SÃO PAULO - Especulações em torno do impacto do fracasso da seleção brasileira sobre a corrida presidencial dão o tom aos negócios nos mercados domésticos nesta segunda-feira. Investidores se posicionam para aproveitar um eventual crescimento da oposição na disputa à Presidência da República nas pesquisas de intenção de voto que serão divulgadas esta semana por Instituto Sensus, Datafolha e Ibope.
O Ibovespa apresenta alta consistente e supera os ganhos das bolsas lá fora, com destaque para as ações da Petrobras, que avançam mais de 4%. Já o dólar ensaia uma queda em relação ao real, com exportadores ampliando a oferta de dólares no mercado, já se antecipando a uma eventual apreciação do real provocada por queda da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas.
Na BM&F, os juros futuros também recuam, em um movimento alinhado com o dólar. O pregão, contudo, é de giro reduzido, o que tira representatividade dos movimentos.
Bolsa
O Ibovespa tem um dia de alta consistente e supera os ganhos das bolsas da Europa e dos Estados Unidos. Os destaques de valorização são, desde a abertura, Petrobras e Embraer. O índice subia 1,70% às 12h45, para 55.757 pontos. Petrobras PN sobe 4,35% e lidera os ganhos do Ibovespa, enquanto a ON ganha 4,35%. O Goldman Sachs elevou a Petrobras à lista das empresas preferidas do setor na América Latina, ao retirar a canadense Pacific Rubiales do ranking. O banco acredita que a brasileira mantém um perfil interessante de balanceamento entre risco e retorno e elege a estatal como investimento prioritário na região.
O preço-alvo da instituição para as ações ordinárias da companhia foi aumentado de R$ 21,20, para R$ 23,30, enquanto para as preferenciais a alta foi de R$ 22, para R$ 24,20. Frente ao fechamento de sexta-feira, o potencial de valorização seria de 37% e 32,4%, respectivamente. A recomendação foi mantida em compra. Há pouco, Petrobras ON valia R$ 17,69 e a PN custava R$ 19,01.
Ações da Embraer sobem 3,13%. A empresa anunciou hoje a entrega de 58 aeronaves no segundo trimestre de 2014, melhora de 13,7% na comparação anual. O desempenho ficou acima da expectativa dos analistas, que projetavam 25 jatos no período, sem contar entregas para a Azul. Além disso, a empresa informou que recebeu encomenda firme de 50 jatos E175-E2 da Trans States, com opção para mais 50. O negócio é estimado em US$ 2,4 bilhões.
Além disso, ficam cada vez mais fortes comentários nas mesas de operação de que as corretoras estão se posicionando, na bolsa, em crescimento da oposição na disputa à Presidência da República. O tom, que acaba ficando positivo para a Bovespa, começou no dia 10 de julho, primeiro pregão após a derrota vergonhosa do Brasil para a Alemanha, por 7 a 1, na Copa do Mundo de Futebol.
Já naquele pregão, o Ibovespa tomou voo solo, ignorou as quedas nas bolsas internacionais e fechou em alta de 1,79%. Houve ajuste à performance dos ADRs no feriado, de 9 de julho. Mas analistas comentavam que os investidores estavam comprando ações sob a perspectiva de que a derrota prejudicaria Dilma na corrida eleitoral. E a disputa é o assunto da semana. Estão previstas as divulgações de nada menos que três pesquisas: Sensus, Datafolha e Ibope.
Hoje, o estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala, toca num ponto que se transforma em consenso no mercado financeiro: o de que ajustes são necessários na economia em 2015, seja quem for o vencedor da disputa à Presidência. Em relatório, ele diz que o ajuste tem de vir, sob o risco de o país perder o grau de investimento.
De acordo com Gala, o “choque de credibilidade” de um governo Aécio teria mais força do que num segundo governo Dilma. “Mas mesmo no caso de reeleição é possível produzir um choque de credibilidade com troca de membros da equipe econômica e aplicação de políticas mais ortodoxas na área monetária e fiscal”, afirma na nota. Segundo ele, o ba ixo crescimento, a deterioração rápida dos fundamentos macroeconômicos e a ameaça de perda de grau de investimento devem produzir por si só esse ajustamento em 2015, independentemente de qual seja o novo governo.
“O Brasil tem amplo espaço ainda para manobrar com reservas altas e bons indicadores de solvência externa, apesar do alto déficit em conta corrente. Existem excelentes oportunidades de investimento, especialmente na área de infraestrutura. O que falta hoje é a retomada da confiança no futuro que estimule novos investimentos”, diz. De acordo com Gala, um novo governo recém eleito terá plenas condições de fazer isso, bastando para tanto mudar a política econômica nessa direção. “É o que devemos ver em 2015. E a bolsa brasileira deverá reagir com alta, como já começou a fazer em 2014.”
Pão de Açúcar é destaque hoje. A ação caía 1,98%, entre os destaques de baixa, a R$ 104,00. A venda de ações da família Diniz, acionista minoritária do Grupo Pão de Açúcar (GPA), foi o que motivou o leilão de papéis pref erenciais (PNs) da empresa realizado nesta manhã, na BM&FBovespa, segundo uma fonte. A informação foi confirmada há pouco pela família. O coordenador do leilão foi o Itaú BBA.
Dólar
O dólar ensaia queda frente ao real nesta segunda-feira, em parte acompanhando o tom mais fraco da moeda no exterior, mas também com os agentes do lado doméstico na expectativa por resultados de pesquisas eleitorais a serem anunciados ao longo da semana.
De olho na possibilidade de uma queda nas intenções de voto à presidente Dilma Rousseff, algo que poderia pressionar o dólar para baixo, alguns exportadores ampliaram a oferta de dólares no mercado no fim desta manhã, o que ajuda a explicar a leve desvalorização da moeda americana. “Antes que caia abaixo dos R$ 2,20, o que pode forçar mais quedas, o exportador prefere travar uma taxa um pouco melhor”, diz o operador de câmbio de um banco dealer.
De toda forma, o movimento acontece em mais um dia de fraco volume, que reflete a posição mais conservadora dos agentes antes de eventos como a divulgação do PIB chinês e o discurso da presidente do Federal Reserve, Janet Yellen. Às 12h20, o dólar comercial caía 0,20%, para R$ 2,2151. O dólar para agosto cedia 0,31%, a R$ 2,2260.
No exterior, o índice que mede o comportamento do dólar em relação a uma cesta de divisas tinha variação negativa de 0,04%. As principais moedas de risco, como o dólar australiano, a lira turca, o rand sul-africano e o peso mexicano, oscilavam entre estabilidade e alta.
“Não existe muita expectativa de que a Yellen vá falar algo diferente. Nem com o PIB da China. Isso explica o porquê desse marasmo no câmbio agora. Mas por outro lado isso também acaba deixando o mercado vulnerável a qualquer surpresa”, diz o tesoureiro de um banco nacional, acrescentando que a decisão de política monetária do Banco Central na próxima quarta-feira não deve mexer significativamente com o câmbio.
O BC, aliás, deu sequência a suas intervenções hoje e já vendeu 4 mil contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão, movimentando o equivalente a US$ 198,3 milhões. A autoridade monetária fez ainda a rolagem de todos os 7 mil contratos de swap cambial tradicional ofertados, postergando os vencimentos do equivalente a US$ 346,1 milhões, que inicialmente expirariam no próximo dia 1º.
Dos 189.130 contratos de swap com vencimento em 1º de agosto (US$ 9,457 bilhões), ainda restam 140.130 (US$ 7,007 bilhões) passíveis de rolagem.
Juros
Depois de oscilarem ao redor da estabilidade durante toda a manhã, as taxas dos principais contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) perderam força neste início de tarde, em um movimento claramente alinhado com o dólar. Segundo operadores, o volume reduzido de negócios mostra, contudo, que há pouca disposição das tesourarias para promover uma repaginação da curva a termo.
Sem indicadores domésticos de peso, o mercado opera mais na base do “giro” que na montagem de posições estruturais. Além dos tradicionais ajustes e realizações de lucros pontuais, sobra como explicação para as oscilações diárias as especulações em torno o impacto do malogro da seleção brasileira sobre a popularidade da presidente Dilma Rousseff. Uma vitória da oposição torna mais crível a chance de um ajuste da política econômica capaz de achatar os prêmios de risco. É nesse clima que investidores aguardam a divulgação, nesta semana, de três pesquisas de intenção de voto (Instituto Sensus, Datafolha e Ibope) para presidente da República.
O quadro de inflação elevada e PIB fraco, confirmado pelo Boletim Focus de hoje, deixa os DIs até o vértice janeiro/2016 sem espaço para andar. A mediana das projeções para o IPCA este ano subiu de 6,46% para 6,48%, ao passo que a expectativa para a expansão do PIB caiu de 1,07% para 1,05%. O panorama não se altera muito quando se mira 2015: crescimento de apenas 1,50% e IPCA de 6,10%. Foi mantida a estimativa para taxa Selic no fim deste ano (11%) e do próximo (12%).
Se a fraqueza econômica tira da curva de juros a expectativa de novo aperto monetário após as eleições presidenciais, a inflação em 12 meses acima do teto da meta (6,5%) e o fantasma do reajuste dos preços administrados desautorizam especulações mais fortes em torno de um corte da taxa Selic.
De 39 economistas ouvidos pelo Valor Data, 33 apostam em manutenção da Selic em 11% até o fim do ano. Fiam-se, é claro, na mensagem do Banco Central de que, “mantidas as condições monetárias atuais, a inflação tende a entrar em trajetória de convergência para a meta no horizonte relevante da política monetária”, ou seja, algo entre um ano e meio e dois anos.
Hoje, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, participa da reunião de ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais do Brics às 17h, em Fortaleza. Não se esperam novidades na comunicação do BC.
No exterior, o dia é marcado por leve alta das taxas dos títulos do Tesouro americano (Treasuries). A T-note de 10 anos gira na casa de 2,54%, um patamar ainda muito confortável e que estimula a busca por retornos mais elevados. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, discursa às 14h30 (de Brasília), no Parlamento Europeu. Enquanto o Federal Reserve encerra gradualmente o “quantitative easing” 3, o BCE acelera os estímulos monetários, o que garante liquidez farta ao mercados.
Com Treasuries e dólar comportados, os DIs mais longos podem ficar à mercê das especulações sobre mudanças na gestão da política econômica a partir de 2015. O contrato de DI janeiro/2016 é negociado a 11,09% (ante 11,12% no pregão anterior, após ajustes); DI janeiro 2017 sai a 11,41% (ante 11,46% no pregão anterior).
Mercados internacionais
As principais bolsas internacionais operam em alta nesta segunda-feira, recuperando-se das perdas da semana passada. Na Europa, o dia foi de altas apesar da ação do Banco Espírito Santo (BES) continuar a cair, em meio a dúvidas sobre a saúde financeira do banco português que afetaram os mercados em pregões anteriores.
Em um dia sem indicadores relevantes nos Estados Unidos, os investidores estão atentos a notícias de balanços das empresas. O setor financeiro avançava hoje, após o Citigroup informar que estava resolvendo pendências judiciais e divulgar resultado melhor que o esperado no segundo trimestre, ainda que com queda de 96% no lucro na comparação com igual período de 2013.
Às 13h55, o índice Dow Jones subia 0,72%, enquanto o Nasdaq e o S&P 500 avançavam 0,56% e 0,48%, respectivamente. O dólar se valorizava a 101,56 ienes. Entre os Treasuries, o juro da T-note de 10 anos subia a 2,540%, de 2,520% no fim da sexta, enquanto o juro do T-bond de 30 anos avançava a 3,355%, de 3,343% na sexta.
Na Europa, a Bolsa de Londres fechou em alta de 0,84%, Frankfurt avançou 1,26% e Paris teve alta de 0,79%. A Bolsa de Lisboa subiu 0,6%, mesmo com a queda de quase 7,5% na ação do BES. O banco informou hoje que será apressada a troca no comando da empresa, com a família controladora, Espírito Santo, perdendo espaço. O novo CEO do banco será Vítor Bento, um respeitado economista no país. O BES é parcialmente controlado pela família Espírito Santo, cuja principal holding, a Espírito Santo International, enfrenta graves problemas financeiros. As ações da holding tiveram sua negociação suspensa na sexta.
O economista-chefe da Investec Securities, Philip Show, disse que os investidores não temem um crash como o de 2011, mas ainda assim as incertezas quanto ao grupo português e à possível exposição de outras empresas aos problemas no BES deixam os investidores nervosos. Na sexta, o BES ressaltou que tem reservas de capital suficiente, superiores ao nível regulatório mínimo exigido para os bancos europeus.
Na agenda de indicadores da Europa, a produção industrial da zona do euro recuou 1,1% no mês em maio, quando a previsão era de queda de 1,2%.
Na Ásia, as bolsas fecharam em alta, em semana de expectativa pela divulgação de vários dados na China, entre eles o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, na quarta. A Bolsa de Tóquio reagiu após cinco quedas seguidas e subiu 0,88%.
(Aline Cury Zampieri, José de Castro, Antonio Perez e Gabriel Bueno | Valor )
Por Aline Cury Zampieri, José de Castro, Antonio Perez e Gabriel Bueno | Valor
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