Você vota no horário marcado. Se esquece de votar, vai no prazo ao
Cartório Eleitoral para justificar. Depois das eleições, não mede críticas
quando o governo erra e elogios quando ele parece acertar. Faz pressão
quando uma lei está parada, milita. Bate no peito e repete o mantra: “Nós
colocamos eles lá, nós podemos tirar, nós mandamos neles!”.
Após
seguir rigorosamente as regras da democracia, você espera, claro, que a sua
opinião e a sua pressão tenha algum efeito sobre o governo, afinal, os
políticos devem satisfação a seus eleitores pelo cargo conquistado, não é
mesmo?
Não
é o que a ciência diz.
Um estudo realizado por
pesquisadores das Universidades de Princeton e de Northwestern, nos Estados
Unidos, demonstra que a opinião pública tem um impacto muito pequeno sobre a
política. O impacto é tão pequeno que chega a ser considerado
estatisticamente insignificante.
Foi
assim: primeiro, os pesquisadores fizeram cerca de 2.000 entrevistas e
perguntaram para as pessoas sobre propostas políticas que elas concordavam e
que discordavam. Depois, separaram opiniões em comum e classificaram numa
escala de 0 a 100 qual a aceitação de cada uma das ideias apresentadas na
sociedade.
Essa
estatística foi cruzada com 20 anos de dados sobre medidas que foram aprovadas
no Congresso do país – que mostrou que a opinião de 90% dos eleitores
simplesmente não importava para os políticos. Ideias com aceitação zero tinham
30% de chance de serem aprovadas, enquanto ideias com aprovação próxima dos 100
também tinham uma chance em torno de 30% de passarem.
Mas um grupo, muito bem incluído entre os 10%
restantes, chamou a atenção: suas ideias mais fortes tinham 61% de chance de
serem aprovadas, enquanto as propostas menos aceitas tinham zero chance de se
concretizarem. Estes eram os donos de corporações e grupos da elite do país.
Nos
Estados Unidos, os últimos 5 anos foram marcados por grandes doações de
campanha política que totalizaram US$ 5,8 bilhões, todas elas vindas de 200
grandes corporações, que receberam US$ 4 trilhões em subsídios do governo – um retorno 750 vezes maior que o “investimento”.
No
Brasil não é diferente.
Só
na última eleição, apenas os grandes grupos doaram R$ 500 milhões para as campanhas políticas – metade de todo o valor arrecadado.
Do outro lado da balança, o BNDES desembolsou, entre 2010 e 2014, um montante
total de R$ 529 bilhões só para grandes empresas, boa parte delas envolvidas
com a política de forma direta, seja como doadoras de campanhas ou com laços
familiares.
Detalhe:
com todo esse dinheiro seria possível custear 26 anos de Bolsa Família, dobrar
os investimentos em Segurança Pública, construir 37 milhões de salas de aula ou
construir 37 mil hospitais, cada um deles com capacidade para atender uma
população de 40 mil pessoas.
É
um ciclo vicioso: os candidatos que mais recebem dinheiro conseguem os melhores
recursos para seus doadores, que enriquecem mais e liberam ainda mais dinheiro
na próxima eleição.
E
aqui é importante que se frise – independente da proibição ou liberação de
doações privadas para campanhas, o governo – justamente por não criar
absolutamente nada – precisa manter relações com empresas: seja construtoras
para duplicar estradas ou construir aeroportos, seja fornecedores de material
escolar ou hospitalar, ou ainda outras tantas empresas necessárias para as
inúmeras obras demandadas pelo governo. Como abordamos nessa matéria,
todas as evidências indicam que quanto maior for a área de atuação dos
governos, maior será a percepção de corrupção pela sociedade. Diminuir a
relação dos governos com as grandes empresas não é uma mágica que será feita
com a proibição das doações privadas de campanha – passa essencialmente
pela diminuição das atribuições do Estado brasileiro.
“Uma
[de nossas conclusões] é o fracasso total da [teoria do] “eleitor médio” e de
outras teorias da Democracia Eleitoral Majoritária”, escrevem os pesquisadores.
“Quando preferências da elite econômica e a bandeiras de grupos de interesse
organizado são controladas, as preferências do americano médio representam
apenas um minúsculo impacto sobre as políticas públicas estatisticamente
insignificante, próximo de zero.”
Segundo
um outro estudo da ONG Represent.US, 91% das vezes, o candidato com mais
dinheiro para financiar sua campanha foi
o finalista das eleições distritais nos Estados Unidos, o que é mais um indício
de que as aspirações dos candidatos estão mais direcionadas ao dinheiro do que
ao interesse de seus eleitores – que inconscientemente seguem a trilha da
campanha mais bem feita, como já explicamos
anteriormente nesse texto.
Todas
essas estatísticas se encontram.
Com
eleitores que se importam mais com a aparência do candidato e de sua campanha
do que de suas propostas, é de se esperar que os políticos com maior
financiamento realmente cheguem ao poder, usando os eleitores como escada. Lá
em cima, a última coisa que se pode esperar é que ele olhe para baixo e sinta que
deve algo para seus eleitores, meras peças descartáveis de um jogo publicitáriofonte: http://spotniks.com/a-ciencia-comprova-o-governo-esta-cagando-pra-voce/
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