quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Agente da PF relata tentativa de ocultação de notebook de Odebrecht

REDAÇÃO  18 Agosto 2015 | 05:00

Relatório de 16 páginas destaca a dificuldade da equipe de policiais em localizar o computador do empreiteiro no dia de sua prisão na Lava Jato, em 19 de junho

Atualizada às 11h19
Por Fausto Macedo, Julia Affonso, Ricardo Brandt e Mateus Coutinho
Sede da empreiteira foi alvo de buscas. Foto: Marcos Bezerra/Futura Press
Sede da empreiteira foi alvo de buscas. Foto: Marcos Bezerra/Futura Press
Relatório policial aponta suposta tentativa de ocultação do computador portátil de Marcelo Bahia Odebrecht, presidente da maior empreiteira do País, no dia em que foi deflagrada a 14ª fase ostensiva da Operação Lava Jato. O documento narra as buscas realizadas na residência de Odebrecht e na sede da empresa, em São Paulo.
O documento, subscrito pelo agente da Polícia Federal Rodrigo Prado Pereira, destaca que a “Informação Policial tem o objetivo” de detalhar o ocorrido durante a Operação Erga Omnes – quando Odebrecht e outros executivos do grupo foram presos -, na Rua Lemos Monteiro, Butantã. “Na qual possivelmente houve a tentativa de ocultação de material relevante às investigações.”
Em 16 páginas, o agente da PF registra que participava das buscas na casa de Marcelo Odebrecht, naquele 19 de junho. A Informação Policial 075/2015 é datada de 23 de junho, mas foi anexada aos autos na sexta-feira, 14 de agosto. “Durante a diligência, ao entrevistar o investigado, questionou-se ao mesmo a localização de seu computador de uso pessoal. O investigado informou que o seu computador estava em seu escritório, em sala do Edifício Odebrecht, localizado na Rua Lemos Monteiro”, informa o agente.
Segundo o policial, na ocasião, a mulher de Odebrecht foi indagada e confirmou que o executivo só trazia o notebook para casa aos finais de semana, permanecendo o resto do tempo em sua sala na empreiteira.

A equipe que fazia buscas na casa de Odebrecht, em um condomínio fechado na capital paulista, decidiu ir até a sede da empreiteira confirmar o que haviam informado o executivo e sua mulher. Depois de se deslocar até o prédio da Odebrecht, onde outra equipe da PF envolvida na Operação Erga Omnes vasculhava os escritórios desde as 6h, o agente relata que tomou “conhecimento que a busca na sala do escritório de Marcelo já havia sido realizada, porém que não foi encontrado no local o referido computador de uso pessoal do investigado”. Depois de obter autorização do delegado, Pereira diz ter feito nova busca na sala, em vão.
O agente cogitou da possibilidade de o computador de Odebrecht ter sido retirado da sala. No documento, ele diz que gerou estranheza o fato de o presidente da empreiteira não ter um computador em seu escritório. A equipe da PF narra que buscou então as imagens de segurança do prédio. “Neste referido momento da solicitação de acesso às imagens de segurança do local, identificou-se que os advogados que acompanhavam a equipe mostraram-se visivelmente nervosos.”
“Durante a exibição das imagens, identificou-se que duas mulheres não identificadas entraram no 15º andar aproximadamente às 6h”. É o horário em que a equipe da PF começava à cumprir o mandado de buscas no local, concedido pelo juiz federal Sérgio Moro. Questionei os funcionários da segurança se este horário é usual em relação aos funcionários que trabalham no referido andar, porém, fui informado que normalmente apenas os funcionários da limpeza frequentam o 15º andar neste horário.”
O agente federal narra que, quando buscava então dados sobre registros de entradas no prédio, foi informado pelo delegado da operação que o computador de Odebrecht havia sido encontrato em outra sala do 15º andar e havia acabado de ser entregue por um dos advogados do grupo.
Imagens. Foram as próprias imagens internas de segurança que deram à PF o caminho para identificação das pessoas que podem estar envolvidas no episódio. Pereira narra que sem a identificação da segurança da empresa, recolheu cópias das imagens. Por meio da análise desse material, registrou-se que a primeira mulher que entrava na sala do 15º andar passou pela catraca do prédio às 6h06min e subiu pelo elevador. Às 6h07 “uma segunda mulher não identificada entrou no edifício utilizando a porta lateral à porta giratória e também dirigiu-se ao 15º andar.”
Vinte minutos depois as imagens também mostraram que a diretora da Odebrecht Participações e Engenharia, Marta Pacheco Kramer, entrou no prédio pelo acesso da garagem. Eram 6h25, quando a executiva segue de carro até o elevador e desce no 15º andar. “Lá permaneceu por aproximadamente 1 minuto. Em seguida, Marta deslocou-se até o 12º andar, local em que se situa sua sala de trabalho”, narra o agente federal.
Considerações. O agente federal que relatou sua busca pelo notebook de Marcelo Odebrecht no dia em que foi deflagrada a Operação Erga Omnes diz em suas considerações finais do documento que “foi possível identificar comportamento atípico” da diretora da empreiteira, Marta Kramer. “Somente após ter acessado o 15º andar, ainda sem a supervisão da equipe de policiais federais, onde já estavam duas outras funcionárias ainda não identificadas, Marta deslocou-se em direção à sua sala de trabalho.”
Por fim, o agente sugere novas diligências para “identificar quem são as outras funcionárias que as imagens identificaram acessando o 15º andar antes dos policiais federais”.
COM A PALAVRA, A ODEBRECHT
“A Odebrecht esclarece que não houve em nenhum momento qualquer ação no sentido de ocultar o notebook de Marcelo Odebrecht. Pelo contrário, o computador do executivo foi entregue à autoridade policial assim que foi encontrado e a empresa cumpriu plenamente os termos do mandado judicial. Com relação ao suposto “comportamento” de integrante da empresa, é importante destacar que trata-se de advogada da Construtora Norberto Odebrecht constituída nos autos do processo judicial, que foi acionada para atender a equipe policial que estava no local. Por fim, reforça-se que o relatório final da interceptação telefônica e telemática foi avaliado pela autoridade judicial como um documento que não trouxe diálogos ou mensagens relevantes.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário