Política. Você lida com ela todos os
dias. Nos jornais, na internet, nas discussões de trabalho, nos descasos dos
serviços públicos e essencialmente na hora de pagar os impostos. Mesmo que
não goste, mesmo que não entenda, que não se interesse, que não compartilhe
qualquer conteúdo ligado a ela, você não tem como escapar das suas garras.
Num país como o nosso, tão
calejado pela ideia de que a política é um ente de transformação saudável para
a sociedade, não raramente nos decepcionamos, nos indignamos e nos sentimos
agredidos com o descaso e o despreparo dos homens públicos – especialmente
quando esperamos que as respostas estejam nos partidos, nos políticos, nas
regulações, no governo.
Passa ano, entra ano, são obras que
nunca chegam, melhorias que pouco avançam, dinheiro que muito some. Em nome de
toda essa dor, reunimos dez fatos absolutamente depressivos sobre a
política brasileira.
Mas antes de ler, uma dica: um bom
psicólogo é indicado ao final da leitura. E já adiantamos:
provavelmente não será o bastante.
1) Paulo Maluf já recebeu quase 50 milhões de votos
em sua carreira como político.
Pois é, parece inacreditável imaginar,
mas Paulo Maluf já recebeu quase 50 milhões de votos em sua carreira.
Preparou a calculadora? Vamos lá.
Em 1983, Maluf participou de sua
primeira eleição direta para o Congresso Federal: recebeu 672.927 votos e foi o
deputado mais votado do país. Em 1988, na disputa para a prefeitura de São
Paulo, viu a petista Luíza Erundina assumir a vaga – mas, ainda assim, recebeu
1.257.480 votos. No ano seguinte, Maluf arriscou uma candidatura na primeira
eleição presidencial desde o golpe militar: ficou em 5º lugar,
com 5.986.575 votos. Após a experiência, tentou a disputa para o governo
de São Paulo no ano seguinte, mas viu a cadeira ser ocupada por Luís
Antônio Fleury Filho, do PMDB – Maluf recebeu 5.872.473 votos no primeiro
turno e 4.302.741 votos no segundo. Em 1992, venceu sua primeira eleição
direta para a prefeitura de São Paulo, contra o petista Eduardo Suplicy,
abocanhando 2.036.776 votos no primeiro turno e 2.805.201 votos no
segundo. Em 1998, tentou novamente o governo de São Paulo, mas perdeu a vaga
para o tucano Mário Covas – ainda assim, recebeu 5.351.026 votos no
primeiro turno e 7.900.598 votos no segundo. Dois anos depois, fracassaria
novamente, dessa vez na corrida à prefeitura de São Paulo, para a petista Marta
Suplicy – Maluf ganhou 960.581 votos no primeiro turno e 2.303.623
votos no segundo. Em 2002, uma nova derrota, dessa vez para o governo de São
Paulo, e sem chance de segundo turno – recebeu 4.190.706 votos e viu Alckmin
vencer a disputa no segundo turno contra José Genoíno. Em 2004, mais uma
tentativa frustrada na corrida à prefeitura de São Paulo, e mais uma vez
Maluf ficou fora do segundo turno – recebeu apenas 734.580 votos. Dois
anos depois, se tornou o deputado federal mais votado do país, com 739.827
votos. Em 2008, arriscaria sua última corrida a um cargo executivo, numa nova
disputa pela prefeitura de São Paulo – recebeu pífios 376.734 votos,
amargando a 4ª colocação. Em 2010, foi eleito deputado federal com 497.203
votos. E em 2014, mesmo com a candidatura indeferida, seus derradeiros 250.281
votos para a mesma vaga de deputado.
Total? Inacreditáveis 46.239.332 votos.
Alguém mais aqui sente um pouco de
vergonha por esses números?
2) Gasto anual com corrupção no Brasil poderia
comprar 600 milhões de cestas básicas ou construir mais de 14 milhões de salas
de aula.
Segundo dados
divulgados pelo Pnud (Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento), nossos políticos desviam por ano mais de
R$ 200 bilhões.
Não tem noção de quanto é isso tudo? A
gente ajuda – o dinheiro seria suficiente para comprar 600 milhões de cestas
básicas ou construir mais de 14 milhões de salas de aula.
E o roubo não para. Enquanto você lê
esse texto, mais de R$ 380 mil foram desviados (e não adianta tentar proteger a
carteira).
3) Nossos governantes já tomaram R$7,83 trilhões em
impostos nos últimos 5 anos.
Na vida só há 2 certezas: morrer e
pagar impostos. E por aqui, isso faz mais sentido do que qualquer outra
coisa. Apenas nos últimos 5 anos, os brasileiros já mandaram quase R$ 8
trilhões para os governantes em impostos. Foram R$ 1,27 trilhão em 2010, R$ 1,5 trilhão em 2011, R$ 1,56 trilhão em 2012, R$ 1,7 trilhão em 2013 e R$ 1,8 trilhão em 2014. É trilhão que não acaba mais.
E sai tudo do nosso bolso.
4) O que o Congresso gasta em um dia pagaria um ano
de estudos de 10 mil alunos do ensino médio.
Um estudo realizado pela ONU em 2013
revelou que, considerando-se a paridade de poder de compra, o custo de cada
congressista brasileiro é o segundo mais caro do mundo. Nós
perdemos apenas para os Estados Unidos. Mas não se sinta triste com a
derrota – ainda estamos na frente de 108 países no ranking.
Segundo os autores da pesquisa,
desenvolvida em parceria com a União Interparlamentar dos Estados Unidos, o
brasileiro carrega um fardo equivalente a US$ 7,4 milhões todos os anos para
cada um dos 594 parlamentares em exercício. Já nos Estados Unidos, país com um
uma renda per capita 3,7 vezes maior que a brasileira, cada assento do
congresso custa 9,6 milhões de dólares por ano.
Quer saber quanto custa um político no
Brasil? Não deixe de ler essa matéria.
5) Nossos 4 ex-presidentes (Sarney, Collor, FHC e
Lula) custam R$3 milhões por ano aos brasileiros.
É, isso mesmo que você leu. Nossos
ex-presidentes ainda nos geram gastos. Cada um deles tem direito a 8 assessores,
2 veículos oficiais, seguranças, combustível e outros pagamentos, totalizando
gastos estimados entre R$ 500 mil e 760 mil. No total, os quatro ex-presidentes
vivos, incluindo o ex-presidente Collor, que renunciou ao cargo sob ameaça de
impeachment, somam gastos da ordem dos R$ 3 milhões todos os anos. E essa
grana, mais uma vez, sai do nosso bolso.
6) Não basta ter que assistir Levy Fidelix nos
debates: também somos obrigados a dar R$431 mil por mês para ele.
Levy Fidelix, o candidato nanico do
PRTB nas últimas eleições presidenciais, provocou uma onda de protestos ao
afirmar, durante um debate nas últimas eleições, que os gays precisam de
“atendimento psicológico e bem longe da gente” porque, segundo ele, “aparelho
excretor não reproduz”. Mas, caso você não seja homofóbico, há um motivo ainda
mais forte para se indignar. Todos os brasileiros – até mesmo os gays e os
contrários à discriminação sexual – são obrigados a bancar a ação política de
Fidelix e de todos os outros partidos brasileiros. Como escreveu Leandro
Narloch para a nossa página no ano passado.
“Por causa da fonte segura de recursos,
os nanicos se tornaram patrimônios que dificilmente mudam de mãos. Levy fundou
o PRTB em 1992 e desde então se mantém como presidente. Quando o “dono” de um
partido nanico morre, a propriedade costuma ficar em família. O Partido
Republicano Progressista (PRP), por exemplo, foi dirigido por mais de uma
década por Dirceu Gonçalves Resende. Com sua morte, em 2003, o partido passou
para o filho. O PTN, Partido Trabalhista Nacional, passou do ex-deputado
Dorival de Abreu, para seu irmão, José Maschi de Abreu. Pode parecer ridículo,
mas ter um partido nanico é um bom negócio no Brasil.”
Em 2014, o PRTB, partido que conta
apenas com um único deputado federal, levou a bolada de R$1,321 milhão para a
casa. Mas o cenário mudou no início desse ano, quando o governo anunciou um aumento de mais de 600% do repasse do fundo partidário às siglas nanicas. Em 2015, o
partido de Fidelix levará R$ 5,176 milhões. E aqui você já deve ter
entendido, mas nunca é demais repetir: tudo do nosso bolso.
7) O PSTU dá lucro. Partido fechou 2014 com um
superávit de R$65 mil.
Até o Partido Socialista dos
Trabalhadores Unificado, o PSTU, partido do “contra burguês, vote 16″, dá lucro. O partidofechou 2014 com um superávit de R$65.816,95. O PSDB, por outro lado, terminou o ano devendo mais de R$7 milhões.
Nós já elegemos animais. Começou em São Paulo, nos idos de 50,
numa época em que a eleição ainda era realizada com cédulas de papel. Como
forma de protesto (pois é, parece que a população já andava na bronca com os
políticos naquela época), 100 mil eleitores votaram no Rinoceronte Cacareco para vereador de São Paulo, em outubro de 1959. O
animal foi o candidato mais votado do pleito (o partido mais votado não
chegou a 95 mil votos). Cacareco ganhou destaque na imprensa após ser
emprestado por seis meses pelo Rio de Janeiro para a inauguração do Zoológico
de São Paulo. Do estrelato às urnas foi um pulo.
Décadas
depois, nos idos de 80, o jornal “O Planeta Diário” e a revista “Casseta
Popular” – da trupe que fundaria o Casseta & Planeta – lançaram no
Zoológico do Rio de Janeiro, a candidatura do chimpanzé Tião à Prefeitura da
cidade. Estima-se que o Macaco Tião tenha “recebido” mais de 400
mil dos votos dos eleitores, alcançando o que seria equivalente ao
3º lugar na corrida, de um total de 12 candidatos. O feito colocou
Tião no Guinness World Records como o chimpanzé que recebeu o maior número
de votos no mundo, todos devidamente anulados pelo TRE.
Ainda
nos anos 80, com um surto de dengue na cidade de Vila Velha, no Espírito
Santo, moradores encontraram um jeito irreverente de protestar contra as
autoridades: votando em massa num mosquito para o cargo de prefeito. Ao
todo, “mosquito” foi escrito por 29.668 eleitores nas cédulas
eleitorais – enquanto seus principais adversários, humanos,
receberam 26.633 e 19.609 votos, respectivamente. Todos os votos para o
mosquito também foram anulados. De qualquer forma, com um tempo de vida médio
que não ultrapassa os 45 dias, não haveria a menor possibilidade dele
permanecer vivo até a cerimônia de posse.
9) 6 em cada 10 senadores brasileiros têm parentes na política.
Os brasileiros cada vez menos elegem candidatos e cada vez mais
coroam dinastias. Segundo um levantamentodivulgado pela organização Transparência Brasil, 49% dos
deputados e 60% dos senadores eleitos, em 2014, têm parentes na política. Ou
seja, 6 em cada 10 senadores integram de alguma maneira um clã político. O
estudo mostra também que entre os novos deputados federais com menos de 35
anos, 85% deles pertencem a famílias que já têm atuação política. Política
definitivamente virou negócio de pai pra filho. Como a máfia.
10) Nas eleições de 2012, se fosse
possível transformar todos os santinhos fabricados no país daria
para produzir mais de 20 milhões de livros, ou mais de 20 bilhões de
folhas tamanho A4.
Nas últimas eleições municipais, de 2012, um juiz auxiliar do Tribunal Superior Eleitoral, Paulo de Tarso Tamburini,fez as contas de quanto se gasta com a propaganda eleitoral impressa no Brasil e chegou a uma conclusão acachapante: se fosse possível gastar todo dinheiro investido pelos partidos em propagandas impressas, seria possível produzir mais de 20 milhões de livros ou mais de 20 bilhões de folhas tamanho A4. Ou, ainda, a 417 mil árvores cortadas.
Nas eleições de 2014, só no Rio de Janeiro, a política gerou mais de 350 toneladas de lixo eleitoral.
Com tudo isso, não é possível chegar em outra conclusão: a capacidade para a produção de lixo na política brasileira é realmente inesgotável.
fonte: http://spotniks.com/10-fatos-absolutamente-deprimentes-sobre-a-politica-brasileira/
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