Só a líder de mercado, a Via
Varejo, dona das marcas Casas Bahia e Ponto Frio, cortou 11 mil trabalhadores
de janeiro a setembro.
Depois do boom do consumo de eletrodomésticos e móveis entre
2008 e 2012, a ressaca bateu forte este ano no setor. Sem os embalos do crédito
farto, juros baixos e programas de incentivos fiscais do governo, as vendas
desabaram e fizeram o varejo cortar cerca de 40 mil postos de trabalho neste
ano até setembro. É quase quatro vezes o total das vagas eliminadas pela
indústria automobilística no mesmo período (10,9 mil).
Só a
líder de mercado, a Via Varejo, dona das marcas Casas Bahia e Ponto Frio,
cortou 11 mil trabalhadores. Magazine Luíza e Máquina de Vendas, segunda e
terceira no ranking, respectivamente, por enquanto, decidiram não repor as
vagas de quem saiu da empresa. E não descartam a possibilidade de demitir nos
próximos meses, apurou a reportagem.
A falta
de confiança do consumidor afeta especialmente a venda de itens de maior valor
e deve levar o comércio varejista este ano para o pior desempenho desde 2000,
prevê o economista da Confederação Nacional do Comércio, Fabio Bentes (CNC).
Esse movimento já é nítido no último resultado da Pesquisa Mensal de Comércio,
do IBGE. As vendas em 12 meses até setembro do varejo como um todo caíram 6%.
No ano, recuaram 7,4%.
Depois
das concessionárias de veículos, as lojas de eletrodomésticos e móveis foram as
que tiveram o pior desempenho. As vendas desse setor caíram 13% no ano até
setembro, e 9,6% em 12 meses. "A compra de eletroeletrônicos e móveis não
é por impulso. A crise de confiança do consumidor e o medo de desemprego
afastam a clientela", diz Guilherme Assis, analista de varejo do banco
Brasil Plural.
Se as
grandes do setor sentiram o baque, as redes menores, mesmo as mais relevantes
nos mercados regionais, não tinham como ficar imunes. A Eletro Zema e a
Eletrosom (em recuperação judicial), por exemplo, que têm presença no interior
de Minas Gerais, fecharam 17 e 36 pontos de venda, respectivamente. A Darom, de
Arapongas (PR), também em recuperação judicial, fechou duas unidades; e a
Cybelar, no interior de São Paulo, deve encerrar o ano com dez lojas a menos.
"O
número de lojas fechadas este ano até setembro é quase o triplo do que o
registrado no ano passado inteiro", afirma o economista da CNC. Nos
primeiros nove meses deste ano, 4.317 lojas de eletrodomésticos e móveis
encerraram as atividades no país. No ano inteiro de 2014, foram fechados 1.503
pontos de venda, segundo Bentes.
Para
chegar a esses números, o economista cruzou os dados de lojas informantes do
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) com o total de
funcionários que tinha no período. As lojas de eletrodomésticos e móveis
deixaram de informar o número de empregados para o Caged porque fecharam as
portas ou foram para informalidade.
Crédito - Outra
dificuldade enfrentada por essas redes é a escassez de crédito, tanto para os
clientes como para financiar suas compras com a indústria. "A falta de
crédito está penalizando as varejistas pelos dois lados", diz Eduardo
Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo. Atraídos pelo
rendimento dos títulos do governo praticamente sem risco, os bancos não estão
renovando financiamentos de capital de giro para as varejistas.
Diante
da falta de recursos, as redes estão se financiando com os fornecedores. Elas
buscam prazo mais longos de pagamento e operações de crédito para compra de
mercadorias nas quais a indústria entra como avalista do empréstimo obtido no
banco. A operação, conhecida como Vendor, era comum nos anos 80, quando o
crédito era escasso. Em setembro, segundo o Banco Central, as operações de
Vendor atingiram R$ 1,8 bilhão, alta de 34,3% ante agosto.
A
reportagem apurou que as varejistas estão negociando prazos maiores para pagar
fornecedores. "Qualquer cinco dias a mais é lucro. É mais dinheiro em
caixa", diz um gestor de uma gigante do setor. Fontes da indústria
confirmaram que o pedido de maior prazo é generalizado entre as redes e que a
prática do Vendor foi retomada.
Com
perspectivas de um Natal magro e a economia fraca, varejistas admitem que um
movimento de consolidação está a caminho em 2016. "A consolidação vai
acontecer e será positiva", diz uma fonte do mercado.
(Com Estadão Conteúdo)
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