Lula se reúne com parlamentares petistas, em Brasília - Givaldo Barbosa / Agência O Globo
Lula defende ‘enfrentamento político da Lava-Jato', segundo petista-Ex-presidente participou de uma série de reuniões com dirigentes e parlamentares do partido e com cúpula do PMDB em Brasília
POR FERNANDA
KRAKOVICS E WASHINGTON LUIZ
BRASÍLIA – Enquanto a presidente Dilma Rousseff cumpre agenda oficial
nos Estados Unidos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou nesta
segunda-feira a Brasília para uma série de reuniões com dirigentes e parlamentares
do PT, com a cúpula do PMDB e com o marqueteiro João Santana. Ele também
telefonou para o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), citado na delação
premiada de Ricardo Pessoa, dono das construtoras UTC e Constran, investigado
na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, que investiga esquema de corrupção
na Petrobras. A campanha de Lula em 2006 também foi citada na delação de
Ricardo Pessoa como tendo recebido R$ 2,4 milhões da UTC.
Em quase quatro horas de reunião, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse a deputados e senadores do PT, na noite desta segunda-feira, que é
preciso fazer o enfrentamento político da operação Lava-Jato, segundo relato de
participantes. Depois de dizer que o PT está "abaixo do volume
morto", Lula afirmou que o partido "tem tudo para ressurgir com
força". Ele também teria afirmado que é preciso virar a página do ajuste
fiscal e investir em uma agenda positiva para o país.
— Ele disse que precisamos fazer o enfrentamento, que as denúncias não
vão parar. Foi uma reunião para zerar o jogo e tentar rearrumar as coisas —
disse um parlamentar petista.
Depois
das críticas feitas ao governo Dilma Rousseff e ao PT nas últimas duas semanas,
Lula teria adotado um tom mais conciliador. E cobrou uma atuação mais
contundente dos petistas na defesa de seu projeto:
— Isso é página virada. Ele falou da necessidade da bancada atuar como
um coletivo na defesa do governo e do PT, de enfrentar a oposição com o mesmo
radicalismo que eles nos enfrentam — disse o líder do governo na Câmara,
deputado José Guimarães (CE).
O ex-presidente também insistiu na necessidade de o governo investir em
uma agenda positiva e de o PT ter um discurso mais propositivo:
— O presidente Lula disse que é preciso virar a página. O ajuste está se
esgotando, está sendo concluído, e o governo já saiu a campo com o programa de
concessões, o Plano Safra, vai ter a nova etapa do Minha Casa Minha Vida. Temos
que passar para a agenda do crescimento econômico. Foi uma reunião para
animação dos seus pares — disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).
De acordo com o senador Paulo Paim (PT-RS), Lula disse que o PT precisa
se reaproximar dos movimentos sociais:
— O presidente Lula disse que o PT tem tudo para ressurgir com força,
desde que saiba se articular com os movimentos sociais — disse o senador Paulo
Paim (PT-RS), ao sair da reunião antes de seu encerramento.
Crítico do ajuste fiscal conduzido pelo governo Dilma Rousseff e
insatisfeito com os rumos do partido, o senador Walter Pinheiro (PT-BA) foi o
único da bancada que faltou ao encontro.
A presença de Lula em Brasília não agradou ao Palácio do Planalto. A
avaliação é que a movimentação do ex-presidente na capital federal agrava a
crise gerada com o depoimento de Pessoa. Em encontro que contou com a presença
do presidente em exercício, Michel Temer, e Mercadante, os governistas
avaliaram que o encontro de Lula com deputados e senadores do PT, nesta
segunda-feira à noite, traria mais ruído e acabaria ofuscando a viagem de Dilma
aos EUA.
— Esse encontro já estava marcado, mas só aumenta a crise — disse um
participante do encontro.
CELULARES FORA DA SALA
A reunião do ex-presidente com as bancadas do PT da Câmara e do Senado
tinha como um dos principais objetivos articular a reação política à
investigação da Polícia Federal. Reclamando, segundo pessoas próximas, que o
ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) não controla a PF, Lula passou a
atacar, nas últimas duas semanas, o governo Dilma e a criticar também o PT,
que, de acordo com o ex-presidente, envelheceu e “só pensa em cargos”. Na
reunião de ontem, Lula exigiu que deputados e senadores petistas deixassem os
celulares do lado de fora da sala para evitar vazamentos.
Ministros e interlocutores do Planalto também consideraram um equívoco a
estratégia adotada pela própria presidente Dilma de colocar o ministro da
Justiça no foco da crise gerada pelo depoimento de Pessoa, ao participar da
entrevista dos ministros Edinho Silva (Comunicação) e Mercadante no último
sábado. Na ocasião, ambos se defenderam das acusações de que receberam recursos
ilegais do empreiteiro e de que as doações foram feitas para a manutenção de
contratos das empresas de Pessoa com a Petrobras.
Em sua passagem pela capital federal, Lula ainda tomará café da manhã
nesta terça-feira com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O
peemedebista se tornou um dos principais adversários do governo desde que
perdeu o comando do Ministério do Turismo, no início do ano, e passou a ser
investigado na operação Lava-Jato.
Após confidenciar a aliados estar cansado de não ser ouvido por Dilma
nem ser defendido pelo governo ao ter seu nome ligado a empreiteiras
investigadas pela Lava-Jato, Lula passou a articular o contra-ataque por conta
própria.
Nesta segunda-feira, o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini,
garantiu que as críticas feitas por Lula não causaram mal-estar no governo.
— Essas críticas são recorrentes na história do PT. O PT vive de
momentos críticos e ele se alimenta para continuar se renovando e construindo
sua trajetória. Há 35 anos é assim, não é novidade. Nós temos que saber
conviver com isso com tranquilidade.
Berzoini ainda destacou a importância do ex-presidente para o PT.
— O ex-presidente Lula é sempre muito bem-vindo para dialogar com os
parlamentares, para dialogar com os movimentos sociais. É uma liderança
inquestionável e que tem muita coisa a conversar conosco.
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