segunda-feira, 4 de agosto de 2014

IDH do Brasil: vergonha, que falta à classe política


Publicado por Avante Brasil - 6 dias atrás
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O Brasil subiu apenas um degrau, em 2013, no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano, que mede a qualidade de vida das pessoas (educação, expectativa de vida e renda). Ocupamos agora o 79º lugar, dentre 187 países, de acordo com o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). O portal UOL, didaticamente, produziu o seguinte quadro:
Há um pequeno equívoco (nesses números), que deve ser esclarecido: o baixo desenvolvimento vai de 0,000 a 0,549 (não 0,449, como consta). O Brasilaparece (em 2013) no terceiro grupo (desenvolvimento alto), com índice de 0,744. Em 1980, nosso indicador era de 0,545 (desenvolvimento médio). Avançamos, mas a passos de tartaruga, que deveriam corar de vergonha as elites que governam (ou que já governaram) o Brasil. Foi a vergonha (veja Appiah 2012: 21 e ss.) que historicamente matou o duelo (tão corriqueiro nos séculos XVII-XVIII), que libertou os pés das chinesas do grupo han (pés que antigamente eram cruelmente amarrados), que colocou fim na imoral escravidão (sendo o Brasil o último a fazer isso, em 1888) e é precisamente a vergonha que falta às lideranças nacionais, especialmente as políticas (feitas as devidas ressalvas), que sempre preferiram as disputas e objetivos rasteiros ligados ao exercício do poder, em detrimento dos interesses comuns da nação.
Sabemos produzir riqueza (7ª economia do mundo), mas somos deploravelmente miseráveis na sua distribuição (nos anos 80, nosso aumento médio do IDH foi de apenas 1,16% por ano, ritmo que diminuiu para 1,10% nos anos 90; entre 2000 e 2013, o acréscimo foi de 0,67% e, desde 2008, o Brasil perdeu quatro posições, enquanto a China avançou dez – Globo 25/7/14: 17). Este fenômeno ocorre porque as classes e elites dominantes no Brasil são maravilhosas e operosas para produzirem aquilo que lhes interessa, mas muito pobres em suas crenças, tradições e preceitos éticos e morais. Com uma ou outra ressalva, ao longo da nossa história, o corrente é a produção de administradorespúblicos que não têm a mínima noção do que é a res pública, confundindo-a com os bens e interesses particulares (padecemos da chaga chamada patrimonialismo).
No Brasil, bem explica S. B. De Holanda (1995: 145), “onde imperou, desde tempos remotos, o tipo primitivo da família patriarcal, o desenvolvimento da urbanização – que não resulta unicamente do crescimento das cidades, mas também do crescimento dos meios de comunicação, atraindo vastas áreas rurais para a esfera de influência das cidades – ia acarretar um desequilíbrio social, cujos efeitos permanecem vivos ainda hoje. Não era fácil aos detentores das posições públicas de responsabilidade, formados por tal ambiente, compreenderem a distinção fundamental entre os domínios do privado e do público. Assim, eles se caracterizam justamente pelo que separa o funcionário ‘patrimonial’ do puro burocrata conforme a definição de Max Weber. Para o funcionário ‘patrimonial’, a própria gestão política apresenta-se como assunto de seu interesse particular; as funções, os empregos e os benefícios que deles aufere relacionam-se a direitos pessoais do funcionário e não a interesses objetivos, como sucede no verdadeiro Estado burocrático”.
Na administração pública eletiva no Brasil, em lugar de prevalecerem o conhecimento e as especializações assim como o esforço para se assegurarem as garantias jurídicas dos cidadãos igualitariamente, o que vemos (em geral) é a raridade do político genial, exemplar, cumpridor dos seus deveres públicos. Precisamente em razão da escassez, não há como não reconhecer que esses excepcionais jamais conseguiram elevar o nível médio da produção marcada pela vulgaridade e falta de exemplaridade. Enquanto formos regidos por uma elite pouco comprometida com o futuro da nação (em matéria de educação, desde logo), não há como esperar mudanças significativas na nossa qualidade de vida (ou seja: no nosso IDH). Cada país tem sua história e sua realidade, mas enquanto não copiarmos nações hoje prósperas como a Coreia do Sul (15º lugar no IDH) que, na década de 60, mais miserável que o Brasil, fez uma decidida opção pela educação, não vamos deixar para a história a vergonha que nos invade.
Os governantes e políticos brasileiros, em termos de exemplaridade, poucas vezes se destacaram e isso decorre da falta de nobreza de vida (pública e privada). É impressionante a capacidade míope e rasteira das nossas elites, cujo padrão de comportamento muito se assemelha ao que faz a massa, que se caracteriza pela anonimidade (Ortega y Gasset 2014: 122), não pela excelência. A massa (independentemente da classe social que a integra) é anônima, vulgar, pouco dedicada à vida nobre e moralmente reta, que é extremamente exigente (por isso que custa muito adotá-la como estilo de vida).
Seguindo Ortega y Gasset (com as modificações necessárias), basta comparar o conjunto da nossa história (colonialista, teocrática, autoritária, selvagem, ignorante, parasitária e desigualitária) com as histórias dos países nobremente vencedores (os da Escandinávia, por exemplo; alguns asiáticos, como a Coreia do Sul, que ocupam as primeiras posições no ranking do IDH) e veremos que salta à vista o caráter anônimo do nosso passado (e presente) quando contrastado com a fértil visão de avanço comunitário (não patrimonialista, nem patriarcal) de incontáveis personalidades distinguidas que fizeram o progresso das suas nações. É a qualidade das elites governantes que eleva o país, que lhe confere prosperidade e respeito, que faz a melhoria da qualidade de vida de todos, sobretudo a partir de um sistema educacional pujante e invejável. Nada disso está no horizonte das nossas moralmente vulgares autoridades, com raríssimas exceções. A possibilidade de reeleição conta como fator de perpetuação não do exemplar, sim, do vulgar, do corrompido, do nepotista, do clientelista, que passa anos da sua vida pública trampolinando aqui e acolá, para a preservação das suasmordomias e privilégios.



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