terça-feira, 4 de agosto de 2015

Covardia e inveja no país dos coitadinhos por Rodrigo Constantino



Sei que não será fácil atrair a atenção do leitor hoje para algum assunto que não seja a nova prisão de José Dirceu. Agosto, mês da volta às jaulas. O homem foi preso no regime militar, e duas vezes na democracia, com seu próprio partido no poder. Azar? Culpa do sistema? Ou falta de caráter do próprio?
Como não dá para desviar muito do assunto, vamos usá-lo como gancho para o tema mais abrangente tratado aqui: a covardia que, somada à inveja, levam ao “país dos coitadinhos”. No novo filme de Tom Cruise, o quinto “Missão Impossível” (muito bom, por sinal), o vilão é um total psicopata que enxerga nas mortes todas que causa apenas um meio aceitável para seus fins, e coloca depois a culpa no “sistema” por ele ser assim, fazer tais coisas.




O primeiro ato dos fracassados e marginais é se eximir de responsabilidade, apelar para algum coletivo qualquer. A esquerda, que vive de explorar o fracasso e a inveja alheias, adora esse discurso, sempre tratando bandido como “vítima da sociedade”. Abstrações coletivistas que servem para transferir a culpa para terceiros, sempre.
Em sua coluna de hoje na Folha, o filósofo Luiz Felipe Pondé trata do assunto, e conclui algo meio fora de moda: temperamento é destino. O preguiçoso dificilmente será bem-sucedido, e depois culpará o “sistema” por seu fracasso. O covarde, então, precisará do bando para compensar sua fraqueza:
Gente covarde. Piorou, né? Piorou porque hoje todo mundo é legal. Ou, se não é, é por culpa de alguma forma de opressão. Até mesmo a psiquiatria e as neurociências estão virando desculpa para temperamentos sem muitas virtudes justificarem seus fracassos. Dia desses, as pessoas virão com “manual de funcionamento”, e, por exemplo, aprovações em escolas e faculdade serão dadas por juízes e psiquiatras, e não mais pelos professores.
Bem feito para eles, os professores, que são bem culpados por isso tudo, uma vez que têm ensinado o “culto da vítima” há algumas décadas para os alunos. As crianças nem sabem mais as capitais dos Estados e dos países porque seus professores estão mais preocupados em pregar todo tipo de ideologia salvacionista. Quem diria que a sala de aula iria virar uma igreja?
Mas voltemos à covardia. Em épocas de guerra é mais fácil enxergar a covardia e ver que ela é uma epidemia. Em tempos de paz, ela fica mais disfarçada. Mas, ainda assim, você a vê aqui e ali. A covardia gosta de andar em bandos. Fala sempre “nós” e adora ser parte de algum “coletivo” ou “instituição”. A covardia é incapaz de sair do protocolo. Sente-se em casa num protocolo. Por isso é prolixa e, assim, enche o saco da coragem que tende a ser impaciente com ela. A coragem é sua inimiga mortal, inclusive porque é mais bonita e inteligente do que ela. A covardia adora ouvir o som da própria voz.
A originalidade é terra estranha para a covardia, que prefere copiar. Ela, a covardia, costuma se dar bem quando a regra é obedecer a mediocridade. É sempre um risco enfrentar a mediocridade porque ela tem a maioria em seu exército. Covardia e mediocridade são irmãs gêmeas. Uma se reconhece na outra. Uma defende a outra com uma fúria que só miseráveis de caráter sentem. Normalmente, essa fúria é alimentada pela inveja, prima irmã da covardia e da mediocridade. Todas as três são feias de doer. Diria, em gíria popular: três barangas de matar!
O covarde precisa do aplauso da plateia, precisa ser querido por “todos”, o que o leva ao sensacionalismo, ao populismo, à demagogia. Precisa, também, atacar o forte, o melhor, que ele inveja, o que leva ao coletivismo que tenta anular o indivíduo. Pondé fala ainda da mesquinhez e da vaidade, outros ingredientes típicos dessa turma que, infelizmente, dominou e ainda domina o ambiente cultural em nosso país há décadas. Foram as ideias paridas por essas pessoas que criaram o país dos coitadinhos.



Estou lendo, por sinal, o livro exatamente com esse título escrito por Emil Farhat na década de 1960. Deveria ser reeditado, pois consegui apenas um exemplar em sebo, bastante desgastado. Revela a alma do Brasil, que já em 1966 mostrava o caminho que iria tomar ao idolatrar o fracasso e culpar o sucesso. Abaixo, alguns trechos do longo prefácio, que já resume bem a situação lamentável de nossa mentalidade:
[...] este país tem que tomar opções diante do futuro, tem que livrar-se do complexo das encruzilhadas e libertar-se para sempre da “filosofia” hipócrita da frouxidão, e da esterilidade comodista da inércia.
[...] É preciso que as novas gerações, desavisadas ante certas distorções da piedade, e nisto tão ludibriadas, se acautelem contra as artimanhas intelectuais desses exploradores do “coitadismo”. Pois suas armadilhas sibilinas já quase chegam à audácia de erigir os albergues em símbolo dos lares que devemos ter… e parecem querer fazer dos pobres favelados a própria imagem “heroico-romântica” do que todos deveríamos ser…
[...] Não há dogma político, nem sofisma religioso que possa fazer aceitar a inaptidão do incapaz, ou a inércia do preguiçoso, ou a improdutividade do desleixado, ou a esterilidade do indivíduo sem iniciativa, como padrão além do qual tudo é “espoliação”: a dedicação do estudioso, a persistência do incansável, a inventividade do talentoso, a audácia do pioneiro, o inconformismo do homem dinâmico, a insatisfação do realizador.
Medir para baixo é estratagema dos frustrados e complexados que querem assim deter a potencialidade criadora dos cidadãos capazes.
[...] O que leva as nações para a frente é a divina obsessão dos que amam competir, dos que incansavelmente constroem, dos inquietos criadores, dos que rompem a inércia; dos que rasgam os pantanais humanos ainda que espadanando a preguiça; dos que desabam dilúvios de atividades ainda que estas perturbem a placidez do vazio e a esterilidade do nada.
Uma nação marca o seu destino quando a massa do seu povo passa a entender que a vida é uma permanente maratona viril de vontade, talento e audácia, onde não há lugar para a conspiração dos mesquinhos que buscam fanaticamente a compensação de bitolar todas as coisas pela curteza da sua inaptidão, ou pelo descompasso das suas frustrações.
[...] Este país não pode desorientar-se pela sinistra litania dos que se perderam ou se marginalizaram e querem, por isto, desmarcar e confundir as rotas alheias. Nem pode passar a temer a ação dos mais capazes – forçando-os a que simplesmente se igualem aos que fazem mal as coisas, ou nem as fazem. Nem pode punir o mérito, por este exceder ao desvalor dos que não se cuidaram. Nem deve estiolar-se na ideia estéril e mesquinha de que tirar dos que conseguem ter é a única e só maneira de dar aos que não sabem ter.
Agora apertemos o fast forward até o presente, e voltemos ao José Dirceu: alguém assim poderia chegar onde chegou sem essa mentalidade do coitadinho espalhada pelo país? O PT, partido populista e demagógico, teria ficado no poder por tanto tempo sem Paulo Freire e companhia espalhando por aí que os piores são, na verdade, os melhores? Haveria mensalão e petrolão se a covardia não fosse tão marcante em nosso país, se a inveja não dominasse tantos corações medíocres, que desejam destruir os melhores mais do que ajudar os piores?


Dirceu, não custa lembrar, foi tratado como “herói injustiçado” por seu partido, mesmo depois de condenado pela Justiça! Para essa gente, seus meios nefastos são aceitáveis para os “fins nobres”, como a “justiça social”. O monopólio das virtudes servia como justificativa para todo tipo de crime. A narrativa segregava o povo entre “nós” e “eles”, entre os “do bem” e os “maus”, da elite golpista, insensível, capitalista. Ser petista era estar a favor dos desvalidos, dos oprimidos, dos coitadinhos!
Deu nisso. Não poderia dar em outra coisa. O Brasil jamais vai se livrar dessa praga enquanto não mudar a mentalidade que serve como terreno fértil a essa praga, enquanto não abandonar o culto do coitadinho, a marcha dos oprimidos. Da próxima vez que o leitor escutar algum seguidor de Paulo Freire repetindo a máxima relativista de que ninguém é melhor do que ninguém, olhe-se no espelho e veja se você é ou não melhor do que alguém como José Dirceu.
É? Então não se deixe levar pela mensagem canalha dos covardes e dos invejosos. Eles já dominaram o Brasil por tempo demais. Está na hora de dar uma chance aos melhores, não é mesmo?
Rodrigo Constantino


FONTE: http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/corrupcao/covardia-e-inveja-no-pais-dos-coitadinhos/

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