Em carta enviada à companhia, João Carlos Ferraz afirmou ter recebido o valor ilícito entre maio e dezembro de 2013 em um "momento de fraqueza"
PRÓXIMO ALVO - O ex-presidente da Sete João Carlos Ferraz tinha contato
estreito com Lula e com o ex-deputado André Vargas: na empresa, o interlocutor
das empreiteiras era Barusco, homem-chave do esquema(Leo
Pinheiro/Valor/VEJA)
O ex-presidente da Sete Brasil João
Carlos Ferraz admitiu ter recebido um valor de 1,9 milhões de dólares em
propina em carta enviada à direção da empresa em março deste ano, informa
reportagem do jornal Folha de S. Paulo publicada nesta
segunda-feira.
No documento, Ferraz afirma que
aceitou as "gratificações" em um "momento de fraqueza", no
qual era pressionado por colegas. A carta não traz informações sobre quem pagou
o dinheiro e quem o pressionou. Nela, Ferraz ainda afirma que não pegou nada a
mais do que declarou e que está disposto a devolver o dinheiro.
A Sete Brasil foi uma empresa criada
pela Petrobras, em 2010, para administrar as sondas de exploração do pré-sal.
Além da petroleira, ela tem como parceiros bancos e fundos de pensão estatais.
Ferraz foi o primeiro presidente da Sete Brasil, ficando no cargo de dezembro
de 2010 até maio de 2014. Segundo ele, as propinas foram recebidas entre maio e
dezembro de 2013.
Na semana passada, Ferraz compareceu
a uma audiência da CPI da Petrobras na Câmara dos Deputados e se recusou a
responder às perguntas dos parlamentares.
Segundo o ex-gerente da Petrobras
Pedro Barusco, que também foi dirigente na Sete Brasil, Ferraz participava do
esquema que desviava 1% dos contratos firmados pela empresa para a construção
de sondas - e que tinham a Petrobras como cliente em quase 100% dos casos. Do
valor, dois terços iam para o PT e um terço era dividido entre Barusco, Ferraz
e Eduardo Musa, que era diretor de participações da Sete Brasil.
Após fazer auditorias internas, a
companhia estima que as propinas totalizaram 224 milhões de dólares. No mês
passado, a Sete Brasil abriu um processo, que corre em segredo de Justiça,
contra Ferraz, pedindo uma indenização de 22,2 milhões de reais - o montante
abrange os recursos desviados, sua indenização pela rescisão de contrato e os
bônus pagos por desempenho no período em que trabalhou para a empresa.
Há cerca de duas semanas, ele tentou
- em vão - chegar a um acordo com a Sete para encerrar o processo,
comprometendo-se a devolver menos da metade do montante cobrado, o que os
sócios da empresa rejeitaram. Na carta divulgada hoje, Ferraz afirma que, fora
esse episódio, não há mais nada que possa "macular suas demais atividades"
na companhia, realizadas com "zelo e competência".
Sob acordo de delação premiada,
Barusco contou aos investigadores da Lava Jato que os dirigentes da Sete
Brasil, incluindo Ferraz, combinaram o pagamento de propina com os estaleiros
EAS, Brasfels, Jurong, Enseada e Rio Grande, responsáveis por fornecer sondas
para a Petrobras explorar os campos do pré-sal.
A reportagem da Folha de S.
Paulo tentou entrar em contato com Ferraz, mas ele não quis falar
sobre o assunto.
(Da redação)
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