POR ISAAC GONZÁLEZ MENDOZA
27/07/2015 9:46 / ATUALIZADO 27/07/2015
10:17
Filas se tornaram principal espaço de
convivência em Caracas, diz psicóloga –
CARLOS
GARCIA RAWLINS / REUTERS/21-7-2015
CARACAS — Assim como em 2013, Caracas foi no ano
passado a segunda cidade mais violenta do mundo, com uma taxa de 116 homicídios
para cada 100 mil habitantes, superada apenas pela hondurenha San Pedro Sula —
onde há 171 assassinatos a cada 100 mil pessoas. No total, houve 3.797
homicídios na capital venezuelana. A lista das 50 cidades mais violentas do
mundo elaborada pela ONG mexicana Consejo Ciudadano para la Seguridad Pública y
Justicia Penal ainda traz outras três cidades venezuelanas: Valencia (7ª),
Ciudad Guayana (12ª) e Barquisimeto
A insegurança fez que os espaços onde era possível se reunir com amigos
se percam. Moradores da cidade entrevistados pelo “El Nacional” relataram que
os bares agora fecham mais cedo.
— Antes fechavam por volta das 21h e agora fecham às 19h, porque não há
mais ônibus, justamente pela insegurança — diz Carolina Ortega, do bairro de
Montalbán, que agora prefere ficar em casa. — Já me roubaram muitas vezes, e
estou cansada disso.
A falta de espaços de convivência também causa efeitos psicológicos
traumáticos aos venezuelanos. Ana Gabriela Pérez, diretora da Escola de
Psicologia da Universidade Católica Andrés Bello (Ucab), disse ter percebido um
aumento nos transtornos de síndrome de pânico e depressões, além de sintomas
físicos relacionados a causas emocionais, como úlceras gástricas. Para ela, à
medida que se reduzem os espaços de encontro, as pessoas se isolam e passam a
ver o mundo de forma mais hostil.
— Há um impacto em cada indivíduo porque seus espaços de encontro com as
demais pessoas se limitaram. Agora, os únicos lugares de encontro são as filas
para comprar comida. Se você soma a isso um elemento de insegurança, as pessoas
começam a sofrer uma série de sintomas psicológicos e emocionais, ansiedade,
depressão e medos intensos— afirma.
No ano passado, Pérez orientou uma dissertação na Ucab que consistia em
um estudo no município de Libertador (parte da Grande Caracas) sobre a
percepção de risco em mais de 400 pessoas. Entre elas, 30% dizem já terem sido
vítimas da criminalidade, e 20% acreditam que sofrerão no futuro um episódio de
violência.
— Com o preço que estão as coisas, já seria preferível fazer reuniões em
casa. Não só pelo preço, mas também pelo perigo — diz Manuel Aumitle, um músico
que também viu sua profissão ser afetada pela redução das opções de vida
noturna. — Muitas vezes tive que tocar com pressa porque os bares fecham cedo.
Outras vezes, tenho que desistir de trabalhos porque sairia dos locais numa
hora que não é simpática.
fonte: http://oglobo.globo.com/mundo/medo-da-violencia-faz-venezuelanos-desistirem-de-lazer-fora-de-casa-16972788
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