ECONOMIA & NEGÓCIOS
03 Fevereiro 2015 | 10:42
Embora remota, a hipótese começou a ser aventada depois que a crise do ‘Petrolão’ se agravou nas últimas semanas, com o envolvimento e prisão de executivos de empreiteiras
Vitória de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara dos deputados: mercado teme agravamento da crise (Foto:Estadão)
A eleição do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a Presidência da Câmara alastrou o ruído entre banqueiros, investidores e analistas no Brasil e no exterior sobre a possibilidade de ocorrer um impeachment da presidente Dilma Rousseff caso as investigações da Operação Lava a Jato venham resvalar no Palácio do Planalto.
A preocupação existe. Ou, melhor, o temor com o impeachment de Dilma, ainda existe tanto no Brasil quanto lá fora.
E esse ruído deve seguir no radar do mercado financeiro, mais ou menos forte a depender da postura do novo presidente da Câmara e, obviamente, das investigações sobre um esquema de propinas envolvendo a Petrobras.
Todavia, a possibilidade de um impeachment é, ao menos neste momento, algo remoto, embora o baixo clero no Congresso Nacional esteja repetindo a palavra sem cuidado e sem algo concreto para fazer tal previsão.
Mas estariam os investidores e executivos financeiros preocupados com tal possibilidade se, mesmo com a vitória de Cunha no pleito da Câmara ontem, não houvesse o espectro de denúncias da Lava Jato virem à tona com potencial de implicar a presidente Dilma?
Ou seja, a eleição de Cunha, por si só, não é combustível para o temor.
Por outro lado, se o vitorioso para comandar a Câmara fosse Arlindo Chinaglia, o mercado estaria mais confiante de que o deputado petista seria menos inclinado a levar adiante um pedido de impeachment pela oposição, mesmo se surgissem denúncias que resvalassem no governo.
Com Cunha, a possibilidade de um processo desses seguir adiante aumenta. Mas o cenário mais provável é que a ameaça de um impeachment seja usada mais como moeda de troca pelo deputado peemedebista para benefício próprio do que uma vingança pessoal por uma relação envenenada ao longo dos anos com a presidente Dilma.
Essa hipótese de impeachment só começou a ser aventada à medida que a crise do ‘Petrolão’ se agravou nas últimas semanas, com o envolvimento e prisão de executivos de empreiteiras.
Mas até se chegar a provas concretas que comprovem que a presidente Dilma tenha sido omissa ou compactuado com os malfeitos há um oceano de distância.
E mesmo se denúncias chegarem muito perto do Palácio do Planalto, é preciso uma conjunção de muitos fatores.
O risco sempre existe, pois ainda não se sabe o que pode surgir das investigações. Daí, a palavra “impeachment” estar no radar de executivos financeiros, especialmente após a eleição de Eduardo Cunha.
É bom lembrar que o vice-presidente Michel Temer é do mesmo partido de Cunha. Então, fica a dúvida de como o novo presidente da Câmara levaria adiante um pedido de impeachment que fosse afetar até o seu partido.
Esse é um processo penoso e desgastante para o País, mas há parlamentares falando nisso de forma até irresponsável.
* Fábio Alves é jornalista do Broadcast