“Basta acompanhar a trajetória dos colegas de turma de Fernandinho Beira-Mar para derrubar a premissa de que o caminho do crime é a única opção para quem nasce pobre e favelado.”
Dos 23
alunos que estudaram juntos há mais de 30 anos numa escola pública em Caxias,
apenas o ...
POR ANTÔNIO WERNEK / / /
05/06/2010 0:00 / ATUALIZADO 04/11/2011
18:00
RIO - Em 1975, quando começou a estudar na Escola Municipal Joaquim da
Silva Peçanha, na comunidade da Beira-Mar, em Duque de Caxias, Luiz Fernando da
Costa tinha 8 anos e era um aluno aplicado e participativo. Da 1 à 4 série, não
repetiu de ano, nunca ficou em recuperação e sempre passou com bom desempenho.
Trinta e cinco anos depois, Luiz Fernando virou Fernandinho Beira-Mar, o mais
famoso bandido brasileiro, um traficante e homicida condenado a mais de cem
anos anos de prisão que cumpre pena no presídio federal de Campo Grande, em
Mato Grosso do Sul. Veja o que aconteceu com os colegas de escola do traficante
Basta acompanhar a trajetória dos colegas de turma de Beira-Mar para
derrubar a premissa de que o caminho do crime é a única opção para quem nasce
pobre e favelado. Dos 23 alunos que fizeram juntos as primeiras quatro séries
do atual ensino fundamental na Joaquim da Silva Peçanha, de 1975 a 1978, apenas
Luiz Fernando optou pela vida no crime. O restante driblou a pobreza e as
drogas, e se tornou exemplo de superação entre parentes e amigos.
Nos últimos dois meses, O GLOBO foi em busca dos coleguinhas de escola
do traficante, para contar o que aconteceu com eles três décadas depois.
Encontrou relatos emocionantes de pessoas bem-sucedidas, sobre oportunidades
perdidas e aventuras, exemplos de muita força de vontade para vencer na vida.
Na última semana, na série "O x da questão - Rascunhos do futuro", O
GLOBO olhou para o presente de crianças que estudam em áreas de risco, marcadas
pela violência e pela desigualdade social. Hoje, começa a mostrar o outro lado
da moeda e volta o foco para o passado dentro do mesmo tema: o desafio de levar
educação aonde ela é mais crucial.
Dos 22 amigos que estudaram com Luiz Fernando, um morreu: Jorgemar da
Costa Fróes, ex-soldado da Brigada de Paraquedistas do Exército, faleceu aos 35
anos de insuficiência respiratória e tuberculose no dia 12 de agosto de 2002.
Filho de um tenente do Exército, jogou por terra a carreira militar para viver
de biscates e em rodas de pagode, mas sempre longe do crime e da droga.
Jorginho Mocotó, como os amigos o chamavam, não chegou a passar da 7 série do
ensino fundamental. Está enterrado no Cemitério do Anil, em Duque de Caxias.
Dos
outros, 13 são pessoas bem-sucedidas, mesmo quando desempenham um ofício
relativamente simples: de cortar cabelos a dirigir Kombis. No grupo, também há
suboficial da Aeronáutica, policial militar, marceneiro, mecânico, professores
universitários e frentistas de posto de gasolina. Sete ainda vivem na
comunidade; outros se casaram e deixaram o lugar. A maioria sequer concluiu o
ensino fundamental. Uma professora universitária foi morar nos Estados Unidos.
Tem um PM vivendo no Nordeste e um mecânico trabalhando na Base Aérea de
Anápolis, em Goiás, onde ficam caças supersônicos da Força Aérea Brasileira
(FAB). Oito não foram localizados ou não quiseram falar com o jornal, mas
nenhum deles tem antecedentes criminais.
- Não é porque você nasce e mora numa comunidade carente que você vai
virar bandido. O jovem se torna um criminoso quando ele não tem apoio da
família. Você é o que deseja ser - disse Ivan Guimarães Chiara, hoje com 45
anos, mecânico de manutenção de aviões da TAM no Aeroporto Internacional Tom
Jobim do Rio.Leia a íntegra
desta reportagem em O Globo Digital (somente para assinantes)
fonte: http://oglobo.globo.com/rio/dos-23-alunos-que-estudaram-juntos-ha-mais-de-30-anos-numa-escola-publica-em-caxias-apenas-o-2997879
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