quarta-feira, 22 de julho de 2015

Petrobras: corrupção e incompetência por Mário Guerreiro


Quase todos os brasileiros ficaram horrorizados com o Petrolão. Trata-se da maior rede de corrupção do mundo. Penso que nunca houve na História uma roubalheira de tal monta e extensão.
Dizemos “extensão” porque a Petrobras envolve um complexo de empresas: empreiteiras oferecendo seus serviços e fornecedoras dos mais variados tipos. Assim sendo, uma grande crise afeta não somente a Petrobras, porém a muitas empresas.
E a crise da Petrobras já começa a mostrar seu efeito dominó: um estaleiro em Niterói (RJ) despediu centenas de funcionários porque não recebeu mais encomendas de seu principal, talvez único, cliente: a Petrobras.
E isto é apenas o começo do desmoronamento das peças movimentadas pelo efeito dominó.
Uma pesquisa feita sobre a Petrobras descobriu que, embora a corrupção seja algo avassalador, ela corresponde a 6% dos grandes problemas da empresa, enquanto que a incompetência administrativa corresponde a 60%. Dez vezes mais, portanto!
Podemos inferir daí que a Petrobras é a mais mal administrada grande empresa do mundo. Mas, se é assim, por que não foi à falência? Ora, petrolífera, mesmo com uma péssima administração, é um excelente negócio.
John Rockfeller era dono de um colossal monopólio privado, a Standard Oil, que fechou suas portas com as leis antitruste da época do Presidente Theodor Roosevelt (1901-1909).
O grande magnata do ouro negro costumava dizer: “O melhor negócio do mundo é petróleo, depois petróleo e depois petróleo”.
Parece que a Petrobras acabou desmentindo Rockfeller, mas ele continua certo: o melhor negócio do mundo ainda é petróleo, desde que bem administrado. Arábia Saudita que o diga, mesmo com a drástica queda de preço do barril de petróleo!
Não há excelente negócio que uma péssima administração não possa levar à falência.
Não sabemos dizer especificamente no que consiste a péssima administração da Petrobras. Mas há algumas generalidades que certamente a compõem.
A primeira delas é que a Standard Oil de Rockefeller era um monopólio privado e, como todo monopólio privado ou público, tinha a vantagem ilegítima de controlar preços, dada a ausência de concorrentes.
Nos Estados Unidos, o Estado nunca teve um monopólio do petróleo, nem mesmo petrolíferas. Estão aí mesmo as grandes empresas privadas: Atlantic, Texaco, Esso, etc. para não me deixar mentir.
Rockfeller era um imigrante escocês que chegou aos Estados Unidos na segunda metade do século XIX com uns caraminguás no bolso e acabou sendo um megaempresário. Foi um verdadeiro self-made man.
É inegável que sua grande fortuna foi construída em parte pela ausência de leis antitruste, assim como as de Andrew Carnegie, o magnata do ferro.
E assim como todo self-made man, Rockfeller era um ferrenho defensor da livre iniciativa e da meritocracia.
Ora, se um empresário acredita mesmo nessas duas coisas, ele se empenhará para que sua empresa, seja monopólio ou não, tenha um sistema administrativo e funcionários competentes.
A Petrobras, por sua vez, é um monopólio estatal e, como todo monopólio, tem o privilégio de controlar os preços do mercado. No entanto, não são administradores que estabelecem seus preços, de acordo com os interesses da empresa, mas sim burocratas em Brasília movidos por interesses meramente politiqueiros.
Se os administradores fixassem os preços dos combustíveis, não teriam dado um prejuízo de bilhões com o congelamento de preços feitos por Dilma, uma atitude demagógica com vistas à sua reeleição.
Atitude demagógica e imediatista, pois logo que Dilma assumiu seu segundo mandato, se viu obrigada a fazer um tarifaço, de modo a compensar o grande prejuízo da empresa acrescido com a queda drástica do preço internacional do petróleo.
Quando preços são reprimidos durante algum tempo, contrariando o jogo da oferta e demanda, e quando é feito um reajuste, ele é acachapante. Trata-se de algo semelhante ao efeito do retorno do reprimido, segundo Freud.
Não tenho a menor dúvida de que a referida incompetência da Petrobras é em parte gerada no interior da empresa, mas em parte vem de fora dela, pelas descabidas e politiqueiras intervenções do Estado, seja aparelhando a empresa, seja tomando decisões contrárias à mesma.
Quanto à corrupção, temos que “dividir o mal pelas aldeias” – como se diz em Portugal. Em parte, ela é facilitada pela estrutura administrativa da empresa e, em parte, por políticos que tiram proveito da mesma e de alguns funcionários corruptos, uma minoria, se levarmos em consideração que a empresa possui milhares de funcionários.
Com a crise do Petrolão, ficamos sabendo que a Petrobras tem um sui generis esquema de licitação: as empresas interessadas não podem apresentar livremente suas propostas. Funcionários do alto escalão selecionam 5 ou 6 empresas, examinam suas propostas e decidem qual a vencedora da licitação.
Ora, como essas empresas são quase sempre as mesmas, elas formam um cartel em que cada qual tem a sua vez, para a satisfação de todas. Fica então fundado o Reino da Propina, com seus corruptos ativos e passivos, uma vez que um não vive sem o outro.
Temos, assim, uma simbiose social perfeita entre Estado e iniciativa privada, seja esta última representada por grandes empreiteiras, seja por políticos deletérios.

Mario Guerreiro

Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor do Depto. de Filosofia da UFRJ. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade.
FONTE: http://www.institutoliberal.org.br/blog/petrobras-corrupcao-e-incompetencia/

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