Não: as pessoas devem ter a
liberdade de defender mesmo as ideologias totalitárias mais repugnantes. Mas é
incoerente proibir o nazismo e permitir o comunismo
O parlamento da Ucrânia
aprovou na semana passada uma lei proibindo a existência de partidos
comunistas. A lei atingiu três partidos do país, que não poderão disputar
eleições e divulgar ideias ou símbolos. Basta lembrar que o Holodomor, o
genocídio ucraniano causado por Stalin, matou mais gente e em menos tempo que
os campos de concentração nazistas, para entender o ressentimento dos
ucranianos com o comunismo.
Deveríamos ter uma lei
semelhante no Brasil?
Como liberal, adepto da
livre circulação de ideias, pessoas e coisas, eu tendo a achar que não. As
pessoas devem ser livres para tomar as atitudes mais absurdas e disparatas,
seja defender uma ideologia totalitária, divulgar o criacionismo ou assistir a
uma peça do Teatro Oficina.
O problema é que esse
raciocínio também vale para o nazismo. Se o critério é a liberdade a ideologias
totalitárias, é incoerente permitir o comunismo e proibir o nazismo. Ou se
permite ou se proíbe os dois.
Um comunista atual
poderia argumentar que prega um comunismo democrático, bem distante das
experiências totalitárias do passado. No Maranhão, por exemplo, o PCdoB ganhou
a eleição para o governo local prometendo levar mais capitalismo para o estado.
Mas, de novo, esse raciocínio também vale para o nazismo. Se um skinhead afirmasse
pregar um nazismo democrático, ou criasse o Partido Nazismo e Liberdade (PNOL),
recusando os métodos de Hitler para optar por uma via cor-de-rosa da
ideologia, deveria ser autorizado a pregar suas ideias?
A nova lei ucraniana
acredita que não. Resolveu a incoerência adotando a proibição irrestrita. Veta
“regimes totalitários comunistas e nacional-socialistas em geral”.
Os Estados Unidos adotam
a posição oposta – permitem ambos. Partidos nazistas americanos têm até página
oficial e de vez em quando arranjam confusão com os grupos comunistas.
Fico do lado dos
americanos – não só pela defesa da liberdade, mas por acreditar que a próxima
onda de intolerância não virá em forma de comunismo ou nazismo, e sim com uma
roupagem de sustentabilidade ou cidadania coletiva.
O fato é que a lei
brasileira é contraditória. Proíbe uma ideologia totalitária, mas permite
outra. Duas semanas atrás, Mauro Iazi, militante do PCB, disse
que é preciso dar aos conservadores “um bom paredão, na frente de uma boa
espingarda” e “uma boa cova”. Foi aplaudido pela plateia. Saiu do evento em
liberdade.
@lnarloch
fonte: http://veja.abril.com.br/blog/cacador-de-mitos/politica/a-ucrania-acaba-de-proibir-partidos-comunistas-o-brasil-deveria-seguir-o-exemplo/
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