O Brasil está se tornando um país tão exótico, tão fora do eixo — não aquele de Pablo Capilé, o contestador chapa-branca, financiado por estatais —, tão perdido que trabalhadores são obrigados a praticar atos de vandalismo para poder trabalhar. Como sabem os leitores de São Paulo e de todo o Brasil, os funcionários do metrô, sob a liderança de Altino Prazeres, um sindicalista ligado ao PSTU, estão em greve. Como sempre acontece nesses casos, instala-se o caos na cidade.
Na estação Itaquera, aconteceu um fato espetacular. Os portões amanheceram trancados. Acontece que eles dão acesso também à estação da CPTM, dos trens. Impedir o usuário de entrar na estação significa deixá-lo também sem o trem. Pois bem: aqueles que queriam trabalhar não tiveram dúvida: arrebentaram o portão e entraram.
Vocês sabem o que penso sobre vândalos: o lugar deles é a cadeia. Ocorre que não vejo, nesse caso, um ato de vandalismo, mas de resistência. “Queremos trabalhar, queremos trabalhar”, gritavam esses usuários. A linha chegou a ser invadida, exigindo que as composições parassem.
Trata-se de uma greve vergonhosa, escancaradamente política, oportunista! O governo concedeu aos metroviários um reajuste de 8,7% para uma inflação, no período, de 5,2%. Isso significa aumento real de salário. Mas não só isso: o vale-alimentação passou de R$ 247 para R$ 290. O valor é pago também no 13º, como cesta de Natal. O vale-refeição, que é outra coisa, passou de R$ 615 para R$ 670, e isso é pago integralmente pelo metrô. Há ainda a creche para crianças de até sete anos, que pode ser reivindicada também pelos pais, não só pelas mães: o desembolso com esse serviço passou de R$ 532 para R$ 579. De 2011 até agora, considerada a data-base dos funcionários do metrô, a inflação foi de 21,11%, e o reajuste dos salários, de 30,87%, sem contar esses benefícios sociais.
A soma do vale-refeição com o vale-alimentação chega a R$ 960. O salário mínimo no país é de R$ 724. No caso dos quem têm um filho em creche, o valor do desembolso do Metrô alcança R$ 1.492, mais do que dois salários mínimos. Trata-se de uma greve moralmente criminosa e escancaradamente ilegal porque não está sendo cumprida a determinação da Justiça de manter 100% do serviço nos horários de pico.
É preciso pensar em formas permanentes de a população não se tornar refém de sindicalistas celerados e oportunistas. Ando cá tendo algumas ideias. Tratarei disso nos próximos dias. E só para arrematar: o cotidiano dos usuários do metrô e o seu próprio cotidiano, leitor, ainda que você não use esse serviço, só se transformaram num inferno porque o sindicalismo e os ditos movimentos sociais não reconhecem os limites da democracia. E só não os reconhecem porque os poderosos de plantão têm essa mesma origem. Ou a presidente Dilma não baixou um decreto que faz essa gente ser sócia do poder sem nem precisar disputar eleições?
Daqui a pouco começa uma audiência de conciliação. Caso não se chegue a um acordo, a legalidade do movimento será julgada nesta sexta, às 14h30. Se, como deve ser, a paralisação for considerada ilegal, o Metrô tem de começar a oferecer o caminho da rua para os chantagistas que se acoitam no metrô para chantagear os trabalhadores, mesmo estando com a pança cheia.
fonte: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/o-dia-em-que-trabalhadores-arrombaram-o-portao-do-metro-para-trabalhar-e-gritaram-palavras-de-ordem-contra-a-greve-ou-os-pancudos-que-recebem-mais-de-um-salario-minimo-so-em-beneficios-as/
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