelo PCB. As tensões vivenciadas pelas Ligas não se limitaram ao
enfrentamento com os interesses do latifúndio. Logo tiveram que lidar com uma questão que tanto mobilizava a esquerda: seria possível fazer mudanças estruturais pelas vias
institucionais? Como concretizá-las com um parlamento majoritariamente conservador? O
slogan sintetizava o impasse: «reforma agrária na lei ou na marra». Internamente, as Ligas
viveram os embates típicos das organizações e dos movimentos de esquerda: projetos que propunham caminhos inconciliáveis para a luta, implicando diferentes apoios no cenário internacional. Essas disputas, por sua vez, foram personificadas nas lideranças do movimento.
Assim, as Ligas, tendo a enfrentar um secular e poderoso inimigo – o latifundiário -, acabaram
também se desgastando e se consumindo, em disputas internas.
No cenário internacional e, em particular, da América Latina, o surgimento e o
crescimento das Ligas coincidiram com a Revolução Cubana e seus primeiros
desdobramentos, que mudaram o mapa político do continente. As Ligas expressaram os
conflitos e dilemas de sua época. No contexto da exportação da revolução, Cuba viu nesse
movimento e nos seus dirigentes o caminho para subverter a ordem no maior país da América Latina.
Ao longo de 1961 e 1962, os órgãos de informação oficiais faziam circular as
informações sobre as «atividades subversivas dos elementos integrantes das Ligas
Camponesas...»xxii. As notícias das invasões de fazendas são mapeadas. Listas de passageiros
que viajavam a Cuba eram controladas pelos diversos órgãos, destacando os nomes dos
envolvidos com as Ligasxxiii. A maior preocupação era com «os cursos preparatórios de lutas
9) de guerrilha em vários pontos do país», funcionando em sítios e fazendas, sob o comando do
PCB, cuja função seria «dar coesão aos camponeses, controlá-los, dominá-los e uni-los em torno de seu programa e prepará-los para essa tarefa revolucionária». Os «professores» seriam
militares treinados em Cubaxxiv. Na verdade, não se tratava exatamente do PCB. Ou melhor, havia uma tensão no Partido a respeito do encaminhamento da luta pela reforma agrária. As decisões do V Congresso do PCB, de setembro de 1960, haviam subordinado esta luta à tática da chamada etapa nacional-democrática, prevendo uma aliança de classes ampla e não o confronto de seus interesses. No entanto, dirigentes das Ligas ligados ao PCB, liderados por Clodomir dos Santos Morais (ex-deputado estadual de PE e advogado), se opuseram às teses do V Congresso. Essa facção, no entanto, manteve-se no Partido até novembro de 1961,
quando foi expulsa no I Congresso Nacional de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas,
conhecido como Congresso de Belo Horizonte. Assim, por ter se mantido no Partido nesse período, apesar das discordâncias essenciais, o grupo foi sempre identificado ao Partido na imprensa e na documentação dos órgãos de informação. No entanto, defendendo o confronto revolucionário, a dissidência era inevitável. Segundo Fernando Azevêdo, o exemplo da Revolução Cubana foi decisivo na evolução das Ligas nesse sentido:
«Essas posições “anti-partido” tornar-se-iam hegemônicas nas Ligas, na medida em
que estas passam a incorporar e a sistematizar teoricamente a experiência da revolução
cubana, deflagrada do campo para a cidade por um núcleo guerrilheiro desvinculado do
PC, queimando “etapas”, instaurando o socialismo e promovendo uma reforma agrária
avançada e baseada no coletivismo»xxv.
Porém, é claro que, quando Cuba decidiu-se pela exportação da revolução, na ocasião
da invasão da Baía dos Porcos, em abril de 1961, esse grupo, chamado de «anti-partido»,
mesmo antes do rompimento com o PCB, já se definira pelo enfretamento armado.
Em fevereiro de 1962, o governo cubano lançou na presença de diversos dirigentes de
movimentos sociais da América Latina, a Segunda Declaração de Havana, conclamando as massas à revolução através da guerrilha com o apoio de Cuba. O slogan «o dever de todo revolucionário é fazer a revolução» centrava-se na idéia de que a hora havia chegado e era preciso se posicionar claramente para o embate. Francisco Julião, dirigente mais conhecido das Ligas, estava presente no evento que soou como um grito de guerra. Julião, no entanto,
10) manteve uma posição dúbia ou contraditória em relação à luta guerrilheira. Mantendo relações estreitas com Cuba e radicalizando suas posições nos famosos discursos que fazia, Julião, entretanto, se opôs à facção favorável à guerrilha, liderada por Clodomir Morais, Carlos Montarroyo e Tarzan Castro. Julião, inclusive, participou das eleções, nesse mesmo ano de 1962, apesar de criticá-las, como candidato a deputado federal.
Com Clodomir Morais, dissidente do PCB, deu-se início à formação dos campos de
treinamento de guerrilhas no Brasil com o apoio de Cuba. O momento coincidia com o fim do governo Jânio Quadros, apoiado por Cuba, e o início do governo Goulart. O apoio de Cuba se concretizou na implantação desses campos, na verdade, fazendas compradas, em Goiás, Acre, Bahia e Pernambuco, «formados por alguns camponeses e, em sua maioria, estudantes secundaristas e universitários vindos de Pernambuco»xxvi. Falava-se também em fazendas no Maranhão, em Mato Grosso, no estado do Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sulxxvii. Houve também o fornecimento de armas, dinheiro e orientação para a implantação da guerrilha.
Apesar do fluxo constante de lideranças e militantes a Cuba, o treinamento seria dado no
Brasil. Há informação de que Clodomir Morais e mais 11 membros das Ligas, alguns exmembros
do PCB, teriam feito o «curso de guerrilhas, em Cuba», entre 28 de julho e 20 de
agosto de 1961, com mais 40 latino-americanos, numa viagem a pretexto de participar das
comemorações do 26 de julho:
«O curso foi o segundo desta natureza patrocinado pelos cubanos, sendo que o
primeiro foi dado em maio de 1961, também em Cuba. A instrução constava de
exercícios diários de tiro ao alvo, manobras de guerrilhas simuladas nas montanhas dos
Organos, e manejo e identificação de armas e doutrinação ideológica. Os estagiários
eram instruídos no desmontar, manejar e a manutenção de armas de fogo norteamericanas...(...)
Foram ensinados como fazer o «coquetel Molotov» e a bomba
incendiária «M-26»xxviii.
Segundo Clodomir Morais, os campos de treinamento de guerrilha eram muito
precários: «...durante todo o ano de sua existência, jamais dispôs sequer de um jeep para
carregar os suprimentos ou fazer o reconhecimento militar nas áreas da futura operação»xxix.
Clodomir Morais garante que Julião, que disputava a liderança das Ligas com o grupo, jamais
entrou em contato com os campos, não tendo sequer idéia das localizaçõesxxx. Ao que parece,
Julião, apesar de manter uma imagem radical de si mesmo e das suas posições e estreitas
11) relações com o governo cubano, não esteve envolvido com os planos de formação dos campos
de guerrilha e de implantação do foco com o apoio concreto de Cuba. Na verdade, seus
discursos inflamados, demonstravam o domínio da oratória e o conhecimento da cultura dos
sem-terras, e não seu radicalismo. Suas avaliações super-otimistas sobre a possibilidade de
resistência das Ligas a um possível golpe de Estado talvez tenham sido feitas nesta
contradição, ou seja, no vazio. É conhecida a história segundo a qual Julião teria dito em Cuba
e para o grupo que compunha com Brizola, na Frente de Mobilização Popular, que caso
houvesse o golpe teria cem mil camponeses armados e prontos para enfrentá-lo. Quando
chegou o momento, não havia nada e Julião simplesmente deixou o paísxxxi.
Flávio Tavares, em suas memórias, conta como, durante o governo Goulart, em fins de
1962, o Serviço de Repressão ao Contrabando, por acaso, desbaratou o plano de formação de
um campo de treinamento das Ligas, no interior de Goiás, Dianópolis. Pensando se tratar da
entrada ilegal de eletro-doméstico, o Serviço
«encontrou algumas armas e muitas, muitas bandeiras cubanas, retratos e textos de
discursos de Fidel castro e do deputado pernambucano Francisco Julião, manuais de
instrução de combate, além dos planos de implantação de outros futuros focos de
sabotagem e uma minuciosa descrição dos fundo financeiros enviados por Cuba para
montar o acampamento e todo o esquema de sublevação armada das Ligas Camponesas
noutros pontos do país»xxxii.
Assim, em novembro, caía o campo de Goiás, cujo responsável era Carlos Montarroyo,
levando à prisão os militantes lá encontrados. Com isso, a facção envolvida com a luta armada
decidiu desmobilizar os outros camposxxxiii. Clodomir acabou preso e processado pela Lei de
Segurança Nacional.
A apreensão de todo o material trazia à tona a participação do governo cubano na
revolução brasileira. João Goulart tentou resolver o caso diplomaticamente entregando ao m
ministro enviado por Fidel, o material encontrado:
«O ministro cubano despediu-se de Jango e tomou um avião da Varig para chegar ao
México e, de lá, retornar a Havana. Nunca chegou, porém. Antes de aterrissar na escala
12) em Lima, no Peru, o Boeing caiu e morreram todos os passageiros. A pasta de couro
em que o ministro Zepeda levava a documentação foi encontrada entre os destroços e
entregue à CIA norte-americana, que divulgou os documentos num carnaval acusatório
a Cuba pelas três Américas»xxxiv.
A relação das Ligas com Cuba evidencia a definição de uma parte da esquerda pela
luta armada no Brasil, em pleno governo democrático, bem antes da implantação da ditadura
civil-militar. Embora não se trate de uma novidadexxxv, o fato é que, após 1964, a esquerda
tendeu - e tende ainda - a construir a memória da sua luta, sobretudo, como de resistência ao
autoritarismo do novo regime. É claro que o golpe e a ditadura redefiniam o quadro político.
No entanto, a interpretação da luta armada como, essencialmente, de resistência deixa à
sombra aspectos centrais da experiência dos embates travados pelos movimentos sociais de
esquerda no período anterior a 1964.
Após a experiência frustrada das Ligas e já instaurada a ditadura civil-militar, Cuba
redefiniu a maneira de apoiar a revolução no Brasil.
2 - Brizola e o MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário)
«Parecíamos fantasmas perambulando durante a noite e
expiando algum pecado. Muitas vezes, não sabíamos onde
buscar mais energia para chegar, mas sempre chegávamos. Um
trabalho para super-homens, não para seres comuns como nós.
Mas nós o fizemos». Avelino Capitani xxxvi.
Tão logo Leonel Brizola chegou ao Uruguai, depois do golpe civil-militar de 1964,
começou a articular, com refugiados que afluíam a Montevidéu, um contra-golpe. As
memórias de Flávio Tavares dão a atmosfera da capital uruguaia, «meca da revolução
nacionalista-popular no Brasil»:
«liberdade absoluta, partidos de todos os matizes e todos legalizados (até os trotskistas
e anarquistas, estigmatizados no resto do mundo, lá tinham sede, bandeiras, jornais e
congêneres). E, além de tudo, muitos livros e revistas contando da utopia e da
revolução. Tudo à mostra, tal qual aquelas centenas de brasileiros exilados, que
13) Enchiam os cafés da avenida 18 de Julio ou da rua San José ou de Pocitos e sonhavam
com a volta. Juntos mas não misturados, ministros do governo deposto, oficiais,
deputados, porteiros de ministérios, subalternos da Armada, dirigentes sindicais. Gente
do norte e do sul do Brasil contando os planos e os êxitos de uma guerrilha hipotética,
para a qual já marcavam data. Inclusive a do triunfo»xxxvii.
Avelino Capitani, dirigente da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do
Brasil, participante da rebelião dos marinheiros, às vésperas do golpe, e da Guerrilha de
Caparaó, também retrata o clima conspirativo e de mobilizaçãoxxxviii. Lideranças e militantes
dos movimentos sociais que agitaram o país chegavam, não com a perspectiva de iniciar o
exílio, mas, ao contrário, de se organizar para voltar e enfrentar o novo regime.
Inconformado com a ausência de qualquer resistência, inclusive do próprio presidente
Goulart, e certo da sua capacidade de mobilização, Brizola acreditava poder reverter a situação
no Brasil. A experiência vitoriosa da campanha da legalidade, que liderou quando da renúncia
de Jânio Quadros e posse de Goulart, dava-lhe esta confiança:
«Revelando uma enorme disposição de luta, tratava de rearticular o que havia sobrado
de nosso esquema militar: setores da Brigada Militar, oficialidade e sargentos
nacionalistas não expurgados e outros na clandestinidade. Se intentou, durante todo um
ano, dar início à luta armada a partir dos quartéis, dentro de uma tradição bem
gaúcha...»xxxix.
Brizola resistia à teoria cubana do foco, tão em moda na época, preferindo a «tradição
gaúcha»: «Falava [Brizola] de sua teoria do carvalho [guerrilha] e da batatinha [contra-golpe,
levante popular]. - O carvalho demora para crescer e a batatinha dá ligeiro»xl.
No Uruguai, Brizola foi o principal catalisador das forças. O golpe só reforçava a
opção feita antes de 1964 pela luta armada, haja vista a tentativa de formar os «Grupos dos
11». Agrupou em torno de si os sargentos e marinheiros expulsos das corporações e
perseguidos pelos militares e formou uma espécie de Estado-Maior com o ex-deputado Neiva
Moreira, o seu assessor no governo no Rio Grande do Sul, Paulo Schilling, o ex-deputado pelo
PSB, Max da Costa Santos, e o coronel Dagoberto Rodrigues.
Fracassado o projeto da «quartelada» e sem alternativa, Brizola acabou «aderindo» à
teoria do foco guerrilheiro cubano. A partir daí, os planos da luta armada ganharam novos
rumos. Seriam implantados três focos: um na Serra de Caparaó, na divisa de Minas Gerais e
14) Espírito Santo, sob o comando do ex-sargento Amadeu Felipe, que, aliás, não tinha
treinamento em Cuba; um no norte do Mato Grosso (fronteira com a Bolívia), comandado por
Marco Antônio da Silva Lima, ex-fuzileiro naval, liderança da Associação dos Marinheiros,
com treinamento; e outro na região norte de Goiás, que acabou se concentrando em Imperatriz,
oeste do Maranhão, sob o comando de José Duarte, ex-marinheiro, também treinado em
Cubaxli. Haveria mais «um grupo de apoio na região fronteiriça do RS até MT»xlii.
Provavelmente, a possibilidade de contar com o apoio do governo cubano tenha sido
decisiva para a reorientação de Brizolaxliii. Paulo Schilling acredita que a experiência cubana
tenha influenciado a sua evolução, de uma «posição tipicamente getulista para uma posição
revolucionária». A própria vivência do exílio contribuíra na mudança: político ativo na vida
pública, dono de inegável carisma e poder de comunicação com as massas, se viu, de repente,
sem as massasxliv. Muitos defendem que a «adesão» de Brizola ao foco merece aspas, e nada
tem de ideológico, mas sim de circunstancial. Flávio Tavares, no entanto, testemunha todo o
entusiasmo de Brizola com a possibilidade de reeditar a experiência cubana no Brasil e com o
poder que o treinamento teria de transformar homens em guerrilheiros, em uma estranha
metamorfose, fazendo deles não super-homens, mas bichos:
«Brizola estava literalmente inundado pela concepção de guerrilha, lia revistas
do Vietnã do Norte e me contou, inclusive, que fazia exercícios de tiro e assalto a
baioneta. (Seu instrutor, o coronel Atilo Escobar, da Brigada Militar gaúcha, com
formação convencional de quartel, já estava lendo - ou prometera ler - o manual de
guerrilhas do Che Guevara). Toda a veemência dos seus 43 anos concentrava-se em
defender “o foco”. Nesse quadro, ele me apresentou aqueles dois moços recémchegados
“da ilha”, tão bem treinados que já não eram gente, “mas bichos como
macacos, que ficam uma semana em cima de uma árvore, escondidos”»xlv.
Sobre a idealização destes homens vindos de Cuba, os «comandantes» como se dizia,
Tavares retrata bem a «aura mística de salvadores» que os envolvia, os legitimava ante os
outros e os distanciava da realidade:
«O treinamento em Cuba, ..., era ideológico-militar e eles voltavam ao Brasil com uma
visão caolha da realidade. Estavam impregnados da idéia de desembarcar do Granma
(...) e começar a guerrilha e a revolução nas semanas seguintes, mesmo não tendo
15) contra quem lutar. Nada de converter a população local e, com ela ou a partir dela,
estabelecer um foco que se propagasse pela palha seca e do qual a guerrilha fosse a
guardiã»xlvi.
Ainda sobre a «adesão» de Brizola à teoria cubana, o próprio Flávio Tavares, porém,
referindo à maneira rápida como o líder gaúcho abandonou o projeto dos focos guerrilheiros,
assim que caiu Caparaó, considera que «no fundo, bem no fundo, ele nunca esteve muito
convencido da guerrilha e aceitara tudo, e assimilara tudo, na maré que invadia o exílio
uruguaio»xlvii.
Em todo caso, Brizola aplicaria aqui uma espécie de versão do foco, uma tradução que
imprimiria sua marca. Previa que, juntamente com o foco, haveria «um elemento surpresa»,
ele próprio. Assim que as três frentes acontecessem ele entraria no Brasil e, sem ninguém
saber ao certo sua localização e com o seu poder pessoal de mobilização, levantaria as forças
populares, dividiria as Forças Armadas e daria um contra-golpexlviii. Embora não fosse sua
preocupação e guardando as devidas proporções, o plano de Brizola não seria o mais próximo,
entre os diversos que se seguiram nos anos seguintes, do que ocorrera em Cuba?
Passada a experiência fracassada com as Ligas, desorganizadas, mesmo antes da queda
do governo Goulart, Cuba viu em Brizola o nome a ser apoiado. Surgia, então, o Movimento
Nacionalista Revolucionário, que não chegou a ser propriamente uma organização, mas um
nome para designar o projeto que nasciaxlix.
O apoio aconteceu na forma de treinamento guerrilheiro, agora em Cuba, e em
dinheiro. Paulo Schilling diz que os contatos se davam através da embaixada cubana em
Montevidéul. Flávio Tavares lembra também as armas que a Guiana, através do primeiroministro
Chedi Jagan, se dispôs a dar e que seriam recebidas pelo foco do Brasil Centralli.
Pouco antes de cair Caparaó, o governo chinês também teria se comprometido com o projeto,
apoio conseguido numa viagem à China feita por um integrante do MNRlii. Bayard Boiteux,
base da Guerrilha de Caparaó no Rio de Janeiro, fala em «dinheiro dos cubanos» e dos
«patriotas brasileiros» para a compra de equipamentos e armasliii. Essa questão do dinheiro é
mais um tabu, entre outros, desta história. Fala-se nela com reservas, embora o próprio Brizola
já tenha admitido ter recebido dinheiro de Cubaliv. No entanto, ninguém parece saber a quantia
recebida. Brizola nunca prestou conta do dinheiro nem à Cuba nem aos militantes, fossem
dirigentes ou de base. Tinha-o como um «empréstimo pessoal», a ele Brizola, e que seria
16) devolvido. Acredita-se ter havido gastos nos quais o dinheiro foi usado, mas apenas uma partelv. Flávio Tavares, ligado ao foco de Imperatriz, conta que, entre os três focos planejados, o de Caparaó era «uma espécie de encantada menina dos olhos de Brizola, que lhe deu dadivosos fudos e armamento»lvi. Para quem viveu diretamente a experiência na Serra de Caparaó e no Brasil Central, no entanto, a realidade foi de grande escassez, fome constante, alta de dinheiro para o caso de fuga e para compra de remédio. Capitani:
«Nunca tivemos dinheiro. Sempre escasso, sempre com muita dificuldade. Era
aconselhado que todo guerrilheiro tivesse uma reserva com ele, nem que fosse para
uma passagem para uma grande cidade e nós nunca tínhamos no bolso sequer o
dinheiro para uma passagem, Caparaó-Vitória, Caparaó-Belo Horizonte, Caparaó-Rio
de Janeiro. O dinheirinho que tínhamos, que não dava para nada, tinha que ser para
comprar comida na cidade. Aquela foi uma situação muito difícil. Dizem que Cuba deu
muito dinheiro para o MNR, para o Brizola... Eu não quero culpar o Brizola aqui por
isto. Tinha muitas pessoas com família e era preciso sustentá-las. Parte deste dinheiro
ia para estas famílias. Não teve dinheiro grande para cobrir todas as necessidades. Não
houve desvio do dinheiro propositadamente. O dinheiro foi mandado, Cuba diz que
mandou, mas não chegava à guerrilha, chegava muito pouco»lvii.
Por fim, Brizola, que renegou Caparaó desde a sua queda, nunca teria ajudado os
guerrilheiros presos e suas famílias com o dinheiro de Cubalviii.
A Guerrilha de Caparaó
No final de 1965, marinheiros, fuzileiros navais e sargentos asilados em Montevidéu
começavam a definir seus caminhos:
«Dias antes do Natal de 1965, saí do Uruguai em direção a Cuba. (...). Por
coincidência, no mesmo avião alguns marinheiros e amigos viajaram com as bolsas de
estudos oferecidas pelo PCB. Em Paris, nos separamos. Eram duas rotas diferentes,
duas concepções políticas diferentes, dois destinos diferentes que por muito tempo não
voltariam a se cruzar»lix.
O curso durou cinco meses, com aulas na cidade e, depois nas montanhas, com noções
elementares sobre armamento, explosivos, minas, bombas e geografia. Capitani chama a
17) atenção para a precariedade e a improvisação com que o treinamento era feito nesse momento.
O romantismo, o idealismo e a «boa-vontade» eram os recursos para superar as deficiências:
«Não havia uma escola organizada, construída com equipamentos, com especialistas.
Era muito ainda no improviso, no idealismo, no romantismo. as coisas eram muito
feitas dessa maneira. Começaram a estruturar uma escola de treinamento, de
armamento, de explosivo, na época. Nós ajudamos a construir essa escola»lx.
Alegando motivos de segurança, não eram colocados em um mesmo grupo
guerrilheiros de nacionalidades diferentes. Até mesmo o contato entre eles era desestimulado.
Os cubanos acabavam usando do poder que as circunstâncias lhes conferiam para interferir nas
divergências internas do grupolxi.
Capitani, no epicentro dos acontecimentos no momento do golpe, diferentemente da
experiência da geração seguinte, recupera a memória desses anos enfatizando a luta pela
democracia como o grande fator mobilizador: «o ideal libertário, a idéia de libertar o Brasil,
criar um país, uma grande democracia, onde não houvesse mais injustiça nem pobreza»lxii. No
entanto, a opção por Cuba, como ele mesmo constatou, significava a tomada de um outro
caminho, que nada tinha a ver com a restauração do estado de direito violado, mas que
apontava para a construção de um novo modelo. O treinamento fazia com que os militantes se
sentissem «soldados da América Latina», integrantes de um grande projeto:
«Toda a América Latina estava convulsionada, pois os países que ainda não estavam
sob as ditaduras viviam o rápido encurtamento da democracia. A idéia de uma
revolução latino-americana vinha de longe, talvez desde Simon Bolívar. Era um plano
global, onde cada um cuidava de seu país sob uma certa coordenação de Che Guevara.
O desencadeamento da insurreição se daria em vários pontos e num mesmo período de
tempo»lxiii.
A mística que envolvia o treinamento era mútua, criando também uma expectativa por
parte dos cubanos em relação aos militantes que chegavam, recebidos como revolucionários
de países hermanos, que voltariam para fazer a revoluçãolxiv.
Sobre a «eficiência» do curso, Capitani acredita que dependia muito da origem social,
do fato de ter ou não alguma «experiência prática». A turma era formada pelos marinheiros e
sargentos que estavam no Uruguai e mais outros vindos do Brasil. Só posteriormente, como
18) veremos, as turmas foram, basicamente, de militantes originários da classe média. Sendo de
origem rural, nascido e criado nas montanhas do Rio Grande do Sul e, além disto, militar, não
teve dificuldades em acompanhar as atividades, que, no entanto, não acrescentavam muito ao
que já sabia. Ainda assim, e apesar das limitações, ficou «bastante satisfeito». Mas concluí:
«curso nenhum capacita ninguém a fazer guerrilha sob o aspecto político. Capacita
tecnicamente. As condições políticas têm que existir no país, no local onde se está
fazendo a guerrilha. Isto foi um dos problemas da guerrilha, do foco. Deu uma
supremacia à questão técnica em detrimento da opção política, que é fundamental, é o
essencial. Sem a questão política a gente vira pára-quedista. Eu me senti um páraquedista
na Serra de Caparaó. Um elemento estranho naquela região. Não tinham as
menores condições políticas. Não se conseguia recrutar ninguém naquela região. (...).
Treinamento nenhum resolve esta questão»lxv.
Em outubro de 1966, os 14 homens se instalaram na Serra de Caparaó, onde passaram
cinco meses, isolados da população local e enfrentando todo tipo de dificuldades. Entre os
guerrilheiros, cinco tinham treinamento em Cuba. E, em início de abril de 1967, sem ter
havido nenhum embate com as forças inimigas, caía o foco mais promissor de Brizola. Em
condições muito precárias, mal-alimentados, isolados, alguns doentes, psicologicamente
debilitados, os guerrilheiros foram presas fáceis da Polícia Militar de Minas Gerais. O
Exército, logo avisado, mobilizou cerca de dez mil soldados para enfrentá-los. A Aeronáutica
enviou dezenas de aviões. O CENIMAR também esteve presente nas operaçõeslxvi. Todos
foram presos e condenados, inclusive os articuladores no Rio de Janeiro, Amadeu Rocha e
Bayard Boiteux. Diante desta situação, no inverno de 1967, Brizola deu ordens para
desmobilizar o que havia do foco de Imperatrizlxvii.
Hoje, parece difícil entender um projeto que previa subverter um país, com as
dimensões do Brasil, a partir de quatorze homens, embora, em tese, articulados a outros focos
- dentro e fora do território nacional -, mas que também não contariam com muito mais
militantes. No entanto, a desproporção entre as forças inimigas, vista na repressão a Caparaó,
por si só, é significativa e nos ajuda a compreender a importância que foi dada a guerrilha,
tanto por segmentos da esquerda como pela direita, superdimensionando sua capacidade de
subverter a ordem.
19) A Guerrilha de Caparaó, tal qual a experiência de Che Guevara e seus guerriheiros na
Bolívia, jamais conseguiu apoio da população local. Ao contrário, a presença dos estranhos
despertou as suspeitas e levou a denúncias.
A chegada dos guerrilheiros à Serra de Caparaó - outubro - coincidiu com a ida de Che
para a Bolívia, em 19 de outubro de 1966 (entrou no país em 7 de novembro). O grupo de
guerrilheiros preparado para implantar a guerrilha, que sublevaria o continente, partiu em
grupos até dezembro. Benigno, intergrante da missão, chegou em dezembro. A escolha da
Bolívia foi feita em março de 1964, por Guevara. Até dezembro de 1967 a luta armada
irromperia em vários países da América Latina, inclusive no Brasillxviii.
Moniz Bandeira dá informações que podem corresponder às tentativas de articulação
das lutas no Brasil com o projeto de Che. Em novembro de 1966, por exemplo, exatamente
quando começava Caparaó, Guevara teria ido a Montevidéu e encontrado Brizola. Benigno diz
que o trajeto de Che foi Havana, Moscou, Praga, Paris, Rio de Janeiro, Corumbá, Cochabamba
e La Pazlxix. Capitani afirma que o coronel Dagoberto Rodrigues, do MNR, acompanhou Che
do Uruguai à Bolívialxx. Nesta mesma época do possível contato de Che com Brizola, teria
havido o encontro de Che, em São Paulo, com Carlos Marighella e Joaquim Câmara Ferreira,
dirigentes da ALN. Capitani atesta, ainda, que o foco do Mato Grosso, comandado por Marco
Antônio da Silva Lima, e a frente fronteiriça tinham a função de manter a ligação com Che e
outra frente no norte do Paraná manteria a conexão nas fronteiraslxxi. Não fica claro, no
entanto, como se daria esta ligação. A própria escolha de Caparaó pode ter a ver com as
articulações com Cuba. Moniz Bandeira tem informações de que o local havia sido estudado
para a implantação do foco com militantes das Ligas Camponesas desde 1963 e que a POLOP
tentou fazer foco aí em 1964, depois do golpe, com sargentos e marinheiros, mas o plano foi
abortadolxxii. Paulo Schilling, no entanto, é categórico ao afirmar que a escolha da região de
Caparaó foi exclusiva das lideranças do MNR e Cuba jamais opinou sobre a localização.
Ficaram até muito surpresos quando souberam da presença de Che na Bolívia. Garante que
não havia nenhuma articulação com os outros focos que estavam sendo preparados na
América Latina, nem mesmo sabiam disto. Bayard Boiteux, também desconhece as relações
20) de Brizola com o plano maior de Guevara para a deflagração dos vários focos na América
Latina. Segundo seu depoimento, Caparaó foi uma iniciativa exclusiva de brasileiroslxxiii.
Flávio Tavares lembra que a localização não era, a princípio, Caparaó, e sim o norte do Rio
Grande do Sul e sudoeste de Santa Catarina. A mudança ocorreu no inverno de 1965, devido à queda do subcomandante do focolxxiv. Em todo caso, Benigno narra que a região de Ñancahuazu, a leste do país, onde Che tentou implantar o foco na mesma época,
«...reunia todas as condições para ser utilizada como campo de treinamento para os
cento e vinte bolivianos que deviam se encontrar lá, ao mesmo tempo que argentinos,
peruanos e brasileiros. Estes não podiam ser treinados em Cuba, pois neste momento
só se podia encaminhá-los para a Ilha passando pela Europa. Assim, procurou-se um
lugar na Bolívia, país limítrofe do Peru, do Paraguai e do Brasil, que se prestasse à
preparação de numerosos combatentes a custos menores. Depois do ataque a um
quartel de Sucre, previsto para 26 de julho de 1967, os argentinos passariam para a
Argentina com Che, os peruanos para o Peru com Hugo Blanco etc. Pensava-se que no
fim de 1967 toda a América Latina seria afetada pela luta armada. Havia, de fato,
muitas forças um pouco em todos os lugares e o projeto cubano de estender a guerrilha
a todo o subcontinente não era tão ruim»lxxv.
A escolha da região de Caparaó revelou-se um equívoco, da mesma forma que foi a da
região de Ñancahuazu, a leste da Bolívia, onde Che tentou implantar o foco na mesma época.
Nem uma nem outra tinha uma realidade de conflitos sociais.
Quanto a Caparaó, Capitani constata:
«O local fora escolhido somente por razões técnicas, e se levássemos em conta as
condições políticas, jamais poderíamos ter definido aquela área como área de guerrilha.
Era uma região muito montanhosa e com boas condições geográficas e por isso era
considerada como uma das áreas quentes pelas Forças Armadas. Nós tínhamos a
desvantagem de não ter qualquer trabalho político na área e seria muito difícil
constituí-lo porque na região não havia grandes conflitos. Economicamente, estava em
decadência e não possuía massa de trabalhadores. Na maioria, eram minifundiários».
E adiante:
«Uma das principais condições para a viabilidade de uma frente guerrilheira numa
região é a tradição de luta política ou existência de um trabalho político organizado.
Uma das duas é indispensável para garantir o apoio material e humano à guerrilha.
21) Nenhuma existia. Só as condições geográficas eram favoráveis, mas passaram a ser
secundárias, levando em conta as condições gerais»lxxvi.
Uma vez que Leonel Brizola e Neiva Moreira recusam-se a falar sobre Caparaó, assim
como Clodomir Morais sobre as Ligas Camponesas, a reconstrução da história do apoio de
Cuba à luta armada é limitada, ficando difícil saber se seus projetos estavam - e como estavam
-, de fato, articulados ao de Che Guevaralxxvii. As informações são contraditórias e,
provavelmente, apenas estes dirigentes poderiam esclarecê-las. Tanto tempo depois, por que é
impossível obter de seus principais articuladores o testemunho das relações dos dois
movimentos com o governo cubano? Talvez a mística em torno das relações com Cuba tenha
sido tão intensamente vivida que ainda hoje teima em sobreviver, condenando a história ao
silêncio, perpetuando-a como algo impronunciável.
3 - A ALN (Ação Libertadora Nacional), o Grupo da Ilha, a VPR (Vanguarda Popular
Revolucionária), o MR-8 (Movimento Revolucionário – 8 de Outubro)
A terceira e última fase do apoio de Cuba à guerrilha no Brasil foi a partir de 1967.
Como sabemos, este ano foi marcado tanto pela Conferência da OLAS, em julho e agosto,
grito de guerra do projeto de exportação da revolução, como pela derrota do projeto do Che
Guevara na Bolívia, em outubro, a partir da qual Fidel Castro teria se concentrado na
construção do socialismo em um só país, sustentada na URSS. No Brasil, em abril, já havia
caído Caparaó, levando, em seguida, à desmobilização do que havia para a implantação dos
outros focos do MNR.
Com a sua presença na Conferência da OLAS, Carlos Marighella rompia com o PCB e
aproximava-se de Cuba, dando início à nova fase do apoio dos cubanos à luta armada no
Brasil. A opção de Marighella confirmava o caminho que outros militantes - novos e antigos -
vinham tomando, desde 1961, quando foi formada a ORM-POLOP (Organização
Revolucionária Marxista-Política Operária), primeira organização marxista-leninista, entre
várias que surgiram nos anos seguintes, combatendo a linha do PCB de rejeição à luta armada.
Em geral, tem prevalecido a interpretação segundo a qual a repressão brutal, em 1968,
sobretudo no primeiro semestre, aos movimentos sociais que conseguiram ganhar fôlego
22) depois da perseguição que se seguiu ao golpe, teve um importante efeito mobilizador para a luta armada. Os episódios daquele ano evidenciavam a impossibilidade de se fazer um trabalho de massas. Restavam a clandestinidade e a luta armada. Embora esta interpretação contextualize o fluxo dos militantes neste sentido e o aumento das ações guerrilheiras, acaba centrando a explicação mais na repressão, limitando a compreensão da trajetória que segmentos da esquerda vinham fazendo bem antes de 1968, como vimos no caso do MNR, e até mesmo antes de 1964, nas Ligas Camponesas.
É nesta fase, a partir de 1967-68, que a maior parte dos brasileiros foi treinar em Cuba.
Embora o governo cubano tenha visto Carlos Marighella como a principal liderança da
revolução brasileira e a ALN a organização com mais condições de fazer a luta armada, outras
organizações de vanguarda também receberam apoio, que significava, então, treinamento.
A ALN foi a organização que mais enviou militantes para o treinamento. Em setembro
de 1967, foi formada a primeira turma, chamada de I Exército da ALN, que treinou 16
militantes até julho de 1968, e, em seguida, formaram-se o II Exército (30 militantes treinados entre julho de 1968 e meados de 1969), o III (33 militantes treinados entre maio e dezembro de 1970) e o IV (13 militantes treinados entre fins de 1970 e julho de 1971)lxxviii. Os Exércitos da ALN incorporavam também militantes de outras organizações. Na verdade, chamar estas turmas, formadas por algumas dezenas de guerrilheiros, de Exército parece, por si mesmo,
uma supervalorização do treinamento.
Sérgio Granja, da ALN, treinado no II Exército, lembra:
«O Marighella estava querendo montar um pessoal que continuaria a luta,
montar os capitães. A idéia dos capitães. No exército, você tem que ter capitães, porque
o capitão você promove depois a coronel, general para comandar o exército. O capitão
é fundamental para enquadrar os soldados, para se ter uma estrutura de comando. São
os quadros médios. Então, a idéia era esta: montar os capitães da guerrilha, o pessoal
que seria os quadros médios...»lxxix.
O treinamento era, basicamente, o mesmo para todas as organizações e não se
diferenciou muito daquele feito pelo MNR. Ou seja, os militantes ficavam por um período de
cerca de cinco meses, no Ponto Zero, um quartel do exército, próximo a Havana, onde
passavam toda a semana. Aí, tinham instruções e prática de tiro, aprendiam fórmulas de
explosivo e a montar e desmontar armas. Nos finais de semana iam para a capital. O segundo
23) momento do treinamento era na serra, em Pinar del Rio, no ocidente, para onde os militantes
eram deslocados e alojados em acampamentos preparados para este fim. Faziam exercícios
militares e de sobrevivência, marchas, tiro, tática, manobras, recebiam noções de
topografialxxx. O treinamento culminava em uma simulação, onde os guerrilheiros enfrentavam
militares do exército cubano.
Outros treinamentos também eram oferecidos como de enfermagem e estado-maior.
No dossiê do Ministério do Exército, fala-se em «cursos de armamento, fotografia, imprensa,
enfermagem, inteligência, instruções revolucionárias e explosivos»lxxxi.
Segundo os depoimentos, os jovens da classe média urbana encontravam muitas
dificuldades para acompanhar as atividades físicas e o treinamento é lembrado como um
esforço penosolxxxii. «Todo mundo saiu com uns dez quilos a menos do treinamento», lembra
Mário Japa. Em geral, se fala que os militantes de origem rural, a minoria, e os militares de
baixa patente - sargentos, marinheiros e fuzileiros navais - se sentiam mais à vontade e
conseguiam realizar mais facilmente os exercícios. Para Mário, no entanto, que era da VPR,
organização com mais militantes de extração social popular - ex-militares, operários – esta
avaliação não é exata, pois, em contrapartida, se tratava de um pessoal mais velho, em relação
aos jovens da classe média urbana lxxxiii.
Os militantes eram escolhidos e encaminhados por suas organizações para Cuba. Saíam
do país clandestinos pela fronteira ou legalmente com passaporte para um país da Europa
ocidental. Depois, passavam, em geral, por Moscou e Praga, para, então, com passaporte
cubano, chegarem a Cuba. Outra possibilidade era ir, diretamente, para a Itália. Alguns
militantes falam que, em Roma, os contatos eram feitos através da embaixada cubanalxxxiv.
Outros que, aí, o suporte dos guerrilheiros a caminho de Cuba era o Partido Comunista
Italiano, onde uma ala apoiava a ALNlxxxv. Chegando à Ilha, eram recebidos por agentes do
governo, ganhavam codinomes e ficavam alojados na cidade em aparelhos, aguardando as
instruções para o início do treinamento.
Muitos presos trocados por diplomatas seguiam para Cuba para fazer o treinamento,
como «um caminho quase natural», como disse Mário Japa, libertado em troca do cônsul
japonês, em março de 1970lxxxvi. O próprio dossiê do Ministério do Exército inclui, de
antemão, os nomes dos banidos, ao menos como suspeitos de terem feito o treinamentolxxxvii.
Se preparar para a volta ao Brasil para se reincorporar à luta era uma espécie de compromisso
24) moral com aqueles que, por meio de uma ação revolucionária, os haviam libertado. Ter o
nome incluído na lista de pessoas a serem libertadas significava, em geral, ser considerado
importante para a revolução. Este sentimento de dívida, entre os banidos, é freqüente nos
depoimentoslxxxviii.
Mário Japa conta que, quando os 40 presos políticos trocados pelo embaixador alemão
chegaram à Argélia, em junho de 1970, estava em Cuba e os cubanos lhe pediram para ir a
Argel e, em seu nome, convidá-los para o treinamento. Ao chegar, algumas pessoas do grupo
o acusaram de «ter virado agente cubano»: «Criou-se uma tal situação que os cubanos
acabaram mandando uma pessoa para fazer, oficialmente, o convite»lxxxix.
Quanto à volta, os cubanos monitoravam os militantes apenas até a Europa e, em um
segundo momento, até o Chile. Assim, a entrada no Brasil ficava a cargo, exclusivamente, das
organizações preservando, assim, a segurança.
Uma discussão inevitável vem à tona quando se trata do treinamento: seria ele capaz de
preparar os militantes para o enfrentamento? Esta discussão se desdobra em outras que são, na
verdade, mais importantes. No quadro de supervalorização da ação, onde muitas vezes a
questão técnica, de preparo militar podia mesmo alçar o militante à posição política, a
avaliação da eficácia do treinamento podia ser distorcida. Valorizando o treinamento, os
militantes valorizavam a si mesmos e a organização à qual pertenciam.
De um modo geral, os militantes das várias organizações valorizavam o treinamento.
Segundo Domingos Fernandes, da ALN, treinado no IV Exército, que reuniu militantes da
ALN e do MR-8, havia mesmo um orgulho de fazer parte do treinamento, de estar em contato
com os cubanos:
«as pessoas iam para Cuba achando que voltariam como comandantes guerrilheiros.
(...) Tinha muita mitologia sobre isso, porque os cubanos passaram uma idéia para as
organizações da América Latina que você ia lá, passava um período, fazia um
treinamento e voltava meio Che Guevara, meio comandante...»xc.
No entanto, Daniel Aarão Reis Filho, também do IV Exército, afirma que as condições
do treinamento que, supostamente, os colocariam no ambiente e nas situações de uma
guerrilha foram decepcionantes e despertaram críticas entre militantes do MR-8, organização
da qual fazia parte:
25) «Nós fomos para lá acreditando que íamos encontrar um treinamento que nos desse as
condições próximas às que teríamos na guerrilha rural no Brasil. Mas nada disso
ocorreu. Nós ficamos num barracão de madeira, onde havia uma cama para cada um,
era uma coisa rudimentar, mas havia. As refeições eram todas servidas por caminhões
do exército. Até para tomar banho, tinha um cano... era um acampamento! Nós
protestamos contra isso. Tentamos ganhar os cubanos para o fato de que nós queríamos
dormir no mato todos os dias, por mais que isso fosse terrível...Porque aquilo ali era
uma brincadeira. O próprio Zé Dirceu [da ALN] dizia que o treinamento era um
teatrinho de guerrilha e o pior, um vestibular para o cemitério»xci.
Para Daniel, bem intencionados, os instrutores eram primários do ponto de vista teórico
e político. «A formação política dos instrutores era um negócio horrível», também lembra
Domingos Fernandes:
«O Vladimir [Palmeira], que era do nosso grupo [IV Exército da ALN], conta uma
história real, uma piada, mas, na verdade, uma piada de uma realidade: um instrutor
chegou e começou a falar sobre o marxismo e tal. Então o Vladimir perguntou: “mas,
companheiro, o que é o marxismo?”. O Vladimir é um sacana...Então, o instrutor falou:
”marxismo...bueno, marxismo, bueno, ... marxismo é del caralho!” Quer dizer, ele não
tem explicação, a formação política do, vamos chamar, exército cubano, do Partido
Comunista cubano é uma piada»xcii.
Longe da realidade que encontrariam na guerrilha, até as marchas eram em trilhas.
Apenas uma vez, havia um exercício com duração de 24 horas, procurando se aproximar das
condições reais: a chamada marcha da sobrevivência. Na ocasião, deixava-se o acampamento
com as mochilas vazias e era preciso comer frutas, caçar, pegar água nos riachos, dormir ao
relento: «Esse dia foi realmente terrível. Se a gente tivesse feito todo o treinamento nessa base,
de duas uma: ou a gente não teria agüentado ou teria realmente adquirido uma certa
familiaridade com aspectos sérios de uma guerrilha rural»xciii.
Militantes do MR-8 acabaram convencendo a direção de que o treinamento era
dispensável, decidindo que os banidos que haviam chegado ao Chile em janeiro de 1971, não
o fariam, causando-lhes enorme decepção:
26
«A gente achava que não valia à pena, que era perda de tempo e consolidou a linha de
que o treinamento sério seria montar sítios no Brasil, onde as pessoas ficariam seis
meses de mão na enxada. (...). Aquele treinamento, na melhor das hipóteses, dava uma
visão crítica do foquismo cubano, na pior, dava a ilusão que você sabia fazer a
guerrilha rural »xciv.
Se na época chegou a haver uma visão crítica do treinamento, foi no IV Exército, a
última turma. Nos anteriores, como atesta Sérgio Granja, não havia qualquer questionamento
neste sentidoxcv. No IV Exército, os próprios militantes da ALN, decidiram não fazer o
«treinamento final», culminação do trabalho de meses:
«...a gente decidiu não fazer o treinamento final, que era o maior besteirol do mundo:
durante quinze dias, jogavam as pessoas e o exército cubano, treinadíssimo,
conhecendo perfeitamente aquele espaço físico... ficava correndo atrás da gente e a
gente com aquelas porcarias daqueles fuzilzinhos vagabundos dando tiro de estopa e os
caras nos matando, quer dizer, nos matando entre aspas, aquela brincadeira. Eu falei:
“não vou fazer isso”. Então, reuni o grupo da ALN e o pessoal da ALN decidiu não
fazer...»xcvi.
Na VPR, no entanto, não havia críticas ao treinamento. Pelo contrário, como avalia
Mário Japa:
«...era um negócio hierárquico, não tinha que discutir. (...)Treinamento era obedecer,
treinar para obedecer. O MR-8 questionava mais. Os cubanos se queixavam deles. (...).
Não se discutia a teoria do foco. Para quem estava lá, isto já estava resolvido. Esta
discussão continuava no MR-8, talvez entre alguns da ALN. Mas não na VPR»xcvii.
O apoio de Cuba à luta armada no Brasil, nesta fase, como vimos, se restringia ao
treinamento, inclusive no que se refere à ALN. No entanto, Cuba chegou a enviar, em um
momento, uma quantia de dinheiro para a organização e, o que é mais importante, propôs à
organização, em meados de 1973, a execução de um plano de entrada no país de guerrilheiros
cubanos e brasileiros para fazer a guerrilha, como veremos adiante. A ALN também chegou a
receber, em uma ocasião, uma quantia de dinheiro da Coréia do Nortexcviii. No entanto, fora
estas exceções, o apoio não significava dinheiro. Domingos Fernandes conta que saiu de Cuba,
praticamente, apenas com os dólares equivalentes à passagem de Roma para Santiago do
Chile. Em Roma, contou com o pintor Joan Miró, que vivia na cidade e «tinha uma simpatia
27
pela guerrilha, pela revolução latino americana». Miró vendeu desenhos seus para conseguir
dinheiro para «um guerrilheiro que voltava para a América Latina»xcix.
Como Cuba apoiava preferencialmente a ALN, as relações de Marighella com o
governo cubano foram, em um certo sentido, mistificadas pela repressão e, até certo ponto,
pela própria esquerda. Haveria uma certa subordinação do líder brasileiro às orientações dos
cubanos. Provavelmente, a própria presença de Marighella na Conferência da OLAS e a
preferência dos cubanos, por si só, levaram a esta suposição. Na verdade, segundo os
depoimentos de militantes da ALN que passaram pelo treinamento e que tiveram contato com
Marighella, a situação era outra. Apesar das relações com Cuba, Marighella teria uma visão da
revolução bem diferente do modelo foquista. Seria um longo processo e dependia de uma
complexa rede que apenas começava a ser tecida. A própria organização criada por ele não
passaria de uma peça do grande quebra-cabeças. Domingos Fernandes:
«Ele tinha contatos no Brasil inteiro. O Marighella não achava que quem faria a
revolução seriam esses grupos que tinham organizado na ALN. Ele achava que em um
determinado momento iria haver uma conflagração geral. Vários militares da ativa,
com quem ele tinha contatos, iriam passar para o outro lado e se estabeleceria um
processo insurrecional. Esse processo insurrecional iria dar condições objetivas para se
criar um tal exército de libertação... (...) ...ele era uma liderança nacional, até
internacional, conhecido, tinha carisma...(...)».
E adiante:
«O Marighella não achava que devia organizar tudo, ... (...) Era tudo organizado com
ele. Tanto que quando o Mariga morreu...(...) ...a desorganização era muito grande,
mas era uma desorganização premeditada, tudo estava sendo organizado dessa
maneira. E o Mariga não largava nada. Uma pessoa chegava nele, ..., ele ia lá, pegava,
ligava com pessoas. Para ele, tudo isso fazia parte de um enredo que não estava
pronto...»c.
Assim, Marighella via o treinamento como uma possibilidade de preparação dos
guerrilheiros e devia ser aproveitada. Ir lá, fazer o treinamento e voltar. Considerava Cuba
uma «retaguarda estratégica»ci. «Para o Marighella, esse negócio de Cuba era o seguinte: bota
as pessoas lá, elas aprendem a atirar e manda de volta. (...) O sentido que ele dava a esses
cursos era isso. Não tinha nenhum sentido político-militar», acredita Domingoscii.
28
Evidentemente, havia uma relação de apoio e compromissos foram feitos, mas
Marighella sempre teria defendido a independência da organização em relação a qualquer
interferência dos cubanosciii. Em alguns momentos, a resistência às ingerências se traduziu em
tensão, sobretudo depois do assassinato de Marighella, em novembro de 1969. Joaquim
Câmara Ferreira, que assumiu, então, a direção, teve mais dificuldades de defender a
independência da organização, apesar de esta ser a orientação que, por princípio, devia
prevalecer.
No entanto, os cubanos sempre tentaram intervir na ALN, o que significava, então,
influenciar os rumos da revolução brasileira. Como por exemplo, designar comandantes, à
revelia da organização. O próprio Marighella nunca atribuiu o papel a ninguém. Segundo
Carlos Eugênio Sarmento Coêlho da Paz, comandante militar da ALN no Brasil, estes
comandantes eram cooptados através de um jogo de sedução: valorização de supostas
qualidades guerrilheiras, privilégios materiais, convites para recepções oficiais de
embaixadores de países socialistas, presença nos palanques das festas oficiais ao lado de
dirigentes partidários, inclusive Fidel Castro, e até mesmo facilidades de acesso ao líder
revolucionário, fazendo-os crer em uma amizade. Diante de tal tratamento, orgulhoso da
condição de comandante da revolução do maior país da América Latina, convictos de que os
cubanos só podiam ajudar, o militante acabava passando informações reservadas à
organização ao governo. Esta situação contrariava as orientações da organização, com base
nas posições de Marighella. «Na prática, os cubanos infiltravam a organização», considera
Carlos Eugênio Pazciv. Os comandantes fabricados jamais foram aceitos pelos companheiros,
em Cuba e no Brasil, que os desprezavam simplesmente. Um dos casos mais polêmicos foi o
do «comandante Raul», treinado no II Exército, alçado à condição de comandante da
organização e preparado para voltar ao país para liderar a luta. Sérgio Granja conta que
Marighella teria ficado revoltado com a designação e decidido não enviar mais ninguém para o
treinamento, mas logo em seguida morreu:
« A ALN não era... não queria ser um braço armado da política externa cubana.
Nós nos considerávamos aliados da política externa, não subordinados a Cuba. Agora,
tinham outros companheiros que não, que achavam que era natural a liderança dos
cubanos, como o pessoal ligado ao Raul»cv.
29
A escolha teria sido feito não em função de critérios militares ou políticos, mas por ser
uma pessoa mais receptiva às interferências dos cubanos. Sem respaldo entre os brasileiros, o
comandante Raul chegou a entrar no Brasil. Trazia, inclusive, uma quantia de dinheiro, ao que
parece, único momento em que, nesta fase, houve este tipo de apoio de Cuba, como vimos.
Em pouco tempo, Raul teria se assustado com os rumos que a realidade tomara, desde o
momento em que havia partido do Brasil. Com o peso da responsabilidade que lhe atribuíram
e sem reconhecimento da condição artificialmente criada, desistiu da luta. Acabou pedindo
asilo político à Suécia, pois não havia nenhuma condição de voltar para Cuba, onde foi
considerado traidor. Domingos Fernandes: «Eu fui sondado pelos cubanos que estavam a fim
de matar esse cara, porque ele traiu os cubanos. Ele saiu de Cuba para voltar para o Brasil para
ser o grande comandante da ALN. Chegou aqui e voltou. Ficou na Europa, foi para a Suécia,
em um total desbunde no sentido pessoal»cvi. Carlos Eugênio Paz conta que Raul jogou por
cima do muro da embaixada cubana na Suécia o dinheirocvii. Outros dizem que o dinheiro não
foi devolvido.
As tentativas de interferir nas organizações também se revelavam no controle das
informações e dos contatos entre militantes, de acordo com os interesses do governo:
«a gente não sabia onde estavam as pessoas e eles não facilitavam... a gente queria
conversar com fulano, beltrano, a maior dificuldade. (...) Eles falavam de segurança.
Ali tinha todo um negócio dos gusanos, as pessoas que vinham de Miami e ficavam
nesse entrave. Então poderia haver atentados. Não estou dizendo que não houvesse
isso, porque havia realmente. Cuba é muito próximo de Miami, então não havia
dificuldades de pessoas chegarem, atravessavam o canal e chegavam a Cuba. Mas isso
era uma desculpa. Na verdade, o que eles queriam era ter o controle das organizações.
Eu não tenho dúvidas disso. Nenhuma»cviii.
Responsável pela VPR junto ao governo cubano, Mário Japa identifica Manuel Piñeiro,
chefe do serviço de segurança e inteligência do Ministério do Interior, como o principal
articulador do treinamento: «tudo dependia dele», lembracix. Para Mário Japa, as análises que
buscam compreender a posição do governo cubano quanto ao apoio à guerrilha na América
Latina ficam sem sentido devido à maneira peculiar de atuar:
«as relações eram muito na base da confiança, das relações pessoais, flexíveis. Não era
uma linha fixa, que apoiava ou não. Os cubanos são muito particulares, sem muita
30
coerência. Assim, as análises ficam sem sentido. Diante de uma situação, pensam...
Apoiam ou não sem ter a ver com uma linha previamente definida. O treinamento
mesmo era feito por um grupo, sem ser do PC, sem ser uma linha do PC. Era
diretamente ligado aos esquemas de segurança cubano do Manuel Piñeiro, chefe da
inteligência, tratado diretamente com ele, que comandava todo o esquema de
treinamento»cx.
Neste mesmo sentido, Domingos Fernandes afirma:
«Eles [os cubanos] gostavam de ajudar [ajudar à revolução na América Latina],
mas que tudo fosse pelos corredores da clandestinidade. Havia uma coisa surda entre
os que se consideravam revolucionários e aqueles que tocavam o país. Você sentia que
não era uma coisa só: os que cuidavam do Estado cubano, do futuro, eram pessoas
mais preocupadas com a relação da URSS, que dava muito apoio econômico...; e os
caras que esses chamavam de porra-loucas, que davam assistência às guerrilhas latinoamericanas
»cxi.
Mesmo considerando o treinamento guerrilheiro como responsabilidade do serviço
secreto de informação, é difícil imaginar como seria possível realizá-lo, para toda a América
Latina, à margem do Partido. A política de exportação da revolução era, antes de tudo, uma
decisão de governo. O próprio Manuel Piñeiro era dirigente do Partido, como não poderia ser
diferente. O fato de, concretamente, o treinamento seguir uma lógica baseada em relações
pessoais e coisas do gênero faz parte da maneira como Cuba, com sua cultura e suas tradições,
vivenciou a construção do socialismo, cujas diretrizes eram decididas nas instâncias
superiores.
As tentativas de interferência do governo cubano na revolução brasileira levou a um
dos episódios mais trágicos da história da luta armada no Brasil: a volta do chamado III
Exército da ALN, massacrado pela repressão.
Estes guerrilheiros treinaram, como membros da organização, entre maio e dezembro
de 1970. No ano seguinte, ainda em Cuba, discordando dos rumos da organização, cindiram.
Neste processo, receberam total apoio do governo.
Esta história ainda está pouco esclarecida. Assim, como nas tentativas de implantação
da guerrilha pelas Ligas Camponesas e pelo MNR, pessoas diretamente envolvidas no caso,
recusam-se a falar. Algumas assumem o silêncio não pelos mesmos motivos dos dirigentes das
Ligas e do MNR, mas porque contar esta história é reviver o pesadelo, é sofrer de novo.
31
Outras não a contam porque seria comprometer seu passado e, às vezes, seu presente. É
melhor calar. Mais uma vez, prevalece a força de uma história impronunciável.
O grupo ficou conhecido como o Grupo dos 28 ou o Grupo da Ilha ou, ainda, Grupo
Primavera.
No dossiê do Ministério do Exército, constam os nomes de 33 pessoas, no III Exército
da ALN, incluindo 7 banidos (José Dirceu de Oliveira e Silva, inclusive) e mais Franklin
Martins. Ou seja, o Grupo da Ilha foi formado pelos militantes do III Exército, menos Franklin
e os banidos (mas incluindo José Dirceu): 26 militantescxii. Em seguida, integraram-se Carlos
Eduardo Fleury e Jeová Assis Gomes, banidos em junho de 1970, somando-se, portanto, 28
guerrilheiros. A cisão, em 1971, parece ter sido liderada por Lauriberto José Reyes, Antonio
Benetazzo e José Dirceu.
A principal crítica à ALN recaía no seu militarismo, que a havia levado ao total
isolamento da sociedade. A proposta então era, sem abandonar as ações nas cidades, investir
em um trabalho na área rural. Não se tratava, no entanto, de «um recuo em relação ao que se
fazia, à ação militar. Isso nunca foi questionado, nem por eles que estavam chegando nem por
nós que estávamos aqui. A idéia era de que não se podia ficar restrito a isso, como já vinha
acontecendo com a ALN», lembra José Carlos Giannini, militante da ALN, que aderiu ao
Grupo no Brasilcxiii. O que estes militantes não compreendiam é que o isolamento da ALN não
era decorrência de uma opção política, mas do próprio isolamento da luta armada, uma vez
que a sociedade jamais se identificou com este projeto. Neste sentido, é bem sintomático o
fato de que, na medida em que os militantes voltavam, a partir de fins de 1971, e se inseriam
na realidade da luta armada em um momento em que a repressão estava organizada e a pleno
vapor, acabavam reproduzindo, exatamente, a prática da ALN. A repressão registra a aparente
contradição, igualmente sem compreender que, na verdade, não se tratava de contradição e sim
do imenso isolamento da luta armada, que impulsionava neste sentido. Um documento do
Ministério do Exército, 4ª RM, específico e detalhado sobre a nova organização - o Grupo dos
28 -, com o histórico desde Cuba, contata: «No entanto [apesar das críticas ao militarismo da
ALN], após a cisão, tal grupo iniciou uma série de ações de caráter até mais violento que a
própria ALN: assaltaram e incendiaram várias Rádio Patrulhas, ônibus, mataram policiais etc.,
é responsável por mais de 20 assaltos em São Paulo»cxiv. E analisa: «...conclui-se que o
“racha” se deu mais por ansiedade de liderança do que pelas divergências táticas ou
32
estratégicas»cxv. A realidade era tão esmagadora que nem houve tempo de se tentar um
trabalho de massas. No segundo semestre de 1972, o Grupo já estava dizimado:
«O movimento de massa não passou de uma intenção, uma boa intenção, mas
não passou disto. (...). Houve uma tentativa de ir para o campo, para Goiás,... Mas em
nenhum momento teve fôlego para fazer isso. Sempre tentando se organizar, se
estruturar e criar condições materiais mínimas, mas... aí começaram as prisões, as
mortes»cxvi.
Se havia uma certa mística, tanto na esquerda armada quanto na repressão, em torno do
treinamento e dos militantes que o fizeram, isto se acentuava ainda mais quando se tratava do
Grupo da Ilha. Nos documentos produzidos pelos órgãos da repressão, há uma atenção
especial em relação ao Grupo.
José Carlos Giannini, preso em janeiro de 1972, passou nove meses no DOPS de São
Paulo, «período em que se matou muita gente desse grupo». Giannini lembra que «a idéia que
os torturadores passavam é que era um grupo com alguma diferenciação em relação aos
grupos anteriores. Diziam isto»cxvii. Por quê? O que havia no grupo que o diferenciava dos
demais? Havia um álbum específico do Grupo, que era mostrado aos presos:
«Tinha uma certa lenda que corria internamente à organização [a ALN, no
Brasil] que esse grupo teria sido melhor preparado do que os demais. (...) ... e nessa
divisão lá em Cuba os cubanos teriam ficado mais próximos do pessoal dos 28. (...) ...
o que eu estou te dizendo são coisas que eu ouvia, que se comentavam, enfim, não
havia nada concreto. Nem sei se é verdade... Depois isso aconteceu também na cadeia,
onde se tinha essa impressão. Ninguém sabia exatamente por que, mas havia essa idéia
e era mais ou menos a idéia geral, de que Cuba teria ficado mais simpática a esse
grupo. E aí, eventualmente eu associo com essa história de ter tido um treinamento
melhor e isso ter chegado ao ponto de a própria repressão comprar um pouco essa
versão também. Mas isso era absolutamente boato».
No entanto, mais adiante, o próprio Giannini afirma:
«Era uma situação que se vivia, um clima que existia mesmo de que essas
pessoas teriam tido um treinamento diferenciado. Não necessariamente porque o
governo cubano teria feito um treinamento diferenciado, mas talvez até mesmo por eles
próprios que se julgavam bastante preparados. Então, poderia ter aí uma coincidência,
ter um grupo mais tecnicamente, militarmente, predisposto, em condições de fazer um
33
treinamento melhor. (...) O fato é que existia essa idéia de que esse grupo era um grupo
diferenciado em relação aos demais»cxviii.
Na verdade, o Grupo dos 28 parecia reunir tanto as condições físicas, que, no quadro
de supervalorização da ação, em uma perspectiva militarista da revolução, era importante,
quanto também um outro lado, militantes com preparo político e intelectual, como Antonio
Benetazzo, José Roberto Arantes de Almeida, José Dirceu, Lauriberto Reyes. Reunindo estes
dois lado, parecia completar a deficiência da ALN: a sobreposição da competência militar nas
discussões políticas. Arthur Machado Scavone, também da ALN que aderiu ao Grupo no
Brasil, acredita que a própria origem destes militantes, muitos lideranças no movimento
estudantil, parecia apontar outro caminho que não aquele que a ALN vinha tomando:
«O movimento armado que fosse liderado por líderes de massa, dificilmente, se
desvincularia da sensibilidade política com relação aos movimentos sociais, com o
movimento popular. Esse pessoal tinha na carne, na pele, o vínculo com o movimento
de massa, com a explosão dos movimentos sociais. Esse pessoal liderando o
movimento armado deveria, provavelmente, trazer essa sensibilidade para o
movimento armado que não havia mais. Quer dizer, eu acho que essa aposta não era
errada, agora, o pessoal não sobreviveu...»cxix.
Cuba teria visto, «nesse pessoal, uma possibilidade de crescimento e de recomposição
de uma guerrilha que estava se desestruturando por completo», avalia Arthur Scavone cxx. Não
se trataria de criar cizânia, mas apostar em um grupo capaz de crescer. «Comentava-se que o
Fidel dava muita importância ao Fleury [Carlos Eduardo], tinha esperança nele e eles [o
Grupo] teriam voltado para o Brasil um pouco à revelia dos acordos que Cuba tinha com a
ALN. (...) Receberam documentação, apoio para voltar»cxxi.
Ainda assim, Cuba não apoiou com dinheiro. As pessoas chegavam aqui e tinham que
contar com as ações de expropriação para montar a guerrilha, sendo que a maior parte dos
integrantes do Grupo, quando saiu do Brasil, tinha pouca ou nenhuma experiência de luta
armadacxxii. No entanto, os órgãos de repressão, constantemente, afirmavam o contrário, como,
por exemplo, no detalhado documento sobre a formação do MOLIPO, do II Exército:
«consta que recebe armas, dinheiro, orientação política-militar, treinamento e
documentos do Partido Comunista Cubano. Isto parece verdadeiro pois o MOLIPO não
34
tem praticado “ações expropriatórias” de dinheiro, armas e material logístico. Como se
verificará adiante, suas ações mais comuns são “atentados a bomba”, atentados a
empresas que oneram preços com imediata repercussão junto ao povo (em especial de
transporte coletivo) e viaturas dos órgãos de segurança e, apesar disto, se mantém em
“ação”, consumindo bens»cxxiii.
A cisão na ALN, que originou o Grupo dos 28, recoloca, mais do que em qualquer
outra situação, a questão do mito da eficácia do treinamento. José Carlos Giannini e Arthur
Scavone lembram que o Grupo se considerava muito bem preparado para a volta e o
enfrentamento, sem nenhuma crítica à experiênciacxxiv. Sobre este ponto, Giannini tem uma
interessante avaliação:
«pelo contrário, era [o treinamento] supervalorizado e, no entanto, muitas vezes faltava
a essas pessoas o que faltaria para qualquer um: a vivência aqui. Uma coisa é você
passar seis meses numa selva, como eles passavam lá, se ferrando, debaixo de chuva,
comendo ou não comendo, atravessando rio, se perdendo na selva, ... mas no
treinamento. Outra é você passar um mês aqui clandestino, sendo perseguido, tendo de
enfrentar o dia-a-dia da ação. O treinamento é uma coisa, é uma simulação. Você
assaltar um banco simulado é uma coisa, outra é você fechar duas avenidas e assaltar
dois bancos de uma vez... Isso não tem o que substitua, isso é a prática. Isso o que te
dá? Talvez até mais do que o preparo técnico, que é a condição da estabilidade
emocional, da estabilidade psicológica que você precisa ter. Às vezes, você é um
péssimo atirador, não sabe nem atirar com uma metralhadora, enfim, armar uma arma...
Tinham pessoas que não tinham..., mas tinham uma vivência aqui de muitos anos ou
quase isso e que você percebia como elas se comportavam em determinadas situações.
Era só não dar uma arma na mão que podia fazer besteira, porque não sabia lidar
muito, mas tinha toda aquela estrutura, já estava dentro do ponto de vista emocional e
do auto-controle que uma situação limite dessa exige. E isso você não adquire em
treinamento, não há treinamento no mundo que substitua isso. Você não tem essa
tensão, esse risco real que você corre no enfrentamento, no combate. (...) Então, o fato
de ter chegado de Cuba, de ter vindo com essa enorme preparação, que era real
mesmo... A impressão é que, na verdade, acabava substituindo, na emoção e na cabeça,
essa realidade aqui. Houve situações em que se via claramente isso, que aquilo naquele
momento não serviu para nada. Isso daí é uma coisa que está coerente com a
concepção militarista que permeava todas essas organizações, que valorizavam mesmo
a ação, o enfrentamento, os exemplos cubano, do Vietnã... mas na época, ninguém
questionava. Realmente era aquilo que tinha que fazer... Seria ótimo se todo mundo
pudesse ter estado em Cuba e eu acho que foi uma armadilha na verdade: não resolveu
o problema, porque o problema não se reduzia a isso, a preparar... e, na verdade, não
por responsabilidade deles, mas acabou sendo uma sentença de morte»cxxv.
35
Assim, o treinamento em Cuba acabava tendo um efeito negativo: tirava o militante do
dia-a-dia da luta, de uma realidade que mudava muito rápido. Ao voltar, ele desconhecia a
dinâmica do combate, as novidades da repressão e não havia tempo para adaptar-se. Carlos
Eugênio Sarmento Coêlho da Paz, que iniciou a militância em 1967, aos 17 anos de idade, e só
saiu do país em março de 1973, sem jamais ter sido preso, tendo, portanto, vivido as mudanças
dos anos de luta armada, dá um testemunho, no mesmo sentido do de Giannini:
«...houve uma evolução no nível de tensão. Inclusive essa evolução nos causou
tremendos prejuízos. O companheiro saía para treinar em Cuba, em 1968, 1969,
voltava em 71... Tem um companheiro nosso que chegou e o Câmara Ferreira o
colocou em contato comigo. Na terceira vez que o encontrei, ele falou o seguinte:
“olha, não dá, eu não consigo viver aqui, eu não vou conseguir viver essa vida. (...).
Quando eu sai daqui era uma coisa e hoje em dia é outra”. Mas já tinha outro que não,
topava e ficava, mas fazia uma besteira atrás da outra. Você chegava e dizia: “isso aqui
não é mais 68 nem 69 não. Os caras usam essas táticas e isso e isso”. E o cara não
entendia. (...) eles eram deslocados de uma realidade e eles não acompanhavam... O
índice de sobrevivência de quem ficou aqui é muito mais alto do que o índice de
sobrevivência de quem saiu e voltou, porque a gente ia acompanhando passo a passo...
A tensão ia aumentando e você ia se escolando ali também, ia se adaptando dentro do
meio. Agora, o cara saía em 68 e volta em 70, 71... O cara continua andando, achando
que podia continuar andando nos lugares que andava antes. Achava que podia
continuar a sair de noite para ir ao cinema. Achava que podia continuar fazendo uma
porção de coisas que não podia mais fazer. Então, isso desarmava os espíritos das
pessoas»cxxvi.
Domingos Fernandes acredita que o Grupo dos 28, formado sobretudo por uma parte
de militantes que vinha da Dissidência do PCB de São Paulo, e que entrou na ALN, na
verdade, nunca teria se integrado plenamente na organização, mas ao contrário, teria tentado
manter uma organização dentro da organizaçãocxxvii. Esta avaliação é importante na medida em
que relativiza o suposto peso que os cubanos teriam tido na cisão, e recoloca a
responsabilidade no próprio grupo, até como uma característica que lhe dava identidade desde
o início, apesar de esta não ser a interpretação de Domingos. Ao chegar para o treinamento,
teve contato com as lideranças da cisão, em Cuba, que lhe passaram a idéia de que estaria
ocorrendo, com a cisão, uma espécie de depuração. Ou seja, na ALN havia de tudo e, naquele
momento, surgiria uma nova organização de dentro dela, depurada. Domingos, assim como
Carlos Eugênio, acredita que longe do Brasil,
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«alheios ao que estava acontecendo», os integrantes do Grupo tinham uma avaliação
completamente equivocada da realidade: «Nós [os presos políticos trocados pelo
embaixador alemão] fomos soltos durante a Copa do Mundo [de 1970]! O que estava
acontecendo com a gente era assunto de décima prioridade! Os caras estavam lá mais
preocupados é com a riqueza que o país estava criando, com o “ame-o ou deixe-o”.
Eles achavam que era possível numa coisa de artimanha, de artesania, de engenharia
política criar uma nova...e, claro, os cubanos incentivaram, financiaram essa porra
toda».
Para Domingos Fernandes, o Estado cubano teve um papel importante na história que
levou à morte a maior parte do Grupo. Acredita que até hoje haja muitos obstáculos para
recuperá-la porque ainda há, da parte de algumas pessoas, uma dificuldade de criticar Cuba.
Preferem não contar ou esconder certas passagens do caso.
Ao voltarem ao Brasil, a partir do início de 1971, os militantes do Grupo dos 28 (que já
contavam com mais dois militantes que estavam em Cuba, mas que não pertenciam,
inicialmente, ao III Exército) conseguiram ganhar outros companheiros da ALN que ficaram
no país e se identificavam com as suas críticas e propostas. Da união, surgiu o MOLIPO,
Movimento de Libertação Popularcxxviii. O justiçamento de Márcio Leite de Toledo, em março
de 1971, decidido pela direção da ALN, teria sido importante para o racha dos militantes no
Brasil, radicalizando conflitos que já existiam: «esse caso foi considerado um assassinato. (...)
Isto foi a gota d’água mesmo e coincidiu um pouco com a chegada dos 28»cxxix. Arthur
Scavone, no entanto, não lembra que este episódio tenha tido importância na cisão dos
militantes no Brasilcxxx. Márcio Toledo, membro da coordenadoria nacional da organização,
ele próprio treinado em Cuba, no II Exército, estava em contato com esse setor da ALN que
iria originar o MOLIPOcxxxi.
Um documento do Centro de Informações da Polícia Federal, de 22 de dezembro de
1971, afirmava:
«essa dissidência [na ALN] se verificou ainda em CUBA, composta pela maioria dos
militantes de uma turma de 28 terroristas que faziam cursos de guerrilhas. (...)
A causa dessa dissidência foi a discordância com a forma de atuar da ALN. ... a ALN
de “CLEMENTE” [codinome de Carlos Eugênio Paz] não segue a “linha branda”.
Uma das causas do “racha” foi justamente o fato da ALN estar dando ênfase especial a
37
atos de terrorismo e relegando a um plano secundário o trabalho político. O “grupo da
Ilha” aponta como erros principais de atuação da ALN:
· inexistência de uma política de quadros (não há seleção);
· militarização da Organização (esforço principal das ações armadas);
· trabalho de massa praticamente nulo;
· realização de ações armadas de repercussão política negativa (justiçamento de
MÁRCIO LEITE DE TOLEDO)»cxxxii (grifos no original).
No Brasil, o MOLIPO - o Grupo da Ilha mais os militantes em cisão no Brasil -, criou
um símbolo: o Cruzeiro do Sul, símbolo do Exército, dentro de uma alça de mira, símbolo da
ALN, com um lema: «libertação ou morte». A idéia era ter uma marca para divulgar, para
aparecercxxxiii.
Na verdade, não é simples tentar recuperar a história de uma luta interna travada em
uma organização clandestina que se preparava para voltar, com suas disputas de espaço e
desconfianças mútuas. O apoio de Cuba a um racha na ALN não significava que deixava de
apoiá-la, mas colocava em xeque sua condição privilegiada. Uma «subversão dos poderes de
nossa organização», uma quebra no «acordo firmado entre nós e os cubanos [estabelecendo
que] a volta dos companheiros era dirigida pela organização nacional»cxxxiv. Militantes da
ALN acreditam que o governo cubano, mais especificamente o serviço secreto, tenha
incentivado a cisão: «o racha foi uma coisa criada pelos cubanos»cxxxv. Através da cooptação,
que significava privilégios, conseguiram uma grande ascendência sobre estes militantes e, em
última instância, enfim, sobre a ALN ou sobre uma organização originária da ALN. Carlos
Eugênio Paz dá o tom do conflito:
«...teve um companheiro nosso que fez uma última tentativa quando conseguiu saber
que, naquele dia, estava saindo a primeira turma que vinha para o Brasil. Tentou
chegar à casa onde os caras estavam para tentar fazer uma última tentativa de demovêlos
daquela aventura e os cubanos simplesmente o prenderam até o momento em que
os caras saíram de Cuba. Chegaram a esse nível de gravidade. (...). Esse cara era da
ALN, Argonauta Pacheco, .... O companheiro Takao Amano, ..., estava no Chile. Eles
[os cubanos] retardaram a ida dele para Cuba, ..., ele querendo ir inclusive para tentar
demover os companheiros dessa volta. Ele recebe uma carta do Fleuryzinho, o Carlos
Eduardo Pires Fleury, ..., que era muito amigo do Takao Amano e manda uma carta
para ele e ele percebe que o cara está embarcando naquela e tenta, fica tentando ir e os
cubanos ficam segurando ele até que o MOLIPO inteiro saiu de Cuba e aí o deixaram ir
para Cuba, para o cara não influenciar politicamente»cxxxvi.
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A volta dos guerrilheiros do Grupo da Ilha foi dramática. À medida que chegavam,
eram rapidamente pegos pela repressão e, em muito pouco tempo, o MOLIPO foi massacrado.
Eram mortes anunciadas. Se a repressão havia condenado todos os militantes que treinaram
em Cuba à morte, no caso do Grupo dos 28 parece ter havido uma determinação ainda maior
para dizimá-lo. Todos os que caíram do Grupo da Ilha foram mortos ou desapareceram.
Sobreviveram apenas seis, jamais presos. Em setembro de 1972, o diretor da Divisão de
Informação do SD/SAF difundia para outros órgãos da repressão e mandava arquivar um
recorde do Jornal do Brasil, de 29 de agosto, com a manchete: «MOLIPO é desbaratado pelo
DOPS paulista»cxxxvii.
O massacre tem a ver com a ilusão que o treinamento dava de estar bem preparado para
o confronto com a repressão. Se a maior parte dos que treinaram não voltou, no caso do Grupo
dos 28, ocorreu o contrário: todos voltaram. E eles, mais do que qualquer outro grupo,
tornaram verdadeira a previsão de José Dirceu: a ilusão levou à morte, «o treinamento como
vestibular para o cemitério». Interessante notar, no entanto, que Dirceu, tendo, em 1970, esta
avaliação do treinamento participou, intensamente, da cisão e da volta ao Brasil como
integrante do Grupo dos 28. Em Cuba, mantinha estreitas relações com os cubanoscxxxviii.
Como explicar a facilidade com que a repressão conseguiu localizar estes militantes?
Ninguém tem uma resposta exata. O que há, na verdade, são suposições, possibilidades,
suspeitas e, parece-me, episódios que são guardados a sete chaves e quem conhece não fala. A
primeira explicação está centrada no Cabo Anselmo. Com o racha do Grupo, a volta dos
guerrilheiros não se deu por intermédio da ALN. Os próprios cubanos se encarregaram de
organizá-la e concretizá-la. Cabo Anselmo, com livre trânsito em Cuba, ele que já havia
realizado em duas ocasiões o treinamento, estaria a par de todo o esquema, como se dizia, da
volta, entregando-o à repressão. Quando da volta do Grupo, o Cabo Anselmo já estava no
Brasil. Nesta ocasião, a ALN já denunciava, em vão, a colaboração do Cabo Anselmo com a
repressão, após o episódio do tiroteio, em maio de 1971, em São Paulo, quando Anselmo
chegou a um ponto com o delegado Fleury e foi reconhecido por Carlos Eugênio Pazcxxxix.
Outra explicação: nesta mesma época da volta do pessoal do Grupo da Ilha, houve a
dissidência de um agente cubano do setor de inteligênciacxl. Este cubano era ligado,
exatamente, ao treinamento de guerrilheiros latino-americanos, e teria passado as informações
39
que dispunha, inclusive sobre o Grupo, à CIA, derrubando muitos guerrilheiros, não somente
brasileiros, de volta a seus países.
Domingos Fernandes conta uma história que envolve a queda de José Roberto Arantes
de Almeida, que voltou em novembro de 1971, e que comprovaria o envolvimento dos
próprios cubanos no massacre ao MOLIPO:
« Quando o Arantes chegou no Brasil, ele tinha um barbeador elétrico. Ele
trouxe no barbeador elétrico uma série de nomes. (...) Quando a gente determinava que
a gente ia voltar para o Brasil, a gente começava a anotar coisas [para lembrar através
de associações]. Então ele pegou isso que ele fez durante meses quando ia voltar para o
Brasil, um papelzinho onde a gente anotava com letra minúscula, ..., e botou embutido
no barbeador. Só ele e os cubanos sabiam porque ele pediu aos cubanos o barbeador
para colocar os papéis (...) Ele foi preso, passou pouquíssimas semanas no Brasil. (...)
A polícia entrou na casa onde ele estava e foi direto no barbeador»cxli.
Outra possibilidade levantada para explicar a queda do Grupo diz respeito a possíveis
acordos que militantes do Grupo teriam feito com a repressão, no momento em que caíram,
em troca de suas vidas. Estas pessoas, em seguida, desapareceriam. Neste sentido, há histórias
que circulam, sem que se saibam - ou se digam – os detalhes, as circunstâncias, em que
pessoas dadas como mortas teriam sido vistas nas ruas de São Paulo.
Dois documentos encontrados nos Arquivos do DEOPS de São Paulo e do DOPS do
Rio de Janeiro, analisados pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos da Câmara de
Deputados, evidenciam a presença de um informante deste Cuba, que, inclusive, voltava ao
Brasil, informando também sobre as pessoas que se vinculavam aquicxlii. Quem seria este
informante? Talvez o próprio Cabo Anselmo, uma vez que dispunha da confiança do governo
cubano que se responsabilizara pela volta. Fala-se que foram mostradas fotos de pessoas do
Grupo treinando em Cuba, aos militantes do MOLIPO na prisão. Ou seja, a repressão tinha
total controle das informações sobre o Grupo, desde o iníciocxliii. Entre os entrevistados,
ninguém acredita que possa ter havido infiltração dentro do próprio Grupo dos 28.
O documento do I Exército, 4ª RM, atribui as «baixas empreendidas pelo DOI» «às
prisões e à farta documentação apreendida, somando-se as investigações e buscas, conseguiuse
o completo levantamento do MOLIPO, bem como a identificação de todos os seus
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militantes, à exceção de quatro ainda não “levantados”»cxliv. Não esclarece, é claro, em que
circunstâncias a repressão fez as prisões.
Em março de 1973, quando a repressão já havia aniquilado as organizações de luta
armadacxlv, Carlos Eugênio Paz deixou o país e seguiu para Cuba. A sua retirada foi o recurso
dos outros integrantes da coordenadoria da ALN, que ainda restavam, para salvar um dos
personagens mais procurados pela repressão. Carlos Eugênio teimava em contrariar uma
espécie de lei natural: o tempo de ação curto dos militantes, sobretudo dos dirigentes,
interrompido com a morte ou a prisão. Cercado por mortes, prisões e desaparecimentos,
sobrevivia. Parecia pairar acima da vida real, mas mergulhado nela, desafiando a realidade.
Como um sobrevivente. Mesmo deixando para trás esta situação, Carlos Eugênio ainda
acreditava que seria possível voltar ao Brasil para retomar a luta. Assim, fez um treinamento
oferecido pelos cubanos, específico sobre estado-maior. Mas, ao longo de 1973, a partir de
discussões com outros militantes da organização que estavam em Cuba, reconheceu que a
guerra havia sido perdida. Antes disto, no entanto, assim que chegou a Cuba, conheceu
Arnaldo Ochoa, que seria condenado à morte em 1989, dirigente cubano, personagem da
Revolução, integrante da coluna de Che Guevara em Sierra Maestra, participante da guerrilha
na Venezuela e, em 1973, comandante do exército de Havanacxlvi. Ochoa tinha um plano para
propor à ALN: entrar no Brasil pelo rio Amazonas, com um barco levando cem combatentes
cubanos bem treinados e todo o armamento disponívelcxlvii. Os militantes da ALN que
quisessem voltar, também se integrariam. Ochoa viria também. Era a primeira vez que Cuba
propunha a entrada de cubanos no Brasil para implantar a guerrilha. A idéia era se instalar na
selva amazônica, em seguida, montar depósitos de armas, abrigos, recuos da guerrilha e, em
uma fase posterior, começar as ações de guerrilha no campo. Ochoa pensava poder contar com
os esquemas de campo da ALN da época de Marighella. No entanto, estes esquemas tinham
sido centralizados em torno dele e, depois de sua morte, os contatos acabaram sendo perdidos
ou desconectados. A partir daí, a ALN passou a atuar de maneira diferente, conta Domingos
Fernandes: «quando ele morre, há um... não é uma mudança de rumo, mas tudo se modifica,
passa a ser tudo uma outra coisa»cxlviii. Carlos Eugênio, porém, acredita que Joaquim Câmara
Ferreira conseguiu recuperar, parcialmente, os contatos que levavam a esquemas da
organização que nunca chegaram a cair. Tratava-se, basicamente, de sítios comprados com o
41
dinheiro das expropriações nas cidades, onde haviam sido instaladas pessoas ligadas à ALN.
Carlos Eugênio:
«O que o Ochoa sempre disse foi o seguinte: “Isso não é um plano meu. O Fidel
sabe e jamais admitirá publicamente”. Como ele jamais admitiu publicamente que o
Che tinha saído de Cuba para ir para a Bolívia, a não ser depois que o Che morreu.
Então, eu acreditei nele e acredito até hoje, porque ele não tinha como tirar cem
cubanos armados sem o Fidel saber...
(...)
Quando eu comecei essa conversa com o Ochoa, eu não posso nem dizer que já
estava plenamente convencido de que nós tínhamos perdido a guerra, mas uma coisa
que veio desde a época do Marighella é que nós não admitíamos nenhum tipo de
ingerência nas nossas posições políticas. Nunca, nunca a gente admitia. Nisso, eu fui
realmente um seguidor do Marighella. Não admitia, não via cubano entrando aqui para
lutar pelo meu povo.
(...)
... o que primeiro me fez recusar [o plano] (...) era a rejeição a qualquer
ingerência na nossa política interna. Eu achava que a política no Brasil era um papel da
gente. A gente como povo brasileiro é que tinha que descobrir o caminho que a gente
queria para o nosso país» cxlix.
A avaliação da realidade brasileira, quando a repressão já tinha ganho a guerra, parece
não ter contado para a elaboração de um projeto revolucionário. O mito do foco continuava
impondo sua força , na América Latina, seis anos após a derrota na Bolívia. Carlos Eugênio
lembra-se de Ochoa repetindo sempre a sua definição de revolução: «a revolução é o resultado
de três coisa: mandar bala, mandar bala e mandar bala»cl.
Importar a revolução
Apesar das posições ambíguas e contraditórias, a partir de outubro de 1967, quando as
derrotas das tentativas de implantação de guerrilhas já eram muitas e a dependência em
relação à URSS, uma realidade, Cuba redefinia-se quanto à exportação da revolução. Neste
contexto, em meio a idas e vindas, o treinamento de guerrilheiros foi mantido. Mesmo depois
de agosto de 1970, quando Cuba se comprometeu a não atacar os países vizinhos e os EUA a
não invadir a Ilha, Carlos Eugênio lembra que «em 1973 [quando estava ele mesmo treinando]
ainda tinha montonero treinando em Cuba, argentino, tinha tupamaro, guerrilheiros
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dominicanos... o que eu conheci de guerrilheiros da América Latina ainda nessa época
treinando em Cuba... Tinha de quase todas as nacionalidades»cli.
No caso dos brasileiros, como vimos, foi, exatamente, depois de fins de 1967 que a
maioria treinou. Era preciso alimentar, no exterior, o mito do primeiro território livre da
América Latina e, internamente, dar coesão a um povo que tinha diante de si muitos
obstáculos a superar. Era preciso mobilizá-los e fortalecê-los. A perspectiva de exportar a
revolução serviu, em última instância, como um meio de importar a revolução, garanti-la no
interior de suas fronteiras e não de levá-la para além delas. Diante de tais circunstâncias, o
treinamento de guerrilheiros latino-americanos acabou tornando-se mais importante, na
verdade, para os próprios cubanos, para a sua revolução.
Isto não significa que as pessoas envolvidas no treinamento não acreditassem no que
faziam. Ao contrário: diante das difíceis condições nas quais Cuba se encontrava - na mira dos
EUA, empurrada na direção da dependência da URSS, em um continente cercado por
ditaduras militares -, era uma questão de sobrevivência acreditar, apegar-se ao mito que
fortalece. O treinamento multiplicaria os guerrilheiros pelo Terceiro Mundo. Acreditava-se
nisto, da mesma forma que os cubanos acreditaram no mito da revolução vitoriosa a partir de
uns poucos guerrilheiros decididos.
Esta interpretação leva, mais uma vez, ao debate sobre a eficácia do treinamento.
Mário Japa e Avelino Capitani resolvem muito bem a questão: o treinamento servia, antes de
tudo, porque dava uma «segurança psicológica», como disse Capitani, a coesão ao grupo, a
autoconfiança. Ou seja, o treinamento tinha a capacidade de potencializar os que dele haviam
participado. A importância e a validade do treinamento não estavam, propriamente, na sua
habilidade de formar militarmente os guerrilheiros, mas sobretudo porque consolidava
certezas. Como disse Mário Japa, «não era só o treinamento em si»clii. A mística que o
envolvia levava à crença de estar preparado e dava a coragem para o enfrentamento. Daí era
importante e eficaz. Mário Japa:
«Cuba era o lugar em que mais funcionava o mecanismo de manutenção da
crença. Era um grupo, vivia-se eternamente alimentando-se disto. Havia ali muitos
mecanismos de manutenção disto, de fortalecimento disto. Havia, mesmo aqui no
Brasil, muitos mecanismos. Um era o desbunde. Era uma desmoralização violentíssima
de quem vacilasse e abandonasse. Desertor para a gente...Acho que a gente era mais
43
violento contra o possível desertor do que o exército. O desbunde era uma coisa feroz,
no grupo. Eu acho, inclusive, que muita gente não deixou por causa desta pecha. Era
uma coisa violentíssima. E o grupo se auto-alimentava destes mecanismos. O
desbunde, falar no nível ideológico, sempre fazendo reuniões... Renovando-se, nisto,
diariamente, constantemente. Castigos morais, ameaças de fuzilamento... A gente
criava uma situação tal que a pessoa ou ficava fidelíssima à gente ou, então, passava
direto de armas e bagagens para a traição total, porque não havia meio termo não. Vê o
Cabo Anselmo... Era mais do que a religião. A religião castiga, vai para o inferno,
exclui, excomunga. Nós não, era a inquisição...(...). Em Cuba, então, isto chegava ao
máximo, no grupo ali, internamente, treinando. Deu uma vaciladinha... Falou duas
frases que denotavam alguma hesitação... caíam de pau em cima. Então, tinha aquela
coisa de voltar, voltar.... Voltar para continuar»cliii.
Anexo
A volta de Cuba
Pensões do Centro de São Paulo alojavam militantes vindos de Cuba. Depois de um
tempo afastados da luta, era preciso esperar o momento para se reinserir na guerrilha urbana,
que mudava a cada dia, que mudara muito desde a partida para a Ilha. Os contatos eram
escassos, um ponto por dia, a segurança assim exigia. Acuados, sem o ritmo da realidade, o
isolamento era angustiante. Um quarto de pensão. O Centro de São Paulo. As pessoas nas
ruas, indo para o trabalho, hora do almoço, de volta para casa, o cansaço, o lazer, o prazer, o
sono e, depois, para o trabalho, hora do almoço... A repressão por todos os lugares, a espreita,
a espera do ponto do dia seguinte, a guerra acontecendo nas ruas da cidade, silenciosa para a
maioria e ensurdecedora para a minoria que quer mudar a vida da maioria. A espera. A guerra
adiante. O dia seguinte. O momento de sair do quarto da pensão e entrar na cidade, no mundo,
para fazer a guerra, a guerrilha, vida ou morte. A espera. O momento de olhar no olho, do
passo seguinte. Os barulhos que chegam, que vão, em vão. O silêncio O isolamento. A
solidão da transformação. O treinamento em Cuba, o dia-a-dia de São Paulo. O elo perdido. A
guerra, a vida, a hora, o embate, a morte, a loucura.
Zé Arantes, o guerrilheiro que veio de Cuba
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Quando José Roberto Arantes de Almeida morreu, a repressão contou a sua história.
Foi assim: ele estava num aparelho na rua Cervantes, em São Paulo. Era dia 4 de novembro de
1971, aniversário da morte de Marighella. O cara era perigoso, fizera treinamento em Cuba, no
tal Grupo dos 28, esse mesmo, o Grupo da Ilha. Os documentos que circulavam entre os
órgãos de informação alertavam para o Grupo, surgido de uma cisão da ALN. Este Grupo não
era igual aos outros que haviam passado pelo treinamento. Era preciso ter atenção especial
com estes guerrilheiros. Por quê? Qual era a diferença? O fato é que foram todos condenados.
À morte. Não escapariam. Quem estava preso via os álbuns com as fotos do pessoal do Grupo
dos 28. Os nomes, os codinomes, as filiações e as naturalidades. Tudo bem organizado. E era
preciso saber mais sobre eles. As informações valiam ouro e promoções. Os presos tinham que
falar. Os registros eram feitos.
Mas a repressão já estava bem informada sobre o Grupo da Ilha. Voltou fulano. Ainda
não voltou beltrano. Está para voltar ciclano. O «informante» disse, o «informante» avisa,
assim está registrado nos documentos. Quem saberia? Quem informava? Alguém infiltrado no
Grupo desde Cuba? Alguém que, tendo caído, fez acordo com a repressão? O cabo Anselmo,
responsável pelo esquema da volta dos integrantes do Grupo ao Brasil? O agente cubano que
deserdou na Europa e entregou os planos do treinamento de guerrilheiros latino-americanos à
CIA? Nos documentos da repressão, é possível acompanhar a dissidência com a ALN: as
razões, discussões, divergências, linha de ação. O «informante» sabia. Quem era? Há os que
não sabem e há os que não falam. É mais uma das histórias «delicadas» (delicada?),
silenciosas, impromunciáveis.
Bem, voltemos à rua Cervantes: Zé Arantes tinha acabado de voltar de Cuba e esperava
documentos para poder sair. Esperava. Fechado no aparelho. A repressão chegou ao local
porque prendeu outro militante que estava também na casa e saíra com uma conta para pagar.
O endereço estava lá. Durante 20 minutos, Arantes resistiu, «atirando sucessivamente com
duas metralhadoras, e depois com duas Winchester 44, até tombar morto»cliv. Os tiros partiam
de várias janelas. A repressão deduzia que havia vários militantes na casa. Quando finalmente
conseguiram entrar, tiveram uma surpresa: só havia uma pessoa, José Arantes, que, muito bem
preparado, colocara as armas em diferentes pontos da casa, dando a impressão de que muitos
guerrilheiros estavam lá. Assim, corria de um cômodo a outro, habilmente, atirando,
enfrentando com competência e coragem o inimigo. Por fim, conseguiram matá-lo.
45
Mas essa era a história deles, não a do Arantes. Uma versão construída, síntese da
«periculosidade de um terrorista» treinado em Cubaclv.
Na verdade, «Arantes foi provavelmente ferido, preso no dia 4, levado ao DOI-CODI,
torturado, falecendo no dia seguinte» clvi.
Bibliografia
Entrevistas
1) concedidas a DR:
Arthur Machado Scavone (ALN, MOLIPO). São Paulo, 5 de julho de 2000.
Avelino Capitani (MNR). Porto Alegre, 1º semestre de 1999. (Neste caso, não foi feita,
propriamente, entrevista. A partir de contato por telefone, Capitani se dispôs a registrar em
fitas seu depoimento, seguindo uma série de perguntas propostas por mim, sem que o
resultado fosse, simplesmente, a gravação de respostas em função de um «questionário»).
Bayard Boiteux (MNR). Rio de Janeiro, 6 de janeiro de 2000.
Carlos Eugênio Sarmento Coêlho da Paz (ALN). Rio de Janeiro, 19 e 31 de julho de 2000.
Daniel Aarão Reis Filho (DI-GB/MR-8). Rio de Janeiro, 09 e 17 de novembro de 1996; 10, 14
e 19 de maio; 04 de junho de 1997.
Domingos Fernandes (ALN). São Paulo, 4 de julho de 2000.
José Carlos Giannini (ALN, MOLIPO). São Paulo, 13 de junho de 2000.
Maria Augusta Carneiro Ribeiro (DI-GB/MR-8). Rio de Janeiro, 04 de abril de 1996.
Mário Japa/Shizuo Osawa (VPR-VAR-VPR). Rio de Janeiro, 6 de julho de 1999.
Paulo Schilling (MNR). São Paulo, 13 de junho de 2000.
Sérgio Granja (ALN, ALN-TL). Rio de Janeiro, 3 de julho de 1999.
Vera Sílvia Magalhães. (DI-GB/MR-8). Rio de Janeiro, 25 de janeiro e 14 de março de 1994.
2) publicada no Pasquim:
Paulo Schilling, em Pasquim, Rio de Janeiro, 11 (559): 10-13, 14/21 março de 1980.
Fontes primárias
Fundo DOPS. Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro.
Fundo DEOPS. Arquivo Público do Estado de São Paulo.
Brasil Nunca Mais. Arquivo Edgard Leuenroth. UNICAMP.
Fontes secundárias
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1996.
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1998.
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46
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GORENDER, Jacob. Combate nas trevas. A esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta
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políticos durante a ditadura militar: a responsabilidade do Estado. São Paulo, Fundação Perseu
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i - Publicado: O apoio de Cuba à luta armada no Brasil. O treinamento guerrilheiro. Rio de Janeiro,
Mauad, 2001. ISBN 85-7478-032-4.
ii - TAVARES, Flávio, 1999. p. 178.
iii - No doutorado, fiz uma primeira incursão no tema (Cf. ROLLEMBERG, D., 1999). No entanto,
como o treinamento era apenas um aspecto do exílio dos anos 1960 e 1970, objeto da pesquisa, não foi
possível, na ocasião, aprofundá-lo, o que pretendi fazer no projeto apresentado ao CNPq, no quadro de
uma bolsa de recém-doutor. A princípio, parecia-me importante, para ter uma visão mais completa da
experiência, ir a Cuba, tentar contatos que pudessem resultar em entrevistas e no acesso à
documentação. No entanto, a modalidade da bolsa exclui qualquer possibilidade de viagem ao exterior.
E, como não era evidente a possibilidade de consultar arquivos cubanos, embora faça parte do trabalho
do historiador procurá-los, tecer os contatos que levem a eles, encontrar as brechas, ao menos
pressionar para que um dia toda e qualquer documentação seja pública (não é assim que muitos
documentos vieram à tona?), tive que redefinir a pesquisa. Assim, trabalhei com as fontes escritas
disponíveis no Brasil, especificamente, nos Fundos DOPS-RJ, no Arquivo Público do Estado do Rio de
Janeiro) e DEOPS-SP (Arquivo Público do Estado de São Paulo) e em processos do Projeto Brasil
Nunca Mais (Arquivo Edgard Leuenroth-UNICAMP). Igualmente foi precioso, para a compreensão do
período, o uso da memória do Brasil dos anos 1960 e 1970, que vem sendo construída nas duas últimas
décadas através de dezenas de publicações autobiográficas. Além destas fontes, tive a grande satisfação
de trabalhar, mais uma vez, com entrevistas, conhecendo de perto os personagens desta história,
descobrindo os rostos, as vozes, as vivências, as emoções daqueles que aparecem nas memórias e nos
documentos deixados pela repressão. Este texto é, portanto, o resultado da pesquisa financiada pelo
47
CNPq, através da bolsa de recém-doutor, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
iv - Em uma matéria do jornalista Amaury Ribeiro Jr., d’O Globo de 9 de janeiro de 2000, sobre uma
monografia da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), no Rio de Janeiro, do então
major Freddie Perdigão Pereira, de 1978, foi publicada a cópia de duas páginas da monografia, onde
aparece a informação de que 340 brasileiros haviam feito treinamento guerrilheiro em Cuba e na
China. A matéria tratava do reconhecimento feito pelo autor da monografia de que 54 presos políticos
morreram no DOI de São Paulo entre 1969 e 1977. Perdigão era agente dos órgãos de repressão. Tentei
ter acesso na Eceme à monografia, para saber como o major chegou a este número. No entanto, o texto
não está disponível à consulta. O documento faz parte do novo inquérito policial-miltar (IPM) sobre o
caso Riocentro, já arquivado.
v - DOPS-RJ. Setor: Comunismo, pasta 115, folhas: 1 a 112. «Curso de guerrilha realizado em Cuba.
Relação do cursado». Ministério do Exército, Comando do I Exército, Rio de Janeiro, GB, 21 de
novembro de 1972. Sobre informações detalhadas do treinamento, há também um depoimento de um
militante do II Exército da ALN, preso em julho de 1972, na Guanabara: cf, DOPS-RJ. ALN. Setor
Terrorismo, pasta 15, folha 128, Ministério do Exército, Gabinete do Ministro, Centro de Informações
do Exército, Rio de Janeiro, 27 de julho de 1972. Embora a maior preocupação tenha sido sempre com
o treinamento em Cuba, os órgãos de informação também estiveram atentos à possibilidade de
treinamento de brasileiros em outros países socialistas, como a Coréia do Norte, onde, de fato, alguns
brasileiros da ALN treinaram, Angola, e até em países árabes. O documento «Treinamento de
guerrilheiros na Coréia do Norte» afirma ser aí o «...o treinamento de guerrilha mais mortífero do
mundo». Nele, não há informação sobre brasileiros em treinamento, apenas que «os candidatos são
escolhidos cuidadosamente na América Latina, África, Arábia, Ásia». Cf. DOPS-RJ. «Treinamento de
guerrilheiros na Coréia do Norte». Setor Terrorismo, pasta 12, folha 236, 19 de agosto de 1971. Cf.
também, por exemplo, DOPS-RJ, «Treinamento de guerrilhas na Coréia do Norte». Setor: Terrorismo,
pasta 12, folha 236, 19 de agosto de 1971. Quanto à Angola, o documento «Treinamento de
guerrilheiros brasileiros em Angola», do Serviço de Informações da Polícia Federal, da Guanabara, dá
como «dados conhecidos» o seguinte: «Estudantes brasileiros estariam sendo treinados em ação
subversiva e operações de guerrilhas, em acampamentos permanentes de treinamento em ANGOLA,
por instrutores cubanos que fazem parte das forças cubanas ali estacionadas. Esses estudantes,
aparentemente, são mandados para visitar parentes em Portugal, depois enviados secretamente para
Angola sob o patrocínio do partido comunista. Alguns desses estudantes permanecem em Angola para
treinamento especializado, mas a maioria voltaria ao Brasil, via Portugal, depois de dois ou três meses.
As forças cubanas estariam treinando médicos e enfermeiros brasileiros em Angola» (grifo no
original). O documento encaminhava, então, aos órgãos de informação, o pedido da «Relação dos
estudantes que tenham solicitado visto para Portugal. Relacionar outros estudantes que venham a pedilo
». DOPS-RJ, «Treinamento de guerrilhas de brasileiros em Angola». Setor: Comunismo, pasta 148,
folha 233, Rio de Janeiro, 18 de outubro de 1976. Um outro documento do Comando de Operações
Navais, do Ministério da Marinha, de 7 de maio de 1974, divulgou, entre órgãos de informação, um
documento com o título «Grupo de guerrilheiros em Mendonza», sobre uma «suposta reunião de
dirigentes guerrilheiros realizada em fevereiro último na cidade de Mendonza, na qual estiveram
presentes elementos da Argentina, Brasil, Chile e Uruguai, tendo sido tratado como um dos tópicos “a
reorganização das forças no Brasil”». Cf. DOPS-RJ. «Grupo de guerrilheiros em Mendonza». Setor
Comunismo, pasta 127, folha 124. Ministério da Marinha, Comando de Operação Naval, 1º Distrito
Naval, 7 de maio de 1974. Em 28 de abril de 1981, o Serviço de Informações da Polícia Federal-RJ,
faz circular um documento, com as tarjas «Confidencial» e «Urgentíssimo», no qual solicitava a outros
órgãos de informação, «para atualizar os prontuários», a relação de «elementos que possuam os
referidos cursos [cursos de explosivos e guerrilha urbana], identificando o grupo de esquerda a que
estejam ligados, especialmente militantes do MR-8». No documento há uma lista com 22 nomes, entre
48
eles os de Carlos Minc, Cid Benjamin, Daniel Aarão Reis Filho, Fernando Gabeira, Franklin Martins,
Antônio Duarte, José Duarte, Ivens Marquetti, José Ibraim, Liszt Vieira, Maria Augusta Carneiro
Ribeiro, Vera Sílvia Magalhães, Virgílio Gomes da Silva, este, incluise morto em 1969 sob tortura, e
Vladimir Palmeira. Cf. DOPS-RJ. Setor Comunismo. Pasta 158, folha 3, «Cursos de explosivos e
guerrilha urbana». Ministério da Justiça, Departamento de Polícia Federal, Superintendência Regional
no Estado do Rio de Janeiro, Serviço de Informações. Rio de Janeiro, 28 de abril de 1981. Assim, ao
longo dos anos 1970, mesmo quando a guerrilha brasileira já havia sido derrotada, e já na década de
1980, a repressão continuou produzindo documentação sobre treinamento. Os Fundos do DOPS-RJ e
do DEOPS-SP guardam muitos documentos sobre Cuba, envolvendo esta questão dos perigos que o
guerrilheiro treinado significava. Como mais um exemplo, vale a pena citar o Informe do
Departamento de Polícia Federal, Delegacia Regional de São Paulo, Centro de Operações, de 17 de
dezembro de 1969, (Fundo DEOPS-SP), difundido para vários órgãos. Divulgava os nomes de cubanos
e referências biográficas e de características físicas de guerrilheiros cubanos que teriam saído de Cuba
e se destinavam ao Brasil. Entre as informações, aparecem as seguintes: comandante (major) Ramiro
Valdez, único sobrevivente do assalto ao Moncada; participou do desembarque ministro do interior de
1960 a 1969: «cursando diversos cursos de “Inteligência” na Rússia, tornou-se fanático da doutrina
Marxista-Leninista, levando ao “Paredon” centenas de pessoas»; pertence ao Comitê Central do PC
cubano; «as últimas notícias recebidas de Cuba a respeito do Major Ramiro Valdez e dos Capitães
Carlos Alberto Figueiredo e Enrique Montero indicam que estes e outros mais embarcaram em Puerto
Canilda, nas vizinhanças da cidade de Cienfuegos, no navio “Jesus Menendes” de 10 mil toneladas,
rumo à República da Guiné e com destino ulterior ao Brasil». Sobre o Capitão Enrique Montero:
«Participou em atos terroristas, bombas e atentados pessoais, de 1956 a 1959. (...). Em janeiro de 1959,
foi nomeado Tenente e foi um dos fundadores do atual governo, destacando-se entre seus
companheiros pelo radicalismo de sua ação». Foi para a Venezuela, onde participou nas guerrilhas
urbanas em Cararas e durante mais um ano atuou nas as atividades guerrilheiras no campo; regressou a
Cuba em fins de 1965; foi para a Rússia e para o Vietnã do Norte; voltou em 1967; «tomou, então,
curso de idioma português na Universidade de Havana e foi instrutor de guerrilhas na Fazenda S. José,
onde se adestram os de língua portuguesa; visitava também a Fazenda La Guira, na zona montanhosa
de Pinar del Rio, onde se dão aulas práticas de guerrilhas aos de língua portuguesa». Sobre o Capitão
Carlos Alberto Figueiredo Rosales: «Recebeu durante um ano curso intensivo de português; altamente
especializado em atentados pessoais e guerrilhas urbanas; maneja toda classe de explosivos e armas
ligeiras; atualmente, especializado em tanques e projetis teleguiados; vícios: maconha e álcool;
debilidade: mulherengo. (...); perito em guerrilha urbana, (...)...logrou escapar ileso da sangrenta greve
revolucionária de 9 de abril de 1958; de 1966 a junho de 1968, esteve à testa do Departamento de
Espionagem e subversão de tipo Mundial no Ministério das Relações Exteriores em Havana». Outro
documento (DEOPS-SP), Cuba - 20-C-43-51, da Presidência da República, Serviço Nacional de
Informação, Agência de São Paulo, de 6 de outubro de 1969, informa que «os Comandantes cubanos
Ramiro Valdez Menendes e Raul Menendes Tomás Sevich estariam em ação permanente em São
Paulo». Sobre o Comandante Ramiro, afirma: «situa-se no mesmo nível de “Che” Guevara». A título
de «curiosidade», entre os diversos carimbos que a burocracia da repressão fazia estampar nos seus
documentos, freqüentemente, aparece um com o seguinte texto: «A Revolução de 64 é irreversível e
consolidará a Democracia no Brasil».
vi - Entrevista com Mário Japa/Shizuo Osawa, concedida a DR. Rio de Janeiro, 6 de julho de 1999; fita
3, lado 1.
vii - BENIGNO, 1996. p. 128.
viii - Benigno esteve no treinamento de brasileiros.
ix - Não é o caso aqui de desenvolver essa questão do mito do foco guerrilheiro, uma vez que diversos
autores já a abordaram em detalhes sem deixar dúvidas a respeito de sua construção. Cf. GORENDER,
J., 1987. p. 82.
49
x - Cf. o discurso de Che Guevara em 24 de fevereiro de 1965, no Seminário Econômico de
Solidariedade Afro-Asiática, em Argel, in MONIZ BANDEIRA, L. A., 1998, p. 549.
xi - Cf. MONIZ BANDEIRA, L. A., 1998, cap. XVI.
xii - MONIZ BANDEIRA, L. A., 1998, p. 562.
xiii - Cf. MONIZ BANDEIRA, L. A., 1998, cap. XVI.
xiv - MONIZ BANDEIRA, L. A., 1998, p. 587.
xv - MONIZ BANDEIRA, L. A., 1998, p. 589.
xvi - MONIZ BANDEIRA, L. A., 1998, p. 595-6.
xvii - MONIZ BANDEIRA, L. A., 1998, p. 594.
xviii - MONIZ BANDEIRA, L. A., 1998. Sobre a quantidade de guerrilheiros treinados em Cuba, há, no
Fundo DEOPS-SP, o documento 30-Z-160-11.891, da Secretaria de Segurança Pública, DEOPS,
Serviço de Informações, São Paulo, 28 de fevereiro de 1972. Trata-se da transcrição do boletim Les
informations politiques et sociales: «2.500 agentes subversivos treinados em Cuba em 10 anos. Cuba
formou cerca de 2.500 agentes de toda a América Latina, entre 1960 e 1969, continuando seu apoio
ativo aos movimentos revolucionários dos países latino-americanos. Estes detalhes sobre as atividades
subversivas cubanas na América Latina foram apresentados por importantes funcionários do Pentágono
à Subcomissão latino-americana da Câmara de Representação, presidida por Dante Pascall, senador
democrata da Flórida (EUA). Segundo o comandante Gerald Cassel, da Agência de Informações
Militares, a instigação dos soviéticos e o papel dos cubanos na subversivação latinoamericana é mais
difícil de identificar desde algum tempo. Porém, segundo M. Philpott, diretor da dita Agência, entre
1960 e 1969, se formaram em Cuba de 2.150 a 2.500 agentes subversivos».
xix - Entrevista com Domingos Fernandes concedida a DR. São Paulo, 4 de julho de 2000. Fita 2, lado
A, p. 14 da transcrição.
xx - Carlos Marighella esteve em Cuba entre junho e dezembro de 1967.
xxi - Para a história das Ligas Camponesas, ver AZEVÊDO, Fernando Antônio, 1982; BASTOS, Elide
Rugai, 1984; MORAIS, Clodomir, 1970; NOVAES, Regina Reyes, 1997.
xxii - DOPS-RJ. «Ligas Camponesas no Estado do Rio». Setor: diversos, pasta 26, dossiê 7; doc., Rio,
GB, 9/11/61.
xxiii - Há, no Fundo DOPS-RJ, diversas dessas listas; cf., por exemplo, DOPS-RJ. «Cuba. Lista de
passageiros para Cuba. Setor: Diversos, pasta 26, dossiê 4, s/d; DOPS-RJ. «Passageiros convidados do
Instituto Cubano de Amizade com os Povos». Setor: Diversos, pasta 27, dossiê 20, s/d.; DOPS-RJ.
«Cuba. Lista de passageiros para Cuba». Setor Diversos, pasta 29, dossiê 15, s/d.
xxiv - DOPS-RJ. «Treinamento de guerrilhas». Setor: Comunismo, pasta 52, folha 9, dossiê 8, 15/5/62.
xxv - AZEVÊDO, Fernando Antônio, 1982. p. 89.
xxvi - AZEVÊDO, Fernando Antônio, 1982. p. 93.
xxvii - DOPS-RJ. «Cuba exporta a revolução». Setor: Informações, pasta 61, folha 92.
xxviii - DOPS-RJ. «Cuba exporta a revolução». Setor: Diversos, pasta 27, dossiê 12.
xxix - MORAIS, Clodomir, 1970. p. 488.
xxx - MORAIS, Clodomir, 1970. p. 487.
xxxi - Entrevista com Paulo Schilling concedida a DR. São Paulo, 13 de junho de 2000; sobre a partida
de Julião, ver também TAVARES, Flávio, 1999. p. 150.
xxxii - TAVARES, Flávio, 1999. pp. 77-8. Cf. também documento do DOPS-RJ, «Cuba exporta a
revolução». Setor: Diversos, pasta 27, dossiê 12, que informava no início do ano: «Em janeiro de 1962,
o Exército brasileiro descobriu que armas fabricadas na Tchecoeslováquia estavam entrando no país
para distribuição, possivelmente, às Ligas Camponesas».
xxxiii - MORAIS, Clodomir, 1970. p. 489.
xxxiv - TAVARES, Flávio, 1999. p. 78. Sobre o episódio ver também MONIZ BANDEIRA, L. A., 1998.
pp. 506 e ss.
xxxv - Cf. por exemplo, RIDENTI, Marcelo, 1993. p. 62; AARÃO REIS Filho, Daniel, 1990.
50
xxxvi - CAPITANI, Avelino, 1997. p. 112.
xxxvii - TAVARES, Flávio, 1999. pp. 175 e 175-6.
xxxviii - CAPITANI, Avelino, 1997.
xxxix - Entrevista com Paulo Schilling, in Pasquim, Rio de Janeiro, 11 (559): 10-13, 14/21, março 1980.
p. 12.
xl - CAPITANI, A., 1997. p. 96.
xli - TAVARES, Flávio, 1999. p. 191.
xlii - CAPITANI, A., 1997. p. 101.
xliii - A compreensão das relações do comando desse projeto, que resultou na Guerrilha de Caparaó,
com Cuba, o que nos interesse aqui, fica muito prejudicada uma vez que suas lideranças se recusam a
falar sobre o assunto. Leonel Brizola e Neiva Moreira não concedem entrevistas sobre Caparaó. Paulo
Schilling, embora tenha me recebido, não permitiu a gravação da entrevista e não revela as relações
com o governo cubano.
xliv - Entrevista com Paulo Schilling concedida a DR. São Paulo, 13 de junho de 2000; não foi gravada
a pedido do entrevistado.
xlv - TAVARES, Flávio, 1999. pp. 177-8.
xlvi - TAVARES, Flávio, 1999. p. 192.
xlvii - TAVARES, Flávio, 1999. p. 203.
xlviii - Entrevista com Paulo Schilling concedida a DR. São Paulo, 13 de junho de 2000; entrevista com
Paulo Schilling, em Pasquim, Rio de Janeiro, 11 (559): 10-13, 4/21, março 1980. CAPITANI, A.,
1997.
xlix - Entrevista com Paulo Schilling concedida a DR. São Paulo, 13 de junho de 2000.
l - Entrevista com Paulo Schilling concedida a DR. São Paulo, 13 de junho de 2000.
li - TAVARES, Flávio, 1999. p. 190.
lii - Informação dada por um depoente que me solicitou anonimato.
liii - BOITEUX, B.D., 1998. p.
liv - TAVARES, Flávio, 1999. p. 178; entrevista com Paulo Schilling concedida a DR. São Paulo, 13 de
junho de 2000; depoimento de Avelino Capitani a DR. Porto Alegre, 1º semestre de 1999.
lv - Informações dadas por um depoente que me solicitou anonimato.
lvi - TAVARES, Flávio, 1999. p. 195.
lvii - Depoimento de Avelino Capitani a DR. Porto Alegre, 1º semestre de 1999. Para a escassez de
alimentos no foco do Brasil Central, ver TAVARES, Flávio, 1999.
lviii - Informações dada por um depoente que me solicitou anonimato.
lix - CAPITANI, A., 1997. p. 98.
lx - Depoimento de Avelino Capitani a DR. Porto Alegre, 1º semestre de 1999.
lxi - Depoimento de Avelino Capitani a DR. Porto Alegre, 1º semestre de 1999; CAPITANI, A., 1997.
lxii - Depoimento de Avelino Capitani a DR. Porto Alegre, 1º semestre de 1999.
lxiii - CAPITANI, A., 1997. p. 100.
lxiv - Depoimento de Avelino Capitani a DR. Porto Alegre, 1º semestre de 1999.
lxv - Depoimento de Avelino Capitani a DR. Porto Alegre, 1º semestre de 1999.
lxvi - BOITEUX, Bayard, 1998. p. 91.
lxvii - TAVARES, Flávio, 1999. p. 202.
lxviii - BENIGNO, 1996. p.149.
lxix - BENIGNO, 1996. p. 136.
lxx - Depoimento de Avelino Capitani a DR. Porto Alegre, 1º semestre de 1999.
lxxi - Depoimento de Avelino Capitani a DR. Porto Alegre, 1º semestre de 1999; CAPITANI, A., 1997.
p. 101.
lxxii - MONIZ BANDEIRA, 1998. p. 570.
lxxiii - Entrevista com Bayard Boiteux, concedida a DR. Rio de Janeiro, 6 de janeiro de 2000.
51
lxxiv - TAVARES, Flávio, 1999. p. 195.
lxxv - BENIGNO, 1996. p. 149.
lxxvi - CAPITANI, A., 1997. pp. 102-3 e 108, respectivamente.
lxxvii - O depoimento de Brizola ao jornalista Gilson Rebello, no livro de 1980, A guerrilha de Caparaó,
feito a partir da série de reportagens publicada no jornal O Estado de S. Paulo, de 5 a 9 de fevereiro de
1980, evidencia sua decisão de não falar a respeito, por mais contraditório que possa parecer, uma vez
que o tema da matéria/livro era Caparaó,.
lxxviii - Cf. DOPS-RJ. Setor Terrorismo, pasta 15, folha 134 (caixa 598). Doc. CIE – S/103. «Terroristas
da ALN com curso em Cuba (situação em 21 de junho de 1972) por turma do curso». S/d. Os números
dos integrantes das turmas/Exércitos estão de acordo com o dossiê DOPS-RJ. Setor: Comunismo, pasta
115, folhas: 1 a 112. «Curso de guerrilha realizado em Cuba. Relação do cursado». Ministério do
Exército, Comando do I Exército, Rio de Janeiro, GB, 21 de novembro de 1972.
lxxix - Entrevista com Sérgio Granja, concedida a DR. Rio de Janeiro, 3 de julho de 1999; transcrição
da fita 1, lado A, p. 6. Do II Exército, participou também o militante da ALN, que, preso em 1971, fez
acordo com a repressão e entregou Joaquim Câmara Ferreira.
lxxx - O documento do I Exército, Ministério do Exército, de 13 de novembro de 1970, Rio de Janeiro,
com o título «Guerrilha rural e urbana (curso em Cuba)», referência: Info 2883/70, CIE, traz a
descrição destas duas fases do treinamento, tal qual feita pelos ex-militantes entrevistados. (Este
documento refere-se, especificamente, ao treinamento do II Exército da ALN). Cf. DOPS-RJ. Setor
Secreto – 78 – 200/208.
lxxxi - DOPS-RJ. Setor: Comunismo, pasta 115, folhas: 1 a 112. «Curso de guerrilha realizado em Cuba.
Relação do cursado». Ministério do Exército, Comando do I Exército, Rio de Janeiro, GB, 21 de
novembro de 1972.
lxxxii - Sobre este aspecto, ver, sobretudo, as entrevistas concedidas a DR, com Maria Augusta Carneiro
Ribeiro. Rio de Janeiro, 4 de abril de 1996; Vera Sílvia Magalhães. Rio de Janeiro, 25 de janeiro e 14
de março de 1994; e Daniel Aarão Reis Filho. Rio de Janeiro, 09 e 17 de novembro de 1996; 10, 14 e
19 de maio; 04 de junho de 1997.
lxxxiii - Entrevista com Mário Japa/Shizuo Osawa, concedida a DR. Rio de Janeiro, 6 de julho de 1999.
lxxxiv - Entrevista com Sérgio Granja, concedida a DR. Rio de Janeiro, 3 de julho de 1999; transcrição
da fita 1, lado A, p.7.
lxxxv - Entrevista com Carlos Eugênio Sarmento Coêlho da Paz, concedida a DR. Rio de Janeiro, 19 de
julho de 2000. Transcrição da fita 2, lado B, p. 28.
lxxxvi - Entrevista com Mário Japa/Shizuo Osawa, concedida a DR. Rio de Janeiro, 6 de julho de 1999.
lxxxvii - DOPS-RJ. Setor: Comunismo, pasta 115, folhas: 1 a 112. «Curso de guerrilha realizado em
Cuba. Relação do cursado». Ministério do Exército, Comando do I Exército, Rio de Janeiro, GB, 21 de
novembro de 1972.
lxxxviii - Cf. entrevistas concedida a DR, com Mário Japa/Shizuo Osawa, Rio de Janeiro, 6 de julho de
1999, Domingos Fernandes, São Paulo, 4 de julho de 2000, fita 1, lado A, transcrição p. 1, Maria
Augusta Carneiro Ribeiro, Rio de Janeiro, 04 de abril de 1996.
lxxxix - Entrevista com Mário Japa/Shizuo Osawa, concedida a DR. Rio de Janeiro, 6 de julho de 1999.
Fita 1.
xc - Entrevista com Domingos Fernandes, concedida a DR. São Paulo, 4 de julho de 2000, fita 1, lado
A, transcrição pp. 1 e 2.
xci - Entrevista com Daniel Aarão Reis Filho, concedida a DR. Rio de Janeiro, 17 de novembro de
1996; transcrição da fita 3, p.18.
xcii - Entrevista com Domingos Fernandes, concedida a DR. São Paulo, 4 de julho de 2000, fita 1, lado
A, transcrição p. 3.
xciii - Entrevista com Daniel Aarão Reis Filho, concedida a DR. Rio de Janeiro, 17 de novembro de
1996; transcrição da fita 3, pp. 24 e 25.
52
xciv - Entrevista com Daniel Aarão Reis Filho, concedida a DR, no Rio, 17 de novembro de 1996;
transcrição da fita 3, p. 26. Esta discussão sobre a eficiência do treinamento está em ROLLEMBERG,
Denise, 1999.
xcv - Entrevista com Sérgio Granja, concedida a DR. Rio de Janeiro, 3 de julho de 1999; transcrição da
fita 1, lado A, p. 15.
xcvi - Entrevista com Domingos Fernandes, concedida a DR. São Paulo, 4 de julho de 2000, fita 1, lado
A, transcrição p. 6.
xcvii - Entrevista com Mário Japa/Shizuo Osawa, concedida a DR. Rio de Janeiro, 6 de julho de 1999.
xcviii - Cf. Entrevista com Domingos Fernandes, concedida a DR. São Paulo, 4 de julho de 2000, fita 1,
lado A, transcrição p. 13; cf. PAZ, C. E.,
xcix - Entrevista com Domingos Fernandes, concedida a DR. São Paulo, 4 de julho de 2000, fita 1, lado
A, transcrição p. 14.
c - Entrevista com Domingos Fernandes, concedida a DR. São Paulo, 4 de julho de 2000, fita 1, lado
A, transcrição pp. 11 e ss. Sobre a não adesão de Marighella à teoria do foco, ver também entrevista
com Sérgio Granja, concedida a DR. Rio de Janeiro, 3 de julho de 1999; transcrição da fita 1, lado B,
p. 19.
ci - Entrevista com Domingos Fernandes, concedida a DR. São Paulo, 4 de julho de 2000. Transcrição
da fita 2, lado A, p. 1.
cii - Entrevista com Domingos Fernandes, concedida a DR. São Paulo, 4 de julho de 2000. Transcrição
da fita 2, lado A, pp. 3 e 4.
ciii - Entrevista com Carlos Eugênio Sarmento Coêlho da Paz, concedida a DR. Rio de Janeiro, 19 de
julho de 2000. Transcrição da fita 2, lado B,
civ - Entrevista com Carlos Eugênio Sarmento Coêlho da Paz, concedida a DR. Rio de Janeiro, 19 de
julho de 2000. Transcrição da fita 2, lado B, p. 30; ver também Entrevista com Domingos Fernandes,
concedida a DR. São Paulo, 4 de julho de 2000. Transcrição da fita 2, lado A, pp. 1 e ss.
cv - Entrevista com Sérgio Granja, concedida a DR. Rio de Janeiro, 3 de julho de 1999; transcrição da
fita 1, lado B, pp. 34 e 35 e fita 2, lado A, pp. 2-4.
cvi - Domingos Fernandes, concedida a DR. São Paulo, 4 de julho de 2000. Transcrição da fita 2, lado
A, p. 2. Sobre o «comandante Raul», ver também entrevista com Sérgio Granja, concedida a DR. Rio
de Janeiro, 3 de julho de 1999; transcrição da fita 1, lado B, pp. 21 e ss. E pp. 30 e ss.
cvii - Entrevista com Carlos Eugênio Sarmento Coêlho da Paz, concedida a DR. Rio de Janeiro, 19 de
julho de 2000. Transcrição da fita 3, lado A, p. 1
cviii - Domingos Fernandes, concedida a DR. São Paulo, 4 de julho de 2000. Transcrição da fita 2, lado
A, p. 5. Gusano, em espanhol, quer dizer, ao pé da letra, verme, lombriga, cf. Dicionário Michaelis
Português-Espanhol.
cix - Entrevista com Mário Japa/Shizuo Osawa, concedida a DR. Rio de Janeiro, 6 de julho de 1999.
Fita 1.
cx - Entrevista com Mário Japa/Shizuo Osawa, concedida a DR. Rio de Janeiro, 6 de julho de 1999.
Fita 1.
cxi - Entrevista com Domingos Fernandes concedida a DR. São Paulo, 4 de julho de 2000. Fita 2, lado
A, p. 14 da transcrição.
cxii - O nome Grupo Primavera jamais aparece na documentação da repressão. DOPS-RJ. Setor:
Comunismo, pasta 115, folhas: 1 a 112. «Curso de guerrilha realizado em Cuba. Relação do cursado».
Ministério do Exército, Comando do I Exército, Rio de Janeiro, GB, 21 de novembro de 1972.
cxiii - Entrevista com José Carlos Giannini, concedida a DR. São Paulo, 13 de junho de 2000;
transcrição da fita 1, lado A, pp. 12-13. Sobre a cisão no Brasil, ver também entrevista com Arthur
Machado Scavone, concedida a DR. São Paulo, 5 de julho de 2000.
cxiv - Segundo o documento DEOPS-SP, «72-curso de guerrilha int. do MOLIPO» e RPI nº 01/72 - II
Exército, 50-Z-9-40934 e ss., p. 86, o MOLIPO fez 24 ações, sendo a primeira em 16 de julho de 1971.
53
Neste momento, ainda se autodenominava Dissidência da ALN (DI-ALN), tendo surgido o nome
Molipo apenas no último trimestre de 1971.
cxv - DOPS-RJ. «MOLIPO». Setor Comunismo, pasta 103, folhas 254/262, Ministério do Exército, I
Exército, Rio de Janeiro, GB, 21 de março de 1972. No DEOPS-SP, este documento aparece como
«72-curso de guerrilha int. do MOLIPO» e RPI nº 01/72 - II Exército, 50-Z-9-40934 e ss., pp. 73 a 94.
cxvi - Entrevista com José Carlos Giannini, concedida a DR. São Paulo, 13 de junho de 2000;
transcrição da fita 1, lado A, p. 13.
cxvii - Entrevista com José Carlos Giannini, concedida a DR. São Paulo, 13 de junho de 2000;
transcrição da fita 1, lado A, p. 1.
cxviii - Entrevista com José Carlos Giannini, concedida a DR. São Paulo, 13 de junho de 2000;
transcrição da fita 1, lado A, pp. 1, 2 e 3.
cxix - Entrevista com Arthur Machado Scavone, concedida a DR. São Paulo, 5 de julho de 2000;
transcrição da fita 1, lado B, p. 19.
cxx - Entrevista com Arthur Machado Scavone, concedida a DR. São Paulo, 5 de julho de 2000;
transcrição da fita 1, lado A, p. 6 e 14.
cxxi - Entrevista com Arthur Machado Scavone, concedida a DR. São Paulo, 5 de julho de 2000;
transcrição da fita 1, lado A, p. 5.
cxxii - Entrevista com José Carlos Giannini, concedida a DR. São Paulo, 13 de junho de 2000;
transcrição da fita 1, lado B, p. 22.
cxxiii - DEOPS-SP, «72-curso de guerrilha int. do MOLIPO» e RPI nº 01/72 - II Exército, 50-Z-9-40934
e ss., pp. 73 a 94. É interessante notar, na citação, o uso, por parte da repressão, da expressão «ações
expropriatórias», ainda que entre aspas, usada pelos guerrilheiros. Normalmente, usava as palavras
«assalto», assalto, roubo.
cxxiv - Entrevista com Arthur Machado Scavone, concedida a DR. São Paulo, 5 de julho de 2000;
transcrição da fita 1, lado A, p. 8.
cxxv - Entrevista com José Carlos Giannini, concedida a DR. São Paulo, 13 de junho de 2000;
transcrição da fita 1, lado A, pp. 11-12.
cxxvi - Entrevista com Carlos Eugênio Sarmento Coêlho da Paz, concedida a DR. Rio de Janeiro, 19 de
julho de 2000. Transcrição da fita 2, lado A, pp. 3-5.
cxxvii - Domingos Fernandes, concedida a DR. São Paulo, 4 de julho de 2000. Transcrição da fita 2,
lado B, pp. 16 e ss.
cxxviii - José Carlos Giannini e Arthur Machado Scavone integraram-se ao MOLIPO. Sobre a integração
de militantes que haviam ficado no Brasil ao Grupo, ver também o documento DEOPS-SP.
«Declaração», «Grupo dos 28», 50-Z-9-31.766 e 50-Z-9-31.765: «Declarações que presta Francisco
Carlos de Andrade (...) à turma de interrogatório preliminar “B”, das 10:30 às 22:00 do dia 14/15 de
março de 1972»; ver DEOPS-SP, «Grupo dos 28», 50-Z-9-31848: «Declarações de Jorge Fidelino
Galvão de Figueiredo (...), em 7/8 de fevereiro de 1972»; ver DEOPS-SP, «Grupo dos 28», 50-Z-9-
23399: «Declarações que presta Francisco Carlos de Andrade (...) à turma de interrogatório preliminar
“A”, das 10:00 às 20:00 horas do dia 29/30 de novembro de 1971»; ver DEOPS-SP, «Grupo dos 28»,
50-Z-9-22526 e 50-Z-9-22525: «Declarações de Monir Tahan Sab (...) à turma de interrogatório
preliminar “A” das 17:00 às 22:00 do dia 27/28 de outubro de 1971. Há vários documentos da
repressão sobre o MOLIPO, entre eles, ver DEOPS-SP, «72-curso de guerrilha int. do MOLIPO» e RPI
nº 01/72 - II Exército, 50-Z-9-40934 e ss., pp. 73 a 94 (nestes documentos, há informações detalhadas
sobre a organização); sobre o histórico da organização, ver p. 86 e 11 do doc. De «RPI nº 1/72-II Ex»:
aí, é destacado fato de que «é formada quase exclusivamente por terroristas que fizeram curso de
guerrilhas em Cuba, entre fins de 1969 e fins de 1970, todos ex-integrantes do quadro da ALN». Ver
ainda o Doc. 5.836, «Guerrilha urbana», sem data, escrito por militantes que se integraram, em
seguida, ao Grupo dos 28, para formar o MOLIPO (Arquivo Edgard Leuenroth, Brasil Nunca Mais,
volume «Anexos dos processos»).
54
cxxix - Entrevista com José Carlos Giannini, concedida a DR. São Paulo, 13 de junho de 2000;
transcrição da fita 1, lado A, pp. 8 e 9.
cxxx - Entrevista com Arthur Machado Scavone, concedida a DR. São Paulo, 5 de julho de 2000;
transcrição da fita 1, lado A, p. 3.
cxxxi - Sobre o contexto do justiçamento, ver GORENDER, J., 1987, pp. 243-4; ver também o
testemunho de Carlos Eugênio Paz, membro da direção que tomou a decisão: PAZ, Carlos Eugênio,
1996.
cxxxii - DOPS-RJ. Setor: Comunismo, volume 102, pp. 200, 199. Brasília, DF.
cxxxiii - Entrevista com Arthur Machado Scavone, concedida a DR. São Paulo, 5 de julho de 2000;
transcrição da fita 1, lado B, p. 28 e 29; ver Brasil Nunca Mais (Arquivo Edgard Leuenroth), nº 68,
caixa 1, «Selagem do MOLIPO apreendida em poder de José Carlos Giannini».
cxxxiv - Entrevista com Carlos Eugênio Sarmento Coêlho da Paz, concedida a DR. Rio de Janeiro, 19 de
julho de 2000. Transcrição da fita 3, lado A, p. 7.
cxxxv - Entrevista com Domingos Fernandes, concedida a DR. São Paulo, 4 de julho de 2000.
Transcrição da fita 2, lado A, p. 1.
cxxxvi - Entrevista com Carlos Eugênio Sarmento Coêlho da Paz, concedida a DR. Rio de Janeiro, 19 de
julho de 2000. Transcrição da fita 3, lado A, pp. 2 e 3.
cxxxvii - DOPS-RJ. «MOLIPO (Movimento subversivo)». Setor Terrorismo, pasta 15, folha 181.
cxxxviii - José Dirceu é um dos seis sobreviventes do Grupo da Ilha e, procurado, não se dispôs a falar.
cxxxix - Entrevista com Carlos Eugênio Sarmento Coêlho da Paz, concedida a DR. Rio de Janeiro, 19 de
julho de 2000. Transcrição da fita 3, lado A, p. 12.
cxl Sobre a possibilidade de ser o Cabo Anselmo ou o dissidente cubano, ver entrevista com Carlos
Eugênio Sarmento Coêlho da Paz, concedida a DR. Rio de Janeiro, 19 de julho de 2000. Transcrição
da fita 3, lado A, pp. 8-10; ver também entrevista com Domingos Fernandes, concedida a DR. São
Paulo, 4 de julho de 2000. Transcrição da fita 2, lado B, p. 20; ver também entrevista com José Carlos
Giannini, concedida a DR. São Paulo, 13 de junho de 2000; transcrição da fita 1, lado A, p. 6. Ver
também DEOPS-SP, doc. Cuba – 50-D-26-3484-«sobre libertação da América Latina»: documento do
Ministério da Aeronáutica, 4ª Zona Aérea, de 11 de janeiro de 1972, para o DOPS-SP, encaminhando
cópia de notícia publicada n’ O Globo, 20/12/1971, p. 7: «importante membro do Serviço Secreto
cubano que pediu asilo nos Estados Unidos, através da embaixada norte-americana em Londres».
Segundo a matéria, o Departamento de Estado dos EUA mantinha em sigilo sua identidade e divulgava
que o «ex-agente revelou um plano castrista de “libertação da América Latina”», que teria sua base no
Chile e contaria com o apoio do governo de Salvador Allende. A notícia fora divulgada pelo jornal
britânico Daily Telegraph.
cxli - Entrevista com Domingos Fernandes, concedida a DR. São Paulo, 4 de julho de 2000. Transcrição
da fita 2, lado B, pp. 19 e 20.
cxlii - Cf. MIRANDA, Nilmário e TIBÚRCIO, Carlos, 1999. Pp. 127 e ss.
cxliii - Entrevista com Carlos Eugênio Sarmento Coêlho da Paz, concedida a DR. Rio de Janeiro, 31 de
julho de 2000. Transcrição da fita 4, lado B, p. 26.
cxliv - DOPS-RJ. «MOLIPO». Setor Comunismo, pasta 103, folhas 254/262.
cxlv - A sobrevivência do PcdoB foi uma exceção em meio ao massacre, mantendo a guerrilha rural até
1974, quando a Guerrilha do Araguaia também foi dizimada.
cxlvi - Na segunda metade dos anos 1970, Arnaldo Ochoa também comandou tropas cubanas na África.
cxlvii - Sobre a proposta de Ochoa, ver entrevista com Carlos Eugênio Sarmento Coêlho da Paz,
concedida a DR. Rio de Janeiro, 31 de julho de 2000. Transcrição da fita 4, lado A, pp. 9 e ss.; ver
também PAZ, Carlos Eugênio, 1997.
cxlviii - Entrevista com Domingos Fernandes concedida a DR. São Paulo, 4 de julho de 2000. Fita 1,
lado A, p. 9 da transcrição; citação, p. 9.
55
cxlix - Entrevista com Carlos Eugênio Sarmento Coêlho da Paz, concedida a DR. Rio de Janeiro, 31 de
julho de 2000. Transcrição da fita 4, lado B, pp. 16, 21 e 23.
cl - Entrevista com Carlos Eugênio Sarmento Coêlho da Paz, concedida a DR. Rio de Janeiro, 31 de
julho de 2000. Transcrição da fita 4, lado B, p. 23.
cli - Entrevista com Carlos Eugênio Sarmento Coêlho da Paz, concedida a DR. Rio de Janeiro, 31 de
julho de 2000. Transcrição da fita 4, lado B, p. 16.
clii - Entrevista com Mário Japa/Shizuo Osawa, concedida a DR. Rio de Janeiro, 6 de julho de 1999.
Fita 1 e fita 3, lado ª
cliii - Entrevista com Mário Japa/Shizuo Osawa, concedida a DR. Rio de Janeiro, 6 de julho de 1999.
Fita 3, lado A.
cliv - MIRANDA, Nilmário e TIBÚRCIO, Carlos, 1999, p. 132.
clv - DOPS-RJ. Setor: Comunismo, pasta 115, folhas: 1 a 112. «Curso de guerrilha realizado em Cuba.
Relação do cursado». Ministério do Exército, Comando do I Exército, Rio de Janeiro, GB, 21 de
novembro de 1972.
clvi - MIRANDA, Nilmário e TIBÚRCIO, Carlos, 1999, p. 133. Ver também os documentos do
DEOPS-SP, «72-curso de guerrilha int. do MOLIPO» e RPI nº 01/72 - II Exército, 50-Z-9-40934, onde
aparece o nome de Arantes em uma lista de integrantes do MOLIPO que teriam sido mortos ao
reagirem à prisão ou tentarem a fuga. No «Laudo de exame de corpo de delito. Exame necroscópio»,
de José Roberto Arantes de Almeida, aparece a informação de que morreu em tiroteio com a OBAN,
em 4 de novembro de 1971 (AEL, BNM, nº 68, cx. 1). De forma semelhante, sobre Antonio
Benetazzo, no Doc. DEOPS-SP, 50-Z-9-40.946, RPI nº 01/72- II Exército, na p. 75 (50-Z-9-40.946),
aparece a informação de que foi preso em 27 de outubro de 1972; em outros documentos, ele é dado
como morto na hora da prisão: morreu em 30 de outubro de 1972 (AEL, BNM, processo nº 88, SP,
1973, MOLIPO, cx. 1 = vol. 1, «Laudo de exame de corpo de delito. Exame Necroscópico. Instituto Médico Legal do Estado) - «atirou-se embaixo de um veículo pressentindo a chegada da polícia».
Denise Rollemberg.
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