terça-feira, 28 de julho de 2015

Socialismo: o entulho da história. Ou: Venezuela repete desgraça soviética, mas a esquerda nunca aprende!

Na VEJA desta semana, Eduard Wolf escreve uma ótima resenha do livro Camaradas, do inglês Robert Service, em que narra a ascensão e queda do comunismo. Ele atesta: violência e autoritarismo estão na essência dessa decrépita doutrina. O recado é óbvio para liberais e conservadores, mas precisa ser repetido, pois ainda há muito esquerdista insistindo por aí que houve, na União Soviética (e em todas as demais experiências socialistas), uma “deturpação” da utopia marxista. O problema foram seus líderes, não suas premissas, alegam. Estão errados, claro.

O historiador Richard Pipes já tinha mostrado, antes, que os resultados trágicos do socialismo “real” foram consequência lógica de seus métodos e teorias, que não poderiam levar a destino muito diferente. O socialismo não é uma boa ideia que fracassou; é uma má ideia em sua essência, por desprezar a natureza humana, por tratar indivíduos como insetos gregários, por subverter todo o código de valores “burgueses”, responsável pela relativa ordem a paz dos países desenvolvidos. Service também mostra que a violência era intrínseca ao comunismo, como argumenta Wolf:
Wolf
Ao usar seus “nobres fins” para justificar quaisquer meios, os revolucionários comunistas estão dispostos a tudo, a “fazer o diabo” para chegar e permanecer no poder. O fervor dogmático garante a paz de consciência para todo tipo de crime, praticado em nome do “povo” ou da utopia. A ditadura do proletariado era não só tolerada, como enaltecida enquanto meta “intermediária” para o destino final: o fim do estado. Ou seja: os comunistas pretendiam criar uma ditadura para depois simplesmente aboli-la, sem mais nem menos. É preciso ser ou muito idiota, ou muito cara de pau para crer em algo assim.
Mas não foram poucos os “intelectuais” que flertaram ou se apaixonaram com essa ideologia assassina. Vários pensadores importantes defenderam o comunismo e o socialismo, mesmo diante de seus resultados trágicos. Para eles, ou esses fatos eram simplesmente ignorados, não existiam, ou então eram aceitáveis pelo “bem maior”, pelo prêmio que eventualmente a humanidade ganharia se ao menos insistisse em seu objetivo de forma obstinada. Cadáveres sendo empilhados, miséria se espalhando, mas todo esforço precisava ser redobrado para, finalmente, o mundo ser igualitário, “justo”. Wolf conclui:
Wolf2
Com novo manto, o comunismo continua sendo pregado por quem nada aprendeu com a história. Vide o bolivarianismo chavista, o “socialismo do século XXI”, que voltou a encantar inúmeros idiotas úteis e “intelectuais” em busca de algum ópio para suas angústias existenciais. Essa gente toda defendeu a Venezuela sob o comando do bufão autoritário Hugo Chávez, e muitos fingem, agora, não ter nada a ver com seu resultado catastrófico. Seria, uma vez mais, o caso de uma “deturpação” do socialismo, de algum desvio qualquer.
Uma reportagem de Franz von Bergen no GLOBO de hoje mostra, porém, como a experiência venezuelana repetiu os mesmos passos da União Soviética. Nada disso é coincidência, ou puro acaso. É exatamente o que pessoas razoáveis esperavam dos métodos adotados por Chávez e Maduro. O socialismo nunca foi capaz de produzir resultados diferentes. A Venezuela, cada vez mais parecida com Cuba, segue a mesma ópera bufa soviética, e tudo isso foi previsto pelos liberais e conservadores, e ignorado pela esquerda em geral. Diz o jornal:
Se uma mulher decide sair para comprar carne, a menos que tenha sorte, não conseguirá fazê-lo de uma só tacada. Será necessária uma série de decisões que podem implicar: 1) não encontrar o produto e ter de buscá-lo em outro lugar; 2) encontrar o que buscava, mas enfrentar fila para comprá-lo; 3) substituir a carne por outra proteína; 4) adiar a compra e 5) abandonar a ideia completamente.
O exemplo poderia descrever a rotina de escassez vivida pelos venezuelanos. Mas foi pensado por János Kornai, economista húngaro nascido em 1928 e um dos maiores estudiosos das economias dos países socialistas europeus do bloco soviético. No livro “The Socialist System: The Political Economy of Communism”, Kornai adverte que esse sistema se transformou em uma “economia da escassez”, já que o fenômeno tornou-se “frequente”, “geral”, “intensivo” e “crônico”. Essa foi uma das consequências mais graves do socialismo clássico, que se apoiava na gestão governamental do aparato produtivo e em um planejamento centralizado que aplicava mecanismos de controle para anular a influência do mercado sobre a economia.
Desde que o chavismo se declarou socialista, em 2005, o governo tomou uma série de medidas que levaram o projeto a um modelo parecido ao que fracassou no Leste europeu. Embora com uma nova roupagem de “socialismo do século XXI”, o princípio é o mesmo, porque se controlam diretamente a economia e outras atividades, em vez de supervisar os mercados respeitando as liberdades.
Expropriação de empresas, ataque ao capitalismo, aos ricos e à sua “ganância”, demonização do lucro, discurso populista em prol da “justiça social”, concentração de poder e recursos no estado, antiamericanismo, eis o script ipsis literis dos velhos – e novos – socialistas. Nada mudou, tanto nos meios pregados como, claro, nos resultados obtidos. O socialismo produz somente escravidão, miséria e inanição, escassez generalizada. Mas ainda tem quem o defenda! Os dinossauros continham vivos! É uma doença mental, ou um sério desvio de caráter. Nada mais pode justificar a insanidade de querer fazer tudo exatamente igual, e ainda esperar resultados distintos.
Rodrigo Constantino

fonte: http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/comunismo-2/socialismo-o-entulho-da-historia-ou-venezuela-repete-desgraca-sovietica-mas-a-esquerda-nunca-aprende/




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