Morangos a R$49,90, bolos a R$120,00, moqueca de camarão a R$119,90, chope a R$10,00… Esses são alguns dos preços de produtos vendidos no Rio de Janeiro a preços altíssimos, segundo a página “Rio $urreal”. A escalada de preços não ocorre apenas no Rio, mas em todo o Brasil e afeta outros setores da economia, como o imobiliário por exemplo.
Muitos podem afirmar que a culpa é dos donos de bares, restaurantes, etc. que são gananciosos e querem aumentar seus lucros. Outros afirmam que é por conta da Copa e das Olimpíadas, enquanto outros dizem que a culpa é da pesada carga tributária.
Segundo texto do economista Edmar Bacha, os preços $urreais deveriam ser combatidos através de uma reforma tributária que unificasse os inúmeros impostos (ICMS, IPI…) em apenas um, assim como ocorre nas nações europeias. Somado a isso, os gastos públicos deveriam ser controlados.
A pouca integração econômica do Brasil às cadeias de produção internacional faz com que a margem de lucro dos empresários seja altíssima, uma vez que, com a política de conteúdo nacional, os produtores ficam restritos aos insumos locais, o que eleva o preço do produto final assim como a sua qualidade, pois não podem importar insumos de outros países (com um preço menor e qualidade superior ao nacional).
As observações de Bacha são verdadeiras e, de fato, fazem com que o preço dos produtos seja alto no Brasil. Ainda assim, ele falou pouco de um ponto crucial para compreender essa escalada $urreal de preços: os gastos públicos. Além dos gastos, políticas econômicas que visam aquecer a economia via aumento da demanda (sem que haja aumento da poupança). No final, toda essa intervenção estatal na economia gera inflação, que tem como consequência o aumento dos preços. Mas como isso ocorre?
Primeiramente é necessário entender que inflação não a mesma coisa que o aumento de preços. Inflação é o aumento da quantidade de moeda na economia, sendo o aumento de preços uma consequência da inflação e não a causa da mesma. Essa confusão semântica engana não apenas economistas, mas a maior parte da população. Com a definição de inflação correta, podemos seguir. Mas como o governo brasileiro aumentou a quantidade de moeda na economia?
Em 2009, a economia brasileira havia encolhido 0,3%. Com um PIB muito fraco em relação aos resultados alcançados nos anos anteriores, o governo viu na demanda uma maneira de reverter aquele quadro e ainda dar respaldo ao PT, que queria eleger Dilma presidente em 2010.
O crédito para a compra de imóveis e carros cresceu assustadoramente e passou a ser concedido em larga escala pela Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, a taxas bastante acessíveis e prazos melhores que os dos bancos privados. Somado a isso, impostos foram reduzidos sobre os veículos e eletrodomésticos da linha branca, fazendo com que o preço destes caísse e se tornasse mais acessível. Os brasileiros foram às compras, mas existe um problema nisso tudo.
Todo o dinheiro emprestado aos brasileiros nesse período não possuía lastro, uma vez que não possuía correspondente com o dinheiro físico dos cofres públicos. É o que os economistas chamam de meios fiduciários que atualmente representam boa parte da oferta monetária do Brasil. Além disso, o governo reduziu o compulsório, que nada mais é do que uma quantidade de dinheiro que os bancos são obrigados a depositar junto ao Banco Central, fazendo com que mais dinheiro fosse liberado para ser emprestado.
Com “mais dinheiro” nas mãos, o consumo brasileiro cresceu substancialmente. Os produtores, sentindo esse aumento da demanda, passaram a investir mais, comprando mais maquinário, ampliando as fábricas, contratando mais pessoal e, consequentemente, aumentando os preços dos seus produtos.
Um exemplo bastante simples do filósofo escocês David Hume (1711-1776) pode ajudar a compreender a inflação. Vamos imaginar que, amanhã quando acordarmos, nossa renda será duplicada. Consequentemente, os preços também serão dobrados, uma vez que não houve produção de fato que justificasse o aumento do poder aquisitivo. O que ocorreu foi apenas uma “mágica”.
A euforia (ou boom) criada pelo consumo turbinado pela emissão de moeda não é real e é altamente perigosa, principalmente em longo prazo. Isso porque, o que define os juros da economia é a taxa SELIC, que sofreu fortes quedas até chegar a 8,75%, em 2009. A mesma se manteve estável nesse nível para que a euforia não acabasse. Entretanto, em 2010 a SELIC voltou a ser elevada pelo Banco Central, acabando com a festa dos consumidores brasileiros, pois o custo de pegar dinheiro emprestado aumentou.
O resultado disso foi que, em 2011, o Brasil cresceu apenas 2,7%,a inadimplência começou a crescer, assim como a inflação (IPCA) que cresceu 6,5% naquele ano. Ocorreu o que chamamos de bust,quando os consumidores não conseguem mais pagar pelos produtos que consumiram e os produtores percebem que os investimentos feitos durante a época do boom possuíam bases de areia, de meios fiduciários.
Em 2011, entretanto, o governo utilizou a mesma receita para tentar reaquecer a economia, uma vez que o PIB havia crescido apenas 2,7%. Em 2012, a SELIC chegou a 9%, possibilitando um novo ciclo de boom ebust. Entretanto, a população brasileira já estava tão endividada, devido aos excessos que a expansão monetária encabeçada pelos bancos públicos e pelo BC não surtiu tanto efeito no PIB, que cresceu apenas 0,9% (o famoso “pibinho”). Seria o fim do ciclo de juros de um dígito, uma vez que o governo desistiu da receita de crescimento através da expansão da demanda.
O resultado dessas injeções de dinheiro sem lastro no sistema foi a perda de valor do real, devido ao aumento crescente da inflação. Segundo notícia pública no site UOL Economia, a inflação acumulada desde a implementação do real (01/07/1994) até os dias atuais foi de aproximadamente 347,51%. Dessa forma, um produto que valia R$1,00, hoje vale R$4,47. Antigamente, as notas de 100 (muito difíceis de serem vistas nas mãos da população em geral), perdeu 77,65% do seu valor e hoje, o que R$100,00 compravam em 1994, hoje só podem comprar R$22,35.
É exatamente por isso que os preços estão $urreais. O governo emitiu tanta moeda sem lastro que fez com que o real perdesse valor e tudo isso em prol de mais votos. No final, os consumidores mais pobres é que sofrem mais com a inflação, uma vez que o preço de produtos básicos também sobe.
Portanto, ao se deparar com preços abusivos nos estabelecimentos comerciais de sua cidade, não tenha raiva do dono do local. Ele até pode estar cobrando um preço injusto, ainda assim, o governo também possui uma (enorme) parcela de culpa sobre aquele preço abusivo, devido a suas políticas econômicas $urreais.
Até o jogo da quina foi inflacionado pela CEF: 5 dezenas era R$ 0,75 e passou para R$ 1,00 aumento de mais de 30% e ninguém disse nada.
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