Aqui em São Paulo temos a ameaça de invasão da Câmara Municipal por 10 mil integrantes do MTST para pressionar os vereadores a votarem logo o Plano Diretor. Qual a chance disso acabar bem?
Aliás, justiça seja feita: passado o Dia das Mães, faltou uma homenagem pública ao prefeito Fernando Haddad, que tem sido uma verdadeira "mãe" para diversos segmentos sociais. Dos movimentos sem-teto aos grandes empreendedores do mercado imobiliário e especuladores, o petista consegue a proeza de agradar (por ação ou omissão) as duas pontas. O problema é que todo o restante - nós, cidadãos paulistanos de bem - ficamos abandonados entre a luta midiática de um extremo e outro.
O Plano Diretor Estratégico da cidade de São Paulo vai se mantendo como notícia diária. Pano de fundo das ocupações do MTST, parece agradar mesmo apenas ao oportunismo imediatista dos movimentos pró-moradia. Graças à imperícia e irresponsabilidade da gestãoHaddad, que prometeu legitimar a permanência irregular dos invasores nas áreas de preservação dos mananciais. Um crime!
Lamentável a permissividade do poder municipal. O prefeito Haddad - nosso Pilatos de plantão no Palácio do Anhangabaú - simplesmente lavou as mãos. Parece que o problema (social e político) não é com ele. Jogou todo o foco da polêmica nas costas dos vereadores.
Mapa das invasões
E seguem as ocupações: Nova Palestina, Faixa de Gaza, Copa do Povo... Se o terreno é público ou privado, tanto faz. Se é zona de preservação ambiental, idem. E repare que, quanto mais valorizado, melhor. Deve ser só coincidência, né? (Aham!) Mas há muito$ intere$$e$ em jogo.
Matéria do repórter Diego Zanchetta sobre as ocupações, no Estado de S. Paulo da semana passada, afirma que os sem-teto já buscam a adesão de famílias para invadir um terreno de quase 100 mil m² na Mooca, que no passado pertenceu à Esso, teve o solo e as águas subterrâneas contaminadas, e há pelo menos uma década é reivindicado pela totalidade da população para a implantação de um parque (mapa ao lado), próximo do Clube Juventus.
Apesar do apoio declarado do prefeito, de políticos do PT e do secretário do Verde e do Meio Ambiente à intervenção ambiental no Parque da Mooca (região com o pior índice de verde por habitante na cidade), a resposta oficial da Prefeitura é sempre a mesma, para este e para outros parques: falta verba, seja para comprar o terreno, seja para a sua implantação. Aliás, a falta de dinheiro é a desculpa padronizada da gestão petista para tudo o que é incapaz de realizar. Ou seja, tudo mesmo. Não faz nada.
Como bem lembrado pelo jornal Folha de Vila Prudente desta semana: "Aviso aos sem-teto: há mais de 10 anos, este jornal, a comunidade e lideranças locais pleiteiam a construção de um parque público na área, que atualmente pertence a uma grande construtora. Durante todo esse tempo, a resposta da Prefeitura é sempre a mesma: falta verba para comprar o terreno. Se não tem dinheiro para desapropriar para parque, também não tem para moradia popular e nós estamos na frente!"
Cidade sem direção
Nove entre dez urbanistas - excluído o próprio relator do Plano Diretor, vereador Nabil Bonduki, e o time petista - estão apontando muito mais críticas do que aspectos positivos no projeto. Destaca-se principalmente o problema crônico da (i)mobilidade: a maioria das pessoas permanecerá morando longe do trabalho e o transporte público continuará superlotado.
A proposta de adensamento urbano é outra promessa de agravamento do caos. Prevê jogar um volume imenso e incontrolável de novos usuários sobre faixas de ônibus capengas, corredores que ainda precisam ser implantados e linhas de metrô que hoje já funcionam sobrecarregadas.
Feito um Midas com o toque ao contrário, onde Haddad põe a mão, a coisa para de funcionar. Contrato de transporte lesivo aos cofres públicos, máfia dos fiscais em plena atividade, o fim da inspeção veicular sem maiores explicações, lixo, sujeira e buracos nas ruas, semáforos pifados, obras anti-enchente paralisadas, carregamento do bilhete único inoperante, epidemia descontrolada da dengue com mortes, greve de professores, falta de vagas em creches, déficit de moradia, ocupações de áreas públicas e privadas...
É quase uma poesia concreta, com rimas pobres e sem nenhuma beleza:
A ruindade do prefeito é uma crueldade com a cidade. Sem piedade. Note a ambiguidade: Dá até saudade do Kassab. Eis a verdade. Quanta incapacidade! Falta autoridade, criatividade, agilidade, autenticidade, civilidade. Que dificuldade! Passa, Haddad, tenha a bondade...