O Diário do Comércio voltou a
mostrar aos concorrentes, nesta quinta-feira, como se faz uma primeira
página. AGORA, LULINCOLN DA SILVA, resume a manchete principal,
ilustrada pela fotomontagem que coroa a cabeça do palanque ambulante com
uma superlativa cartola ─ marca registrada do estadista que aboliu a
escravidão e impediu o esfacelamento dos Estados Unidos. Subtítulo: A
boa notícia é que Lula está ‘lendo muito’ (convidados da festa de 30
anos da CUT gargalharam, ao ouvi-lo’). A ruim é que ele agora encarna o
presidente Abraham Lincoln.
O diário dirigido pelo jornalista Moisés Rabinovici complementa a aula com a segunda manchete: Veja o PT censurando o cartaz do Mensalão.
Na foto ao lado, dois funcionários do partido carregam para os porões
do Congresso um painel, instalado pela oposição, que lembra a grande
roubalheira descoberta em 2005. Compreensivelmente, o ano foi excluído
da exposição em que o PT festeja as proezas que jura ter protagonizado
desde o nascimento em 1980.
As duas notícias ficaram fora das primeiras páginas do Estadão, da Folha e do Globo.
Os três maiores jornais do país confinaram em espaços mofinos ─ e, pior
ainda, trataram como se fossem coisa séria ─ duas brasileirices
singularíssimas. Mesmo no País do Carnaval, não é todo dia que um surto
de megalomania faz um chefe de seita enxergar Abraham Lincoln quando se
olha no espelho. Nem pode ser reduzido a irrelevância rotineira o roubo
de um painel que denuncia o sumiço de um ano inteiro.
São fatos que merecem manchete. E merecem o tratamento sarcástico que ilumina a primeira página do Diário do Comércio.
Os vigaristas que debocham do Brasil decente reagem a acusações
gravíssimas e denúncias de grosso calibre como se fossem confrontados
com a previsão do tempo. Só se sentem atingidos no fígado quando o
calibre da bala é engrossado pela ironia impiedosa.
Editores de jornais vivem se queixando da
falta de leitores. Como demonstra o confronto das primeiras páginas
desta quinta-feira, o que falta é argúcia, independência intelectual,
coragem e talento.
fonte:Coluna do Augusto Nunes
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