Situação difícil – Documentos apreendidos pela Polícia Federal no escritório do advogado de Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR) indicam pagamentos de contas pessoais da senadora petista com dinheiro sujo do esquema investigado pela Operação Pixuleco II, décima oitava fase da Operação Lava-Jato. Entre os pagamentos suspeitos está o salário do motorista da senadora que um dia ocupou a Casa Civil. O dinheiro teria origem na empresa Consist – suspeita de desvios a partir de empréstimos consignados intermediados pelo Ministério do Planejamento. O esquema teve origem em 2010, quando o marido de Gleisi, Paulo Bernardo da Silva, era ministro do Planejamento.
As suspeitas de envolvimento da senadora e de seu marido foram detectadas depois de a Polícia Federal e o Ministério Público terem rastreado as movimentações do advogado e ex-vereador Alexandre Romano, preso na mais recente fase da Lava-Jato por suspeita de operar um esquema de pagamento de propina no Ministério do Planejamento.
Há indícios de que Romano recebeu R$ 37 milhões em propina do Grupo Consist em um esquema que beneficiava empresas que prestavam serviços de informática para gestão de empréstimos consignados. Ao rastrear os pagamentos recebidos pelas empresas do Grupo Consist, os investigadores descobriram repasses do advogado Guilherme Gonçalves, que atuou em campanhas políticas do PT e da própria Gleisi, diretamente para a senadora paranaense.
De acordo com anotações do advogado Guilherme Gonçalves, apreendidas na operação da PF, há indícios de que o dinheiro que irrigava o esquema da Consist no Ministério do Planejamento abastecia a família de Gleisi Hoffmann.
Nos registros, mais suspeitas: “Diversos PT, PB, Gleisi”. Em um dos casos, o dinheiro que os investigadores afirmam ser propina chegou até a quitar os salários do motorista da senadora petista, Hernany Mascarenhas. Em depoimento no inquérito da Lava Jato, Guilherme Gonçalves confirmou que utilizava recursos recebidos a título de honorários advocatícios da Consist para pagar “despesas urgentes”, como as de Gleisi Hoffmann. Nenhum desses débitos “urgentes”, porém, foi ressarcido pelos supostos clientes ou mesmo por cobrado de volta pelo advogado.
Em uma planilha apreendida no escritório de Gonçalves, os detalhes que podem incriminar Gleisi são mais evidentes: em anotações registradas como “Fundo Consist”, há referência a um crédito de cerca de R$ 50 mil com “diversos lançamentos de débitos em favor da Senadora e de pessoas a ela ligadas”. “Consta anotação de que, do pagamento de cinquenta mil reais de honorários pela Consist a Guilherme em 29/09/2011, ele teria acertado com o ex-Ministro Paulo Bernardo, marido de Gleisi Hoffmann, que ficaria, desta feita, com todo o montante”, relata o juiz Sergio Moro após receber o resultado das investigações.
“As provas, em cognição sumária, revelam que parte expressiva da remuneração da Consist, cerca de 9,6% do faturamento líquido, foi repassada, por solicitação de Alexandre Romano, ao advogado Guilherme Gonçalves, em Curitiba, que, por sua vez, utilizou esses mesmos recursos para pagamentos associados à Senadora da República Gleisi Hoffmann”, conclui Moro, que, por ter encontrado indícios de irregularidades envolvendo a senadora, determinou o envio da investigação para o Supremo Tribunal Federal (STF). Como Gleisi tem direito ao chamado foro privilegiado, ela só pode ser processada no tribunal de Brasília.
Para os investigadores, a indícios de que o motorista da petista, Hernany Mascarenhas, foi pago com dinheiro desviado do Ministério do Planejamento. A PF sustenta ainda que parte dos recursos pode ter ido para o ex-ministro Paulo Bernardo, marido da senadora. Em documento apreendido no escritório do advogado consta a anotação do pagamento de R$ 50 mil em honorários ao advogado pela Consist, em 29 de setembro de 2011. De acordo com a PF, o pagamento teria sido acertado com o ex-ministro Paulo Bernardo, que teria ficado “com todo o montante”.
Para Moro, há fortes indícios de que “parte expressiva da remuneração da Consist foi repassada, por solicitação de Alexandre Romano, ao advogado Guilherme Gonçalves, em Curitiba, que, por sua vez, utilizou esses mesmos recursos para pagamentos associados à senadora Gleisi Hoffmann”.
A senadora Gleisi Hoffmann já é alvo de um inquérito no STF por ter sido citada pelos delatores Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa. Tanto o doleiro quanto o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras apontaram a parlamentar do PT como destinatária de R$ 1 milhão, dinheiro desviado da Petrobras e repassado como doação de campanha. Na versão de Youssef, o dinheiro sujo foi entregue a um preposto da petista em shopping de Curitiba.
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