terça-feira, 12 de janeiro de 2016

AS PROVAS -Delator entrega registro de hotel para comprovar reunião com Palocci , Fernando Baiano apresentou à Lava Jato documento que confirma que ele esteve em Brasília, em 2010, quando ex-ministro teria pedido R$ 2 milhões a ex-diretor da Petrobrás para campanha de Dilma

POR RICARDO BRANDT, JULIA AFFONSO E FAUSTO MACEDO
12/01/2016, 16h003
Fernando Baiano apresentou à Lava Jato documento que confirma que ele esteve em Brasília, em 2010, quando ex-ministro teria pedido R$ 2 milhões a ex-diretor da Petrobrás para campanha de Dilma







Palocci entre os delatores Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás, e o operador de propinas Fernando Baiano, à direita
O operador de propinas Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, entregou à Polícia Federal cópia dos registros de entrada e saída do hotel em que se hospedou em Brasília, em junho de 2010, ocasião que teria participado de reunião entre o ex-ministro Antonio Palocci e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa. No encontro, ele afirma que foi acertado o pagamento de R$ 2 milhões para a campanha da presidente Dilma Rousseff.
O documento foi anexado na quinta-feira, 7, pela defesa de Fernando Baiano, junto com o comprovante das passagens de ida e volta para Brasília, em novembro de 2010. O delator sustenta que do Hotel Meliá, foi de carona em uma carro da Petrobrás com Paulo Roberto Costa até uma casa usada pelo comitê da campanha, onde Palocci – que era coordenador da campanha presidencial do PT – e um ex-assessor, Charles Capella de Abreu, teriam pedido apoio financeiro.


















O pagamento de R$ 2 milhões à campanha presidencial do PT em 2010 foi inicialmente apontado aos investigadores da PF, nas delações de Paulo Roberto Costa, o primeiro delator da Lava Jato, em agosto de 2014.
O ex-diretor relatou ter recebido um pedido via Alberto Youssef, que teria falado no nome de Palocci. O doleiro negou ter sido ele o autor do pedido e revelou posteriormente que outro operador de propinas traria à tona tal demanda. Ele confirmou que entregou naquele ano R$ 2 milhões, em São Paulo, a pedido de Costa, sem saber quem era o beneficiário.
Na versão de Fernando Baiano, em 2010 o ex-diretor da Petrobrás teria o procurado preocupado com sua permanência no cargo, em uma eventual vitória de Dilma. O lobista afirma ter se reunido com o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para que ele tentasse garantir a permanência de Costa na Diretoria de Abastecimento da estata caso a candidata petista fosse eleita.
“Bumlai respondeu que sim (poderia ajudar) e que faria o que fosse possível”, afirma Baiano. “Bumlai disse que a pessoa mais indicada para fazer a aproximação de Paulo Roberto Costa com o PT era Antonio Palocci, uma vez que era naquele momento o coordenador da campanha de Dilma Rousseff e provavelmente seria o ministro da Casa Civil.”















“Em seguida combinou com com Paulo Roberto Costa, e, depois de tudo acertado, no dia agendado, o depoente e Costa se encontrara em Brasília”, contou Baiano. “Se hospedou em Brasília, com quse certeza, no Hotel Meliá, no Setor Hoteleiro Sul. De lá, seguiram em um Corolla preto da Petrobrás, até o QG da campanha presidencial.
Fernando Baiano conta que acompanhou posteriormente Costa no encontro com Palocci, em Brasília. O ex-ministro teria faladou que “haveria interesse por parte do PT” na continuidade dele na Diretoria de Abastecimento.
“Em seguida se passou a falar da campanha presidencial; que então Antonio Palocci falou que seria muito importante se Paulo Roberto Costa em sua relação com as empresas que eram prestadoras de serviços na Petrobrás conseguisse ajudar com doações para a campanha de Dilma Rousseff.”
Fernando Baiano afirma que o ex-diretor disse que poderia ajudar, mas não falou sobre valores nem como seria essa ajuda.
“No final da conversa, Antonio Palocci disse que havia uma pessoa que trabalhava com ele, possivelmente um assessor dele, que o estava ajudando nesta parte de arrecadação”, explicou Fernando Baiano. “Pelo que se recorda, o nome dessa pessoa era Charles.

Paulo Roberto Costa foi colocado frente-a-frente com Fernando Baiano, em setembro de 2015, e negou que tivesse participado de reunião com ele e Palocci para tratar do assunto. O ex-diretor sustenta ter ouvido de Youssef o pedido de R$ 2 milhões para a campanha do PT a pedido do ex-ministro. Costa disse que autorizou o pagamento.
Youssef – peça central da Lava Jato – detalhou à PF em outubro o pagamento que fez em dinheiro vivo no Hotel Blue Tree, na Avenida Faria Lima, em São Paulo, a um emissário que ele não sabe dizer quem era. A suspeita dos investigadores recai sobre Charles Capella de Abreu.
“Tal pessoa tinha a cor de pela branca, estatura média alta, sendo um pouco mais alto que ele, que tem 1 metro e 71 centímetros, compleição física normal, mas se tratando de pessoa obesa ou de barriga saliente”, descreveu o doleiro.
Foto de Charles Capella de Abreu, ex-assessor da Casa Civil e das campanhas presidenciais do PT em 2010 e 2014, mostrada pela PF para delator da Lava Jato / Reprodução
O suspeito recebeu Youssef em um quarto do hotel, conta o doleiro, que disse não se lembrar exatamente o mês, nem o dia, possivelmente “no período de junho a outubro de 2010″. “Os R$ 2 milhões determinados por Paulo Roberto Costa a tal pessoa foram entregues em uma ou duas malas pequenas, do tipo daqueles que se leva como bagagem de mão em vôos comerciais”, afirmou Youssef ao delegado Luciano Flores de Lima, da equipe da Lava Jato.
“Esclarece que pode ter sido uma mala pequena, com alça telescópica, e uma maleta, como costumava fazer para transportar essa quantidade de dois milhões de reais em notas de R$ 100,00, como foi no presente caso”, anotou a PF. O doleiro disse que costumava usar esse tipo de bagagem para “não chamar a atenção, pois encaixava a maleta na alça prolongada da mala, puxando-as enquanto caminhava”.

A PF mostrou uma foto Charles Capella de Abreu para Youssef para saber se poderia ser ele o emissário que recebeu o dinheiro da propina da Petrobrás. “Reconhece como sendo possível que a foto seja de tal pessoa referida acima, para a qual entregou os R$ 2 milhões em notas cuja maioria (cerca de 85%) eram em cédulas de R$ 100,00 por ordem de Paulo Roberto Costa”, registra o depoimento. Em termos de probabilidade percentual, Youssef disse acreditar que tenha “70% a 80% de certeza” se tratar da mesma pessoa.
O PT tem negado irregularidades nas doações. “Todas as doações recebidas pelo partido foram feitas estritamente dentro das normas legais e posteriormente declaradas à Justiça.”
COM A PALAVRA, A DEFESA
O criminalista José Roberto Batochio, que defende Palocci, nega qualquer irregularidade. “Palocci jamais se reuniu com esse Fernando Baiano, não o conhece, nunca o viu na vida, em lugar algum.” O defensor tenta anular as delações. “É preciso que a Justiça cancele os benefícios aos mentirosos e deve faze-lo de ofício, sem ter que esperar ser provocada. A Justiça tem compromisso com a verdade e não com escambos, com trocas que escapam da moralidade.”
COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA JOSÉ ROBERTO BATOCHIO, ADVOGADO DE ANTONIO PALOCCI
“Do exterior,onde me encontro a trabalho, pude ler a matéria em epígrafe no seu blog. Como parece que haverá uma acareação entre delatores mendazes e pessoas por eles referidas, dentro de um ou dois dias, reponta óbvio o interesse dos acusadores em articularem desde logo e preparatoriamente a sensibilização da opinião pública (receita da “mani puliti”)… daí, suponho eu, o fomento da linha auxiliar acusatória da publicidade…
Deixando a já escandalosa questão do vazamento de lado, permita-me indagar, respeitosamente: qual a conexão de uma suposta reserva do lobista em hotel do DF em 14 de junho de 2010 com passagens aéreas emitidas para 11 de novembro do mesmo ano? Demais disso, o que tem a ver a hospedagem de um lobista que vivia indo ao DF em hotel local em data que nunca fora antes referida por ele próprio?
Acaso lobistas não frequentam a Capital da República assiduamente?
Somente os extremamente ingênuos (ou mal intencionados) podem vislumbrar qualquer nexo idôneo nessa manobra tão primária quão audaz.”
José Roberto Batochio.
COM A PALAVRA, A CRIMINALISTA DANYELLE GALVÃO, QUE DEFENDE CHARLES CAPELLA DE ABREU
A advogada Danyelle Galvão, que defende Charles Abreu, afirmou que seu cliente não conhece essas pessoas. “Charles nega todas as acusações que estão sendo feitas pelo delator Fernando Baiano. Insistimos para que o Charles seja ouvido para comprovar que essas acusações são inverídicas. Essa reunião com Charles não existiu, não houve entrega de dinheiro, não houve encontro. Isso tudo é uma mentira.”
fonte: http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/delator-entrega-registro-de-hotel-para-comprovar-reuniao-com-palocci/

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